domingo, 12 de junho de 2016

48º Capitulo: “Tens assim tanta vontade de ser mãe outra vez?”

- Ainda bem que vieste almoçar connosco – dizia Milicent, sentando-se num dos cadeirões de jardim na casa de Mario e Marlene. Thiago sentava-se ao lado dela, olhando-a.
- Ainda bem foi que tu vieste cá! Não estava mesmo nada à espera...
- Eu tinha prometido que iria estar presente na tua recuperação e que, se pudesse, te iria visitar – Milicent, que até então olhava para o céu, olhou para Thiago – mas...com a lesão do Marco foi tão complicado.
- Claro e já tínhamos falado sobre isso e eu entendo – Thiago agarrou a mão de Milicent, fazendo pequenas carícias sobre a mesma – como é que está tudo?
- Vai ficando cada dia melhor que o anterior. Estou numa fase tão boa da minha vida, Thiago...
- Sabes que isso se nota?
- Ai nota?
- Perfeitamente. Estás com aquela tua energia tão contagiante e esse sorriso? Nota-se que estás bem, muito bem aliás.
- Posso dizer que, desta vez, as coisas foram todas completamente diferentes. Ele esteve mais descontraído, mais presente do que das outras vezes. Começamos logo a brincar com a situação no primeiro dia e, a partir daí, foi sempre a melhorar.
- Chegaste a ir a alguma sessão de fisioterapia com ele?
- Fui. Até porque ele já me tinha pedido da outra vez – Milicent encostou-se ao cadeirão, cruzando os braços.

Lembrança de Milicent, on:

- Oh Mili, mas então?
- Então eu tenho sono...
- Vou indo, então – Marco que, até então, estava sentado ao fundo da cama levantou-se agarrando-se às muletas.
- E vais sozinho, não é amor? – Milicent virou-se de barriga para cima, olhando para Marco que permanecia estático a olhá-la – Esqueceste-te que eu sou a tua motorista?
- Eu ligo ao Marcel.
- És tão tolo – Milicent meteu-se em pé na cama, caminhando na direção de Marco. Por estar mais alta que ele, teve de se baixar para o beijar – achas que eu não ia? Eu prometi, eu cumpro. Mas que me apetecia ficar na cama, apetecia.
- Mas podes ficar, a sério.
- Shiu, vou tomar um duche rápido e já volto. Podias ir vestindo o menino...
- Vou vestindo sim senhora – Milicent voltou a beijar Marco, descendo da cama para ir em direção da casa de banho.
Antes de entrar para o seu duche, Milicent deixou-se ficar por algum tempo a olhar-se ao espelho. Cada vez mais gostava do que aquele espelho lhe transmitia. Em tempo, olhar-se ao espelho era algo que nunca fazia. Milicent não sentia a confiança necessária para se sentir bem com ela. Foi crescendo, foi amadurecendo sabendo que, no último ano, foi quando cresceu mais e, agora, a olhar-se ao espelho Milicent deixou de ver aquela rapariga do seu antigamente. Milicent via-se como uma das partes de um casal com história, via-se como mãe de um bebé lindo e saudável. Via-se feliz. Imensamente feliz.
Despachou-se o mais rápido que conseguiu já que teriam de estar em pouco tempo no centro de treinos. Chegou ao quarto, calçando o sapato que lhe faltava.
- Estão despachados? – perguntou, capturando a atenção de Marco.
- Mais que despachados! – Milicent aproximou-se deles – Obrigado, Mili – Marco levou as suas mãos até ao rabo da namorada aproximando-a dele.
- Não te ponhas com ideias, rapaz! – Milicent deu-lhe um curto beijo nos lábios, pegando em Marten ao colo – Vamos lá embora que não podes chegar atrasado.
- Sim, chefe! – Marco levantou-se, caminhando com ajuda das muletas. Milicent despachou-se mais depressa que o namorado, acabando por meter Marten na cadeira do carro e esperar no exterior do mesmo até que Marco se aproximasse dela.
- Andas a ficar um lentinho... – antes que Marco pudesse ir para o seu lado do carro, Milicent abraçou-o – eu tenho muito orgulho na pessoa que és.
- Acredita que é proporcional ao orgulho que eu tenho por ti – Milicent sorriu, olhando-o.
- Vá, vamos – abriu-lhe a porta do carro, agarrando nas muletas. Depois de as colocar no porta-bagagem, Milicent foi para o lugar do condutor começando a dirigir-se para o centro de treinos do Dortmund – como é que vai ser hoje?
- Não sei. Todos os dias fazemos coisas diferentes para trabalhar os músculos.
- Não faz mal nós irmos, pois não?
- Não. Eu falei com o fisioterapeuta e ele disse que seria bom.
- É que eu não me quero sentir lá uma emplastra – os dois riram-se e, quando deram por eles já estavam perto da entrada do centro de treinos – será que vão andar por aqui as tuas fãs?
- Não é costume. Isso só acontece quando o treino é aberto ao público.
- Eu ainda não percebi o que é que elas acham de mim, sabes? – Milicent parou o carro junto do segurança abrindo a janela. O senhor viu Marco, abrindo a cancela de forma a que Milicent entrasse.
- Mas elas gostam de ti – Marco retomou a conversa – não viste que até te mandam prendas e tudo?
- Tudo bem, isso é a tua querida Luesne. Mas e o resto? Eu, no outro dia, vi comentários estranhos.
- Como assim?
- Oh daqueles que queriam casar contigo! – Marco riu-se e Milicent acabou por lhe dar uma palmada no ombro – não te rias que o caso é sério! Olha se te apaixonas por uma delas?
- Isso é impossível porque eu sou perdidamente apaixonado por ti.
- Oh cala-te – Milicent estacionou o carro num dos lugares disponíveis, saindo assim que o desligou. Foi buscar as muletas de Marco, entregando-lhas quando ele já estava de pé fora do carro – vamos lá a isto. É para trabalhares, ouviste?
- Claro!
- Acho bem – Milicent retirou Marten da sua cadeirinha, fechando o carro.
- Então hoje trazes companhia? – os dois olharam para trás, vendo Aubameyang aproximar-se deles.
- Oh só cá faltava este! – antes de ir ter com Marco, Auba foi ter com Milicent e, de imediato, Marten começou a esticar o seu corpo na direção dele.
- Olha, olha tens saudades do tio? – com alguma rapidez, retirou o menino do colo de Milicent, fazendo com ele o avião – o Marten tinha saudades do tio Auba!
- Era bem feito que te bolçasse para cima! – Milicent surpreendeu-se com aquele comentário de Marco, acabando por se rir e ver Aubameyang parar e ficar a olhar para o amigo – não me olhes assim, ele comeu à pouco tempo.
- Andas feito um engraçadinho! Não eras assim, oh loiro! – Marten voltou ao colo da mãe, rindo-se imenso – vão lá ter um momento em família na sala de recuperação. Mas não façam bebés que aquilo tem câmaras por lá.
- Ainda bem que nos dás essa informação...é que me estava mesmo a apetecer fazer coisas nessa sala – atirou Milicent.
- E eu a pensar que me ias dar um raspanete! Adeus, fui – ele começou a correr enquanto Milicent e Marco caminharam em direcção da sala de tratamentos.


- Chega aqui – a sessão de tratamento já ia a meio e Marco tinha aproveitado que estavam os dois sozinhos para chamar a namorada. Milicent aproximou-se dele, passando com a sua mão pela perna despida de Marco – fazeres isso é perigoso!
- Queres ver que os ligamentos estão assim tão frágeis? – aproximou-se dele, passando a sua mão para dentro da camisola de Marco.
- Estás muito atrevida, estás.
- Devo confessar que te tornas muito irresistível aqui deitado.
- Olha, olha – Milicent riu-se, sentando-se na cadeira a sua lado – anda cá, Marten – Marco abriu os seus braços na direção do filho que, muito depressa, se precipitou na direção do pai – é muito bom ter-vos aqui.
- Também é muito bom estar por aqui – Milicent agarrou a mão de Marco, beijando-a – e estás mesmo irresistível hoje!
- A mãe está tola! – Marten riu-se e foram interrompidos pela entrada do fisioterapeuta.
- Estou a gostar deste bom ambiente! – colocou-se ao lado de Marco, passando com a mão sobre a cabeça de Marten que o olhou – não sabes quem eu sou, não é? Mas eu digo-te que sou o senhor das boas noticias – o fisioterapeuta olhou para Marco, sorrindo-lhe – terminas esta semana a fisioterapia e, em principio, poderás começar a trabalhar com bola no inicio da próxima semana.
- A sério? O senhor está a falar mesmo a sério? – Milicent foi quem se expressou primeiro, para espanto de Marco – não o vão pôr a jogar só porque ele é importante para a equipa, pois não? O Marco precisa de recuperar a sério, totalmente.
- Estou a ver que tens aqui uma defensora...
- Ela nem costuma ser assim tão expressiva, hoje não sei o que lhe está a dar.
- Eu já disse que estás irresistível aí deitado e olha viste agora vou corar – Milicent estava mesmo sem filtro nenhum nas suas vontades de falar, de se expressar e dizer tudo o que lhe ia pela cabeça.
- Não se preocupe, menina. Aqui o rapaz está completamente recuperado. Vamos mantê-lo em fisioterapia mais uns dias para não o prejudicar.
- Graças a Deus! Já vais passar o Natal sem as muletas! – todos se riram e Milicent sentiu o seu coração, finalmente, sossegar.

Lembrança de Milicent, off.

- Acho que, se o Marten não tivesse passado aquela noite com cólicas tínhamos feito o bebé número dois – acabou Milicent por se confessar a Thiago.
- Tens assim tanta vontade de ser mãe outra vez?
- Não, por agora fico bem só com o meu menino – Milicent recostou-se no cadeirão – mas sinto que voltamos a ser os mesmos de antigamente, sabes? Ao inicio, eu e o Marco éramos tão focados um no outro e nos prazeres bons da vida que, aqueles dois lá dentro, muitas vezes nos ligavam e perguntavam logo: “interrompemos o sexo?” – os dois riram-se com fortes gargalhadas.
- Isto está muito animado por aqui – ao ouvir a voz da amiga, Milicent só conseguiu olhar para Marlene.
- A Milicent estava aqui a falar de quando tu e o Mario lhe ligavam a interromper momentos íntimos – comentou Thiago.
- Não, não! Eu nunca interrompi momentos desses – Marlene sentou-se em cima das pernas de Milicent que levou as suas mãos até à barriga da amiga – o Mario talvez!
- O Mario sim! E depois o Marco não lhe desligava nunca a chamada. Ficavam horas à conversa e lá se ia o momento – os três riram-se e Milicent começou a sentir os pontapés de Erik – eu bem rezei para que fosses menina – começou a passear com uma das suas mãos pela barriga de Marlene, rindo-se – mas vais fazer é a vontade ao teu pai, não é?
- Parece que é Mi – Marlene agarrou as mãos de Milicent e as duas olhavam para Thiago – sabias que ela queria que o Mario apanhasse um desgosto ao saber que era uma menina e não menino?
- Sabia, sabia. O Mario contou-me.
- Mas as minhas preces não foram ouvidas!
- Eu gostava de ver, no dia em que descobríssemos que seria menina, o que é que tu e o Mario faziam – comentou Marlene – tu, provavelmente, fazias uma festa.
- Oh, não...eu acho que só o dizia mesmo para picar o Mario. Mas que queria uma menina, lá isso queria.
- Ainda com essa conversa? – questionou Mario, chegando ao jardim.
- Só faltavas mesmo tu, senta ao colo do Thiago – disse Milicent, fazendo com que todos se rissem. Mario sentou-se ao lado de Thiago, olhando para elas – que foi?
- Estás demasiado animada e elétrica para meu gosto.
- A isto se chama falta, imensa falta!
- Do teu filho? – perguntou Thiago, fazendo com que todos se rissem – ah! De sexo!
- Mas não vamos falar sobre isso...até porque ainda só passaram umas doze horas desde a última vez.
- Que tarada, Mi!
- Mario, shiu, tu sabes que é preciso muito treino para manter os músculos a funcionar. E, quando o Marco estava lesionado, uma pessoa habituou-se a muito...oh por favor, vocês estão a fazer com que eu, desbocada, esteja aqui a falar da minha vida íntima!
- Vou telefonar ao teu companheiro, então.
- Mario, não que vergonha! – demasiado tarde. Mario já fazia a chamada, olhando sério para Milicent – algo me diz que vais fazer videochamada.
- Vês como tu sabes!?
- Oh que vergonha. Esconde-me, Mare – Milicent tentou esconder-se atrás de Marlene mas acabou por espreitar para ver o que Mario estava a fazer – ele vai mesmo fazer videochamada?
- Vai, boneca – Marlene riu-se e Milicent acabou por se recostar no cadeirão.
- Fogo, tanto tempo para atender porquê? Não eras assim, oh macaco! – começou Mario por dizer, assim que Marco atendeu a chamada.
- Experimenta ter um bebé super agitado e logo vês como ficas sem tempo para atender videochamadas de amigos parvos!
- Oh só a voz dele me está a deixar maluca – comentou, baixinho, Milicent. Algo que não passou despercebido a Marlene que depressa olhou para a amiga – estou cheia de vontade de sexo, sim.
- Não caias em tentação...
- Só com o Marco. E algo me diz que ainda vou hoje para Dortmund.
- Oh, mas agora nem ficas connosco?
- Quem não fica? – perguntou Mario, ouvindo o que Marlene perguntava.
- Eu! Vou comer um gelado – avisou Milicent, olhando para o amigo.
- Nem queres ver o teu namorado?
- Mais vale ela não o ver – interveio Marlene – ainda começam com preliminares via telemóvel – Milicent e Thiago riram-se, juntamente com Marlene. Mario olhava-os sério – oh tartaruga, estás tão sério porquê?
- Porque me parece que está tudo a pensar demasiado em sexo! – Mario voltou a olhar para o telemóvel e, juntamente com Thiago, falavam com Marco.
- Deixa-me ir ali, Mare – Milicent esperou que a amiga se levantasse para que pudesse ir ter com eles. Sentou-se em cima das pernas de Thiago, olhando para o telemóvel – oh Mario, não me queres apresentar este teu amigo?
- Eu também não sei porque é que ele não nos apresentou antes...
- Vocês parecem dois adolescentes com as hormonas aos saltos! – comentou Mario, fazendo com que Thiago se risse.
- O teu amigo anda demasiado atraente...fica tão difícil controlar estas vontades, Mario.
- Olha aí! O teu filho ainda ouve o que estás a dizer! E ele não pode ser como a mãe.
- Oh! Se for como tu deixa lá que também não é melhor! Onde é que anda o nosso fofo?
- Está no quarto a ser mimado pela avó. A minha mãe veio cá e está lá em cima com ele.
- Já compraste a minha prenda?
- Mas tu fazes anos por acaso? – perguntou Mario, interrompendo a conversa dos dois.
- Não! Mas amanhã é dia dos namorados! Eu mereço uma prenda...
- Eu não te chego? perguntou Marco, capturando a atenção de Milicent.
- Chegas...mas assim com muito menos roupa do que essa que tens vestida.
- Olha, a sério parem lá com essas coisas! Que tarados, que vergonha! Nem com visitas se comportam – Mario queria parecer revoltado com aquela situação mas acabou por se rir.
- A visita não é nenhum estranho e, é verdade, devíamos combinar um jantar os três – Milicent olhou para Marco, vendo que Thiago também o olhava – que acham?
- Por mim é quando der mais jeito ao Thiago...
- Havemos de combinar qualquer coisa, sim – Milicent sorriu, vendo que os dois estavam em sintonia e que, até, se poderiam dar bem.



- Por mais tempo que passe, estes jogos com a seleção são sempre os que me deixam mais nervosa – comentava Milicent com a sua sogra.
- Acredita que estamos as duas na mesma situação.
Marco estava em estágio com a seleção. Tinham um compromisso com a Geórgia rumo ao europeu de 2016 e, desde que Marco se tinha ido embora, Milicent não conseguia sossegar.
- Vá lá, bebé. Colabora com a mãe...é só abrires a boca e comer, isto é tão bom! – Marten estava num daqueles dias em que birra era a única coisa que conseguia fazer. Milicent e Manuela tentavam entretê-lo de todas as maneiras mas nada o conseguia pôr de bom humor.
- Pode ser que sossegue a ver o pai jogar... – disse Manuela, fazendo com que Milicent sorrisse.
- Obrigada por ter vindo para ao pé de nós – agarrou a mão da senhora, recebendo um beijo na testa.
- É tão bom estar com vocês. Por mais birras que aí o nosso menino faça, ele consegue ser bem disposto.
- Anda a ficar tão irrequieto...desde que começou a gatinhar como deve ser não quer outra coisa.
- Então prepara-te quando começar a andar! – Manuela riu-se e Milicent acabou por fazer o mesmo.
- Dá, dá – Marten agarrava a mão de Milicent, puxando-a para si – du dá.
- A mãe dá, mas tens de comer! – Milicent aproximou a colher de Marten que depressa se afastou dela – Marten, bebé, assim não dá!
- Vamos para a sala – Manuela aproximou-se da cadeira de Marten olhando para Milicent – daqui a pouco começa o jogo e vamos conseguir que ele coma.
- Deus a ouça! Tu hoje estás tão teimoso – Milicent colocou-se de pé, dando um beijo na bochecha do filho que se riu – assim consegues que a mãe se esqueça da tua teimosia!
- Acho que nisso saiu ao pai. O Marco era igualzinho com a idade do Marten.
- A minha mãe diz isso de mim...ele tem teimosia dos dois lados.
- Mas tu não me pareces tão teimosa como o Marco.
- Tem os seus dias, Manuela – as duas riram-se e, depois de Manuela pegar em Marten ao colo, foram os três até à sala. Sentaram-se as duas no chão em frente da televisão.
Manuela mantinha Marten entre as suas pernas e o menino, muito animado, batia palmas olhando para a televisão. Milicent ia conseguindo dar-lhe a comida para seu contentamento. Manuela mantinha o neto sempre distraído para que Milicent conseguisse engana-lo com a comida.
Estavam tão entregues àquele momento que só quando ouviram os comentadores falar um pouco mais alto é que se aperceberam que tinha sido golo de Marco.
- Foi golo do pai, Marten! Foi golo! – dizia Manuela visivelmente feliz.
- Pai! – surpreendendo as duas aquela palavra saiu da boca do menino que olhava e apontava fixamente para a televisão. A imagem era de Marco a sorrir. Milicent deu um beijo na bochecha do filho, passando com a sua mão pela barriga de Marten.
- É o pai, sim senhora – olhou para Manuela que sorria – já seria de esperar, sabe? Ele já tentava mas só lhe saia “pá”. Marten? – o menino olhou-a – mãe, agora tens de aprender a dizer mãe, mãe!
- Mã!
- Mãe, meu amor. Mãe.
- Pai! Pai, pai, pai – batia palmas à medida que falava, causando a gargalhada entre as duas.

Milicent já dormia quando Marco chegou a casa. Tentando fazer pouco barulho para não acordar a namorada e o filho, Marco acabou por perceber que Milicent tinha acordado. A rapariga agarrou as mãos do namorado, encostando o seu corpo ao dele.
- Dorme, ainda é de noite – disse-lhe, baixinho, Marco.
- O Marten disse a primeira palavra como deve ser – Milicent não resistiu e acabou por se virar para ele – como é óbvio disse “mãe”.
- A sério? – Marco deu-lhe um beijo na testa, envolvendo o corpo da namorada com os braços – gravaste?
- Gravei...pega aí o meu telemóvel – Marco fez o que Milicent lhe disse – agora tu sabes onde ir. Eu vou dormir – Milicent encostou a sua cabeça no peito de Marco, esperando que ele visse e ouvisse a gravação.
Milicent tinha feito um vídeo a dar banho a Marten onde se ouvia o menino a repetir por diversas vezes a palavra “pai”.
- Estás com ciúmes...
- Não. Eu sou a “mã”! É fofinho – voltou a olhá-lo – ele disse pai assim que te viu na televisão.
- Ele disse pai! – Marco abraçou a namorada, visivelmente feliz.
- Não fiques convencido! O próximo vai ter de dizer mãe primeiro! – os dois riram-se e acabaram por permanecer acordados e a falar durante algum tempo.

O mês de Abril tinha começado e, com ele, grandes acontecimentos estariam por chegar. Para começar? Um Dortmund vs Bayern Munique com o regresso de Thiago à convocatória do Bayern, Mario de volta a Dortmund. O mês traz, também, a fase final da gravidez de Marlene. Algo que Milicent sente estar prestes a acontecer.
- Achas que não faz mal estar aqui? – perguntava Milicent a Marco. Tinha ido ter com ele à entrada para o relvado, levando Marten consigo.
- Claro que não.
- A Marlene está estranha hoje – já tinha estado com a amiga – não pára quieta e diz que o Erik está irrequieto.
- Achas que...
- Não sei mas, se o jogo for uma animação, ainda a temos de levar à maternidade.
- Marco? – uma voz que Milicent conhecia muito bem fez-se ouvir. Os dois olharam para trás de Marco, vendo Thiago a acenar.
- Vai lá – incentivou Milicent.

Talvez não esperasse aquele momento num jogo como o de hoje mas ia acontecer. Marco e Thiago iriam estar frente a frente. 


Olá meninas! 
Aqui fica mais um capítulo! Fico a aguardar pelos vossos comentários! 
Beijinhos, 
Ana Patrícia. 

quarta-feira, 1 de junho de 2016

47º Capitulo: “Qualquer dia os fisioterapeutas ficam fartos de ti.”

Depressa chegaram a casa e Milicent gostou de toda aquela sensação de bem-estar que tinha, naquele momento. É certo que a viagem até ali tinha sido feita em torno de um silêncio constrangedor, mas a esperança de que tudo iria ficar bem vivia na jovem rapariga.
- Queres...comer alguma coisa? – Marco acabou por perguntar, depois de Milicent colocar a alcofa de Marten em cima do sofá.
- Não, obrigada – Milicent sentou-se, olhando para Marco. Reparou que se preparava para subir as escadas com as malas na mão – Marco achas que...podemos falar antes de ires lá acima pôr as coisas? – Marco olhou-a, deixando as malas ao fundo das escadas e voltando para junto dela.
- Pensei que preferisses descansar e, não sei, assentar melhor tudo o que aconteceu.
- Não. Acho que precisamos mais de falar...
- Claro – Marco sentou-se ao lado da namorada, entrelaçando as suas mãos uma com a outra. Olhou-a, reparando que Milicent parecia estar mais cansada do que o habitual – eu sei que não fui uma pessoa decente para ti – Marco olhou para as suas mãos – disse coisas que não devia ter dito e fiz coisas que não deveria ter feito.
- Durante esta semana eu fui vendo as coisas noutra perspetiva. Estar ao pé do Thiago e ver tudo o que ele passou fez-me entender o teu lado – olhou para Marco que mantinha o seu olhar preso nas suas mãos – eu hoje entendo que te tenhas sentido em baixo, que sofreste imenso em silêncio – Milicent aproximou-se um pouco de Marco, levando a sua mão direita à cara dele – foi preciso eu distanciar-me para te compreender – com calma, virou a cara do namorado para ela – longe, eu consegui perceber que, talvez, a pressão de uma relação, um filho e uma lesão te tenham levado a um extremo que nenhum de nós pensou ser possível existir – Milicent colocou a sua outra mão na cara de Marco, aproximando-se ainda mais dele – mas também percebi que foi tudo o que nos aconteceu que te manteve de pé e a razão pela qual hoje estás assim.
- Eu acabei por pensar que não estava focado no que era preciso, sabes? Eu tive dias em que lutei na minha cabeça em saber o que era mais importante para mim – Milicent tinha começado a mexer no cabelo de Marco e pôde ver um sorriso formar-se nos lábios dele – houve mudanças na minha vida que eu não esperava que acontecessem e, tudo isso, veio juntar-se aos pensamentos da lesão. Porque eu tenho medo de falhar com vocês, tenho medo de falhar como profissional e...estas lesões deitam-me abaixo em todos os aspetos.
- Sabes... – olhavam-se nos olhos, Milicent tinha as suas mãos na cara do namorado e sentia o seu coração crescer – desde que o Marten nasceu que eu também tenho medo de falhar em tudo. Mas nós estamos a dar o nosso melhor e, no teu caso, estas lesões desde o mundial são recaídas. Tu não estás completamente curado e é preciso que o estejas para te voltares a sentir confiante como antes.
- E nós?
- Nós?
- Sim. Nós. Tu estás confiante que existirá o mesmo nós de sempre?
- Claro que estou. Porque eu sou a tua Mili de sempre, tu és o meu Marco de sempre e agora temos o nosso Marten. Vamos ganhando uns ajustes aqui e ali, mas estamos e vamos estar sempre juntos e com o mesmo nós. Marco... – Milicent agarrou as mãos do namorado, mantendo o seu olhar preso ao dele – estas coisas acabam por fazer parte da vida de casal. E é isso que nos somos. 
- Desculpa tudo o que te disse e tudo o que fiz de mal que não deveria ter feito.
- E desculpa eu...aquela chapada antes de ir para Munique foi um bocado agressiva. Não é que não a tivesses merecido...
- Bem que a mereci, mesmo.
- Mas eu exagerei – Milicent não resistiu mais e acabou por abraçá-lo. Senti-lo nos seus braços, sentir o cheiro de Marco voltar a entranhar-se nela – desculpa.
- Vai ficar tudo bem, Mili – Marco envolver o corpo da namorada com os seus braços e assim permaneceram durante algum tempo.


- Eu disse que o Marco marcava à tua equipa, Mario!
- Oh, pára lá com isso. Não vês que o Mario está triste porque o Dortmund perdeu... – afirmou Marlene, olhando para Marco que estava ao lado de Milicent – olha bem para a cara dos dois – puxou a amiga para junto dela e, lado a lado, olhavam serias para Marco e Mario – estão os dois exatamente com a mesma cara. Parece que jogam pela mesma equipa e perderam o jogo.
- Realmente. Oh Mario, ganhaste!
- Olha, mas queres que diga o quê? – Mario cruzou os braços, olhando sério para Milicent – sabes bem o que é que o Dortmund significa para mim e eu nunca poderei ficar feliz assim.
- Oh, puto, mas ganhaste e estiveste muito bem no jogo – as duas raparigas acabaram por se rir. Era a primeira vez que eles dois se falavam desde que o jogo tinha acabado. Marco iria partir, em breve, com a equipa e Milicent juntamente com eles no mesmo avião. Não tinha trazido Marten consigo já que, fazer duas viagens no mesmo dia, seria cansativo para o bebé.
- Vá, meninos, abracem-se que temos de ir embora, Marco – acabou Milicent por dizer.
- Já? – questionou Marlene.
- Tem de ser. Vamos no avião onde vai toda a comitiva e tal.
- Oh, mas deviam ficar cá mais um bocadinho!
- Eu ficaria de boa vontade – Milicent abraçou-a, dando-lhe um beijo na bochecha – mas temos de ir. Vocês continuem a portar-se bem e, quando forem à próxima ecografia vejam lá se a médica se enganou ou não.
- Deves estar a brincar, tu! – Mario, que se mantinha à conversa com Marco, acabou por interromper a conversa de Milicent com Marlene – porque raio queres tanto que a médica se engane?
- Olha, porque eu queria mesmo uma namorada para o meu filho. Alguém de confiança, sabes? – Marco e Marlene riram-se, enquanto Mario se aproximou um pouco mais delas.
- Vai ser um menino, habitua-te. Depois quando tiveres uma filha, o Erik já tem experiência e será um ótimo namorado.
- Oh, tarado! Estamos a falar de crianças, seu cromo – todos se riram e acabaram por se despedir.
Depressa se dirigiram, cada um, para os seus respetivos sítios. Marco foi ter com a sua equipa e Milicent foi para o aeroporto.
O avião onde iam estava demasiado tranquilo. Milicent ia vendo que Marco a olhava de vez em quando, assim como Aubameyang que ia ao lado dele.
- Aqueles dois ainda vão tramar alguma! – comentou Alysha, a mulher de Aubameyang.
- Eu até me admiro ainda não terem feito nenhuma maluquice.
- Como é que estão as coisas com o Marco? – assim como Aubameyang se tinha tornado visita frequente na casa de Marco e Milicent, Alysha acompanhava-o a maior parte das vezes. Milicent conseguiu, assim, encontrar alguma rapariga que fosse, de certa forma, parecida com ela e com quem falava de tudo um pouco.
- Estão estáveis. Estamos bem, mas ainda não completamente. Mas trabalhamos para isso...
- Queres um conselho de alguém que teve uma relação, em tempos, assim? – Milicent olhou-a – As coisas com o Auba nem sempre foram fáceis, sobretudo quando nasceu o Curtys. Sabes bem como ele gosta de festas e de sair...nós éramos os dois assim e, com o nascimento do nosso filho, tornou-se complicado. Ele queria sair e eu cheguei a um momento que lhe fiz um ultimato...eu não poderia ficar sozinha tanto tempo com um bebé tão pequeno. O filho era dos dois.
- Não fazia ideia...
- Acho que ninguém faz – Alysha sorriu – eu afastei-me, tal e qual como tu. E depois...ele procurou-me e, Milicent – Alysha agarrou as mãos da rapariga, olhando-a – o melhor conselho que te poderei dar é para recuperares a vossa relação na plenitude com todo o vosso amor. Não o façam pelo vosso filho...ou pelos outros, façam-no por vocês. Nota-se que vocês estão bem, sabes?
- Nota?
- Sim. Nos primeiros dias, quando cá chegaste, vocês estavam muito estranhos um para o outro. Não se abraçavam constantemente pela casa, não tinha aqueles sorrisos um para o outro nem o piscar de olho – Milicent estava surpreendida por aquelas palavras de Alysha – e, agora, já estão novamente assim...
- O que é que estão aí a cuscar há tanto tempo? – a voz de Aubameyang interrompeu-as. Apareceu ao lado de Alysha (elas estavam na fila central de lugares no avião) cruzando os braços a olhar para elas.
- Deves ter muito a ver com isso, oh rapaz – atirou Milicent. Foi surpreendida por Marco que, num movimento muito rápido, se sentou em cima das pernas de Milicent.
- Já viste a tua namorada? Ela adora tratar-me mal!
- Alguma coisa lhe fizeste! – Milicent deitou a língua de fora a Aubameyang, encostando a sua cabeça às costas de Marco, rodeando o corpo do namorado com os seus braços.
- Eu? Nunca! Ela é que é assim para mim e é desde o primeiro dia em que nos conhecemos. Já tu...deves-lhe fazer coisas muito boas, tendo em conta o tratamento que tens. Nunca pensei que fosses assim tão bom, oh loirinho.
- Ninguém disse que ele é, Auba – Milicent percebeu que Marco tentou rodar o seu corpo e só via Aubameyang rir-se à gargalhada – eu estou a brincar. Escusas de estar aí a rir-te de uma coisa que não é verdade.
- Mesmo que fosse – Aubameyang, parando um pouco de se rir, olhou-a – tu nunca irias deitar abaixo o rapaz, não era?
- Acredita que ela era bem capaz disso – respondeu Marco.
- Ele sabe do que fala – afirmou Milicent.
- Para quando o casamento? – perante aquela pergunta, Alysha acabou por dar um pontapé ao marido – ei! Para que é que foi isso?
Milicent percebeu que Alysha tinha feito algum sinal a Aubameyang e acabou por se rir.
- Está tudo bem, Aly – acabou por dizer, rindo-se – o teu marido não filtra o que diz, já todos sabemos.
- E devíamos ir para os nossos sítios – alertou Marco, tentando levantar-se. Milicent impediu-o de sair dali... – olha, olha...agora não posso sair daqui?
- Ela está com vontade de fazer coisas obscenas contigo! – Aubameyang foi até Marco, puxando-o – o teu namorado está comigo, adeus.
- Depois admira-te que não te ligue nenhuma! Roubas-me assim o namorado?
- Tens tempo para, em casa, fazer coisas com ele – Milicent acabou por se rir e vê-los irem embora. Olhou para Alysha que, naquele momento, estava bem mais aliviada do que na altura em que Aubameyang falou em casamento.
- Está tudo bem...mas foi um belo de um pontapé!
- Ele, maior parte das vezes, não pensa mesmo no que diz. Desculpa.
- Está tudo bem, obrigada.
A viagem fez-se tranquilamente e sem qualquer percalço. Milicent acabou mesmo por adormecer e só acordar com Alysha a chamá-la.


- O Marco está estranho... – comentava Milicent, com Marcel. Os dois tinham ido ver o jogo, juntamente com Marten que permanecia muito sossegado no colo da mãe.
- Também já tinha reparado nisso.
- Achas que...poderá ser alguma coisa?
- Eu não faço ideia, mas que ele não está a jogar da mesma forma lá isso não está.
Milicent manteve-se positiva, manteve todo o seu discurso bem tranquilo e sem levantar pensamentos negativos. Foi possível fazê-lo até que Marco foi substituído ainda antes do intervalo. Algo não estava mesmo bem.
- E agora? – olhou para Marcel, esperando algum tipo de resposta.
- Vamos esperar que nos digam qualquer coisa. Esperamos pelo intervalo a ver se ele volta do balneário. Só depois saberemos o que fazer.
- Será melhor prevenir a Marlene para me acolher em Munique? – Marcel riu-se e Milicent acabou por fazer o mesmo – acho que sabes que estou a brincar...
- Sei e, sinceramente, mais vale isso do que entrares já em desespero.
- Aprendi, com ele e as lesões todas, que sofrer por antecipação não adianta de nada.
Esperaram por notícias. Nem um, nem o outro fez alguma coisa por obtê-las ficando apenas ali. Sossegados e a conversarem sobre tudo e mais alguma coisa que não estivesse relacionada com Marco.
Quando o intervalo do jogo terminou, Marco não voltava com a equipa e, aí, Milicent soube que, definitivamente, algo tinha acontecido e não era apenas uma queixa.
- Vamos, anda – Marcel levantou-se, surpreendendo Milicent que, inicialmente, sentiu que estava congelada. Foram breves segundos que se manteve sentada, em vez de seguir Marcel. Só o conseguiu fazer quando Marcel a olhou, voltando a chamá-la.
Caminharam lado a lado, até que chegaram ao que, aos olhos de Milicent, seria uma zona reservada. Depressa o segurança que ali estava se afastou da porta, olhando para Marcel.
- Já sabe onde ir? – perguntou o segurança a Marcel.
- Sim, sim. Desta vez temos mais companhia, não faz mal, pois não?
- Não, não. Estejam à vontade – o segurança abriu-lhes a porta e os dois entraram.
- Já te conhecem bem por aqui... – comentou Milicent.
- Cada vez que o Marco se lesiona por Dortmund era sempre eu que vinha aqui ter com ele.
- Estou a ver...e vamos onde?
- Aos balneários. Ele mandou-me mensagem para virmos aqui ter com ele – depois de virarem à esquerda naquele corredor, Milicent viu a porta do balneário aberta. Sabia que seria ali porque já tinha visto por diversas vezes aquele mesmo balneário na televisão – eu diria para esperares e eu ir ver como ele está...mas tu já lhe conheces tudo – os dois riram-se – e, mesmo que ele esteja em baixo, já sabes como é. Mas, mesmo assim, queres que entre primeiro?
- Não, não...podemos ir os três ao mesmo tempo.
- Vamos, então.
Milicent sentiu a necessidade de respirar fundo antes de entrar naquele balneário. Marco estava sozinho, mexia no telemóvel e tinha o pé sobre uma cadeira. Milicent percebeu que estava tranquilo e, até, com um sorriso nos lábios. Aproximou-se do namorado, assim como Marcel também se aproximou do amigo.
- Já chegaram! – Marco olhou-os, esticando a sua mão direita na direção de Milicent.
- Como é que estás? – perguntou Marcel e Milicent apenas conseguiu segurar a mão do namorado, olhando-o. Marco acabou por segurar a mão de Milicent com alguma intensidade, olhando para Marcel.
- É provável que fique o resto do ano sem jogar – Milicent sentiu-se a quebrar por dentro, acabando mesmo por se sentar ao lado de Marco – suspeitam que rompi os ligamentos do pé e...é isso. Mas só amanhã é que sabemos ao certo o tempo de paragem.
- Hum... – Milicent não sabia bem o que dizer naquele momento. Os olhos de Marco ficaram postos nela, enquanto Milicent olhava para as suas mãos juntas procurando o que lhe dizer.
- Não estás a pensar ir para Munique, pois não? – Marco fez aquela pergunta, acabando por se rir de seguida. Milicent olhou-o, recebendo um beijo na testa. Marcel acabou por se rir também, provavelmente lembrando-se da conversa que teve com Milicent.
- Não. Porque vai ser diferente, não vai Marco?
- Vai. Desde que sejas a minha motorista de serviço nos próximos tempos...
- Então estás a descartar-me? – questionou Marcel.
- Sabes bem que aprecio muito a tua companhia – Marco olhou o amigo, rindo-se – mas tem sempre mais encanto uma motorista tão gira como a minha namorada.
- Quem te viu e quem te vê! – Marcel acabou por verbalizar o que ia na cabeça de Milicent. Aquele Marco que tinham ao pé deles, era totalmente diferente daquele que antes tinham tido nas outras lesões. Marco estava mais calmo, muito mais animado e com uma frescura na voz que lhe era carateristica.
- Já são muitos meses de experiência e sei bem que, daqui para a frente, o mais importante é estar com vocês – levou a mão de Milicent até aos seus lábios, beijando-a – estar bem e recuperar da melhor forma possível.
- E recuperar totalmente! Qualquer dia os fisioterapeutas ficam fartos de ti – comentou Milicent, fazendo com que Marco a olhasse – não me olhes assim, eu nem imagino o chato que tu és para os pobres senhores que te aturam!
- Pode ser uma senhora... – Milicent, naquele momento, só teve vontade de fuzilar Marcel com os olhos. Marco riu-se, acabando por lhe beijar a bochecha.
- Eu prometo que são sempre homens.
- Também não sei se fico descansada com isso! – todos se riram e Marten acabou por soltar, também ele, uma gargalhada. Quase como percebendo tudo o que ali se estava a passar – alguém está animado, também.
- O meu menino é lindo – Marco baixou-se, beijando a testa do filho – que me dizem de irmos para casa?
- Não tens de ir ao hospital? – perguntou-lhe Milicent.
- Não. Já me fizeram aqui imensos testes e amanhã é que vamos ver como tudo está. Vou com o pé ligado e analgésicos para as dores.
- Se te andares a queixar a noite toda...eu levo-te ao hospital!
- Combinado – os dois trocaram um beijo calmo e ternurento, seguindo para casa.


- Senta-te lá aqui um bocadinho, por favor – pedia Marco.
Milicent andava de um lado para o outro, sem parar um único segundo. Noite de natal, a primeira vez em sua casa e a primeira vez que a passava com toda a sua família. Não só os seus de sangue, mas juntando, também, toda a sua família da parte de Marco.
Sentou-se ao lado do namorado, olhando à sua volta. Estava a casa cheia, estavam ali mesmo todos. Havia um ambiente natalício naquela casa.
- Está tudo bom, não está? – perguntou Milicent.
- Está tudo ótimo. Começa a aproveitar a noite...
- Certo – Milicent encostou a sua cabeça no peito de Marco, levando uma das suas mãos à barriga do namorado – já viste o quão eles se dão bem? – apontou para Mary Alice e Nico, o sobrinho de Marco, que brincavam no chão com Marten.
- A Mary Alice tem uma paciência enorme para eles. Tem estado ali sempre a dar os brinquedos, a ajeitá-lo e sempre atenta a todos os movimentos do Marten e ainda consegue brincar a sério com o Nico, pelo meio.
- Já sabemos que, com ela, os meninos ficam bem entregues!
- Ai pois ficam, ficam – os dois riram-se e Milicent acabou por se sentar como deve ser, olhando para o namorado.
- Estás com dores?
- Não. Está tudo tranquilo – era, também, o primeiro dia que Marco andava sem ajuda das muletas. A recuperação estava num ótimo caminho e, pelas perspectivas dos fisioterapeutas de Marco, para o final do mês de Janeiro estaria apto a voltar aos jogos.
- Mano! – Melanie, a irmã do meio, chegou perto deles com uma guitarra na mão – que me dizes?
- Mel...eu não sei – Marco olhou para Milicent, sorrindo – acho que há coisas sobre mim que ainda não sabes.
- Estou a perceber, estou.
- Não me digas que nunca lhe tocaste nada? – perguntou, incrédula, Melanie.
- Acho que o teu irmão se esqueceu como pode ser romântico...
- Oh, Marco, que atado! – Melanie passou-lhe a guitarra para as mãos e Milicent levantou-se.
- Família... – os burburinhos que se faziam ouvir naquela sala cessaram e todos se focaram em Milicent – obrigada. Bom, ao que parece, o nosso querido Marco tem uma vertente artística que eu desconhecia completamente! – Milicent pode ver Manuela sorrir e Yvonne sentar-se no chão, junto do filho – Marco, o palco é teu, meu amor.
Marco, com ajuda da namorada, levantou-se do sofá. Beijou-a, sentando-se numa cadeira perto da árvore de Natal. Muito depressa, Melanie colocou-se um gorro de pai natal e Milicent não perdeu a oportunidade de captar aquele momento.
Sentou-se no chão, colocando Marten no seu colo. Os primeiros acordes fizeram-se ouvir e, rapidamente, Milicent percebeu qual era a música que o namorado tocava naquele momento. I don’t wanna miss a thing. Aerosmith, com uma das músicas que Marco mais cantarolava lá por casa.

- Eu não fazia ideia, mesmo, que tocavas! – Milicent apanhou Marco sozinho no sofá, sentando-se ao lado do namorado.
- Coisas que eu faço muito raramente...
- Acho muito mal nunca me teres feito uma serenata!
- Para depois dizeres que parti os vidros? – os dois riram-se mas Milicent acabou por beijar o namorado.
- Mana? – a voz de Mary Alice interrompeu-os e, de imediato, os dois olharam para a menina – o que é que o Marten está a fazer?
Milicent já tinha reparado, por várias vezes, que Marten tinha começado a virar-se de barriga para baixo e a tentar ir a algum lado. Não tinha a força suficiente, ainda, nos braços para o fazer mas já era um principio.
- O Marten está a treinar para, daqui a uns tempos, começar a gatinhar – esclareceu Milicent.
- E depois, daqui a muitos tempos, começar a andar? – perguntou Nico.
- Exatamente. Mais uns muitos tempos e ele já vai puder andar a correr com vocês.
- Tu vais deixar ele correr connosco?
- Claro que vou, Mary – Milicent sorriu, vendo Marten voltar a deitar-se de barriga para cima – vocês preparem-se para o controlarem depois!
- Nós tomamos conta dele – disse Nico, dando um beijo na testa do primo.
Reparando que os meninos tinham voltado às suas brincadeiras, Milicent olhou para Marco.
- Estás preparado para as correrias, nesta casa, com o nosso bebé preferido?
- Mais que pronto, minha mamã linda – os dois trocaram um beijo cúmplice e Milicent acabou por descansar um pouco nos braços do namorado.


- Não te importas mesmo, Marco?
- Claro que não. Estiveste ao meu lado quando eu mais precisei e, por isso, acabaste por nunca ter ido visitar o Thiago. Agora é a vez de o ires ver a ele...num momento como o desta semana.
- Obrigada – Milicent abraçou-o, beijando-o – depois de amanhã já cá estou. Qualquer coisa ligas-me logo.
- Vai descansada, nós ficamos bem os dois cá em casa.
- É bom que se portem bem! – Marco riu-se – mas a sério, descansa já que estás sem a chata da namorada por perto sempre a pedir coisas.
- Oh, cala-te – Marco voltou a beijá-la, olhando-a – és, sem qualquer dúvida, a melhor pessoa que já conheci na vida.
- Igualmente, namorado.
- Vá, não te atrases. Daqui a nada prendo-te aqui em casa e não te deixo ir!
- Isso era seres um namorado muito ciumento. Coisa que não és!
- Pois não sou, não – Milicent voltou a beijá-lo pegando na sua mala – faz boa viagem e avisa quando chegares.
- Aviso sim senhor – Milicent voltou a beijá-lo, foi beijar a testa de Marten e saiu de casa.
Chegou, muito depressa, ao aeroporto e toda a viagem até Munique foi bastante tranquila. Iria ter Mario à sua espera já que, depois, seguiam os dois para o centro de treinos do Bayern. Milicent queria surpreender Thiago no seu primeiro dia de regresso aos treinos. O relógio marcava as sete da manhã quando aterrou em Munique.
Assim que recolheu a sua mala, dirigiu-se ao local onde tinha combinado com Mario e lá estava ele, visivelmente ensonado.
- Isso é cara de quem anda a dormir mal e o bebé ainda nem nasceu! – disse Milicent, abraçando-o.
- A Marlene teve uma noite complicada – os dois trocaram dois beijinhos e Milicent olhou para Mario esperando que continuasse – oh queres saber coisas, é?
- Convém! Dizes que ela teve uma noite complicada e eu quero saber!
- Estava com umas dores estranhas e acabamos por ir ao hospital, mas está tudo bem.
- Está mesmo?
- Sim, não te preocupes...
- Isso é impossível, mas pronto – os dois começaram a caminhar para fora do aeroporto e, depois de irem até ao carro, pouco tempo demoraram a chegar ao centro de treinos – não lhe disseste que vinha, pois não?
- Claro que não. Além de que, muito sinceramente, a tua presença nem vai ser notada...
- Olha, obrigadinha!
Caminharam pelo centro de treinos do Bayern e Mario acabou por ir até uma sala onde estavam imensas pessoas. Milicent conhecia grande parte deles, eram os jogadores do Bayern.
- Isto é uma festa, não sei se estás a perceber – Mario olhou para Milicent – o dress code é usar vermelho, por isso estás fora do sitio.
- Oh cala-te!
Enquanto Thiago não chegou, as conversas foram diversas e Milicent acabou por se sentir um bocadinho deslocada mas, ao mesmo tempo, bem acolhida por todos.
- Ele vem aí – anunciou um dos fisioterapeutas que Milicent conhecia. Mario colocou-se atrás de Milicent, colocando as suas mãos sobre os ombros da cunhada.
Thiago entrou naquela sala, sendo surpreendido por um enorme “Bem-vindo” de todos os colegas. Demorou algum tempo a recompor-se e a cumprimentar aqueles que primeiro se dirigiram a ele.
- Tu? – perguntou, ao longe, assim que viu Milicent. Caminhou na direcção dela, abraçando-a – o que é que estás aqui a fazer?
- Agora é a vez de seres tu a receber o meu carinho – Milicent apertou-o contra si, sentindo uma sensação de bem estar dentro do peito.
Era assim, sempre que estava com Thiago. Sem dúvida que, ali, tinha uma bonita e especial amizade.


Olá! 
Cá está mais um capítulo que espero que gostem! Fico à espera dos vossos comentário :) 
Muitos beijinhos, 
Ana Patrícia.