sexta-feira, 30 de outubro de 2015

40º Capitulo: “olha, o Marco aleijou-se outra vez”

- Eu também ficaria com ciúmes... – comentava Marlene, depois de Milicent lhe contar o que se tinha passado – Mi...tu quando vens a Munique arranjas sempre um amigo novo, já reparaste? 
- Que culpa tenho eu que os amigos do Mario sejam simpáticos? – Milicent riu-se, vendo que Marlene a olhava muito séria – oh Mare...
- Oh Mare nada. Tu tens um compromisso, usas essa aliança de namoro no dedo...
- Mas eu não me quero fazer ao Thiago! Achas? Depois de tudo o que construi com o Marco? 
- Olha que ele pensa exatamente o contrário, pelos vistos. 
- Sabes o que te digo? Que o Marco anda com inseguranças a todos os níveis e, às vezes, torna-se cansativo. 
- Vocês estão é a tornar-se daqueles casais que já estão casados à anos. 
- E não deveria ser assim... – Milicent bem sabia que aquilo era verdade. Por mais que as coisas estivessem bem, que estivesse apaixonada por Marco como no primeiro dia...ela sabia que a lesão do namorado tinha afetado imensas coisas.
- Mana! – as duas assustaram-se com a entrada de rompante de Mary Alice na cozinha – olha, o Marco aleijou-se outra vez.
Marlene olhou para Milicent que não poderia estar mais incredula com o que acabava de ouvir. As três dirigiram-se à sala, onde todos as olharam. Milicent pegou no telemóvel, ligando para Marcel. 
- Olá, Milicent. 
- Marcel...como é que ele está? Já sairam do estádio? 
- Já. Ele até já deve ter chegado ao hospital. Ele não me pareceu muito mal...pelo menos conseguiu caminhar um bocado. Não deve ser tão grave como a outra. 
- Mas foi no pé? 
- Não estavas a ver?
- Não. Eu estava a fazer o comer, a Mary Alice é que me veio dizer...
- Foi exatamente no mesmo pé...
- Oh não…eu vou com os meus pais para Dortmund hoje – todos a olharam e Milicent percebeu que estavam surpreendidos por aquela decisão tão espontânea dela. 
- Fogo ele conhece-te mesmo bem – comentou Marcel, fazendo com que Milicent acabasse por sorrir – ele pediu-me para te dizer que quer que fiques aí. Ele não quer que abdiques da tua oportunidade e, se os médicos lhe derem autorização, ele vai aí passar uns dias contigo. 
- A sério?
- Sim. Mantem-te perto do telemóvel, mais daqui a nada eu ligo para te avisar se ele sempre vai para aí. Assim o Marten escusa de vir com os teus pais, entendes? 
- Sim. Obrigada, Marcel. 
- De nada Milicent ainda esteve mais alguns minutos à conversa com Marcel, para saber ao certo o que tinha acontecido e como ele estava. 
Explicou tudo aos pais e a Marlene, acabando por tranquilizar todos. As horas iam passando e não havia meio de lhes serem dadas noticias. Assustaram-se quando ouviram a porta de casa abrir-se. Era Mario. 
- Boa noite – disse ele, indo cumprimentar todos. Sentou-se em cima das pernas de Marlene, olhando para Milicent que estava a seu lado – o teu namorado é mesmo de porcelana, não é? 
- Oh Mario! – Marlene deu-lhe uma palmanda nas costas, fazendo com que Mario a olhasse chocado. 
- Ele tem razão, Mare...aquele homem está frágil – Milicent levou as suas mãos à cabeça, acabando por se sentir a desabar por dentro...começava a aperceber-se do que poderia surgir, era uma recaída e não sabia o que poderia significar para Marco. 
- Ele pareceu-me mais confiante do que na primeira, cunhada – sentiu a mão de Mario no ombro e, de seguida, uma outra nas costas. Calculou que fosse a de Marlene. Agradecia, interiormente, estar com eles neste momento. Melhor do que ninguém, eles dois poderiam saber o que lhe passava pela cabeça. 
O som que Milicent mais ansiava fez-se, finalmente, ouvir. Apressou-se a atender a chamada. Era Marco. 
- Marco...
- Devem ser umas quatro semanas de paragem...
- Como é que estás?
- Bem. dentro dos possíveis. Ando com azar neste pé. Mas, os médicos dizem que só devo começar a recuperação no final da próxima semana. Queres que vá para aí? 
- Isso nem é pergunta que se faça...claro que quero. 
- E eles...não se importam? 
- Só falei com a Marlene sobre isso...mas acho que eles não se importam – Milicent olhou para a amiga, que sussurrou algo a Mario que, no segundo seguinte, retirou o telemóvel das mãos de Milicent. 
- Quando é que chegas, oh fofo? – Milicent riu-se. Mesmo sabendo que Mario estava preocupado e, até mesmo, assustado percebeu que ele queria animar Marco – eu vou buscar-te, então. Vou passar à donzela – Mario entregou o telemóvel a Milicent, ouvindo Marco a rir. 
- Não te trates, não. 
- Eu também acho que ele devia ser internado – comentou Milicent, sentido uma palmada no braço – fogo, Mario! Essa doeu! 
- O que é que ele te fez?
- Deu-me uma palmada no braço. 
- Faz-lhe queixinhas, faz – Mario levantou-se, indo pegar em Marten. Milicent deixou-se encostar no sofá, entrelaçando o seu braço com o de Marlene.
- Quando é que chegas? 
- Por volta das dez. 
- Vou ligar à Amber para lhe pedir...
- Mili...faz o teu dia normalmente, por favor. O Mario vai buscar-me, vamos para casa e eu assim sinto-me melhor. A sério. 
- Mas...
- Não há mas, nem meio mas. Faz isso por mim. 
- Tudo bem...
- Não fiques chateada. Eu prefiro mesmo assim, Mili. 
- Eu não fico...só queria aqui estar quando chegasses. 
- Vais estar depois, meu amor. Olha, vou ter de desligar. Os médicos ainda querem falar comigo por causa da recuperação. E tu, vai descansar que amanhã tens um dia importante. 
- Marco...tu estás bem? Ficas bem?
- Sim. Não te preocupes, a sério. Vamos encarar isto como uma recaída e que irá ficar tudo bem.
- Sim...
- Vá, beijinho. E até amanhã. Ich liebe dich, mein princessin.
- Ich liebe dich, mein Marco – Milicent desligou a chamada, encostando a sua cabeça no ombro de Marlene. 
- Como é que ele está? – perguntou a mãe. 
- Acho que um bocado afetado mas...pareceu-me confiante na recuperação. 
- Ele é um osso duro de roer – comentou Mario, sentando-se com Marten nos seus braços – e depois tem este miúdo lindo...recupera ainda mais rápido. A namorada é que pronto...é a ovelha negra da família. 
- Tu és mau para a mana! – comentou Mary Alice, sentando-se ao lado dele – Depois é normal que ela não goste de ti – todos se riram, até Mario, com aquelas constatações tão perspicazes de Mary Alice. 



Milicent tentou concentrar-se toda a manhã. Tarefa essa que lhe pareceu ser impossível de realizar. Só pensava que Marco poderia já ter chegado, que poderia estar com dores...como é que ele estaria a reagir e no que lhe poderia estar a passar pela cabeça. 
Amber não ficou indiferente ao estado de Milicent dando-lhe, por isso, autorização para que tivesse a tarde de folga. Assim que chegou a casa, deparou-se com todos na sala a rirem à gargalhada. Também ela sorriu, ficando mais aliviada. Reparou que Marco brincava com Marten, fingindo que o filho era um avião. 
- Boas tardes! – disse Milicent, capturando a atenção de todos. 
- O que é que eu disse? – perguntou Marco – ela não ia aguentar lá o dia todo! 
- E, senhora Mi, à sua pala perdemos uma aposta – atirou Marlene. 
- Não me digam que foram apostar dinheiro...
- Não! – Mario parecia estar indignado – a Marlene preferiu apostar em fazer almoços e jantares enquanto o Marco cá está. 
- Ah! Então eu também estou incluída, certo? Fico livre das tarefas? – perguntou Milicent, aproximando-se do sofá onde estava Marco. Levou as suas mãos aos ombros do namorado, encostando o seu queixo na cabeça dele. Marco levantou Marten, aproximando-o de Milicent – olá, coisa mais boa da mãe! Já viste, agora fico livre de almoços e jantares! 
- Não é justo! O Marco já sabia, de certeza, que vinhas para casa. 
- Não sabia nada! Ela não me disse! – defendeu-se Marco, colocando o filho deitado nos seus braços – mas eu já a conheço.
- Às vezes até conheces bem demais – Milicent desceu as suas mãos até ao peito de Marco, dando-lhe um beijo na bochecha. Reparou que não tinha gesso na perna. Mantinha-a sobre a mesa de centro, apenas envolvida em ligaduras. 
- De repente comecei a sentir-me a mais... – comentou Marlene – Mario, podíamos fugir, não? 
- É, eu acho que podemos – Mario levantou-se e Milicent acabou por se rir. 
- E...podiam levar o Marten com vocês? – questionou Marco – por favor...
- Vocês vejam lá o que é que fazem no meu sofá! – Mario pegou em Marten ao colo, começando a andar. 
- Deves querer o menino só para ti – Marlene, numa atitude perspicaz e eficiente, retirou Marten dos braços de Mario – coisa boa da tia, este Mario deve pensar que é bom tio não é? 
Milicent e Marco olhavam para eles, à medida que subiam para o andar de cima. 
- Mais uns tempos e estão aptos a ser pais – comentou Marco. 
- Podes crer – Milicent olhou-o, reparando que, por detrás daquele sorriso maravilhoso que tinha nos lábios, havia um Marco triste. Beijou-o, antes que pudessem falar sobre alguma coisa. 
- Tenho uma coisa para ti... – Marco interrompeu o beijo, olhando para Milicent. Retirou, debaixo da almofada, um envelope – voltamos às cartas.
- Ai...as cartas! – Milicent sabia que, por detrás de cada carta de Marco, havia sempre um sentimento estranho nela. Ficava ansiosa à medida que as lia, sentia-se nervosa mas feliz. Porque em cada carta, Marco era sincero como não conseguia ser ao falar. 
Entregou-a a Milicent que, de imediato, começou a lê-la. 



Acho que foi exatamente isto que nos faltou na primeira lesão. Melhor do que ninguém, sabes que consigo por tudo numa carta...como não consigo dizê-lo por palavras. 
Não te posso esconder que, ao fim de regressar aos treinos e começar a ver a recuperação chegar a um fim que queríamos, esta lesão veio deitar-me abaixo. Não te poderei esconder isto. É a verdade.
Preferi vir para cá, estar contigo, com o nosso filho e com eles. Prefiro isto do que estar sozinho em Dortmund, só com o Marten, e não saber o que fazer com a minha situação. Muita gente poderia pensar que sou uma flor de estufa, que à mínima coisa vai abaixo...mas depois da recuperação, nunca se está à espera que volte a acontecer quase o mesmo.
Não sei como será daqui para a frente. Não faço mesmo ideia nenhuma. Tenho medo de não conseguir ser o mesmo Marco, de ter mudado brutalmente...e eu já percebi que tu sabes que eu estou diferente. Acho que sabes que, neste momento, não sou o mesmo Marco por quem te apaixonaste. Podes, contudo, acreditar que te amo mais do que nesses primeiros tempos da nossa relação.
Não quero que abdiques de nada da tua vida para estares a meu lado e me apoiares neste momento. Eu sei que o vais fazer, que me vais apoiar em qualquer parte do mundo. Por isso, peço-te Mili, que fiques aqui, que sigas com o planeado e que sejas feliz. Nunca na vida pensei encontrar alguém tão maravilhoso como tu, não pensei ser merecedor de alguém como tu. Muito menos neste momento. 
Depois de tantos dias onde não te tratei da melhor maneira, depois de ciúmes parvos e sem fundamento, depois de tanto pensar que não irias aguentar com a pressão...eis que estamos juntos há um ano e quatro meses, temos um filho lindo e uma vida relativamente estável, mesmo com estas lesões e as mudanças que tu mesma tens vivido. 
Imagino-me a teu lado daqui a dois, dez, vinte ou sessenta anos. Imagino a minha vida a teu lado. Não será a vida perfeita, nem o conto de fadas...será, sim, a nossa vida, com os nossos problemas, os nossos obstáculos. Mas sei que, juntos, vamos estar sempre lado a lado para ultrapassar tudo. Para nos superarmos juntos.
Sei que, a nível psicológico, não estou nas melhores condições. Sinto-me atordoado com tudo, um pouco afastado e desanimado. Não sei como serei enquanto namorado e pai nos próximos tempos. Melhor...eu sei que não quero ser mau em ambos os meus papéis. Eu sei que não quero falhar, que não vos quero desiludir. Enquanto aqui estiveres...eu acho que podemos vir a sofrer com isto, sabes? E desculpa se estou a ser muito duro, mas precisamos de nos ser honestos um com outro.


- Marco...
- Mili, continua, por favor – Milicent não se sentia com capacidades para continuar a ler aquela carta. Estava com medo que, no fim, existisse um ponto final que não estaria à espera. 


Podemos vir a discutir mais, podemos sofrer Mili...eu não quero que aconteça, mas preciso de colocar todas estas hipóteses que vão na minha cabeça. E eu peço-te desculpa já, se falhar no meu papel de namorado. Uma coisa eu te vou prometer: com o nosso filho eu pretendo não falhar. Ele precisa de mim, tanto como eu preciso dele neste momento. Peço-te, que o deixes ir comigo para Dortmund...mesmo que penses que não serei capaz de tomar conta dele. 
Se, e eu prometo que vou fazer de tudo para que isso não acontece, nos chatearmos, se discutirmos muito e precises dele a teu lado...eu não serei egoísta e ele virá ter contigo. Mas peço-te, por favor, que se mantenha tudo como estava planeado antes da lesão. Já deves ter interrompido a leitura, a chorar, e quase suplicando para eu te impedir de a leres até ao fim. Mas eu, aí, pedi-te para a continuares a ler. 
Que fique muito claro que não está a ser o fim de nada, que não quero dar tempo nenhum à nossa relação nem que estou a acabar. Estou, apenas, a ser o mais honesto contigo. É como me sinto: frustrado, sem grandes vontades e com muita raiva em mim. Não quero que a nossa relação acabe, não quero.
Quando olhares para mim, fá-lo com orgulho e não com pena. Fá-lo com amor e não com ódio. Olha para mim e mostra-me que o nosso amor continuará intacto, mostra-me que, apesar de ter escrito tudo isto, eu posso acreditar que juntos vamos ser felizes. 
Peço-te paciência. Que tenhas paciência comigo...


Amo-te, mais do que qualquer dia pensei vir a amar. 

O teu Marco. 


Milicent estava perplexa perante aquela carta. Eram demasiadas emoções, demasiados sentimentos. Gostava quando Marco era sincero com ela, honesto e quando se expunha desta forma. Mas, desta vez, não tinha sido como as outras. Milicent sentiu que ele lhe estava a dizer que tudo poderia acabar de um momento para o outro. E isso assustava-a. 
Fechou os olhos, limpando as lágrimas que lhe caiam. Voltando a abri-los, olhou para Marco com a certeza que o ama. Com a certeza que não irá desistir dele, nem do amor que os une. Não precisou de lhe dizer nada, optou por beijá-lo de forma tão intensa querendo que aquele momento nunca chegasse ao fim.




Milicent fazia a sua ronda pelos quartos do centro pediátrico com um sorriso contagiante no rosto. Estava feliz por ali estar, por se sentir útil e puder fazer o que mais gosta. Nunca pensou que a prática da pediatria fosse tão fascinante como o está a ser. 
- Ainda bem que te vejo! – Daysi surpreendeu Milicent ao sair de um dos quartos. 
- Aconteceu alguma coisa? 
- Não, não, nada disso! Amanhã vai haver um jantar organizado por todos aqui do centro. A Amber já te disse?
- Não...
- Provavelmente esqueceu-se, coitada, anda com imensa coisa para fazer – Daysi deu o braço a Milicent e as duas começaram a caminhar em direção da cantina. Estava na hora de almoço – bom, mas estamos a contar contigo e um acompanhante que querias trazer.
- Obrigada Daysi. É pena é que o Marco já tenha ido embora...
- Ai ele já foi? 
- Sim...à dois dias, com o menino. 
- Oh não sabia. Então mas vais tu, para te divertires um bocadinho. E se quiseres levar alguém estás mesmo à vontade. 
- Então e...é preciso assim ir arranjadinha, certo?
- Certo sim! Podes não arranjar-te muito porque depois dás cabo de todas as hipóteses às solteironas que lá estiverem - As duas riram-se, acabando por dar inicio ao almoço. 
A tarde de Milicent não foi muito movimentada, já que a passou no gabinete de Amber a fazer os relatórios médicos das crianças que tinham dado entrada no hospital pela manhã. No fim do dia, cansada mas com a sensação de dever cumprido, Milicent regressou a casa para junto dos seus amigos. 
Deparou-se, ao abrir a porta de casa, com Mario deitado no chão. 
- Não me digas que a Marlene te obrigou a ficar aí... – fechou a porta, indo até ao sofá. Sentou-se, olhando de forma estranha para Mario. Ele parecia estar concentrado nos seus pensamentos. 
- Eu estava a meditar, Milicent. Estragaste tudo...
- Estavas, estavas. Aposto que devias estar a pensar quais são as posições do kamasutra que ainda não experimentaste! 
- Só ainda não as experimentei todas porque as que faltam a tua amiga diz que são arriscadas demais. 
- Tarados! 
- Até parece que também não és – os dois riram-se e Marlene apareceu vinda da cozinha. 
- Bem me parecia que tinha ouvido a tartaruga falar – aproximando-se de Mario, Marlene sentou-se em cima da barriga dele – do que é que falavam vocês? 
- Do kamasutra! – respondeu Milicent, fazendo com que Marlene se risse – vá, meninos, amanhã tenho um jantar lá do centro. 
- Marlene – ela olhou para Mario que a chamava – vamos ter a casa só para nós!
- Não te ponhas a inventar, oh Mario! 
- Até parece que vocês não têm sexo desde que eu vim para cá! – atirou Milicent a rir-se. 
- Olha, mas não é como antes – Mario olhou para Milicent – ouve lá...o que achas de levares o Thiago contigo. 
- Levar...o Thiago?
- Qual é o problema? Vocês não se estão a dar bem? 
- O problema é esse, Mario! – atirou Marlene – À pala do outro Mandzukic, a Mili e o Marco chatearam-se. Não queiras fazer porcaria. 
- Oh, eu já falei com o Marco naquele dia em que eles estavam no quarto. Ele percebeu tudo e, agora, eu ligo-lhe e explico tudo. A sério. Opa é que o Thiago anda mesmo em baixo, a precisar de sair e se divertir um bocado...
- Tudo bem – Milicent falou, fazendo com que os dois a olhassem surpreendidos – eu vou com o Thiago. Mas, se por acaso, o Marco ficar com ciúmes, com coisas parvas eu mando-o ir falar contigo! 
- Combinado, cunhada. 



- Já não vestia algo assim desde que fiquei de barrigão...
- É...e agora vais andar com o Thiago assim.
- Tu não achas mesmo boa ideia, pois não? – Milicent olhou para Marlene, vendo-a sentar-se ao fundo da cama de Milicent. 
- Só acho que, tendo em conta que tiveste uma carta com um conteúdo desconhecido mas preocupante...só acho que devias ter cuidado. 
- O Marco não levantou problemas, Mare. E falamos muito sobre isso, ontem à noite. 
- Eu sei, mas ele pode sentir, mais tarde, alguma coisa. Tipo ciúmes. 
- Então...é melhor dizer que não vou...
- Não! Então, não! – Marlene levantou-se, indo na direcção da amiga – Não faças isso só porque estou insegura por ti. Vai, vai e diverte-te com o Thiago que bem precisa de se divertir um bocado. 
- Estou bem?
- Ótima! – Milicent olhou-se ao espelho acabando por sorrir. Sentia-se bem, confiante como ainda não se tinha sentido desde que Marten nascera.



As duas desceram até à sala, encontrando Mario sentado no sofá. 
- Não vais ter frio, Milicent? 
- Eu levo um casaco, Mario. 
- Não é muito justo? 
- Olha...viraste meu pai agora? 
- Não, não. Nada disso...só estou a zelar pelo teu bem. 
- Diz que é o meu bem, diz. Ouve lá e o teu amigo, está muito demorado? 
- Estou aqui! – Milicent, um pouco atordoada, virou-se para Thiago que estava a entrar em casa, vindo do jardim – bem, eu sinto-me intimidado com uma miúda tão gira e comprometida ao lado. 
- É bom que tenhas isso em mente – alertou Mario. Thiago aproximou-se de Milicent, cumprimentando-a com dois beijos. 
Os dois despediram-se de Marlene e Mario, Thiago era quem iria levar o carro e Milicent deu-lhe as indicações para onde se tinham de dirigir. 
- Tens a certeza que o Marco está na boa? – perguntou Thiago. 
- Sim, ele confia em mim e sabe que somos só amigos – Milicent olhou para Thiago que estava concentrado na estrada – tu...também sabes disso, certo? 
- Sim, Milicent – com os olhos fixos na estrada, Milicent conseguiu notar um certo desconforto em Thiago – não vou negar que não me sinta bastante atraído por ti – okay...por esta é que eu não estava à espera – mas, também sei que saí de uma relação à pouco tempo e tu estás numa e és mãe. Acho que estou carente, é isso. 
- É bom mesmo que saibas isso. Eu já tive problemas na minha relação com o Marco, não estamos a atravessar uma fase maravilhosa por causa das lesões dele...mas temos um filho e há amor – Milicent era do mais sincera que conseguia ser. Não poderia alimentar esperanças em Thiago – mas eu estou a adorar conhecer-te, és um rapaz cinco estrelas e divertido. Enquanto cá estiver...eu poderei tentar fazer com que essa carência seja menor, mas só como amigos. Podemos passear, ver filmes e comer gelados, mas é só isso Thiago. 
- Eu sei disso – por breves instantes, Thiago olhou para Milicent sorrindo-lhe – e agradeço-te por isso. Por me teres convidado para vir contigo. 
- Não tens que agradecer. Até pode ser que encontres por lá uma médica ou enfermeira que te ache piada. 
- Acho que vou deixar passar...neste momento não preciso de namoradas – Milicent entendia-o, sabia bem o que ele queria dizer com aquilo. Sabia muito bem o que era sentir aquilo. 
Depressa chegaram ao restaurante onde iria decorrer o jantar. Milicent foi cumprimentando todos aqueles que conhecia, apresentando Thiago como seu amigo. Avistou Daysi, indo ter com ela. 
- Ainda bem que eu já tenho cinquenta anos e um casamento de trinta! Se fosse solteira e mais nova, não tinha hipóteses contigo por perto – as duas riram-se e Milicent cumprimentou-a com um abraço. 
- Daysi...não é assim nada de especial. 
- Nada de especial? Oh, eu bem vi todos a olharem para ti à medida que passavas por eles. 
- Eu confirmo! – concordou Thiago, fazendo com que Milicent olhasse para ele. 
- Mas tu és exagerado. Thiago é a Daysi, é minha colega do centro – olhou para Daysi, puxando Thiago para a frente – é o Thiago, um amigo meu – os dois cumprimentaram-se e, depois de algum tempo de conversa, passaram para a mesa para jantarem. 



- Vá, Thiago, dá-me lá a chave! 
- Um beijo primeiro – Milicent arqueou a sobrancelha, olhando séria para ele – pronto, eu tentei a sorte – Thiago entregou-lhe as chaves, entrando para o lado do pendura no carro. Entrou, também, no carro para o lado do condutor. Sabia que Thiago tinha bebido mais do que o esperado e optou por ser ela a conduzir. 
- Acho que não é muito boa ideia ir dormir a tua casa... – Milicent começou a conduzir, depois de Thiago colocar a morada no GPS. 
- Milicent, desculpa. Eu abusei com aquilo do beijo...mas o Mario e a Marlene merecem uma noite a sós, não é? Nós só lhes estamos a dar isso. 
- É...mas tens de me prometer uma coisa – Milicent olhou para Thiago, reparando que ele a olhava bastante sério – não abuses! 
- Eu prometo! E desculpa, não quero mesmo deixar-te em situações constrangedoras. 
- Então estamos combinados. 
Depressa chegaram a casa de Thiago. Uma bonita casa, acolhedora fazendo com que Milicent se lembrasse da sua própria casa em Dortmund. A casa que partilha com Marco e o seu filho. 
- Fica à vontade. Eu vou buscar água com gás, queres alguma coisa? 
- Não, obrigada – Thiago saiu da sala e Milicent aproveitou para se sentar e descalçar-se. Já que iria ali passar a noite...podia começar a colocar-se à vontade. 
Thiago não demorou, voltando para a sala e sentando-se ao lado de Milicent. 
- Estás preocupada... 
- É estranho. Porque...eu não quero mesmo que pensem coisas de nós, entendes? Eu não quero deitar tudo a perder na minha relação... 
- Não vais deixar...eu prometo. Ficamos aqui, como dois amigos que estão a dar uma noite romântica a outros dois - Milicent riu-se, vendo Thiago encostar-se ao sofá – foi um bom jantar! 
- Foi – bocejou, estranhando aquele sono tão repentino. 
- Vem – Thiago levantou-se, estendendo a sua mão na direção de Milicent. Os dois foram até um quarto e Thiago acendeu as luzes do mesmo – podes ficar aqui. Eu vou ao meu buscar-te qualquer coisa para vestires. 
- Obrigada – Milicent sentou-se ao fundo da cama, começando a retirar os sapatos enquanto Thiago foi ao seu quarto. 
- Não sei o que queres... – Milicent olhou para ele, reparando que trazia uma camisola e uns calções. 
- Posso ficar só com a camisola. Está calor – Thiago aproximou-se dela, entregando-lhe a camisola. 
- Fica à vontade. Se precisares de alguma coisa ou estou na sala, ou no meu quarto ao fundo do corredor. 
- Obrigada. 
Milicent arranjou-se para dormir. Depois de se desmaquilhar, passar com água fresca pela cara e trocar a sua roupa pela camisola de Thiago, abriu os lençóis da cama ouvindo, muito longe, um choro. Ser mãe tinha-lhe dado, de certa forma, uma audição mais apurada...ela sabia que Thiago estaria a chorar. 
Saiu do quarto, caminhando na direção da sala. Via um Thiago em sofrimento, um Thiago todo encolhido em si mesmo sentado no chão e agarrado às suas pernas. 
Quase ansiando terminar com o sofrimento dele, Milicent apressou-se em chegar ao pé dele, ajoelhando-se à frente dele. 
- Ei, ei não chores! – ele olhou-a, sentindo-se envergonhado – eu sei que não deves estar a passar das melhores fases da tua vida. Lesionado e a passar por uma separação...mas, por favor, não chores Thiago. 
- Eu era feliz com ela...e tudo acabou de um dia para o outro. Eu só me queria sentir amado como antes, queria ser beijado como antes e que ela estivesse cá todos os dias. 
Milicent via-o em pleno sofrimento. Por mais que tentasse limpar-lhe as lágrimas que caiam pelo seu rosto, Thiago chorava cada vez mais. 



- Shiu – Milicent e Thiago riam-se, depois de Milicent não conseguir enfiar a chave na fechadura – eles ainda devem estar a dormir – caminharam até à sala, deparando-se com Mario a comer uma torrada. 
- Bom dia...devem ter passado bem a noite! 
- Bom dia, Mario. Por acaso, foi uma boa noite sim – Milicent olhou para Thiago – tu ficas bem? – perguntou-lhe baixinho. 
- Fico. Obrigado por esta noite. 
- Não precisas de me agradecer nada – depositando-lhe um beijo na bochecha, Milicent subiu até ao seu quarto. 
A meio do corredor, encontra Marlene. 
- Bom dia! – animada, Milicent abraçou a amiga. 
- Onde é que dormiste? 
- Em casa do Thiago – Milicent olhou-a, vendo Marlene encolher os ombros. 
- Afinal as noticias estão certas... 
- Noticias?! 
- Sim, vai ver. Eu vou para a faculdade. Até logo. 
- Boas aulas – Milicent deu-lhe dois beijos, indo até ao quarto. 


Em clima de grande intimidade, Milicent Werner, a namorada de Marco Reus, foi vista a abandonar um restaurante com Thiago Alcantara. Quem testemunhou a presença dos dois no restaurante, afirma que os dois estavam animados e com grandes cumplicidades. 
Sabemos que, e de fonte segura, os dois saíram daquele restaurante em direção de casa de Thiago. 
Recordamos que Milicent foi mãe recentemente (três meses) de Marten, filho de Marco Reus. Não nos tínhamos apercebido que a relação dos dois estava a passar por uma rutura, muito menos que Milicent arranjara uma nova companhia. 


- Isso não é o que parece, Marco. 
- Eu leio esta notícia e queres que pense o quê? Milicent estava mesmo à espera daquela chamada de Marco, depois de ler as notícias que tinham saído. 
- Que eu te amo e prometi que seria uma saída de amigos. Eu expliquei-te tudo, Marco. 
- E...foste mesmo para casa dele? 
- Fui. A Marlene e o Mario estavam a precisar de estar sozinhos... 
- Aconteceu alguma coisa que não me estejas a contar? 
- Não! Nunca iria acontecer nada, Marco. Não confias em mim? 
- Confio...mas essas aproximações... 
- Marco, por favor. Confia em mim: não aconteceu nada. Nós...só dormimos, cada um no seu quarto. 
- Eu confio em ti. 
- Como é que está o nosso filho? 
- Está bem. Amanhã vou ao médico com ele. 
- Amanhã? Mas ele só tinha de lá ir para a semana. 
- A pediatra ligou-me. Disse que não podia para a semana e combinamos para amanhã. 
- Ah, tudo bem depois liga-me a contar tudo o que ela disse. 
- Sim. Não te preocupes. 
- Marco, tu acreditas em mim, não acreditas? 
- Acredito sim, Mili. 
Os dois falaram por mais algum tempo, até que Milicent e Marco se despediram. Ela tinha de ir trabalhar. Arranjou-se, descendo para a sala pronta para sair de casa. 
- Espero que não tenhas feito nada de que te arrependas, Mi – disse Mario, assustando-a. Olhou-o...saberia ele de alguma coisa que tinha acontecido em casa de Thiago? Teria Thiago contado alguma coisa? Não, não...ele não seria capaz disso!

domingo, 11 de outubro de 2015

39º Capitulo: “Ficas tão frágil a chorar, oh mamã boa”

Depressa chegaram ao aeroporto e, naquele momento, Milicent começava a sentir o seu coração ficar mais apertado. Marco sentia-se a vacilar por dentro ao perceber que Milicent, quando pegou em Marten ao colo para o retirar da cadeirinha do carro, começou a chorar. 
Marco retirou as malas de Milicent da bagageira, sendo surpreendido pela presença dela a seu lado. 
- Devíamos ter vindo só os dois – afirmou Milicent, fazendo com que Marco olhasse para ela e Marten. 
- Eu avisei…
- Eu não preciso que me digas isso neste momento, Marco. Nem isso, nem que precisamos de ir andando porque está na hora – Marco limitou-se a abraçá-la, mesmo com Marten entre eles – eu acho que não quero ir embora – Milicent afastou a sua cabeça de Marco, olhando-o. 
- Estás a tempo de cá ficar. 
- E dizer que não há Amber? Não pode ser assim...além do mais é um teste para mim. Vou exercer pediatria...
- Isso é verdade. 
- Mas vou ficar longe de ti, do nosso filho, das nossas famílias – Milicent olhou para Marten, voltando a deixar cair lágrimas que pareciam não ter um fim – como é que eu vou ficar sem tocar nele todos os dias? Sem sentir o cheirinho dele – Milicent deu um beijo na testa do filho, voltando a olhar para Marco – é um mês e meio à experiência mas eu não consigo ficar longe de vocês. 
- Os teus pais vão visitar-te todos os fins-de-semana com o Marten...eu irei quando puder. 
- Marco. Se eu não me sentir bem lá...não me censuras por voltar?
- Claro que não, Mili! – Marco levou as suas mãos ao pescoço de Milicent, dando-lhe um beijo na testa – se for preciso até te vou lá buscar. 
- Eu não quero ir embora!
- Vamos para casa! 
- Não pode ser, Marco – Milicent beijou-o com loucura e um certo desespero. Não o iria fazer dentro do aeroporto daí optar por aquele momento só deles – temos de ir...
Marco pegou nas duas malas de Milicent e os dois começaram a caminhar em direcção do interior do aeroporto. Milicent passou Marten para os braços de Marco...não tinha a percepção de que já estava tão próxima a hora do embarque. 
- Vocês tomem conta um do outro, por favor – Milicent levou as suas mãos à cara de Marco, aproximando-se dele. Chorava, aquilo custava mais do que alguma vez tinha pensado – tu, melhor que ninguém, sabes todos os truques dele, adormece-o cedo, para a semana tem a consulta dos três meses – Marco riu-se, deixando escapar, também ele, algumas lágrimas – não te rias, nem chores por favor! – Milicent deu-lhe um curto beijo e Marco deixou a sua testa encostada à dela – Fica com ele todo o tempo que puderes, mete-o na nossa cama só para ele sentir o meu cheiro e diz-lhe o meu nome todas as vezes que falares de mim. Oh meu Deus eu não vos quero deixar! 
- Ficas tão frágil a chorar, oh mamã boa – ao fundo foi possível ouvirem que seria a última chamada para o voo de Milicent – queres ficar?
- Quero! É tudo o que eu mais quero, mas não posso. Eu preciso mesmo de ir...não posso adiar esta oportunidade única. 
- Então vai, dá o teu melhor e eu prometo que o Marten irá adormecer cedo, com o teu cheiro por perto, que lhe digo o teu nome todos os dias. E, prometo também, que irei fazer isso por ele e por mim. 
- Telefona-me a qualquer hora que precises de alguma coisa. Nem que seja só para dizer um amo-te a meio da hora de almoço – Milicent começou a fazer beicinho à medida que tentava controlar-se para não chorar compulsivamente.
- Ai Mili – Marco abraçou-a e, segundos depois, os dois beijaram-se – eu amo-te muito.
- E eu amo-te muito a ti – Milicent voltou a beijá-lo, olhando para Marten – e amo-te a ti, bebé da mãe – beijou a testa do filho, passando com o seu dedo indicador na bochecha do menino – o pai, os avós e as tias vão tratar muito bem de ti. E a mãe vai morrer de saudades tuas, gordinho – Milicent desabou num choro compulsivo e intenso. 
Marco voltou a abraçá-la, beijando-lhe a testa. Milicent não proferiu mais nenhuma palavra, limitando-se a dar um último beijo a Marco e a Marten, afastando-se dele. Só conseguiu olhar para trás depois de passar a barreira da segurança. Viu Marco acenar-lhe com a mão um adeus e percebeu que ele chorava. Como é que os vais conseguir deixar assim? 



Foram duas horas de viagem em puro sofrimento. Milicent só conseguia chorar ao pensar que estava a ficar cada vez mais longe deles. Só conseguia ver fotos do filho e de Marco...e continuar a chorar. Sabia que lhe iria custar imenso este mês e meio que passaria longe deles. Mas, tal como Marco tinha dito, sabia que iria estar com o filho todos os fins-de-semana.
O avião aterrou e, depois de recolher as suas malas, sabia que tinha Marlene à sua espera naquele aeroporto. Sabia que, dali, seguiriam as duas para casa de Mario e iria estar com duas pessoas que lhe dizem muito. Mas sabia que não iria conseguir rir à gargalhada como sempre o fazia. 
Procurou por Marlene e, tal como combinado, estava junto à porta principal do aeroporto. Marlene, assim que viu a amiga, percebeu que Milicent tinha chorado imenso. 
- Oh miúda! – recebeu-a nos seus braços, envolvendo-a num abraço quente e ternurento – olha-me o teu estado...
- Fogo! – Milicent não conseguiria dizer mais nada. As duas limitaram-se a sair do aeroporto, rumando a casa. 
Assim que lá chegaram e, depois de entrarem em casa, deixaram as malas de Milicent junto das escadas de acesso ao piso de cima da casa, foram até à sala onde estava Mario. 
- Olha quem chegou! – começou ele. 
- Chegou a miúda com mais saudades do bebé que tem em casa e com os olhos mais inchados do que sei lá quê – Milicent apontou para ela mesma, perante a descrição de Marlene. Sentou-se no sofá, ao lado de Mario, abraçando-o.
- Eu vou precisar que vocês dois me dêem muito mimo! – Marlene sentou-se ao lado de Milicent, abraçando-a também.
- Ai que nojo! Mas agora vou ter duas carentes cá em casa? Não bastava a Marlene com a sua carência linda...agora é a mãe do meu piolho...
- Não sejas inconveniente, Mario! – Marlene repreendeu-o, dando um calduço no namorado. 
- Eu, se calhar, devia arranjar outro sítio para ficar. Só venho atrapalhar – Milicent acabou por se afastar, sentando-se como deve ser no sofá. 
- Oh, não digas asneiras! 
- É, a Marlene tem razão, não te ponhas com coisas. Eu só estou aqui a tentar animar-te, é esse o papel do tio Mario. Aposto que agora vais estar toda tristinha e com saudades dos putos, mas vais ter de aproveitar bem enquanto cá estiveres. 
- É isso mesmo! – interrompeu Marlene – o amor que tens por eles e eles por ti, será ainda maior no fim deste mês e meio. Depois, quando voltares a Dortmund, vais dar mais valor a cada segundo que estiveres com eles. É claro que pode ser difícil, vai custar os minutinhos que pensares neles...mas a tua cabeça vai andar a mil! 
- Outra vez, a Marlene tem razão. Vais conhecer meninos maravilhosos no centro, vais estar com o pessoal médico que já conheces e conhecê-los melhor. Milicent... – a rapariga olhou-o, estranhando ele a tratar por Milicent – eu sei, já estás habituada ao Mi, não é? 
- É.
- Milicent é mais sério. Por isso, Milicent, aproveita este tempo que cá vais estar da melhor forma que conseguires. E, já daqui a três dias, o nosso piolho vem ver-nos! Não é?
- É.
- Então. Vais estar dois dias com ele, vais puder dormir com ele e vai custar menos. Depois, passas a semana a trabalhar e a estudar e, quando deres por ti, já é novamente fim-de-semana outra vez e o Marten estará de volta. 
- Nunca Mario Götze falou tão bem na vida dele! – Marlene conseguiu fazer o que Milicent pensou ser impossível: conseguiu fazê-la sorrir. 
- Vocês são os melhores amigos que uma mãe deprimida pode ter. 
- Eu já acabei os meus discursos lamechas. Agora a tua amiga que tenha os próximos. No máximo dos máximos, eu poso ir buscar-te gelado e pipocas para a depressão. 
- Não, Mario, tu queres ir buscar isso que é para alimentares a tua gordura.
- Olha! Para quem está deprimida estás muito saída da casca! 
- Vocês animam qualquer um. 
- Nós até nos animamos um ao outro – Marlene olhou-o, um pouco chocada – não me olhes assim, pipoca. 
- Eu dou-te as pipocas, dou! 
- Meninos, essas coisas eu não preciso de saber! Da vossa vida íntima dispenso pormenores. 
- É por sabermos isso, minha querida cunhada, que vais ficar no quarto mais longe do nosso! 
- Onde o Marten foi feito... – constatou Milicent. 
- Ai pois foi! Vá, podes escolher outro...
- Não, esse está óptimo. Mas...
- Não me vais pedir para dormir com a Marlene, pois não? – Milicent reparou que Mario estava um pouco para o aflito. 
- Podia pedir...mas dormíamos os três! Ele ressona? – perguntou, olhando para a amiga. 
- Se estiver de barriga para baixo ressona. 
- Então, se ele se metesse de barriga para baixo, mandávamos o Mario pela cama abaixo. 
- Não te ponhas com ideias tristes, Milicent – Mario levantou-se, passando com a sua mão pelo cabelo de Milicent – não fiques triste, queridita! 
- O teu namorado anda querido demais, oh Marlene. Nunca me tratou tão bem como hoje! 
- O Marco pediu-lhe, de certeza. 
- Não falem do que não sabem! – Mario, que já se dirigia para a cozinha, voltou à sala – Ele pediu-me, mas foi pelo Marten. Porque ele é cabeçudo e já não sabe ser romântico. Querem gelado ou pipocas? 
- Gelado – responderam as duas ao mesmo tempo, olhando uma para a outra. 
- Oh que lindas, vá agora vão assumir-se como lésbias querem ver? – as duas riram-se e Milicent acabou por abraçar Marlene. 
- Obrigada. 
- Não me tens de agradecer nada – Marlene olhou-a – ele está a tentar animar a coisa mas, quando precisares de conversas mais sérias, vem falar comigo. Sim?
- Sim. 



- O Marco meteu foto do meu sobrinho! No instagram! – gritava Mario, descendo as escadas até à sala – já viram?
- Não – respondeu Milicent, pegando no telemóvel procurando pela fotografia – oh, ai. 
- Não comeces a chorar, outra vez, Milicent! – repreendeu Mario, sentando-se em cima das pernas de Marlene que estava sentada ao lado de Milicent – fogo o vosso filho é mesmo lindo! 
- Saiu à mãe – atirou Milicent. 
- Convencida! 
- Desculpa lá, se saísse ao pai tinha que ser loiro. E não é. 
- Continuo a dizer: convencida! 
Milicent voltou a olhar para a imagem, lendo bem a descrição que Marco tinha escrito.

Melhor companheiro de sempre! Podes ainda não falar, nem sequer brincar pelo chão...mas enches, neste momento, o meu coração.

- A esta hora já o Marco encheu o Marten de mimo! – comentou Marlene. 
- Isso tenho eu a certeza – disse Milicent, dobrando as suas pernas no sofá – se, mesmo comigo lá em casa, ele já o enchia de beijinhos e colinho, agora sozinho vai ser a loucura. 
- Se querem que vos diga, eu não vejo o Marco sozinho lá em casa! 
- Claro que não, de certeza que vai chamar os pais dele e da Mi – comentou Marlene – ouçam, temos de fazer o jantar. 
- Eu vou tratar disso – Milicent ia a levantar-se sendo empurrada por Mario para que se sentasse outra vez. 
- Eu vou fazer o jantar! 
- Passou-se – Milicent ficou a olhar para ele, desconfiada – agora vais fazer o jantar para surpreender? 
- Não! Eu vou fazer que é para não morrer intoxicado. 
- Que parvo! – Mario foi até à cozinha, deixando as duas sozinhas – ouve lá, o Mario anda diferente. 
- Como assim? Mais parvo, só pode! 
- Também. Mas, não sei...há ali qualquer coisa nele. Ele está querido demais, atencioso até...ele não era assim! 
- Tu não sabias que eu tenho esse poder sobre as pessoas? – as duas riram-se e Mario voltou à sala – pronto...agora é aquele momento que precisa de ajuda... 
- Não é isso. Mas...é assim, o Thiago telefonou porque discutiu com a Júlia... 
- Oh, mais um a precisar de consolo! 
- Eu disse para ele vir cá jantar. Não faz mal, pois não? 
- Claro que não. Mas és tu que cozinhas, na mesma! – ele riu-se, aproximando-se de Marlene. Deu-lhe um curto beijo nos lábios, voltando à cozinha. 



Como é que, ao segundo dia, ainda estás a chorar desta maneira? Milicent tinha saído de casa, indo até ao jardim. Sentou-se na relva, percorrendo as fotografias que tinha no seu telemóvel do filho. Tinha sido um jantar agradável com a presença de Thiago, mas não se sentia em condições de continuar lá dentro. 
Queria ligar a Marco...mas não o estava a conseguir fazer. Quase como por transmissão de pensamentos, no visor do seu telemóvel apareceu o número de Marco. Depressa atendeu a chamada, sorrindo. 
- Boa noite... 
- Olá, olá! Como é que correu o primeiro dia? 
- Foi só receber informações da Amber, voltar a conhecer os meninos e por aí. Só lá estive de manhã. 
- E, como é que estás? 
- Oh. 
- Ai, esse oh! Isso diz muita coisa, sabes? 
- Diz? 
- Sim. Estás com saudades nossas e, quase que aposto, que já viste as fotos que tens no telemóvel mil vezes! 
- É normal, não? 
- Claro que é. Mas, Mili, é o teu segundo dia aí e tens de começar a relaxar. Amanhã é um dia a sério no centro e depois já vais encher o minorca de beijinhos. 
- Falar é mais fácil do que fazer isso...ouve lá, o que é que a médica disse na consulta? 
- Que ele está óptimo e saudável. Basicamente foi só isso. 
- Fizeste as perguntas das viagens? 
- Fiz. E ela disse que são viagens curtas, não são perigosas. Mas para ele ir protegido no avião.
- Hum. E ele? Está a dormir? 
- Está. Sossegadinho e direitinho no berço em casa dos teus pais.
- Em casa dos meus pais? 
- Sim. Amanhã de manhã tenho de ir para o estágio cedo, eu tinha falado nisso...é estágio da seleção.
- Ah! Sim, sim. Já não me lembrava, desculpa. 
- Mais alguma pergunta para o bebé, ou podemos falar de nós um bocadinho? 
- De...nós? – Milicent achou aquela pergunta um bocado esquisita, vinda naquele momento. 
- Sim, eu também tenho saudades tuas, não é?
- Oh o Marco está carente! 
- Estou.
- O teu mal é sono. Vai dormir que isso passa. 
- Diz que é o sono diz
- Podemos não piorar a situação neste momento? Por favor...? 
- Sim, é melhor. E eu vou mesmo dormir que amanhã acordo cedo. Diz ao Mario que ele não se pode atrasar! 
- Eu digo, digo. 
- E tu, boneca, tem um óptimo dia. E sorri que ficas mais bonita com um sorriso nos lábios
- Vou tentar. Dorme bem, Marco. 
- Tu também, Mili. Beijo – Marco desligou a chamada, sem dar hipótese para Milicent finalizar com o típico “amo-te”. 
Olhou à sua volta, percebendo que tinham acendido as luzes em volta da piscina. Gostava imenso da casa de Mario e Marlene. Era acolhedora e, cada vez que ali estava, sentia que estava em casa. Quase como se fosse a casa dos seus pais. 
- Estás bem? – Milicent assustou-se ao ouvir a voz de Thiago – desculpa, não queria assustar. 
- Não tem mal – depois de este se sentar ao lado dela, Milicent olhou para Thiago – só não estava à espera. 
- Saudades do pintainho? – Milicent estranhou aquela pergunta e, pela cara que fez, Thiago só se conseguiu rir – foram eles que disseram lá dentro. Que eras uma mãe galinha. 
- Ah! Ele é pequenino, sabes? Só faz depois de amanhã três meses... 
- E, mesmo assim, conseguiste deixá-lo lá? É preciso muita coragem para isso. 
- Eu sei que ele está bem. Com o pai e os avós, obviamente queria-o comigo mas com o trabalho não iria ter tempo para ele. E, é uma oportunidade de vida...não a poderia recusar. 
- Eu entendo isso muito bem. 
- Tens filhos? 
- Não, não. Tenho um irmão, dois anos mais novo, sei o que é sentir saudades dele. Mas quando surgem oportunidades boas para a nossa carreira...há que aproveitá-las. 
- O Mario tem amigos que falam muito bem, tem. 
- Ai é? 
- É, é. Em tempos conheci um que levou um soco do Mario porque se queria fazer a mim a todo o custo. 
- O Mandzukic? A sério!? Eles nunca nos contaram isso! 
- Olha, e tu agora faz de conta que não sabes de nada, sim? 
- Claro, claro – os dois riram-se, acabando por ficar algum tempo à conversa. 



- Coisa fofa do tio! – Mario caminhava pela casa, tentando adormecer Marten. 
- O filho é meu, é a mim que me vem visitar e ele é que anda ali com ele – reclamava Milicent, fazendo com que todos se rissem. 
- Deixa-o lá. Daqui a nada já se vai embora – disse Marlene, olhando para o relógio – um bocado para o atrasado... 
- Mario! – chamou-o Mary Alice – tu tens de ir trabalhar, dá o bebé à mana. 
- Olha, olha – Mario ficou especado a olhar para ela – isso é assim? 
- É! Depois não podes jogar se chegares atrasado. 
- A Mary tem toda a razão! – concordou Marlene. 
- Fogo! Quando eu vier já ele não está cá...isto não é justo! 
- Podes ir visitá-lo a Dortmund antes de vires para Munique – sugeriu Milicent. 
- Tu, muito de vez em quando, até dizer coisas acertadas cunhada – Mario despediu-se de Marten, entregando-o a Milicent. 
Depois de Mario se ir embora, Milicent ficou com o filho nos braços até à hora de almoço. Almoçaram todos juntos, sendo que, quando o terminaram, os pais de Milicent e Mary Alice aproveitaram para ir fazer uma visita ao centro pediátrico. Milicent optou por ficar em casa, já que Marten tinha feito aquela viagem e, sendo pequeno, precisava de descanso e sossego. 
- Ele está mesmo bonito, Mi. 
- E mais gordinho... – Milicent fotografou o filho, partilhando a imagem nas redes sociais.

Juntos para um fim de semana de mimo!


Marlene ia a deitar-se ao lado de Marten, quando tocam à campainha. 
- Será que os teus pais se esqueceram de alguma coisa? 
- Não sei...eu vou lá. 
- Não, não. Deixa-te estar aí com ele, oh doida – Milicent sorriu, deitando-se ao lado de Marten. Passava a sua mão pela barriga do filho, beijando-lhe a mão quando bateram à porta. 
- Sim? – Milicent estranhou, já que não esperava ninguém. 
A porta abriu-se e Thiago apareceu do outro lado. 
- Posso? 
- Claro, entra – Milicent, desde que Marten nasceu, sempre tentou manter o mesmo tom de voz quando ele dormia. Sentou-se na cama, esperando que Thiago se aproximasse. 
- Como falamos que ele vinha hoje...decidi passar por cá – cumprimentou-a com dois beijos, olhando para Marten – que homenzinho bonito que ele é. 
- Como eu digo, saiu à mãe – os dois riram-se e Milicent acabou por se chegar para trás – senta, aí – apontou para o fundo da cama e Thiago sentou-se. 
- O Marco não veio? 
- Não. Ele teve de ir para o estágio da seleção. 
- Ah, é verdade, pois. Lá o Götze também foi e não se calava com isso ontem. 
- Com o quê? 
- Que ia ver o Marco – os dois riram-se e foram interrompidos pelo som do telemóvel de Thiago – desculpa, vou atender lá fora. 
Milicent sorriu e, quando Thiago saiu, pegou no computador tentando fazer uma vídeo chamada com Marco. 
- Temos cinco minutos, fofa. 
- Olá, para ti também. 
- Sim, olá. Ele está bem? 
- A dormir sossegadinho – Milicent mostrou Marten a Marco, voltando a colocar o computador à sua frente – ouve lá, já sabes se jogas amanhã? 
- Jogo sim. 
- Ai. Tem cuidado. 
- Eu não sou de porcelana, Mili ele riu-se e Milicent acabou por ver Mario, atrás dele, a fazer caretas o Mario andou nos copos. 
- Nota-se! 
- Voltei – Thiago entrou no quarto e Milicent percebeu que Marco ouviu. 
- Estás acompanhada? 
- É o Thiago. Amigo do Mario. 
- Estou a ver...e estão no quarto
- Não comeces a fazer filmes, oh ciumento. 
- Eu não, eu não. Tenho de ir. Beijo, miúda boa. 
- Beijinhos – desligou a chamada, olhando para Thiago – ele tem ciúmes por tudo e por nada... 
- Desculpa...não queria causar problemas. 
- Isto? Oh, não é problema nenhum. A sério. Ele agora fala com o Mario e passa-lhe. 
- Espero que sim.

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

38º Capitulo: “Mili, eu vou voltar a jogar!”

A semana que se seguiu foi uma verdadeira loucura. Nos dias de Milicent e Marco passou a reinar a rotina: Milicent levava o namorado ao treino, voltava para casa, arrumava as coisas, cuidava de Marten e ainda fazia algum do serviço de Marco: ler emails e tentar responder àqueles que sabia. Depois, voltava a sair com Marten e iam buscar Marco ao treino. Passavam na escola de Mary Alice e passavam o resto do dia com a menina. À noite, vencidos pelo cansaço, caiam na cama e, sem grandes conversas e movimentos, adormeciam nos braços um do outro. 
- Mili? – Marco chegava a casa, sem que Milicent desse pela sua chegada. Assustou-se, começou a pensar mil e uma coisas sem saber o que teria acontecido. Pegou em Marten ao colo, descendo até à sala – meus amores! – Marco aproximou-se dele, beijando fugazmente Milicent. 
- O que é que se passa? – Milicent quebrou o beijo, olhando-o. Ficou tranquila por ver um sorriso nos lábios do namorado... – O que é que aconteceu?
- Vou para estágio. 
- O quê?
- Eu vou para estágio. Temos jogo de preparação no fim-de-semana e, Mili, eu vou voltar a jogar! – Milicent conseguia ver a felicidade estampada no rosto do namorado. Conseguia ver o quão feliz ele estava, o seu rosto estava luminoso e os olhos brilhavam.
Mas sentiu o seu coração ficar pequeno, um nó a formar-se na sua garganta e uns suores frios. 
- Vais jogar...
- Bem. Eu não estava à espera desta tua reacção. 
- Não estava à espera, Marco – Milicent levou a sua mão à cara de Marco, passando-lhe Marten para os braços.
- Não tenhas medo – para Milicent é tão mais fácil toda a conversa quando Marco a entende...não precisa de esconder o que sente porque ele entende.
- É impossível isso – começou a caminhar pela sala, recolhendo alguns dos brinquedos de Marten que estavam no sofá – estás a treinar à pouco mais de duas semanas...e já vais jogar? – olhou-o, confusa. 
- São só uns minutos, preciso de começar a ganhar ritmo. Preciso de os ajudar na pré-época e depois...
- Marco, tu és mais importante que tudo isso. Se tu não estiveres bem não os vais conseguir ajudar. 
- Mas eu estou bem, Mili – Marco sentou-se no sofá, colocando Marten deitado a seu lado – eu sinto-me mesmo bem, não tenho dores nenhumas. 
- Eu só tenho medo, é isso – Milicent aproximou-se dele, sentando-se em cima das pernas dele. 
- Se eu tivesse dores não te poderias sentar aí... 
- Oh. 
- Ai, lá está ela e os seus oh’s. Meu amor, vai correr tudo bem. 
- Aposto que vieste a casa buscar as tuas coisas e tens de ir embora... estou certa? 
- Pois. 
- Ai! Eu já me estava a habituar a ter o meu namorado todas as noites comigo! – encostou-se a ele, abraçando-o – promete-me que tens cuidado e, assim que vires um gajo a vir contra ti, tu paras ou foges dele! 
- Isso havia de ser bonito. No dia seguinte aparecia nas notícias. 
- Ao menos não te aleijavam. 
Passaram, ainda, alguns minutos a namorar até que Marco foi preparar as suas coisas para ir embora. 
Milicent sentiu-se sozinha quando ele foi embora. Não o iria ter nos próximos dois dias e três noites. Foi, ainda, buscar Mary Alice à escola explicando-lhe pelo caminho o que é que Marco fora fazer.
- Então eu vou ver o Marco na televisão no sábado?
- Sim. Queres ver comigo?
- Quero, mana. Até podes ir lá a casa comer e vemos todos. 
- Já és boa a fazer planos para os crescidos. 
- Eu já sou crescida, também. Olha – Mary Alice, que fazia os trabalhos na mesa de centro, olhou para Milicent que estava sentada no sofá – podemos falar com a Marlene? Tenho uma coisa para lhe dizer. 
- Eu estou a ver que tu e a Marlene ficaram muito amigas. 
- Ficamos. E do Mario também, mas não convém dizer-lhe. 
- Vou buscar o computador. Fica atenta ao Marten – o menino estava deitado no sofá e, durante o tempo que Milicent demorou até conseguir o computador, Mary Alice permaneceu quieta a olhar o menino. 
- Ele está cada vez maior, não está? – perguntou a Milicent quando esta chegou à sala. 
- Está... – Milicent, depois de se sentar, olhou para o filho. Dois meses tinham passado desde que nascera e crescia a olhos vistos. 
- Ele já não chora de noite?
- Às vezes ainda chora. Mas é só se ficar sem a chucha. 
- Tu não tens medo de ficar sozinha? Sem o Marco?
- Não, acho que não. 
- Se tivesses eu podia ficar cá a dormir contigo – Milicent riu-se, colocando o computador na ponta do sofá. Assim, quando Marlene aceitou a chamada, conseguiria ver Milicent, Mary Alice e Marten.
- Olha quem são eles! Falta aí o cabeçudo! 
- O Marco foi para o... – Mary Alice olhou para Milicent – estádio?
- Estágio – Milicent corrigiu-a e as duas olharam para Marlene. 
- Foi para o estágio, é isso.
- Foi para onde?! a voz de Mario fez-se ouvir e, por detrás de Marlene, apareceu ele.
- Mario, estás quase despido – Mary Alice tapou os olhos e todos se começaram a rir. 
- Está calor, Mary fofa do tio! Oh miúda, tenho saudades tuas. 
- Eu não tenho tuas – Mary Alice espreitou por entre os dedos – ok...tenho de fingir que estamos na praia?
- É mais ou menos isso, queridadisse Marlene então mas o Marco foi para estágio? Milicent confirmou, com a cabeça, reparando que Marlene e Mario ficaram um tempo sem saber o que dizer. 
- Não é mau, meninos! – Mary Alice, com o seu grande à vontade, falou para espanto de todos – eu já percebi que estão com medo que o Marco se aleije outra vez. Eu não sou pequena, tá?
- Olha, olha...eu estou a ver é que estás a crescer muito depressa.
- Aí a nossa miúda é que a sabe toda. 
- Claro que sei, Mario. Vocês não querem que ele se aleije. Mas o Marco não é de porcelana. 
- Às vezes parece... – comentou Milicent. 
- Não sejas má, mana – Mary Alice olhou-a um bocado chocada – o Marco é querido. 
- Tu hoje estás muito faladora estás...vá, o que é que querias dizer à Marlene? 
- O Mario não pode ouvir... 
- Ai não posso ouvir? Já não brinco mais contigo. 
- Pareces uma criança a falar, oh Mario! – Milicent não resistiu em comentar, levando Mary Alice e Marlene a rirem-se. 
- O Marten, se falasse, iria estar do lado do tio! Adeus gajas! deu para perceber que Mario saiu do quarto e Mary Alice aproximou-se mais do computador. 
- Marlene...
- Diz, minha querida. 
- Eu queria perguntar-te uma coisa.
- Querem que eu saia? – perguntou Milicent. 
- Não, tu podes ficar – Mary Alice olhou para Milicent – mas não fiques com ciúmes, está bem? – tanto Milicent como Marlene estranharam um pouco aquilo. 
- Vá, Mary. Estou curiosa! 
- A minha mamã vai ligar para ti...mas assim eu já falo contigo primeiro. Sabes, nós vamos para aí na próxima semana...a mãe e o pai vão ficar em casa de uns amigos mas...eu posso dormir uma noite contigo e o Mario?
Se Milicent ficou surpreendida, Marlene estava incrédula. Milicent percebeu que, por muito pouco, a amiga não chorava. 
- É claro que sim. Claro que podes! 
- Não digas ao Marito, sim? Quero fazer-lhe surpresa. Ah! E a mãe disse que vamos àquele jogo importante.
- Então mas vocês nem me convidam?
- Não te ponhas com ciúmes, oh! 
- É isso mesmo – Mary Alice olhou para Milicent – e tu não podes ir. O Marco também joga nesse dia. Eu acho que são apresentações. 
- Ah! Vocês vêm ao jogo de apresentação?
- Sim. É nesse dia que é a surpresa para o Mario. Pode ser mesmo?
- É claro que pode querida. O Mario vai adorar a surpresa! 
Ficaram, ainda, algum tempo à conversa até que Mary Alice continuou a fazer os seus trabalhos e Milicent foi preparar o jantar. Deixou Marten na alcofa da sala, levando o computador consigo. 
- Estás com medo do jogo, não estás?
- Oh claro...ele começou a treinar à pouco tempo. 
- Se ele não pudesse jogar não o faria, não é? Tem calma, Mi. 
- Ainda estás à conversa? Milicent riu-se, percebendo que Mario estava a entrar no quarto. Algum tempo depois apareceu na imagem, ao lado de Marlene agora só vemos esta feia? Ainda por cima deve pensar que está no masterchef.
- Marlene, não sabia que tinhas comprado um papagaio! 
- Vai chamar papagaio ao teu namorado! Ele é que tem aquela popa na cabeça. 
- E tu tens algum problema com isso?
- Não. Mas tu chamaste-me papagaio. 
- Há quem te chame de gordo! 
- Vá, meninos, então? 
- Nós só estamos a brincar Marlene. Não é, Mi?
- Claro que é. Eu adoro o papagaio que é teu namorado – as duas riram-se, já Mario não achou muita piada a tudo aquilo. 



- Vais adormecer não tarda nada e a mãe fica sozinha, não é meu amor? – Milicent falava com Marten. Estavam os dois sozinhos, calmos e serenos naquela primeira noite sem Marco – Qualquer dia és tu a pedir-me para ires dormir a casa dos tios – Milicent aproximou-se dele, beijando-lhe o nariz – o Mario bem que podia estar no Dortmund! Assim a tia Marlene passava estes dias connosco – Marten começou a encolher-se na alcofa e Milicent ia-lhe mexendo na cabeça. Não demorou até adormecer – dorme bem, meu anjinho – fotografou Marten a dormir, postando a fotografia nas redes sociais.

O meu homem pequenino, a melhor companhia e o melhor filho. Só nos está a faltar o pai esta noite...dorme tão bem quanto nós, Marco.


Com cuidado, pegou no filho ao colo levando-o para o quarto. Deixou-o no berço preparando-se para se deitar. Depois de vestir o pijama e se deitar, recebeu uma mensagem. 


Já estás a dormir? 


Era Marco. 
Milicent não respondeu, iniciando logo uma chamada para ele. 
- O menino devia ter a cabeça direita. 
- Boa noite para ti também! 
- Boa noite. Mas ele está com a cabeça torta, Mili. 
- Marco, meu amor, ele adormeceu na alcofa da sala. Eu já o trouxe para o berço e está a dormir sossegado e tranquilo. 
- Não vais dormir com ele? 
- Não. Ele está a dormir bem ali e já sabes que, quando vem para a nossa cama, fica mais desperto. 
- Tens razão. E tu, como é que estás? 
- Bem. Vou ter a cama grande só para mim. Já há muito tempo que não acontecia, até devo dormir melhor e tudo! 
- Já não te importas que não esteja aí? 
- Não – Milicent riu-se – estou a brincar, vá. E como estás, tu? 
- Um bocado ansioso. E o jogo é só daqui a dois dias. 
- Tem calma, contigo. Queremos-te completo quando regressares. 
- Parece que estou no meu primeiro estágio...é uma coisa estranha. 
- É normal... – Milicent bocejou e Marco riu-se – sim, estou com sono. Mas é normal, é uma coisa que querias que acontecesse depressa. E está a acontecer agora. 
- E está a ser tão bom. Mas amanhã conto-te as novidades, agora vai dormir que tens sono. E eu também tenho de ir dormir. 
- Hum, dorme bem, querido namorado. 
- Dorme bem, o pequenote também. Se ele acordar de noite, mete-o a dormir contigo. 
- Sim, sim. 
- Beijo, Mili. Amo-te, muito, imenso. 
- Eu também te amo. Muito e mais que imenso, meu amor. 
Milicent desligou a chamada, apagou as luzes da mesa-de-cabeceira, virando-se para o lado do berço de Marten. Fechou os olhos e pouco tempo depois adormeceu. 



- Mas ela está a fazer o que? 
- A vestir-se para ver o jogo – Milicent falava com o pai, enquanto Mary Alice e a sua mãe estavam no quarto. 
A hora do jogo de Marco aproximava-se e a menina tinha decidido ir trocar de roupa. Milicent tinha ido almoçar a casa dos pais e ficava para ver o jogo com eles e, enquanto não começava, iam vendo alguns momentos da época passada. 
- Mas sujou-se? 
- Não, não – Hinrich apontou para o corredor – vem aí. 
Milicent olhou para Mary Alice e, emocionada, deixou escapar umas quantas lágrimas. 
- Ainda não começou, pois não? 
- Não, não – Milicent respondeu-lhe e Mary Alice voltou a sentar-se à mesa. Mesmo em frente de Milicent – estás muito bonita, Mary. 
- Foi o Marco que deu. E eu, depois, preciso de lhe dizer umas coisas. 
- Vou tirar-te fotografia e meter no instagram. Pode ser que ele veja antes do jogo. 
- Diz que eu desejo muita sorte. 
- Digo sim senhora. 
Milicent limpou as lágrimas que lhe caiam pelo rosto, fotografando Mary Alice.

Estamos prontas e ansiosas! Marco, desejamos-te toda a sorte do mundo. E ela, vestida a rigor, deseja ainda mais sorte.

Alguns minutos depois, Milicent recebe uma mensagem.

Obrigado. Muito obrigado. Um grande beijo para vocês e, por favor, diz a Mary Alice que ela fica linda assim vestida. 




- Senti-me bastante bem. Foram os primeiros minutos de jogo que fiz depois da lesão e senti-me muito bem – Marco dava entrevistas pelo segundo dia consecutivo. Milicent acompanhava-o neste dia, mesmo que já estivesse cansada de ali estar.
- Sentiu apoio especial nesse dia, estou certo? – perguntava um dos jornalistas presentes.
- Recebi bastante apoio. Quer dos adeptos do clube, dos meus colegas mas, sobretudo, da minha família. Eles têm sido o melhor apoio de sempre. 
Eram mais do que o habitual e todos asiáticos. Milicent estranhou aquilo, acabando por partilhar nas redes sociais uma imagem daquela tarde

Segunda ronda e ele fala, fala, fala...


- Eu sei que isto é uma seca para ti, mas foi muito bom ter-te lá a supervisionar a situação – chegavam a casa a comentar o que tinha acontecido aquela tarde.
- É engraçado. Sobretudo quando a senhora indiana te perguntou se querias casar e tu disseste que estávamos noivos! – Milicent estava, ainda, chocada com tal declaração de Marco. 
- Mas eu emendei a seguir...
- Oh. Já sabes que eles podem começar a alimentar boatos – a rapariga sentou-se no sofá, olhando para Marco – noivos...desde quando? 
- Não gostavas de casar?
- Gostava. Mas daqui a um bom tempo. Alem disso, tu não tens um historial de casamentos que te favoreça – ela riu-se, reparando que Marco não teve a mesma reacção – eu estou a brincar, sim? 
- Não pensas que eu te possa trair, pois não?
- Havia de ser bonito! Fazia-te em picadinho de carne para a massa à bolonhesa! – Desta vez Marco riu-se, começando a caminhar na direcção do sofá. 
- Esta casa sem o Marten já começa a ficar vazia ou é impressão minha?
- Começa mesmo...mas daqui a pouquinho os teus pais já o trazem – Milicent entrelaçou a sua mão com a de Marco, encostando a sua cabeça no ombro dele. 
- Nem quero imaginar quando fores para Munique...
- O quê? – Milicent ficou surpreendida com aquele comentário de Marco, acabando por olhar para ele – eu vou para Munique? 
- Mili...
- Eu ainda não decidi se vou, Marco. E tu, com essas coisas, parece que me queres ver longe daqui. 
- Não se trata de querer-te longe. Sabes bem que te quero perto...mas é o teu futuro que está em causa. Seria uma oportunidade única e, dois meses...seriam fantásticos para o teu desenvolvimento como pediatra. 
- Mas eu não quero ficar longe do meu filho. Nem de ti. Nem dos meus pais e a Mary. Vocês são parte fundamental...só que, eu penso nisso...no quão bom seria para mim, nas experiências que podia viver e era um sonho cumprido. Exercer mesmo pediatria. 
- Já sabes a minha opinião. Mas, Mili, sabes quem te irá aconselhar melhor que eu ou tu mesma? – Milicent acenou negativamente com a cabeça que não – a tua avó Jolandi. 
Acabou por sorrir...aquela era a verdade. 



- Eu acho que vou aceitar, Mare...
- Vens para Munique? 
- Tenho andado a falar nisso com o Marco...temos feito planos para esses tempos mas depois eu penso: eu vou perder dois meses da vida do Marten...
- Podes sempre vê-lo todos os dias...eu sei que não é a mesma coisa, eu sei. Mas iria manter-te em contacto com o menino e ele contigo. 
- Eu não sei...estou tão confusa desta minha cabeça. 
- Já falaste com a tua avó? 
- Também tu? Marlene via Milicent rir-se. As duas faziam aquela vídeo chamada já à algum tempo. Milicent tinha estado a falar com Mary Alice, com Mario e agora com Marlene o Marco está farto de me dizer para ir falar com ela. 
- E é o melhor que tens a fazer, Mi.
- Mare!? a voz de Mario fez-se ouvir no quarto...vinda da sala! 
- Aquele já fez asneira...falamos depois? 
- Sim, sim. Vai lá e manda-lhes beijinhos. Ah! E a Mary gosta de beber um copinho de leite antes de dormir. 
- Anotado! Beijos, fofa. 
- Beijinhos Marlene desligou a chamada, começando a dirigir-se ao andar debaixo.
Encontrou Mario a correr pela sala, atrás de Mary Alice. 
- Ela roubou-me o comando da PlayStation – Marlene cruzou os braços, olhando para eles. 
- Porque o Mario está a fazer batota. Ele mete os bonecos todos maiores para ele e eu fico com os pequeninos! – Marlene só se conseguiu rir e sentar-se no sofá. 
- Sabes uma coisa, Mary? O tio Mario tem mau perder...é por isso que ele faz isso. 
- Só podia! – a menina acabou de correr, sentou-se ao lado de Marlene entregando-lhe o comando – agora ele vai querer tirar-te a ti! 
Mario, contrariamente ao que Marlene pensou, sentou-se no sofá ao lado dela. Encostou a cabeça no seu ombro, ligando a televisão. 
- Acho que o tio Mario acabou de ficar envergonhado. 
- Mas que envergonhado? – apertou a coxa de Marlene, olhando para Mary Alice – não penses que te escapas menina Mary! 
- Tu não és capaz de me fazer nada. Depois eu conto tudo à Mili e aos papás e eles não me deixam estar mais contigo. E tu não ias suportar isso. 
- Olha, a pirralha! – Mario ficava sempre surpreendido com o discurso de Mary Alice. 
- Ah pois! Ouçam lá uma coisa – Mary Alice colocou-se em cima do sofá, passando para o meio deles. Agarrou-lhes nas mãos olhando, à vez, para cada um deles – quando é que fazem um bebé? 
- Quando a Marlene estiver com frio! – respondeu Mario. 
- Com frio? – Mary Alice olhou para Mario, estranhando tudo aquilo – mas vocês fazem diferente da mana e o Marco? Eles dão beijinhos especiais.
- Ai é assim que eles fazem bebés...então, nós fazemos quando a Marlene tem frio. Assim o tio aquece-a com beijinhos especiais como os desses dois. 
- Ah. Então só podem fazer bebés no inverno. 
- E daqui a muitos anos, querida – atirou Marlene – o tio não sabe tomar conta de bebés. 
- Ele ainda não tomou conta do Marten? – Mary Alice olhou para Marlene. 
- Não...por isso é melhor ele treinar, não é? 
- É sim! 
Mario acabou por se rir e perceber que aquela Mary Alice era mais esperta do que todos pensavam. Era perspicaz, atenta e preocupada com todos. 



- Minha querida...sabes que eu não posso decidir por ti. 
- Eu sei, avó, mas é tão difícil. Já ponderei levar o Marten comigo, mas não estaria a ser justa com o Marco. Ele também é pai...
- Vocês precisam de falar de tudo com clareza. E tens de tomar a decisão por ti...
- Eu acho que já tomei essa decisão.