O
silêncio imperava naquela casa desde que Marlene tinha saído. Milicent ficou
entre a cozinha e a sala, fazia o jantar e tentava abstrair-se de que teria de
confrontar Marco em pouco tempo. O jantar estava quase terminado e mantinha-se
junto do fogão quando ouviu Marten rir-se. Aquela gargalhada doce e tão
carateristica do filho.
-
O bebé veio ajudar a mãe com o jantar? – Milicent virou-se para trás, vendo
Marco com o menino ao colo e com aquela triste e fechada expressão na sua cara
– o jantar está quase pronto – avisou, aproximando-se de Marten que, no
momento, se atirou para os braços da mãe.
-
Acho que não vou jantar.
-
Não tens fome?
-
Não. Desculpa – Marco saiu e Milicent levou a sua mão à testa. Como é que ele poderia
não ter fome ao jantar há dois dias? Já não jantavam juntos há duas noite...já
não adormeciam ao mesmo tempo, já não sorriam pelas mesmas coisas. Estava tudo
completamente diferente.
Milicent
desligou o fogão, indo atrás de Marco. Apanhou-o quando ele já se preparava
para subir as escadas.
-
Eu não aguento mais isto, Marco – Marco baixou o olhar e, por momentos,
manteve-se virado de costas para Milicent – há duas noites que não jantamos
juntos, já não conseguimos ter uma conversa decente há uma semana...eu prometi
que iria aguentar, mas não está a dar! Não está, Marco.
Com
calma, quase em câmara lenta, Marco virou-se para Milicent descendo os três
degraus das escadas.
-
O que é que queres que eu faça?
-
Podias começar por falar comigo, isso bastava-me. Tornamo-nos uns estranhos
nesta casa...dizemos bom dia, boa noite e só quando falamos com o Marten é que
ouvimos a voz um do outro.
-
Achas que é fácil? Eu ando há semanas a tentar voltar a treinar como deve ser,
a andar como deve ser e está a ser difícil. Esta lesão está a ser mais
complicada de resolver.
-
E porque é que não falas disso mesmo comigo?
-
Porque sinto que não te devo carregar com estes problemas.
-
É e preferes deixar de falar comigo? Eu juro-te, Marco, está a ser muito
difícil acompanhar tudo isto...a minha cabeça parece estar a dar a volta, eu
não me sinto a mesma. Eu sei que são pessoas diferentes, mas olha o Thiago! O
Thiago soube reagir, mesmo quando a namorada acabou com ele, e está com uma
lesão muito pior que a tua!
-
E esse tinha de vir para a conversa...
-
Ainda bem que me lembrei dele. Marco, o Thiago já não joga desde Janeiro e,
pelo menos, até Janeiro ele não vai jogar. Já tentaste fazer esse exercício?
Pensar que só estás lesionado há poucas semanas e que poderias estar já parado
à um ano? – Milicent aproximou-se dele – poderias ter uma lesão gravíssima como
a dele, poderias estar a meio de uma recuperação que não é certa...e sabes como
é que eu vejo sempre o Thiago? Com um sorriso nos lábios, a andar mais do que o
devido mesmo que tenha dores...a lutar para ficar bem, em vez de se esconder
como tu o estás a fazer.
-
Vejo que ficaste encantada com ele.
-
Fico encantada pela força dele. Isso sim.
-
As pessoas não reagem da mesma maneira, não somos todos iguais.
-
Marco! Tu dizes sempre as mesmas coisas! Tu não percebes, não sentes, que te
estás a isolar?
-
Porque eu quero, Milicent! Tu não entendes que eu não quero estar com ninguém?
Que não quero que me olhem com pena, que comentem que estou com azar...e depois
tu vens com essas conversa, o Thiago. Eu disse que não me importava com ele,
que sabia que eram só amigos mas eu já não sei.
-
Já não sabes o que?
-
Já não sei se serás só amiga dele – quase de impulso, Milicent só conseguiu
reagir esbofeteando-o. Milicent acabara de dar uma chapada ao seu namorado, com
o filho nos braços e quase a arrepender-se do que tinha feito.
-
Eu neste momento, poderia pedir desculpa. Mas não consigo. Eu abdiquei de
arranjar um emprego para te apoiar, eu passo os meus dias nesta casa para te
apoiar, eu passo as minhas noites deitada a teu lado a ver-te sofrer. Todas as
noites tens pesadelos, todas as noites choras mesmo que penses que eu não sei.
Eu não consigo pedir desculpas depois do que acabei de fazer porque acho que tu
a mereceste, porque não deverias ter dito o que disseste.
Os
dois ficaram a olhar um para o outro. Nos segundos seguintes nada disseram e
permaneceram a olhar um para o outro. Marten, curiosamente, tinha adormecido.
No seu maravilhoso e tranquilo sono.
-
Desculpa o que disse. Não é que não confie em ti...mas eu estou inseguro com
tudo.
-
Não devias ficar. Por alguma razão te escolhi como meu homem há um ano e meio.
E esse motivo não é pelo interesse, por seres lindo de morrer. É porque te amo.
Mas eu não aguento, Marco. A Marlene vai embora amanhã para Munique...eu não
tinha nada disto planeado, mas eu vou com ela. Eu vou e fico lá o resto da
semana, longe disto tudo. Eu preciso disso.
-
Deixas o Marten?
-
Não. Eu preciso do meu filho comigo. Vou avisar os teus pais e os meus. Está a
doer-me, a custar imenso dizer-te isto...fazer isto mas, para o meu, teu e
nosso bem precisamos disto.
-
Tu voltas?
-
Claro que volto. E tu vais perceber que precisamos disto.
-
Vais estar com o Thiago?
-
Marco, fogo, a sério? Lá porque vou para Munique não precisas de associar logo
ao Thiago! Ele é meu amigo, tal como o Auba é!
-
Shh – Marco levou o seu dedo indicador aos lábios de Milicent – eu preciso que
estejas com ele.
-
Hã? – Milicent sentira a sua cabeça ficar completamente baralhada naquele
momento. Ainda à pouco Marco estaria a duvidar do seu envolvimento com Thiago e
agora está a pedir-lhe que esteja com ele?
-
Ele faz-te sorrir pelo menos. E que lhe entregues uma coisa.
-
Uma coisa?
-
Eu não sabia se este dia iria chegar, mas eu escrevi uma carta ao Thiago. Foi
logo no inicio da lesão dele, ainda nada disto tinha acontecido. Nunca lhe
enviei porque não tinha grande afinidade com ele. Achas que podes fazer isso?
-
Claro – um pouco atordoada e sem saber o que dizer, o que pensar – eu preciso
de ir fazer as malas e falar com a Marlene.
-
Ok. Eu deixo a carta junto das tuas malas.
-
Tudo bem – Milicent subiu as escadas e, chegando ao topo das mesmas, reparou
que Marco foi até ao sofá deixando a sua cabeça cair entra as suas mãos. Pela
primeira vez deixou as lágrimas escorrem pela face...até agora tinha aguentado,
tinha conseguido não fraquejar ao confrontá-lo...mas agora custava-lhe vê-lo
assim.
-
O que é que eu perdi? – perguntava Mario, quando Marlene entrava em casa com
Milicent e Marten. Depressa se levantou indo ter com elas – o que é que estão
aqui a fazer? – cumprimentou a namorada com um apaixonado beijo, Milicent com
um beijo na testa e ficou a olhar para Marten dentro do carrinho – tu estás com
cara de quem quer vir ao colo do tio Mario! – Marten riu-se – ah pois estás,
estás – começou a tirar-lhe o cinto e ainda mais o menino se ria – anda cá,
piolhito – segurou-o no seu colo, olhando para Milicent – olá!
-
Olá.
-
Não esperava ver-vos por aqui.
-
Eu também não esperava vir para aqui...
-
Vamo-nos sentar sim? Está aqui uma pessoa grávida, cheira de dores nas costas e
não vamos criar raízes.
-
Vamos sim – Mario aproximou-se de Marlene, beijando-lhe a bochecha. Milicent
olhou-os...ele colocou a sua mão na barriga de Marlene, olhando-a com aquele
brilho tão especial. Olhava-a como se todo o seu mundo estivesse à sua frente.
E estava. Marlene também o olhava de outra forma. Milicent iria jurar que nunca
tinha visto Marlene olhar assim para Mario, tão apaixonada. Muito mais
apaixonada do que estava.
Sentaram-se.
Mario e Marlene lado a lado e Milicent à frente deles. Explicou tudo o que se
tinha passado a Mario. Com todos os detalhes e todas as frases que foram ditas.
-
E tu deste-lhe uma chapada... – Mario não se conseguia dizer mais nada a não
ser aquilo – ele bem as deve andar a merecer, deve. E agora?
-
Agora...se tu não te importares, tens-me a mim e ao Marten aqui em casa até ao
fim de semana.
-
Olha, agora quem devia levar uma chapada eras tu. Mas eu não bato em mulheres.
Serão sempre bem-vindos cá a casa. Disso podem ter a certeza – Mario colocou
Marten sentado no seu colo, enchendo o menino de beijos. Marten ria, à
gargalhada, fazendo as delícias de todos. Os seus cinco meses demonstravam o
quão perspicaz ele já era, o quão brincalhão é. Milicent percebia que o seu
filho se desenvolvia bem achava, até, que era o filho perfeito, a fazer as
coisas que os bebés fazem no tempo certo. Na marca dos seis meses, se tudo
correr bem, deverá começar a gatinhar. E Milicent já vai vendo que ele o tenta
fazer quando está no chão a brincar. É, verdadeiramente, a sua fonte de
felicidade.
-
Devias contar a outra parte ao Mario! – disse Marlene.
-
Qual parte? – Mario olhou para Milicent, esperando que esta lhe dissesse alguma
coisa.
-
A parte...a parte em que o Marco me deu isto – abriu a sua mala, retirando de
lá um envelope.
-
Mas ele só te sabe dar cartas?
-
Não é para mim. É para o Thiago.
-
Hã? – Mario olhava-a completamente surpreendido – porquê?
-
Já a tinha, supostamente, escrito quando o Thiago se lesionou e queria
enviá-la. Acho que o Marco até gostava do Thiago...foi essa a sensação com que
fiquei. Para lhe escrever uma carta...
-
Ele a mim nunca me escreveu uma!
-
Não fiques com ciúmes, tartaruga. Isso faz mal!
-
Ainda lhe vou perguntar porque é que nunca tive uma! Mas...ao Thiago? E pede-te
a ti...juro, eu tento acompanhar-vos, mas vocês são fora do normal.
-
Oh Mario, fogo!
-
O que, Marlene? Só estou a dizer o que sinto.
-
Deixa-o falar...ele tem razão – interrompeu Milicent.
-
Como sempre!
-
Não exageres, também – todos se riram naquele momento, acabando por deixar de
lado aquele assunto.
Mais
tarde, Milicent foi arrumar as suas coisas e as de Marten até ao quarto onde
sempre ficou desde que foi ali para casa.
-
Podemos falar? – perguntou Mario, espreitando pela porta.
-
Claro.
-
Como é que estás?
-
Confusa, cansada e isso.
-
Ele soube?
-
Não. O Marco não soube de nada.
-
Pensei que isso pudesse ter acontecido.
-
Se tivesse acontecido, eu teria saído de casa definitivamente de certeza. Ele
nunca iria perdoar, nem entender...eu traí-o.
-
Não digas isso dessa maneira. Faz-me confusão.
-
Mas foi o que eu fiz, Mario! – Milicent deixou-se sentar ao fundo da cama,
levando as suas mãos à cabeça - eu envolvi-me com o Thiago, eu não sei como o
ajudar, eu não o consigo trazer de volta...parece que pode tudo ser culpa
minha!
-
Ei, ei – Mario ajoelhou-se à frente de Milicent, agarrando-lhe as mãos – não
digas isso. Porque tu, mais do que qualquer outra pessoa, tens estado ao lado
dele em todos os momentos. Acredita que ele sabe bem disso. Só precisas de
tempo...e vais tê-lo aqui. Eu prometo.
-
Obrigada. A sério, Mario.
-
Vá, quero o prémio de melhor cunhado do mundo!
-
Quando existir eu dou-to.
-
Olha, sim senhora, dessa eu não estava à espera!
-
É uma maneira de te calar, Mario – riram-se os dois e o rapaz acabou por se
levantar.
-
Vou ter treino...queres que diga ao Thiago que estás cá?
-
Ele já treina?
-
Não. Está lá a fazer a fisioterapia a esta hora. Quando eu chego ele está
sempre a preparar-se para sair – informou.
-
Sim...podes mencionar que eu estou cá.
-
Toma conta da minha miúda.
-
Vai descansado – Mario saiu do seu quarto, enquanto Milicent terminou de
arrumar as poucas coisas que tinha trazido consigo. Quando tinha tudo arrumado
dirigiu-se até à sala, encontrando Marlene esticada no sofá com Marten a dormir
tranquilamente na sua alcofa.
-
Cansada? – perguntou Milicent, depois de se sentar no outro sofá, perto da
alcofa de Marten.
-
As viagens custam um bocadinho...tenho a sensação que vou só fazer no natal uma
e depois fico eternamente em Munique!
-
Então depois vimos nós ver-vos.
-
Achas? Eu preciso de ir a Dortmund...Munique não é a minha cena e sabes bem
disso. Estou a adorar estar cá, mas faz-me muita falta a nossa cidade.
-
Pode ser que o Mario ainda volte a jogar no Borussia – Marlene olhou para
Milicent um pouco escandalizada – o que foi?
-
Achas mesmo que isso é possível? Só se for mesmo por pena do Mario e da gordura
dele – começaram a rir-se as duas, sendo interrompidas pelo som da campainha.
-
Eu vou lá – Milicent levantou-se, indo até à porta – é fora do portão,
Mare...eu não sei abrir isto!
-
É na tecla verde, tonta. Já cá estiveste tantas vezes e não sabes?
-
Eu não – Milicent lá carregou no botão verde, abrindo o portão.
-
Olha e quem é que é?
-
É…o Thiago.
-
Ai é o Thiago! Esse também só nos vem cá visitar quando cá andas tu...ainda
tenho de lhe dizer isso – Milicent riu-se, abrindo a porta. Reparou que Thiago,
à medida que se aproximava dela e estando ainda dentro do carro, sorria.
Aguardou
que ele saísse do carro para esboçar, também ela, um sorriso. Thiago fazia-a
sentir bem...dava-lhe uma certa tranquilidade e o fato de ser tão bem disposto
e positivo, cativavam Milicent. Sabia que, na sua frente, tinha um bom amigo.
-
Vejam só quem é que voltou a Munique! – Thiago abraçou-a de imediato, fazendo
com que Milicent se surpreende-se por ser tão bom. Sentia falta de um abraço
assim...de um homem, de um amigo. Na verdade, sentia falta dos abraços de
Marco. E não havia maneira de os conseguir ter de voltar – te echaba de menos, preciosa.
-
Escusas de falar em espanhol que eu não entendo essa tua língua!
-
Por isso mesmo! Assim nunca saberás certas coisas que te digo – Thiago olhou-a,
beijando-lhe a testa – que andas por cá a fazer?
-
É uma longa história que te terei de contar...entramos?
-
Claro – Milicent virou costas, entrando em casa, Thiago seguiu-a e os dois
foram até à sala ter com Marlene.
-
Seja bem aparecido, senhor Thiago. Agora só cá vem a casa quando cá vem a
menina Mi?
-
Eu não sirvo de vela! – Thiago aproximou-se de Marlene, cumprimentando-a – como
é que estás?
-
Tudo tranquilo e tu?
-
Vai tudo com calma, tranquilo também.
-
Ainda bem, vocês querem ficar aqui na sala à vontade?
-
Não, não! – Milicent respondeu prontamente, impedindo Marlene de se levantar –
nós vamos até lá fora. Levo o intercomunicador e tu deixa-te estar aí sossegadinha.
-
Eu estou grávida...não estou inválida, sabes disso?
-
Sei. Também já estive grávida e sei bem. Por isso, acredita no que te digo,
aproveita bem estes tempos onde podes estar deitadinha sossegada – Milicent
piscou-lhe o olho, olhando de seguida para Thiago – vamos até lá fora?
-
Sim, claro – os dois começaram a caminhar mas, antes que se esquecesse,
Milicent foi até à sua mala buscar a carta que tinha de Marco para Thiago.
-
Que se passou? – perguntou Thiago, depois de se sentarem por baixo do toldo de
jardim.
-
Já consegues perceber quando é que acontece alguma coisa?
-
Consigo perceber que não estás bem.
-
Não estou a conseguir acompanhar o Marco...e ele não está a conseguir manter-se
positivo – Milicent olhou para Thiago – eu sinto que o Marco está a alimentar
aquela lesão com o seu derrotismo. Ele está a isolar-se, a fechar-se em si
mesmo e não me deixa chegar perto dele – olhou para a carta, entregando-a a
Thiago – acho que o meu namorado tem, ou pelo menos tinha, uma admiração por
ti. Escreveu-te esta carta em Janeiro, quando te lesionas-te...nunca te enviou,
mas agora pediu-me que a trouxesse comigo.
Thiago
recebeu a carta, olhando para Milicent.
-
Queres que...leia agora e para ti?
-
Se a quiseres partilhar comigo...
-
“Olá Thiago. As poucas vezes que nos
cruzamos não me dão a possibilidade de te conhecer muito bem. Aquilo que
conheço é o que és como jogador, como adversário e como figura pública. Admiro
a forma como és: aparentas ser uma pessoa com os pés bem assentes no chão, uma
pessoa tranquila e muito pacata. Este momento pode não estar a ser fácil para
ti mas acredito que terás um enorme arsenal para te apoiar. Desejo, com toda a
sinceridade, que recuperes depressa. Que os piores prognósticos acabem por não
se concretizar. Que consigas sair desta lesão mais depressa do que todos
pensam. Tal como tu, sou jogador e o que mais gostamos de fazer é isto. Quando
nos tiram...tiram uma parte essencial das nossas vidas. É claro que existe vida
para lá do futebol, para lá dos nossos jogos...há uma vida sim, mas não
completa. Porque, acredito que partilhes da mesma opinião, o futebol completa
tudo o que a nossa vida pessoal nos dá – Thiago fez uma pequena pausa,
olhando para Milicent. Estava focada naquilo que ouvia...e a surpreender-se com
o que ouvia. Naquela carta o Marco estaria a dar força ao Thiago...a força que
ele precisaria para si mesmo – o futebol é
essencial nas nossas vidas. Se algum dia me acontecesse algo assim...eu não sei
como reagiria. Talvez não o fizesse da melhor forma e acabasse por fazer com
que a minha namorada sofresse, a minha família sofresse...o meu filho poderia
sofrer com isso. Ele pode ainda não ter nascido mas já começo a pensar no que
será da minha vida quando ele nascer. Será a principal pessoa a depender de
mim, será aquele ser mais indefeso que precisara da minha proteção. Não consigo
pensar como seria...espero que tenhas as maiores e melhores pessoas a teu lado
neste momento. Que tenhas força e lutes para voltares depressa. O futebol sem
um jogador como tu perde. E muito! Força, Thiago. Um grande abraço, Marco
Reus.”
-
Ele...
-
Ainda não acabou, Milicent – Thiago olhou-a, mostrando-lhe a carta – é com
outra caneta... “esta carta não poderia
ser mais irónica para mim...acho que nem nunca mais me lembrei de a ir ler e,
hoje, quando o fiz já a Milicent me tinha dito que se ia embora. Cuida dela
esta semana, faz com que ela se ria à gargalhada, passeie muito e aproveite
estes dias contigo, com o Mario e a Marlene e com o nosso filho. Confio nela,
sei o que sentimos um pelo outro e por isso te peço isto: cuida dela por mim.”
Milicent
chorava. Aquelas palavras de Marco tinham-na feito chorar. O que ele tinha
escrito era demasiado para não o ter feito...
-
Eu sinto-me a pior pessoa do mundo.
-
Ei, ei, preciosa – podia não entender
nada de espanhol, não decifrar o que Thiago lhe dizia mas percebia que aquilo
era sexy e bonito – tu és uma mulher incrível. Mantens-te fiel a ti mesma desde
o primeiro dia que te conheci, mantens um sorriso mesmo quando estás a passar
por uma fase difícil. O que aconteceu entre nós manter-se-á sempre entre nós e
não te sintas mal por isso – Thiago levou a sua mão ao pescoço de Milicent,
afastando-lhe o cabelo – tu és linda, tens uma família linda...ainda não voltei
a ver o Marten como deve ser mas acredito que estará mais bonito. Tu não te
podes sentir mal, sente-te bem...e confia que irás ser muito feliz com o Marco.
Convidas-me para o teu casamento?
-
Claro que convido, Thiago – Milicent abraçou-o, diminuindo o seu choro –
obrigada pelo que estás a fazer por mim.
-
Oh, oh mas agora são dois a dar mimo? – perguntava Milicent, vendo Thiago e
Mario junto da alcofa de Marten a mexerem nas bochechas do menino, a darem-lhe
beijinhos e a falarem com ele.
-
Eu cheguei primeiro! – disse Mario.
-
Vá, ele precisa de comer – Milicent mostrou o biberão – algum voluntário?
-
Então mas...ele já não mama? – perguntou Mario.
-
Não. Acabou-se o leite na fábrica.
-
Dá cá – disse Thiago.
-
Não, não! Eu é que sou o padrinho, eu é que dou o primeiro biberão sem ser a
mãe a fazê-lo.
-
Mi – Marlene apareceu na sala, muito estranha – tens uma chamada.
-
Vá, decidam lá quem dá, mas ele tem de comer – entregou o biberão a Marlene,
indo até à cozinha.
Colocou o telefone ao ouvido percebendo, de imediato, que do outro lado
havia um Marco bêbedo.
Olá meninas!
Aqui vos deixo mais um capítulo com algumas mudanças. Espero que gostem e deixem os vossos comentários.
Beijinhos,
Ana Patrícia.