Aquela hora que passaram em permanente contacto um com o outro, só
tinha feito com que se aproximassem ainda mais. Nem um, nem o outro
pensou no que se iria passar no dia seguite. Só queriam aproveitar,
aproveitar-se um ao outro e a conhecerem-se cada vez mais.
- Porque é que me mentiste, Marco? - Milicent estava de barriga para
baixo a olhar para Marco, que se mantinha de barriga para cima bem
junto dela.
- Menti-te?
- O campeonato acabou este fim de semana...
- E eu menti-te?
- Sim...hoje, em casa da Carolin, disseste que lhe ias dizendo que
eram os últimos jogos e que estavas cansado...já não vais ter mais
jogos.
- Porque é que te foste lembrar disso agora? - Marco aproximou-se de
Milicen, beijando-lhe o ombro.
- Deu-me para pensar nas últimas 24 horas...
- Foram as melhores 24 horas desta semana.
- Sim, sim...vai inventando.
- Não estou a inventar, Mili...
- Mili? É Milicent Marco... - Milicent levantou-se vestindo a sua
roupa interior e uma camisola de Marco que estava perto de si.
- Ei... - Marco levantou-se dando a volta à cama de maneira a chegar
perto de Milicent. Colocou-se de frente para ela, levantando-lhe a
cabeça para, assim, conseguir olhar nos seus olhos – Não é
suposto chamar-te...Mili? - Marco viu uma Milicent diferente à sua
frente. Parecia abatida, mesmo que estivesse com um sorriso.
- Acho que não... - Marco percebeu que estava algo a envolver o
diminutivo de Milicent, levou as suas mãos até ao rabo de Milicent,
aproximando-a ainda mais de si – acho que podemos falar disso
quando me deres o resto do que prometeste...
- Jantar! Sim...vamos até à cozinha e enquanto eu trato do comer,
tu falas naquilo que quiseres, pode ser?
- Parece-me muito bem – Marco deu um beijo na testa de Milicent e,
depois de vestir uns calções, os dois desceram rumo à cozinha.
Quando lá chegaram, Marco foi até ao congelador retirando de lá
uma pizza.
- Parece-te bem o jantar? - Milicent riu e apenas assentiu com a
cabeça que sim. Marco ligou o forno e, começou a preparar as coisas
- Podes sentar-te e começar a falar. Queres beber alguma coisa?
Água, sumo ou vinho é tudo o que posso oferecer.
- Eu posso ajudar-te Marco – Milicent foi ter com Marco que a
agarrou pela cintura.
- És a menina da casa, mereces descanso – Marco pegou em
Milicent ao colo, sentando-a no banco alto que estava junto da
bancada – água, sumo ou vinho?
- Oh...vinho pode ser... - Marco deu-lhe um beijo, indo até ao frigorífico e serviu dois copos de vinho branco. Um para ele e outro
entregou a Milicent. O primeiro gole foi bebido envolto numa troca de
olhares intensa...Marco iria perguntar o porque de Milicent não
querer ser tratada por Mili...e ela iria explicar-lhe, mesmo que isso
lhe fosse custar.
Marco colocou a pizza no forno e sentou-se junto de Milicent,
olhando-a.
- Queres que te explique, não é?
- Só se o quiseres fazer...não quero estar a meter-me em assuntos
que não são para eu saber.
- Acho que não há problema...os momentos em que estamos os dois
juntos vão servir para a Milicent se voltar a encontrar...acho eu.
- A Milicent perdeu-se?
- Andou aí um bocadinho à nora...e às vezes ainda fica. Como já
te disse eu vivo com os meus avós e são poucas as vezes que estou
com os meus pais. Enquanto fui pequena, a minha mãe manteve-se por
casa, a tomar conta de mim...mas quando eu entrei para o liceu ela
voltou ao trabalho no ar e com o meu pai...e Mili...são eles que me
chamam...mais ninguém o faz porque sabem que não me sinto muito bem
com isso...porque me custa estar longe deles.
- Desculpa...
- Tu não sabias, Marco.
- Mesmo assim.
- A sério...não tens mesmo que pedir desculpa.
- E todos te tratam por Milicent?
- Não...os meus avós é Milicent ou bebé – Milicent riu –
sempre foi assim que me trataram. Os amigos é Mimi ou Mi.
- Gosto de Mimi...acho que te posso tratar assim.
- Não é preciso...o Mili em ti...foi diferente.
- Diferente?
- Sim...lembra-me os meus pais, mas não me faz tão mal como o Mili
de outras pessoas...acho que me estás a fazer mal à cabeça.
- E por isso é que a Milicent se vai encontrar?
- Eu...não sei se foi por pensar muito que os meus pais pouco me
conhecem, sempre me senti um bocado não eu...longe do meu verdadeiro
eu, entendes?
- Acho que sim...
- E, nesta passagem de ano, prometi que me ia voltar a focar em mim.
Nunca o tinha feito, mas foi bom porque me ajudou em tudo...ajudou na
faculdade, na minha maneira de pensar, na forma como me arranjo. Na
forma como falo com as pessoas...no à vontade da nossa cena.
- Se eu tivesse conhecido a outra Milicent, não estavas aqui, pois
não?
- Não...porque a outra Milicent nunca tinha estado com um rapaz.
- Tu eras virgem?
- Não Marco! - Marco fez a pergunta porque pensou que tinha sido o
primeiro de Milicent e, apesar de saber que ela sabia muito bem fazer
as coisas, poderia ser muito bem a sua primeira vez – Mas é por
causa da minha primeira vez que eu hoje sou capaz de estar aqui.
- Não estou a perceber...
- E eu acho que não quero falar disto contigo.
- Claro, é a tua vida, não me tens de explicar tudo.
- É só porque...vai buscar uma pessoa que me fez muito mal. A nível
psicológico...mas um dia mais tarde eu conto-te.
- Se o quiseres fazer, cá estarei...espero eu – Milicent também
esperava...contrariamente ao que pensava, sentia-se bem a falar com
Marco, sentia-se descontraída e sem qualquer tipo de vergonha.
Porque ele não a conhecia e não poderia julgar pelo que lhe estava
a dizer.
Marco levantou-se, indo retirar a pizza do forno. Estava na hora de
jantarem, sempre sob o olhar atento um do outro. Marco sentia-se
capaz de ficar a olhar para Milicent por muito tempo...aquela
rapariga tinha, de facto, mexido com ele de forma que ele se esquece
de que será um homem casado em pouco tempo. E Milicent...sentia-se
desejada, sentia-se atraída por um rapaz (o que lhe fazia confusão
dado ao seu passado). Milicent queria e quer estar com ele, mesmo
sabendo que ele se casa em menos de 24 horas.
- E...que posso eu sabes sobre o meu jogador preferido do Dortmund?
- Jogador preferido? Eu?
- Não Marco...eu, só por acaso, estou a jantar com o Lewandowski.
- Sou o teu jogador
preferido?
- Ai...para que é
que fui sincera? Agora vais ficar convencido...
- Não...só não
estava à espera, pela imagem que tinhas de mim.
- Isso era a imagem
fora de campo...porque no Dortmund tu és o Marco Reus que joga
maravilhosamente bem.
- Uau...ela está a
dizer que eu jogo maravilhosamente bem?
- É a verdade. São
poucos os jogadores que dão o que tu dás ao clube. Não sei se é
por seres mesmo do Dortmund, mas isso vê-se em campo e eu não podia
dizer o contrário.
- Bem, se assim é,
só posso agradecer!
- Nada disso.
- Tudo isso –
Marco, que estava perto de Milicent, deu-lhe um beijo nos
lábios...Marco cada vez mais tem a necessidade de ter os seus lábios
junto dos de Milicent. Os lábios dela são suaves, carnudos
parecendo encaixar-se na perfeição nos dele. Marco nunca se sentiu
assim por uma rapariga...nem por Carolin. A atracção que sente por
Milicent não sabe explicar, apenas senti-la.
- Vá, mas conta-me
coisas sobre ti... - Milicent colocou um pedaço de pizza na boca,
esperando que Marco falasse.
- Bom...fiz 24 anos
ontem, conheci-te ontem, sou feliz hoje e não sei o que esperar do
amanhã.
- Uau...que é isso
tudo?
- Sei lá. Foi o que
saiu...o que é que queres saber de mim?
- Não sei...para
além de futebol, que mais fazes tu?
- Pouco...para além
dos jogos, tenho os treinos com a equipa e os pessoais. Depois...o
resto de tempo livre é para ouvir música, ver filmes...descansar.
- Uma vida um pouco
monótona.
- Nem por
isso...acaba por ser bom, porque há sempre qualquer coisa que muda o
dia.
- Acredito que sim.
Os dois acabaram de
jantar e, por quase imposição de Marco, deixaram tudo como estava
indo para o sofá.
- Marco, podíamos
muito bem ter arrumado aquilo!
- Sim, sim...eu
agora quero ficar contigo, aqui, sossegadinhos – Marco puxou
Milicent para ele e os dois ficaram bastante juntinhos. Milicent
estava em cima do colo de Marco, como se fosse uma menina pequenina.
Marco começou a beijar Milicent passando as suas mãos pelas pernas
descobertas da rapariga.
- Olha lá...não
era sossegadinhos?
- Que eu saiba...uns
miminhos não é andar aí a fazer corridas.
- Hum-hum... - os
dois ficaram no sofá apenas e só trocando carinho.
No sofá...porque
quando a hora de “dormir” chegou, os dois voltaram a ser um do
outro de uma forma completamente louca. Como se nunca o tivessem
feito, como se fosse a primeira vez que estavam juntos desta forma.
****
Marco, na noite
anterior, tinha programado o seu despertador para as oito da manhã.
Chegar atrasado ao seu casamento é que não poderia ser. Acordou com
o barulho do alarme, mas desligou-o de imediato para que Milicent
pudesse descansar um pouco mais.
Depois de tomar um
duche e vestir a sua roupa, ajoelhou-se no chão junto do lado da
cama onde Milicent estava a dormir.
- Mili...? - Marco
roçou com o seu nariz na bochecha da rapariga que, mesmo não
abrindo os olhos, o beijou.
- Acordar assim é
bom – Milicent abriu os olhos deparando-se com os de Marco
completamente brilhantes.
- Assim como?
- Cansada mas feliz,
com o teu cheiro...
- Acho que ainda
estás a sonhar...
- Eu não sonhei
contigo.
- Não?
- Não...acho que
não sonhei. Se sonhei não me lembro.
- Acordar com o teu
cheiro também é muito bom – Marco voltou a beijar Milicent, que
colocou os seus braços em torno do pescoço de Marco.
- Não quero que vás
embora... - acabou Milicent por assumir...aquela parte era a que mais
iria custar.
- Acredita que eu
também não me importava de ficar aqui contigo.
- Mas tens de ir
casar...
- É... - os dois
olhavam-se, como que fixando cada traço do rosto um do outro.
- Espero que corra
tudo bem.
- Eu também...mas
podias aparecer naquela parte de “quem tem algo contra este
matrimónio fale agora ou cale-se para sempre”.
- Vai sonhando...eu
não te vou impedir de casar. Tu vais casar com ela Marco...porque tu
gostas dela só estás comigo para quebrar a rotina e eu a mesma
coisa.
- Não nos vamos
apaixonar um pelo outro?
- Não.
- Prometes?
- Prometo! -
Milicent tinha a certeza que queria cumprir aquela promessa, queria
não se apaixonar por ele porque sabe que é apenas um tempo que vão passar juntos. Mas Marco...tem a certeza que esta promessa, para
ele, é difícil de cumprir.
- Tenho de ir
andando...
- Sim, vai! Só as
noivas se podem atrasar. Eu vou levantar-me – Milicent ia-se a
levantar, mas Marco tapou-a.
- Fica. Esta casa é
só nossa. Só eu tenho as únicas duas chaves que lhe pertencem. Eu
vou, mas tu podes ficar porque ainda é cedo – Marco puxou do porta
chaves, retirando de lá uma chave – ficas com a suplente.
- Não...
- Sim...
- Marco não.
- Milicent, vá não
vou discutir contigo – Marco deixou a chave em cima da mesa de
cabeceira, dando um beijo em Milicent – dorme mais um bocadinho,
sim?
- Acho que...posso
tentar – Milicent sorriu, Marco deu-lhe mais um beijo e
levantou-se.
- Depois eu digo-te
qualquer coisa.
- Como?
- Ligo... - Marco
riu-se apercebendo-se de que não tinha o número de Milicent.
Retirou o seu telemóvel do bolso das calças dando-o à rapariga –
achas que me podes dar o teu número?
- Claro – Milicent
guardou o seu número na lista telefónica de Marco, trocaram mais um
beijo e Marco saiu.
Milicent ainda
pensou...que ele vai casar dentro de poucas horas, mas acabou por
adormecer.
Marco tinha na sua
frente a mulher com quem iria casar e só conseguia pensar naquela
mulher com quem tinha passado a noite. Mais que uma vez a imagem de
Milicent lhe passava pela cabeça a breves minutos de dizer “Aceito”.
Carolin já o tinha dito, o padre estava a discursar e Marco só
apanhou a parte final:
- ...Carolin para
sua esposa? - “Ok...antes deve ter sido a parte do “Aceita, de
livre e espontânea vontade Carolin para sua esposa?” era agora que
eu tinha de dizer aceito” - os pensamentos de Marco em relação ao
casamento eram muito rápidos e tudo lhe saia meio atrapalhado.
O tempo que levou a
responder foi o tempo que levou a pensar na sua noite com Milicent.
Mas acabou por dar a sua resposta com base nisso:
- Aceito.
- Assim declaro-vos
marido e mulher. Pode beijar a noiva – Marco beijou Carolin e então
percebeu a diferença. Com Milicent sentia o seu corpo a ferver e com
Carolin...era apenas aquele carinho, aquela ternura que tem por ela.
Mas agora? Estava casado.
A tarde foi de
festa. Marco tinha os seus colegas todos por ali e isso ajudava-o a
esquecer, por momentos, de Milicent. Mas não conseguia aguentar
muito mais sem ela...afastou-se da festa e ligou-lhe. Depois de dois
toques, Milicent atendeu.
- Marco...?
- Como estás?
- Eu estou bem...mas
porque é que me estás a ligar? Tu casaste, não casaste?
- Se eu dissesse que
não? O que é que acontecia?
- Não sei...
- Mas casei.
- Então porque é
que estás a falar ao telemóvel? Devias estar com ela...com os
convidados.
- Precisei de falar
contigo...
- Marco...olha que
podem desconfiar.
- Não. Duvido que
desconfiassem que eu te tenho a ti – por muito que aquilo não
fosse o significado de uma relação de namorados, Marco queria tê-la
a ela.
- Tu não me tens,
rapazinho.
- Não? - perguntou
confuso.
- Não...eu é que
te tenho a ti – Milicent tinha mudado o seu tom de voz...era mais
doce..mais ternurento.
- Oh...isso é bom
saber.
- Foi a primeira e
última vez que me ouviste dizer isto.
- Hum-hum...vamos
ver. Que é que andas a fazer?
- Não te zangas
comigo?
- Não...não pode
ser, não és minha para me chatear contigo.
- Verdade.
- Vá, diz lá.
- Ora bem...vim até
à tua casa.
- Fazer o que?
- Acho que...para a
semana saberás.
- Para a semana?
- Vais de lua-de-mel
quanto tempo?
- Não vou.
- Hã? - Milicent
estava completamente surpresa...o mais natural seria que um jovem
casal, recém casado, fosse de lua de mel.
- Ela não pode sair
do país...tem uns problemas a tratar.
- Hum...então
saberás quando quiseres cá vir.
- Agora?
- Não! Nem à
noite, nem amanhã. Depois...
- Eu por mim ia já.
- Não Marco...e é
melhor voltares para a festa.
- Sim...por acaso é
melhor. Falamos depois?
- Sim, sim...eu não
fujo.
- Beijos.
- Beijinhos Marco –
os dois desligaram a chamada e Marco virou-se para voltar para a
festa. Para o seu maior espanto tinha o seu padrinho e melhor amigo
encostado ao tronco de uma palmeira a olhá-lo. Mario Götze olhava
Marco como se soubesse tudo o que se passava.
- Quem é ela? -
perguntou Mario.
- Que é que estás
para aí a dizer?
- É a rapariga da
discoteca, não é?
- Mario...
- Eu
conheço-te...mas tem cuidado.
- Eu tenho...não te
preocupes, padrinho! - os dois riram-se...Mario poderia saber que
Marco tem alguém que não é Carolin...mas não o denunciaria.
- Tiveste dose dupla
de despedida de solteiro?
- Mau...vais
começar?
- Tiveste! - Mario
riu-se, dando um calduço a Marco – a miúda é boa?
- Achas mesmo que
vou falar disso?
- Qual é o mal...?
É minha cunhada!
- Estão a falar de
mim? - perguntou Carolin. Mario referia-se a Milicent, mas como
Carolin sabia (ou pensava saber) que Mario só a tratava a cunhada a
ela.
Mario olhou para
Marco e os dois ficaram sem saber o que fazer...ao fim ao cabo eles
não falavam de Carolin, mas sim de Milicent...a outra parte de
Marco.