domingo, 23 de novembro de 2014

18º Capitulo: “Vês que tu e o Götze até se dão bem?”

- Milicent? – Falando baixinho e tocando no ombro da jovem rapariga, Daysi tentava acordá-la. Não foi preciso muito mais para que Milicent acordasse…não estava tranquila a dormir, até era melhor estar acordada – O que é que tu estás aqui a fazer tão cedo?
- Já…já é de manhã… - as duas sussurravam já que estavam no quarto de Mary Alice. No meio da confusão que foi a noite anterior, Milicent não conseguiu ir para outro sítio senão aquele. Mesmo que Mary Alice estivesse a dormir quando lá chegou e nem sequer tivesse falado com ela, tinha conseguido acalmá-la – Vamos até lá fora… - Milicent levantou-se do cadeirão e as duas foram até ao corredor.
- Tu dormiste ali?
- Dormi, Daysi…sei que não o deveria ter feito, sei que posso ter feito algo errado, mas…foi uma noite complicada a nível pessoal. Ter vindo para aqui acalmou-me.
- Não tem mal nenhum…claro que a Amber é capaz de ir falar contigo, mas acabaste por estar com a menina.
- E ela está melhor. A infecção na garganta melhorou bastante e os pulmões começam a ficar limpos. Também os níveis de oxigénio estabilizaram.
- Belo trabalho, rapariga. Agora…vai despachar-te que daqui a pouco a Amber chega.
- Sim…e obrigada Daysi, por me ter acordado.
- De nada querida, vai lá – Milicent foi até ao gabinete de Amber vestir-se. Constatou que ainda era demasiado cedo…sete da manhã. Só devia estar aqui dentro de duas horas…
Vestiu a bata, colocou o seu telemóvel no bolso e foi até à cafetaria. Iria precisar de café para aguentar aquele dia. Sentou-se numa das mesas, mexendo o açúcar que estava no fundo da chávena de café. As memórias da noite interior invadiam-lhe a cabeça…e as lágrimas começavam a querer saltar fora.
Abanou a cabeça, tentando esquecer tudo e não derramar uma única lágrima. Pegou no telemóvel…não o fazia desde que chegou ali. Tinha inúmeras chamadas perdidas de Marlene, de Mandzukić e…até havia de Marco. Haviam mensagens…de Marlene e Marco.

“De: Mare
Vocês…falaram feio um com o outro mas, por favor, vem para casa”

“De: Mare
Já passaram duas horas…podes atender-me o telemóvel?”

“De: Mare
Milicent, porra, estou preocupada. Atende. Ou vem para casa. Não precisas de falar. Só precisamos de saber que estás bem.”

“De: Marco
Em Munique a noite está a ser atribulada…eles estão preocupados contigo. Eu estou preocupado, também. Onde é que estás?”

“De: Mare
Nem ao Marco atendes? Pensei que ele fosse ajudar…Mi por favor diz qualquer coisa.”

“De: Marco
Estamos à espera que digas algo. Sei que precisas de tempo mas já passaram cinco horas.”


Milicent leu todas as mensagens, percebendo que nenhum deles tinha dormido. A última mensagem tinha sido a de Marco, à uma hora atrás. Talvez…devas ligar a alguém. Sabia a quem teria de ligar primeiro: Marlene.
Bastaram dois toques para que Marlene atendesse a chamada.
- Oh meu Deus…tu estás bem, meu amor? Milicent ouvia uma Marlene calma mas chorosa. Percebia, perfeitamente, que a sua melhor amiga estava a chorar.
- Estou. Desculpa não ter dito nada antes…vim para o Centro e pus o telemóvel no silêncio.
- Foste para ao pé da Mary.
- Sim.
- Mi…fiquei tão preocupada.
- Desculpa, meu amor. De verdade…mas, sabes, precisava de estar sozinha, de não ter ninguém à minha volta.

- Eu percebo…só queria que me tivesses mandado uma mensagem. 
- Ela está bem? Milicent ouviu a voz de Mario…quebrou…voltou a lembrar-se de tudo e a chorar 
- Mi…não chores.
- Isto já passa.
- Vocês têm de falar…
- Podemos almoçar as duas? Só as duas…aqui no refeitório do Centro?
- Claro…quando é a tua hora de almoço?
- À uma da tarde.
- Eu estarei aí, meu anjo.
- Obrigada…e desculpa. Mare…vou ter de desligar. Quero falar com outra pessoa antes de começar a trabalhar.
- Ele está preocupado contigo.
- Eu vou ligar-lhe…preciso dele – Milicent admitia aquilo com a voz fraca…mas tinha de o admitir porque era a verdade. Despediu-se de Marlene, iniciando a chamada para Marco.
Mais uma vez, não demorou muito até atender:
- Mili… - Milicent sentiu-se sem forças para falar…a voz de Marco, ser ele a chamar-lhe Mili…só a fez chorar ainda mais e não conseguir dizer nada sabes que vocês os dois acabam por ser parecidos? Vocês discutiram porque? Porque me amam…uau que convencido que estás Marco por momentos, Milicent conseguiu rir-se consegui fazer-te rir…já não é mau.
- Precisava de te ouvir.
- Acredita que eu também já estava a precisar de te ouvir a ti. Como é que estás, meu amor?
- Um caco…foi como…como se me tivesse chateado com a Marlene.
- Vês que tu e o Götze até se dão bem?
- Já não devemos dar-nos não…
- Vocês vão fazer as pazes…eu já sei que foram ditas coisas muito feias. Mas vocês vão resolver tudo.
- Marco?
- Diz, meu amor.
- Porque é que não disseste nada depois de te mandar a mensagem?
- Não sei…acho que não soube o que responder.

- E…estás a agir como se…nada tivesse acontecido.
- Eu amo-te. E compreendo-te na parte dos ciúmes. Também os tive.
- Eu não tenho nada com…
- Eu sei Mili.
- Tenho de ir trabalhar…
- Vai…e pensa em resolver as coisas com o Mario.
- Preciso de tempo…e ele também deve precisar.
- Pensem, pensem…mas eu quero que fiquem bem um com o outro.
- Tenho de desligar, Marco. Preciso de ti… - Milicent não esperou por ouvir uma resposta, já que desabou em lágrimas.
Foi até à casa de banho, tentando compor-se para, de seguida, voltar ao quarto de Mary Alice. A menina já estava acordada, Milicent respirou fundo entrando no quarto.
- Milicent! - Olá meu anjo – Milicent aproximou-se dela, beijando-lhe a testa – dormiste bem? – Milicent sabia que ela tinha dormido bem, aparentemente pelo menos.
- Dormi sim e sinto-me melhor, já posso ir para ao pé dos outros meninos?
- Não sei, minha querida. Se calhar ainda ficas por aqui hoje…mas quando a Amber cá vier ela fala contigo.
- Mili…tu estás triste.
- Não queria que notasses…
- Mas eu notei. Não quero que estejas triste…
- Dás-me um abraço? – Milicent pediu…estava a precisar de algum conforto. Tentou encontrá-lo em Mary Alice.
- Senta aqui ao pé de mim – Milicent assim o fez: sentou-se ao perto de Mary Alice que, de imediato, a abraçou. Milicent sentia que estava a tremer…e as lágrimas começaram, de novo, a cair – Mili…não chores. O que é que aconteceu?
- Coisas dos grandes…discuti com um amigo.
- Sabes…às vezes discutir é bom. Assim as pessoas entendem-se depois.
- Como é que é possível que só tenhas seis anos e fales assim?
- Eu sou crescida. Já entendo os assuntos dos crescidos.

As duas continuavam abraçadas e Mary Alice tentava embalar Milicent, para a acalmar, quando são interrompidas pela entrada de Amber.
- Bom dia, bom dia! – Milicent afastou-se de Mary Alice, tentando limpar as lágrimas. Amber olhou para ela, percebendo que algo não estava bem. Mas decidiu não falar sobre isso. Optou por falar com Mary Alice e, depois, com Milicent sobre o estado clínico da menina.


Milicent estava à porta do Centro, esperando Marlene. Ao longe, viu o carro de Mario e, do lado do pendura, saiu Marlene. Mario ainda ficou com o carro parado algum tempo enquanto que Marlene caminhava até à melhor amiga.
- Essa bata fica-te muito sexy – Marlene abraçou Milicent e as duas olharam-se – essa carinha é que não é nada sexy.
- Desculpa.
- Porque é que me estás a pedir desculpa?
- Porque me chateei com o Mario…e porque lhe disse coisas que te envolvem.
- Foste uma leoa a proteger aqui a tua Mare e o teu Marco. E ele acabou por fazer o mesmo.
- O Marco diz que nós somos parecidos…
- E são! Aquele passou a noite toda a andar de um lado para o outro, perguntava de cinco em cinco minutos se já tinhas dito alguma coisa. Andamos os dois à tua procura e depois ele ainda foi sozinho procurar-te.
- Precisava mesmo de estar sozinha…desculpa.
- O importante é que não te tenha acontecido nada. Vamos almoçar?
- Sim… - as duas caminharam até ao refeitório do Centro Pediátrico onde, cada uma comprou a refeição do dia para almoçar.
Ficaram algum tempo a conversar sobre o Centro. Marlene percebeu que Milicent precisava de se abstrair da discussão da noite passada. Quanto Marlene estava já a terminar o seu almoço olhou para o prato de Milicent que permanecia intacto.
- Ainda não comeste nada Mi…
- Não tenho muita fome…
- Eu não vou sair daqui enquanto não comeres, pelo menos, metade do que está nesse prato.
- Marlene…
- Não há Marlene, nem meia Marlene. Tens de comer.
- Sabes…sinto-me como se me tivesse chateado contigo… - Pela primeira vez, na frente de Marlene, Milicent chorou.
- Isso é tão bonito… - Milicent ficou confusa com o que Marlene acabara de dizer – só significa que te dás bem com ele…que o aceitas na minha vida como se já existisse nela à anos. E só te posso agradecer por isso…porque tu gostas dele como se fosse teu irmão…tal e qual como se eu fosse mesmo tua irmã.
- Oh…eu fiz asneira…
- Fizeram os dois. E só os dois a podem resolver.
- Não sei como…
- Tal e qual como falaram ontem? Têm de voltar a abrir o jogo, mas de forma a entenderem-se.

Milicent nada disse, limitando-se a comer alguma coisa.
- Podes fazer-me um favor?
- Diz.
- Preciso de uma muda de roupa. Vou sair daqui às seis da tarde e vou para um hotel passar a noite.
- Tens a certeza?
- Sim…se falar com o Mario só será amanhã.
- Eu passo aqui a essa hora.
- Obrigada…por tudo Mare.



Eram oito da noite e Milicent estava deitada na cama do quarto de hotel que tinha alugado para aquela noite. O dia no Centro Pediátrico tinha-a acalmado…estar perto de crianças, a fazer o que quer do seu futuro, fazia-lhe bem…como se fosse uma terapia.
Decidiu ligar aos pais. Uma chamada telefónica já que, se fizesse uma vídeo chamada, iriam perceber que ela não estava bem. Não demoraram muito tempo a atender a chamada.
- Mili, minha filha… - era Renae quem atendia.
- Mãe! Como é que estás? – contrariamente ao que pensava, a sua voz saíra mais animada.
- Está tudo bem, meu anjo. E tu? Como está a correr o estágio?
- Está tudo a correr muito bem, mãe. E o pai, como está?
- Está bem querida. Provavelmente ficaremos menos tempo do que o esperado aqui em Berlim.
- A sério!? Isso é sinal que o pai está a ficar melhor! – Milicent estava verdadeiramente feliz, deixando uma lágrima escapar-lhe pelo rosto.
- Sim, os médicos estão bastante surpreendidos com ele. Vou por isto em alta voz, assim falamos todos ouviu a sua mãe chamar Hinrich e perguntar-lhe como é que se colocava em alta voz no telefone de casa. Pela conversa que os dois iam tendo, Milicent percebeu que nenhum dos dois sabia e ainda se riu com a quantidade de palavrões que proferiram Milicent…acho que já está. Diz olá.
- Olá… - ao dizer aquela pequena palavra, os seus pais fizeram uma festa já que tinham conseguido. Milicent só se conseguia rir.
- Não estamos habituados a este telefone…olá filha.
- Olá pai! Já sei das novidades, sim senhor.
- Aqui o teu velho é de aço.
- O pai não é velho! Nem a mãe e…na verdade, eu queria falar convosco sobre algo importante.
- Não me digas que vamos ser avós! Aí sim ficaríamos velhos! foi Renae quem falou, deixando Milicent sem saber o que dizer.
- Não…isso não. Mas…vocês ainda pensam em adoptar? - Neste momento não é algo que andemos a pensar…mas ainda está nos nossos planos, sim Hinrich respondeu e, pelo barulho, Milicent percebeu que os seus pais se tinham beijado.
- E tu…querias ter um irmão? Ou irmã…
- Sempre o quis, mãe…e vocês agora vão ficar em Dortmund, a vossa vida vai estabilizar…porque não ser agora o momento de mudarem as vossas vidas?
Do outro lado da linha não ouviu nada durante alguns segundos.
- Porque não mesmo? Quem sabe agora regressemos a Dortmund e comecemos a procurar algum menino. - Porque é que vieste com esta conversa agora, Mili? Hinrich foi quem perguntou a Milicent.
- É que…no centro, há vários meninos e meninas, não é? Bom e…eu conheci a Mary Alice. Ficou ontem à minha responsabilidade. Ela é de Dortmund mas está no Centro para…tratar uma infecção que tem nas duas córneas. Ela está invisual…mas é reversível e é o que todos no centro tentam que aconteça dia após dia. Ela é órfã…e precisa de um sitio para viver. De um sitio onde lhe dêem amor, carinho e uma família – Milicent explicou resumidamente a história de Mary Alice aos pais, esperando algo da parte deles.
- É uma situação um pouco delicada, Mili…
- Por ela ser cega? Mãe…há grandes probabilidades de ela voltar a ver mas, mesmo que isso não aconteça, ela é uma menina tão especial, com tanto amor preso naquele coração…e a precisar que lhe dêem mimo.
- Tem que idade ela?
- Seis aninhos…ela é tão linda mãe. Loirinha, de olhos azuis, guerreira, amorosa…é…especial.
- Dás um tempo aos teus velhos para falarem? Perguntou Hinrich.
- Não era algo que estava planeado acontecer tão depressa, entendes?
- Sim, sim…eu entendo. Mas pensem com calma…e até podem vir conhece-la.
- Mili…só te pedimos para não te apegares muito a ela…sabes que pode não dar em nada.
- Eu já estou apegada a ela…mas eu não deixarei que se torne em algo mais.
- Obrigada querida.
- Como é que estão as coisas em casa do Mario? pai…pai…porque?
- Está tudo bem…agora passo menos tempo em casa por causa do estágio, mas está tudo bem – Milicent não contava aos pais o que se tinha passado já que pretendia resolver as coisas…não haveriam motivos para estarem a falar sobre aquilo.
- O Mario é um grande amigo que ganhaste, Mili naquele momento Milicent ficou sem qualquer reacção ao que a mãe lhe dizia e a Marlene um grande namorado. O Mario toma conta de vocês com muito carinho. Podem dizer muitas coisas dele, mas é um rapaz com um coração enorme, Milicent.
- Foi ele que falou connosco para irmos aí no teu dia de anos…e acho que nunca me irei esquecer que ele disse que merecias o melhor na tua vida.
- A Marlene…encontrou o homem da vida dela – Milicent falava com uma certa emoção na voz.
- E tu encontras-te o teu…a mãe sente isso. Podem estar menos bem, mas isso passará. E…vejo que vês o Mario da mesma maneira que a Marlene, como um irmão. Amas os outros que te marcam de uma forma tão intensa, minha filha.


Em casa de Mario, Marlene tentava que ela e o namorado fizessem algo que os animasse mas sem sucesso. Mario parecia não conseguir parar de falar do que havia acontecido na noite anterior.
- Sabes que ela acabou por te abrir os olhos – dizia Marlene.
- Abriu-os ainda mais…já o tinhas feito.
- Não digas essas coisas.
- É verdade. A Milicent tem razão. Eu sempre fui aquele que tomou muita coisa como garantida e…quando nos conhecemos e que a Milicent disse que tu já eras minha…foi como que um primeiro alerta – Mario fez uma pequena pausa, olhando para Marlene. Estava deitado com a sua cabeça nas pernas dela e Marlene ia mexendo-lhe no cabelo – então eu percebi que, para te ter, teria de o merecer. E tudo foi avançando, devagarinho só como amigos mas com uma proximidade estranha. Dois meses depois chegas aqui a Munique e beijas-me sem que te peça…foi a prova que algo poderia resultar.
- Estás a ficar lamechas…
- Deixa-me acabar – Mario levantou-se, ajoelhou-se no sofá perto de Marlene, agarrando nas mãos dela – a partir daí eu percebi o que é que há entre o Marco e a Milicent. Percebi o porque de ele acabar com a Carolin…percebi o que é o amor. Mas tenho medo…porque eu não era assim. Eu não imaginava a minha vida com uma pessoa tão fantástica e que a tivesse de cuidar da melhor forma – Marlene via um Mario frágil na sua frente, mas sincero e verdadeiro com ela – eu peço desculpa se algum dia fiz algo que não fosse o correcto, peço desculpa se às vezes não sei como demonstrar o amor que sinto por ti, peço desculpa por não ser o melhor dos namorados…mas estou a aprender todos os dias como sê-lo.
Marlene puxou as mãos de Mario para o seu corpo, deixando-as na sua cintura. Rodeou o pescoço de Mario, encostando a sua testa com a dele.
- Tens sido a maior prova do que é ser um namorado. Uma relação é feita por duas pessoas, cada uma terá de ter o seu amor pela outra…não bastará o amor só de uma. Hoje, nós temos isto, chamo-te de namorado, dedico-me a ti como tu te dedicas a mim…és a melhor coisa que 2013 teve para mim. E, somos os dois a aprender como ser namorados…mas as raparigas têm mais à vontade. - Sim, já que és tu a tomar todas as iniciativas… - ao dize-lo, Marlene percebeu que Mario se referia à primeira vez que se tinham beijado.
- Mario! – Marlene afastou-se um pouco dele, mantendo o contacto.
- Que foi?
- Tens uma borbulha enorme no nariz!
- Mas nós estávamos a falar de nós e tu reparas nas minhas borbulhas?
- Foi da proximidade…acho melhor não nos aproximarmos muito. Ainda vejo bem como és e ao longe fica melhor.
- Mas longe não se pode fazer disto – Mario aproximou-se dela, beijando-lhe o pescoço.
- Tu sabes é muito, mas o período fértil já foi à uns dias.
Mario pareceu ignorar o que Marlene lhe dizia, percorrendo todo o pescoço da rapariga com beijos, até chegar aos seus lábios.


Marlene e Mario acordavam com o barulho da campainha. Olharam para o relógio que marcava 6h20.
- Quem é que será a esta hora? – Perguntou Mario.
- Vou ver… - Marlene levantou-se, indo até à janela. Viu quem tocava à campainha, percebendo que era alguém para Mario – É para ti. Veste rápido umas calças ou cações e uma t-shirt.
- Quem é?
- É para ti! – Marlene foi até à cómoda, retirando de lá uns calções quaisquer e uma camisola também.
- Isto é horrível para vestir…
- Tivesses roupas mais bonitas. Despacha-te!

Mario bufou, vestiu-se e foi até à porta. Abriu-a, deparando-se com quem tocava na campainha com alguma impaciência. 
- Podemos falar?

domingo, 16 de novembro de 2014

17º Capitulo: “Só me apetecia trazê-la comigo, Mare…”

Se estás a ler isto…é porque a minha ida aí não teve resultado. Se vais ler o que se segue é porque não consegui fazer com que me desculpasses.
Esta carta vai ser uma espécie de “ultimato” ao que nós temos.
Começamos a nossa relação em circunstancias estranhas, diferentes da maior parte dos casais, mas mesmo assim não é pior ou melhor que nenhuma outra. Concordo contigo quando me disseste que precisávamos de espaço um para o outro…
Demos esse espaço, demos esse tempo…e pelos vistos não estamos juntos. Achava que já chegava…que já era tempo afastado de ti o suficiente para voltarmos a ser nós.
Não consigo passar um segundo sem pensar em ti…em nós e no que conseguiste fazer comigo em tão pouco tempo. Mili…tornaste-te uma pessoa fundamental na minha vida, encontrei em ti o amor e o desejo de um futuro enquanto responsável de família, encontrei no nós…o meu futuro. Se hoje me concedessem três desejos, seria sempre o mesmo: ter-te a meu lado.
Comecei a saber o que é amar uma mulher quando te conheci…fizeste com que acabasse com um casamento de dias, uma relação de anos porque…o meu amor por ti é maior do que aquilo que eu tinha. Contigo eu queria começar…melhor eu queria recomeçar. Ser o meu recomeço. O recomeço da minha vida.
Tu não estás aqui. A tua ausência sente-se todos os minutos. Poderias estar aí, no teu estágio, mas se estivéssemos bem esta ausência não era tão sentida. Iríamos conversar todos os dias, ver-nos quando podíamos…iríamos mudar mas estaríamos juntos. Declaro-me completamente apaixonado por ti, completamente viciado no teu amor, no amor que me dás. Declaro-me morto de sentimentos neste momento…porque não estás aqui.
Pois bem…a parte do “ultimato”. Eu sei que isto não é o fim de algo que à tão pouco tempo começou. Irás ser minha por muito tempo, irás ser a mulher que usará Reus no apelido, a mulher que terá bebés meio loiros, meio morenos. Irás ser a minha mulher.
Dentro de quarto semanas irei voltar aí…até lá…precisamos de um pacto. Como quando estivemos um mês juntos. Agora serão quatro semanas separados. Nessas quatro semanas…quero que, tu e eu, escrevamos pequenas frases sobre nós. Que desabafemos com o papel o que nos passa pela cabeça…mas não o vamos fazer todos os dias. Apenas e só quando sentirmos que é mesmo necessário. Para eu saber que vamos seguir com isto para a frente…manda-me uma mensagem com alguma frase…sobre nós.
Preciso de esclarecer uma coisa…sei que tiveste ciúmes do Marcel, sei que até o Mario os tem. Mas ele é uma pessoa muito importante para mim. É quase como um irmão, tal e qual como o Mario. Quero que não tenhas ciúmes dele. Sei que te devia ter avisado, sei que devia ter falado contigo. Errei. Quem não erra?
Fico à espera de…algo.
És demasiado importante para eu te perder. Amo-te demasiado. O teu Marco.


A primeira coisa que fez ao chegar ao seu quarto foi ler a carta que Marco havia mandado por Jolandi...e, então, Milicent percebeu o porquê de Marco ter pedido que ela a lesse no dia seguinte. Chorou. A cada palavra de Marco. Ambos estão presos um ao outro, magoados, talvez, por algo estranho e infantil. Mas a pressão de uma relação como a deles…faz quebrar corações normais, quanto mais dois corações tão apaixonados. 
Limpou as lágrimas que lhe caiam pela cara, dobrou a carta colocando-a no envelope. De seguida, pegou no telemóvel. Iria existir um novo pacto entre eles. Sabia o que tinha de escrever para Marco perceber que ela iria seguir com o pacto para a frente.

“MR & MW(R) – 08/06/2013”

Sabia que seria o recomeço deles…porque o sentia perto, mesmo que as coisas estivessem tremidas. Sabia que, mesmo sem se falarem…iriam estar em sintonia um com o outro.
Atou o seu cabelo com o elástico, deitando-se. Esperou alguma resposta de Marco, para saber se ele estava bem…mas acabou por adormecer.

Na manhã seguinte:
Milicent chegava à sala já despachada e pronta para ir para o seu estágio. Não tencionava encontrar ninguém ali, era demasiado cedo para Marlene ou Mario estarem acordados.
Para seu espanto, Mario estava deitado no sofá olhando para a televisão.
- Bom…dia – depois da forma como tinham terminado a noite, Milicent não sabia bem como falar com Mario.
- Bom dia, cunhada – se não mudaste a forma de me tratar…não é assim tão mau sinal.
- Mario…em relação ao que aconteceu ontem…
- Tu e o Mandzukić são apenas amigos, o Marco é o teu amor, vocês estão a resolver as coisas. Eu não me meto…até o outro voltar a tentar comer-te só com os olhos.
- Mario!
- É verdade! O Mandzukić olha para ti como aqueles velhos tarados olham para um rabo de saias. Ele só te quer levar para a cama. Tem cuidado…
- Fica descansado que só voltarei a ter relações sexuais com Marco James Reus.
- Ele não gosta do James…
- Vai passar a gostar – os dois riram-se e Milicent pegou na sua mala – vou para o estágio. Dizes à Mare que, quando eu estiver despachada, ligo-lhe para irmos para o teu jogo?
- Digo sim senhora, minha cunhada. Tem um bom dia.
- Tu também Mario – Milicent saiu de casa, em direcção do centro pediátrico.
Assim que lá chegou foi vestir a sua bata, indo à enfermaria ter com Amber à enfermaria. Encontrou-a perto de algum pessoal. Percebia que um homem era médico e duas outras senhoras eram enfermeiras.
- Bom dia… - Amber, de imediato, virou-se para trás sorrindo para Milicent e as duas enfermeiras ausentaram-se.
- Chegaste mais cedo…bom dia.
- Havia pouco transito…
- Ainda bem. Deixa-me apresentar-te o Richard. Ele é médico aqui no centro, Richard é a Milicent, a estagiária de Dortmund.
- Muito gosto em conhece-la.
- Igualmente – os dois trocaram um afável aperto de mão. Richard deveria estar na casa dos 50 anos. Talvez seja um médico conceituado por aqui…
- Richard, nós vamos para a minha secção que ela hoje já tem trabalho pela frente.
- Claro, claro. Tenham um bom dia, meninas.
- Obrigada e igualmente – Amber e Milicent saíram da enfermaria, indo até aos internamentos.
Um cenário calmo, grande parte das crianças que ali estavam ainda dormiam.
- Há uma menina que não para de perguntar por ti… - Milicent olhou para Amber esperando ouvir o nome da menina…mesmo que tivesse quase a certeza de quem era – sim…a Mary Alice. Ela diz que nunca mais a vieste visitar. Ela pensava que já eras mesmo médica cá.
- Que querida…Amber?
- Sim?
- A Mary…o que é que ela tem?
- Neste momento está com uma grande pneumonia. O estado dela esta noite agravou-se e mudámo-la de sítio. Está num quarto individual…mas, como já reparaste, sendo ela invisual…sente-se um pouco sozinha.
- E…os pais?
- Ela quer contar-te a história dela. E eu preciso que fiques com ela. Estamos com os médicos já muito atolados de trabalho e, como vocês se deram bem…queria que ficasses encarregue dela.
- Mas…eu não tenho muita experiencia…
- Vais ganhá-la…aqui. Vem comigo – as duas voltaram a sair daquela sala, andando poucos passos. De uma janela de vidro, Milicent viu Mary Alice a dormir. Parecia cansada e estava a soro…ontem não estavas assim, pequenina. – Tens todos os princípios de uma médica. Já fizestes imensos estágios. O teu currículo é exemplar. Faz-lhe companhia, fica atenta aos valores dela, a tudo o que se passa. Fazes o dia até às quatro da tarde…és tu, ela e a enfermeira Daysi que aparecerá por aqui daqui a pouco.
- Mas…Amber eu não deveria aprender?
- Acredita, Milicent, ali dentro irás aprender o que é preciso para ser pediatra. Tu tens tudo aqui – Amber apontou para a cabeça de Milicent, piscando-lhe o olho – é só actuares conforme foi necessário. Bloco, caneta e telefone do centro?
- Sim…
- A qualquer momento que precises ligas para mim e eu venho aqui. Vais conhecendo o pessoal, vais começando a ambientar-te…quem sabe não fique cá mais do que dois meses… - as duas sorriram e Amber seguiu até à sala dos internamentos.

Milicent passou cerca de 40 minutos a falar com as enfermeiras responsáveis por aquela área. Elas colocaram-na mais à vontade com o estado clínico de Mary Alice até que a menina acabou por acordar. De imediato dirigiu-se ao quarto da menina. Abriu a porta, fechando-a de seguida, inspirou fundo como que preparando-se para ser…médica.
- Não és a Amber…nem a enfermeira Daysi – Milicent sorriu…os invisuais têm os outros sentidos apurados…ela deve ter reparado no perfume.
- É…é a Mili, Mary.
- Mili! – Mary Alice, de imediato, esboçou um enorme sorriso nos lábios – Pensava que nunca mais ia estar contigo!
- Enquanto não estiveres boa eu não te deixo, meu anjo – Milicent chegou perto de Mary Alice, depositando-lhe um beijo na testa.
- És tão querida para mim…
- Tu também és para mim. Só estou a retribuir…e, para dizer a verdade…és uma menina muito linda e eu gosto muito de ti.
- Eu também Mili…gosto muito mesmo de ti. Olha, mas a Amber?
- A Amber hoje só vem cá mais logo ou se eu precisar da ajuda dela. Hoje sou eu que tomo conta de ti.
- A sério!?
- Sim…vou auscultar-te, vais abrir a boquinha para eu ver essa garganta como deve ser que tenho de mostrar a Amber a tua evolução, sim?
- Sim, sim. Depois podemos conversar e brincar?
- Claro que sim, princesa.

- Tu tens namorado, Mili? – oh boa…entrámos nessa parte da conversa… Milicent e Mary Alice estavam a conhecer-se uma à outra. Maior parte das vezes era a menina que fazia as perguntas e Milicent tentava que ela se sentisse bem e acompanhada ao responder-lhe.
- Mais ou menos…
- Como é que tens mais ou menos um namorado?
- Eu não tenho mais ou menos… - Milicent riu-se, continuando a falar – eu tenho namorado…mas estamos um bocadinho chateados.
- Ah…ele é bonito?
- É muito bonito, Mary. É…um príncipe.
- Então não deviam estar chateados.
- São coisas dos crescidos…tu um dia irás entender.
- Sabes uma coisa, Mili?
- Não…mas quero que me digas.
- Todos os dias peço aos meus papás que eu consiga ver outra vez… - Mary Alice está cega à quase um ano e meio. Tem uma infecção em ambos os olhos que a impossibilitam de ver.
- Querida…isso é algo que vai ser tratado com calma…e não são teus pais que te podem trazer a visão de volta…
- Mas eles lá no céu podem fazer magia.
- No céu…claro que podem…é claro que sim, meu anjo – Milicent estava imóvel…a cada minuto que passava com esta menina, sentia-a cada vez mais especial, guerreira mas frágil.

- Só me apetecia trazê-la comigo, Mare… - as duas chegavam aos seus lugares na bancada do Allianz Arena – o mítico estádio do Bayern München – já que não quiseram ficar na tribuna dedicada aos familiares.
Falavam de Mary Alice:
- Mi…não te afeiçoes demasiado a ela…
- Acho que já estou, Mare. Ela é realmente especial…o que será dela quando sair do centro? Será daquelas meninas que ficam nos orfanatos muito tempo?
- Não sei, meu anjo, mas há muitos casais que querem adoptar hoje em dia.
- E se não a tratam bem?
- Isso…já não é um assunto nosso.
- Sinto que devo fazer alguma coisa por ela… - as duas sentaram-se nos seus lugares, olhando para o relvado – Isto não tem nada a ver com Dortmund…
- Nada é comparável com Signal Iduna Park, nada é comparável com o Borussia.
- Bem verdade isso.
- Mi… - Milicent olhou para a amiga, que continuou a falar – O que é que estás a pensar em relação à Mary Alice? Tu queres…
- Não. Eu não…mas os meus pais sempre quiseram adoptar.
- Com a vida deles?
- Sim…eles sempre disseram que, quando deixassem os voos, queriam adoptar um menino ou uma menina. Com este problema do meu pai, eles vão deixar os voos mais cedo. A Mary Alice…pode ganhar uma família.
- Sabes que isso…não depende de ti, certo?
- Sim…eu vou falar com eles. Mas quero mesmo fazer algo por ela…ela é tão especial, Mare…
- Eu estou para ver quando fores mãe.
- Porque?
- Se tu, com uma criança que não é tua, ficas assim imagina com um bebé que irá crescer dentro de ti.
- Oh… - Milicent focou-se no relvado, fugindo àquela conversa com Marlene. As duas estavam ali para ver o jogo, a convite de Mario, mas aquele não era o clube delas, nem o ambiente a que estavam habituadas.

- É preciso uma hora e meia para tomar um duche, vestir umas cuecas, umas calças e uma camisola? Tu nem te penteaste, Mario, e demoraste séculos! – Mario ainda nem estava junto da namorada e Milicent quando Marlene já estava a barafustar com ele.
- Há coisas que se chamam: entrevistas, sim?
- E perderam ainda por cima…devem ter montes de perguntas a fazer… - Milicent não resistiu em provocar Mario.
- Eu sei que és do Borussia, deves estar contente com a derrota do Bayern, mas não vamos falar sobre o jogo sim?
- À vontade, senhor Götze.
- O pessoal vai jantar todo…
- Para comemorar a derrota… - foi mais forte que Milicent que, de imediato, levou com uma cotovelada de Marlene – Desculpa Mario…fui um bocado parva.
- Bom, vocês jantam connosco? É aqui no estádio, não há imprensa…
- Mario…não é um bocado estranho? – Perguntou Marlene, chegando perto dele.
- É…eles vão pensar que depois do jantar nós os três vamos, juntos, para a mesma ca…
- Casa, Milicent Werner, tu ias dizer casa – Marlene interrompeu a amiga, levando a que os três se rissem.  
- Eles sabem que eu tenho namorada e que a amiga dela está cá a viver também. Alguns deles vocês já conhecem…quer dizer estes não foram à festa. Mas vocês também…podiam ter vindo mais tapadas.

Milicent

Marlene
- Mario, tapadas é no inverno. É verão temos de aproveitar o calor que Agosto ainda nos dá – respondeu Marlene, dando um curto beijo nos lábios de Mario.
- Sim…mas eles assim vão andar só a olhar para o teu umbigo.
- Vão fofinho, vão. E depois tu armas-te em macho e defendes aqui a tua princesa. Vamos jantar?
- Vamos, vamos – Mario entrelaçou a sua mão com a de Marlene e os três começaram a andar – eu nem acredito que vocês vieram assim vestidas para um jogo de futebol. E ficaram no meio de gajos, de certeza!
- Mario! – em uníssono, Marlene e Milicent disseram o nome dele, como que pedindo que ele se calasse.
Depressa chegaram a um pequeno restaurante, mesmo dentro do estádio. Pelo que perceberam, não era a equipa toda que ali estava. Milicent conseguiu ver Mandzukić, Schweinsteiger e Boateng sentados numa mesa. Tanto Schweinsteiger como Boateng estavam acompanhados de duas mulheres e Mandzukić era o único solteiro da mesa.
- Logo duas, Mario? – Schweinsteiger foi quem se pronunciou com a chegada dos três.
- Eu disse que isto ia ser estranho… - sussurrou Marlene.
- Ele está a brincar… - ainda não tinham chegado à mesa, caminhavam na direcção dela, mantendo aquela conversa discreta.
- Vamos brincar também… - Milicent estava a sentir-se demasiado à vontade e já que só conhecia Mandzukić, sentiu-se solta, passando por trás de Marlene e Mario, ficou ao lado dele entrelaçando o seu braço com o dele. Tudo isto, enquanto andavam. Chegaram perto da mesa e Schweinsteiger parecia confuso – Nós estávamos com vergonha de admitir, daí o Mario dizer que uma é namorada e a outra é amiga da namorada…mas sim…lá em casa é tudo a três – o trio viu, no olhar de Schweinsteiger, Boateng e as suas companheira, uma surpresa apoderar-se dele.
- Acho que conseguiste chocar tudo e todos, Mi… - Marlene olhou para a amiga, também ela um pouco espantada.
- Até eu fico chocada comigo mesma… - Milicent largou, de imediato, Mario – Não queria ter abusado. Desculpa Mario. Desculpa Mare. E desculpem vocês…estava só a brincar – ela tentou parecer séria mas desmanchou-se a rir…bem como todos os presentes.
- Então não é nada a três? – Perguntou Boateng.
- Não…só almoços, jantares e ver televisão. Eles depois vão para o quarto do Mario e eu fiquei com a casota do cão.
- Quem te ouvir pensa que eu te deixei a dormir na pocilga!
- Não Mario...vá apresenta-nos aos teus amigos, vá.
- Claro, já devem ter percebido que esta…é a Marlene, a minha namorada… - todos se riram à excepção de Milicent que pensava que Mario a iria apresentar a ela – E esta é a amiga dela. A Milicent.
As duas acabaram por cumprimentar cada um deles, sentando-se à mesa. Marlene e Mario ficaram juntos e Milicent optou por ficar com Mandzukić. Afinal conhecia-o. São amigos.

- Como é que estão as coisas com o Marco? – Perguntou Mandzukić, quando serviam a sobremesa.
- Tremidas, estranhas…e depois de ontem ele não atende chamadas a ninguém.
- Porque?
- Ele viu-nos juntos…
- Queres que eu fale com ele?
- Não…isso só iria fazer com que ele pensasse que aconteceu mesmo algo entre nós.
- Mas não aconteceu nada.
- Eu sei…mas…nós precisamos de um tempo. São quatro semanas – Milicent colocou a sua mão na face de Mandzukić, acariciando-o – obrigada por me ouvires quando eu mais preciso.
- Podes contar comigo nem que sejam três, quatro ou cinco da manhã. És muito especial, Mili…
- Não – Milicent afastou-se de Mandzukić – por favor não me chames isso. Tudo menos isso.
- Peço desculpa – Mandzukić voltou a aproximar-se dela, agarrando nas mãos de Milicent.
- Não tem mal…mas só que…não o faças mais vez nenhuma.
- Fica descansada – a distância que os separava já era quase nula. Mandzukić estava a avançar cada vez mais, tentando juntar os seus lábios com os de Milicent. A rapariga, apercebendo-se do que ele queria, afastou-se olhando para as suas mãos aconchegadas pelas de Mandzukić.
- Não vai acontecer, Mario…
- Tinha de tentar… - ele aproximou-se dela, dando-lhe um pequeno beijo na bochecha.
- …o Reus está na melhor fase da carreira dele.
- Mas deixou a mulher…para estar com outraassim que o nome Reus foi pronunciado por Mario, Milicent focou-se na conversa que ele mantinha com Schweinsteiger.
- A outra é que o faz feliz…pena é que as coisas agora não estejam bem. Ela é ciumenta e ele também…acredito que, neste momento, o Marco não ia gostar de ver certas coisas – Mario olhou para Milicent fazendo com que Schweinsteiger, que estava de costas para Milicent, se virasse para ela.
- A outra está aqui, mas não tem outro – esclareceu Milicent.
- És tu que andas com o Marco Reus?! – Perguntou, incrédulo, Schweinsteiger.
- Fez dois meses no meu dia de anos.
Schweinsteiger levantou-se, indo até à mesa onde estava Milicent e Mandzukić. Mario seguiu o seu companheiro de equipa e, Marlene ao ver a situação, foi atrás do namorado.
- Pensava que tu e o Mandzukić…
- Não…há dois meses que o meu único companheiro de cama é o Marco.
- Ela é sempre assim tão…directa? – Schweinsteiger, surpreendido, fez a pergunta a Marlene.
- Desde que conheceu o Marco ficou mais desinibida…
- Só estou a responder às perguntas que me fazem…da forma mais sincera possível.
- Então e…eras amante dele à muito tempo?
- Acho que te estás a esticar nas perguntas… - disse Mario, tentando fazer com que Milicent não respondesse.
- Fui amante dele um dia antes do casamento, na noite de núpcias e duas semanas depois do casamento. A partir daí…sou a namorada dele. Mais alguma questão? – Milicent, por sua vez, não esperou que ele respondesse e continuou a falar – O Marco não está aqui para ver o que eu faço, não está aqui para ver que eu tenho amigos. Vamos continuar num ambiente agradável e paremos de falar da minha relação com ele, pode ser? – Depois de falar, Milicent acabou por derramar uma lágrima, dirigindo-se para a casa de banho.
- Não devia ter falado tão alto… - disse Mario a Marlene, quando os dois ficaram sozinhos.
- Eu sei que tu estás a tentar protege-los aos dois…mas Mario, eles são adultos. Eles sabem resolver as coisas…não digas mais nada. A Mi precisa que tu não estejas sempre a insinuar que ela tem outro. Sabes que isso não é verdade.
- Sim eu sei…mas não suporto que o Mandzukić esteja a tentar ter algo com ela, sabendo que ela tem o Marco. Se o Marco deixou a Carolin é porque ama, de verdade a Milicent…eu não quero que ele sofra.
- Eles estão a sofrer neste momento…mas vai ficar tudo bem.
- Achas que…lhe deva pedir desculpa?
- Em casa…não faças nada aqui. Ela é capaz de se passar…

Chegando a casa, e envoltos num silêncio anormal, Milicent preparava-se para subir em direcção ao quarto.
- Vou dormir…tenham uma boa noite – disse, num tom calmo como se não fosse Milicent a falar.
- Achas que…podemos falar? – Perguntou Mario de imediato.
- Para que? – Milicent não esperava tal pergunta de Mario…não queria que, aquela conversa, fosse incidir novamente no assunto Mandzukić.
- Podemos ou não falar?
- Eu vou subindo… - disse Marlene, deixando-os a sós.
- Força…podes começar.
- Ficaste chateada?
- Porque é que haveria de ficar chateada? Estás sempre a dizer que eu estou a tentar ter outro…
- Eu não digo isso.
- Então dizes o que, Mario? Tu mal me conheces… - Milicent sentia que Mario e, talvez, alguns dos seus companheiros de equipa (e, sobretudo, Marco), a estivessem a julgar apenas pelo que tudo aparentava ser.
- Sim…eu mal te conheço, mas acho que já vi demasiadas coisas que não posso ignorar.
- Mario…tu só vês dois amigos que se dão bem. Nada mais.
- Eu vejo o Mandzukić que quer levar-te para a cama, vejo o Mandzukić que quer aproveitar-se do facto de tu e o Marco terem dado um tempo – Mario fez uma pausa…haveria imensa coisa que ele via em Mandzukić mas que não era capaz de dizer a Milicent – e depois…vejo uma Milicent que não lhe mete travões.
- Ai eu não meto travões!? Deixa-me rir…se eu não metesse travões já tinha havido qualquer coisa. Tu não sabes o que dizes.
- Sei o que digo sim…se te meteste com o Marco mesmo sabendo que ele era casado, o que é que te impediria agora de te meteres com o Mandzukić?
- O meu namorado…o Marco.
- Duvido um bocado disso… - Milicent sabia que aquela conversa, a partir de agora, só iria piorar. Mario estava a insistir num assunto que não tinha pés nem cabeça, Milicent não consegue calar-se quando a “atacam”.
- Duvidas? Ainda bem. Sabes que mais? Isso são ciúmes. São…porque se tu não tivesses a Marlene, se não nos tivesses aqui às duas estavas sozinho.
- Cala-te! Estás a ouvir o que dizes?
- Estou…e acredita que o digo em plena consciência. Tu és, simplesmente, o melhor amigo do meu namorado e namorado da minha melhor amiga…não me és nada…eu não te sou nada. Se é para abrir o jogo: vamos abri-lo.
- Então, se é assim, há coisas que te tenho de dizer – interiormente, Milicent sentiu-se quebrar. Tinha, na sua frente, um Mario completamente diferente. Alterado, nervoso e iria falar…custava-lhe aquilo…estava a gostar dele como um irmão e ver aquela raiva no olhar de Mario fez o seu coração disparar. Tentou não transportar emoções para fora…mas poderia explodir a qualquer momento – quando o Marco me contou, no dia do casamento, que tinha estado contigo…eu fiquei com aquela ideia que todos tínhamos quando foi a despedida de solteiro dele: ias com todos – Eu lembro-me…o Marco tinha dito isso - Conforme as vossas coisas foram avançando, eu mudei de ideias…parecias realmente diferente, uma rapariga decente e com princípios. Mudaste o Marco…ele está diferente, parece um rapaz novo. Mas, sinceramente, nem sei se isso é bom ou não.
- Porque…? – A voz de Milicent saiu meia seca…começavam-lhe a faltar as forças interiores…começava a não conseguir ouvir mais nada.
- Porque?
- Porque é que estás a dizer isso tudo…agora? E dessa maneira.
- Estou a dizer-te porque quero que o saibas. Quero que o saibas agora do que depois quando as coisas estiverem bem.
- Então…antes que as coisas fiquem bem, isto vai ficar mal. Mudaste-te agora para aqui, conheces pouca gente…ou fazias festas todos os dias ou comias uma gaja diferente todas as noites…pensas que tens tudo mas falta-te amor. Estás a descobri-lo com a Marlene, mas ela não te muda de um dia para o outro. Nem pode ser só ela a mudar-te – Ok…tu estás a falar assim isto não vai correr nada bem – e sabes que mais? Tens muita sorte em ela dormir contigo todas as noites. Porque tu não sabes, nem imaginas, o que é teres a pessoa que mais amas longe. Não imaginas o que é passares o dia à espera de uma chamada que não chega. Não sabes o que é disserem-te que só quando tiverem tempo é que vêm ter contigo – Mario passou a ver uma Milicent revoltada, com os olhos a ficarem baços e brilhantes com a água que se acumulava neles. Milicent levantou o tom de voz e falava de Marco com uma mistura de raiva e saudade – Acredita que, quando eu te conheci, tinha raiva de ti, por teres deixado o Dortmund, por teres feito a Marlene chorar. Mais do que tua namorada neste momento, ela foi das poucas que deve ter sentido a tua saída do Dortmund como ninguém. E sabes que mais? Tu não mereces nem um pouco. Não mereces que sofram daquela maneira por ti. Não mereces a maneira como ela te venera – ao mesmo tempo que falava do que se passou com Marlene, Milicent lembrava-se de Marco e as lágrimas começaram a escorrer-lhe freneticamente pela cara – Tu não mereces o que te dão, porque tu não sabes, nem sonhas o que é sofrer por alguém que se ama…
- O que? Tu não me conheces…não sei o que é sofrer? O que é que achas que se sente quando todos os adeptos do clube onde jogas te odeiam? O que é que achas que se sente quando tens os teus pais e irmãos a quilómetros de distância? Ao contrário do que pensas…eu sei o que é sofrer.
- Se soubesses…de verdade, não dizias que eu ando a tentar ir para a cama com o Mandzukić.
- É o que está aos olhos de todos! Ele faz-se a ti e tu recebes tudo dele. Metem nojo quando estão juntos.
- O que? – Milicent estava incrédula com o que acabara de ouvir.
- Vocês importam-se de pararem por aí? – Marlene, que ouvia a conversa desde que esta tinha começado, interrompeu-os.
- Tens razão…é melhor parar mesmo antes que diga mais coisas – respondeu Mario.
- Estás à vontade. Se eu te meto nojo, só te posso agradecer estes tempos aqui em tua casa. Podes ter a certeza que não voltarás a por os teus olhos de porcelana em cima de mim – ouvir aquilo da boca de Mario…tinha tido o mesmo impacto como se tivesse sido Marlene a dize-lo…a desilusão tomava de assalto o coração de Milicent e as lágrimas pareciam não cessar – ficas com a tua consciência tranquila depois de tudo o que disseste, não ficas?
- Fico…podes ter a certeza que não me arrependo de nada do que disse.
- Perfeito – Milicent pegou na sua mala, olhou para Marlene voltando a olhar para Mario – lembra-te: ela é o que tens de mais valioso, fazes-lhe alguma coisa que a faça sofrer e eu acabo contigo no segundo a seguir. Conseguiste destruir a imagem de irmão que começava a ter de ti.
Milicent nada mais disse. Saiu de casa deixando lá a sua vida. Sentia-se…sozinha.
- Vocês…disseram coisas feias… - começou Marlene.
- Ouviste tudo?
- Sim…como é que lhe conseguiste dizer tudo?
- Marlene…ela tem razão. Eu nunca soube o que é o amor, nem sei acho eu. Mas, desde que vieste para a minha vida tudo mudou. E…eu apenas lhe consegui dizer tudo porque…acho que só sei fazer mal às pessoas.
- Não digas isso, Mario!
- É verdade…eu disse-lhe coisas que são muito más. Eu tenho noção disso…e tenho noção que ela era a única que era capaz de me dizer tudo na cara, que eu era o único que conseguia dizer-lhe a ela – Mario aproximou-se de Marlene, agarrando-lhe nas mãos – tu não eras capaz de ter uma discussão assim comigo, nem com ela. É preferível que ela me odeie a mim do que a ti. Só espero é que…tenha conseguido alguma coisa com isto porque, tenho a certeza que esta discussão mexeu comigo.
- Obrigada, Mario. De verdade.
- Não me tens de agradecer…se ela não voltar a casa dentro de uma hora ligo ao Mandzukić.
- E se ela não estiver lá?
- Vamos à procura dela. Tal como ela me via como um irmão…também eu a começo a ver como uma irmã mais nova e não quero ser responsável por lhe acontecer alguma coisa.

Marlene ia, pela quinta vez, ao quarto de Milicent e voltava a encontrá-lo vazio. Voltou a ir ter com Mario ao quarto deles, sentando-se na cama.
- Ela ainda não chegou…
- Mas também ainda não apareceu em casa do Mandzukić. Caso contrário ele já te tinha dito algo.
- Podemos ir à procura dela?
- Claro… - os dois levantaram-se indo até ao exterior da casa. Como Milicent não tinha levado o carro, era impossível ter ido muito longe com os sapatos que tinha calçados.
Marlene e Mario entraram no carro começando a vaguear pelas ruas de Munique. 
Procuraram a noite toda, procuraram-na até que o sol apareceu nos céus de Munique e não a encontraram. Milicent não voltara a casa, Milicent não atendera nenhuma chamada da melhor amiga. Milicent desaparecera sem deixar rasto.


Olá meninas!
Deixo aqui mais um capítulo. Já tenho alguns de reserva e assim fica mais fácil dar-vos um capitulo com mais regularidade.
Espero que tenham gostado, que o rumo que a história está a levar seja do vosso agrado. Quero aproveitar para agradecer a quem comenta, é muito importante.
Por isso, fico à espera dos vossos comentário.
Muito obrigada por tudo.
Um bom resto de Domingo.
Ana Patrícia