domingo, 14 de junho de 2015

34º Capitulo: “Sinceramente, Marco, eu nunca esperei que tivesses essa atitude.”

- Não me respondes? – Milicent não conseguia responder à pergunta que Marco tinha feito. Para além de ter sido apanhada de surpresa, era uma pergunta que nunca pensou ouvir vinda dele.
- Sinceramente...não faço ideia o que responder. Essa pergunta não tem qualquer sentido.
- É uma pergunta como qualquer outra, Milicent. E todas as perguntas têm uma resposta, tu hás-de ter alguma coisa a dizer...
- E se eu não quiser falar sobre isso? E se me estiver a fazer uma confusão enorme essa tua pergunta? Estás a pensar o quê? Matar-te por causa de uma porcaria de uma lesão? –
Milicent confrontava Marco com todas as perguntas que tinha na sua cabeça – Queres mesmo que eu te digo o que penso? Que estás completamente afectado, que essa lesão te está a deixar mal psicologicamente e que precisas de ajuda. Tu precisas de ajuda!
- Achas mesmo que é só com ajuda que vai lá? Eu não consigo andar, nem sequer por o pé no chão que está dormente e tenho medo de forçar. Eu praticamente não posso fazer nada, não me posso mexer, não posso andar. Fazes ideia do quão horrível isso é?
- Não, eu não faço ideia se é horrível, se é frustrante, se é isto ou aquilo. Mas uma coisa eu sei: pensar como seria estar morto, que morrer seria a melhor opção é a coisa mais estúpida que já disseste na tua vida, quase que aposto –
Milicent ajeitou-se na cama, olhando-o com atenção – sinceramente, Marco, eu nunca esperei que tivesses essa atitude. Tu tens um filho, ou isso não conta? É assim tão insignificante o facto de o teres a ele, de teres uma família, dois olhos, um nariz, boca, pernas, braços...um coração a bater e uma vida pela frente? Tu só estás com esse problema no pé...e é mais do que normal, depois de tirares o gesso, que o teu pé ainda não esteja bem – Marco baixou o olhar, entrelaçando as suas mãos uma na outra. Milicent ficou sem saber se continuaria ou esperaria por algo da parte dele.
- Eu só sinto que não estou aqui a fazer nada – Milicent foi surpreendida pelo corpo de Marco tombar na sua direcção. O rapaz deixou a sua cabeça sobre o peito da namorada, rodeando a cintura dela com os seus braços – o que é que eu aqui estou a fazer? Ajuda-me...por favor.
- Não sei se serei a melhor pessoa para te ajudar. Porque aquilo que eu te digo não é simpático, eu tenho noção disso. Eu estou a ser super frontal contigo, posso chegar a magoar-te e eu não quero isso. Eu só sei que, neste momento, não podes continuar assim. Porquê morrer? Diz-me, porquê?

- Eu não me quero matar...
- Então porquê aquela pergunta, Marco? Queres que eu passe a ter medo cada vez que estás sozinho? Que passe a ter medo do que estás a pensar? –
Milicent deixou o seu queixo encostar-se à cabeça de Marco levando as suas mãos até às costas do namorado – o Marten precisa do pai, eu preciso do meu namorado, a tua família precisa de ti como o Marco deles. Todos precisamos de ti como o Marco Reus, aquele homem que inspira jovens atletas. Isso é só um pé aleijado, caramba! Assim, só por acaso, já falaste com o fisioterapeuta?
- Já...
- E o que é que ele te disse?
- Que agora tenho de lá ir todos os dias para fazer fisioterapia até ganhar sensibilidade no pé. Depois disso...é capaz de ficar tudo melhor. Mas que tratamentos a sério só para a semana.
- Tu és tão estúpido, tens noção disso? –
Marco afastou-se de Milicent, ficando sentado na cama. Olhava-a e acabou por se rir – E estás a rir-te? Eu não acho piada nenhuma, Marco. É que não acho mesmo! Tu vens com aquela pergunta, estás aí parece que vais deixar de jogar futebol e, ao final, és capaz de voltar a andar muito tem breve. Como é que isso pode ter piada?
- Não ralhes comigo...
- Ai não ralho? Eu só tenho vontade de te bater! Tens noção do susto que me deu a tua pergunta? Imaginar a minha vida sem ti, sem a tua presença é...eu nem consigo falar disso –
Milicent levantou-se, indo aconchegar Marten no seu berço – talvez seja melhor acabarmos este assunto por hoje. Estou cansada, mal dormi a noite passada e tu não me deixas entender melhor o que se passa.
- Eu já te expliquei... –
Milicent beijou a testa de Marten, indo deitar-se – Não vamos falar mais? – Marco deitou-se também, ao lado de Milicent que, ao sentir que ele o tinha feito, virou-se para o namorado.
- Fala tu. Acho que és tu que precisas de falar...
- Mili, eu nunca tive uma lesão tão grave como esta. Que me fizesse parar por tanto tempo e que me fizesse perder uma das maiores competições que qualquer jogador ambiciona jogar...eu acho que todas estas minhas mudanças de humor são normais.
- É capaz...mas torna-se um bocadinho difícil para quem está deste lado entender-te.
- Acho que começo a perceber isso...mas eu não quero que tenhas mais uma preocupação. Eu não quero ser um fardo para ninguém, não quero dar trabalho. És tu quem se levanta quando o Marten precisa de algo durante a noite, és tu que andas de um lado para o outro...só porque eu não consigo andar. Isso deixa-me com raiva, faz-me sentir inútil.
- Mas não és. És tu que o adormece, que lhe dá o biberão, és tu que tratas de todas as contas da casa...e eu começo a sentir que também devíamos fazer qualquer coisa em relação a isso. Eu não posso viver às tuas custas...
- Não, Milicent, não vamos falar sobre isso agora. Nem nunca.
- Eu praticamente não contribuo financeiramente cá em casa! Não acho que seja justo.
- Foste tu que compraste tudo para o Marten e és tu quem compra toda a comida cá de casa. Quando começares a trabalhar, aí sim podemos falar sobre isto. Agora estamos bem assim.
- Nessa altura eu retomo este assunto. Mas, Marco, tu não queres mesmo um psicólogo? Era capaz de te ajudar...
- Acho que não me iria sentir muito à vontade com um psicólogo...
- E...com o Mario?
- O Mario? Mas ele está longe, está lá.
- Eu sei disso, é obvio que sei disso. Mas, não sei, se falasses com ele talvez conseguisses expressar-te melhor e sem teres medo de me preocupar –
Milicent levou uma das duas mãos à cara de Marco, aproximando-se dele – acho que não quererias falar comigo para não me preocupar. O Mario seria uma boa opção. Conhece-te bem e iria ajudar.
- Tens falado com ele sobre isto?
- A noite passada falamos...eu, ele e a Marlene. Eles estavam no skype e falamos. Tanto um como outro me avisou que o dia de hoje ia ser complicado...talvez um deles te consiga ajudar. Porque...eu acho que não consigo, Marco.
- Eu também não colocaria esse peso nos teus ombros –
tanto um como outro não falou nos minutos que se seguiram. Milicent não sabia o que dizer e Marco, por um lado, também não sabia o que dizer e, por outro, queria que ela descansasse.




- Marco como é? Queres ir ou ficas com o menino?
- Eu fico, não te importas?
- Não...mas tens a certeza?
- Tenho –
Milicent iria levar Marlene ao aeroporto. A amiga tinha decidido viajar para o Brasil para surpreender Mario – e não te preocupes que está tudo bem – Milicent olhou-o, aproximando-se de Marco.
- Demoro mais ou menos uma hora. Quando eu voltar, é bom que estejas preparado para o que eu planeei para a nossa tarde – Milicent beijou-o agarrando na sua mala.
- O que é que planeaste?
- Surpresa! Quando eu chegar logo saberás –
saiu de casa indo na direcção do seu carro.
Foi até casa de Marlene e, depois de a ajudar a colocar as malas na bagageira, conduziu até ao aeroporto.
- O Marco não contou nada ao Mario, pois não?
- Não. Fica descansada. Eles à bocado estavam a falar mas o Marco não se desmancha.
- Como é que ele ficou depois do jogo?
- Foi complicado. Sabes o que é que ele me perguntou ontem?
- Se querias casar com ele?
- Antes fosse. Mas não, o Marco perguntou-me se eu alguma vez pensei que estar vivo não valia a pena.
- A sério?
- A sério...foi uma noite agitada a nossa. Mas, de manhã, falei com o fisioterapeuta dele e tivemos uma ideia para o tentar animar.
- Sexo? Isso animaria logo!
- Isso ainda não...as minhas mamas estão sensíveis demais. Mas exercício físico não irá faltar. Vamos dar uso aquele ginásio lá de casa.
- Ele já pode?
- Pode fazer bicicleta. O pé fica quieto e vai mexendo os músculos da perna...acho que isso é capaz de o motivar.
- E...se não resultar?
- Vamos discutir, provavelmente –
Milicent foi interrompida pelo som do telemóvel de Marlene.
- É o Mario... – atendeu a chamada, colocando-a em alta voz – estás em alta voz e estou com a Mi.
- Olá miúdas! Então e o vosso apêndice preferido? Não está com vocês?
as duas perceberam que Mario se referia a Marco.
- Está em casa a tomar conta do nosso bebé – respondeu-lhe Milicent.
- E onde é que vocês andam? durante alguns segundos nenhuma respondeu, limitaram-se a olhar uma para a outra Não me digam que estão a fugir deles?
- Achas? Estamos só a...passear –
respondeu Marlene.
- Exacto, é isso mesmo. Estamos a passear.
- Vocês estão estranhas. Mas, bom, quando é que vens cá Marlene? Eu estou a morrer de saudades tuas!
- A Mare não vai a lado nenhum que eu não deixo –
respondeu Milicent – eu preciso dela cá.
- Tu tens o Marco! Eu quero e preciso da minha namorada.
- Olha, vai sonhando querido! Vá, Mario, a sério nós gostamos muito de ti mas vamos passear.
- Só desligo se meteres uma foto no instagram, Marlene. Ou então me mandes uma íntima.
- Sim, sim ela vai mandar-te uma íntima que vai tirar em plena rua para todos os alemães verem o quão boa ela é! Adeus chato.
- Porta-te bem, Mario. Eu também tenho muitas saudades tuas –
Marlene colocou o telemóvel ao ouvido – sim, eu tomo conta deles, não te preocupes. Beijo meu amor – Marlene desligou a chamada, olhando para Milicent – achas que ele está desconfiado?
- Achas? O Mario não apanhou nada, a sério. Descansa que vais surpreendê-lo à grande!

As duas saíram do carro, dirigindo-se ao aeroporto.
- Podemos tirar uma foto? Só mesmo para ele não ficar desconfiado? 
- Ai que ela está com medo de não conseguir surpreender o namorado – Milicent pegou no telemóvel, ligando a câmara – manda beijinho - Milicent tirou a fotografia, colocando-a nas redes sociais.

Só porque o namorado dela morre de saudades...

Milicent ajudou Marlene a levar as malas para o interior do aeroporto, despedindo-se da amiga.
- Qualquer coisa que precises podes sempre ligar-me pelo skype – começou Marlene – e diz ao Marco para falar mesmo com o Mario...é capaz de ser bom.
- Achas que deva avançar com a ideia da tarde no ginásio?
- Acho. Ele pode não achar muita piada ao inicio mas pode ser bom depois.
- Obrigada...por tudo, Mare. E, agora, faz uma óptima viagem, vai mandando fotos e continuamos a falar pelo skype. Aproveita, miúda –
Milicent abraçou-a e aguardou até que Marlene entrasse pela porta de embarque para voltar a sair do aeroporto.
Conduziu de volta até casa, onde Marco a esperava sentado no sofá.
- Estou de volta – Milicent atirou a mala para cima do sofá, reparando que Marten estava deitado na alcofa com os seus bonitos e claros olhos abertos – coisa mais boa da mãe! – Milicent pegou-o ao colo, beijando-lhe a bochecha – ora bem – Milicent virou-se para Marco – olá Marco!
- O que é que se passou contigo?
- Nada. Porquê?
- Estás mais animada do que o normal...
- Do que o normal destes últimos dias. Porque eu sou animada por natureza –
Milicent aproximou-se dele, sentando-se em cima das pernas de Marco – tenho uma proposta para te fazer como tentativa de te elevar o ânimo.
- Se essa proposta fosse noutros tempos e sem teres o nosso filho nos braços...este sofá era pequeno demais tínhamos de ir para aquele –
os dois riram-se e Milicent juntou os seus lábios com os do namorado.
- Hoje de manhã falei com o teu fisioterapeuta.
- Falaste?
- Falei. Ele foi super simpático e devias ouvir alguns dos conselhos dele! Mas como ontem tivemos assim um final de dia muito estranho, eu queria mesmo que hoje fosse o recomeço ou o começo da tua recuperação.
- Não estou a entender...

- Ele disse-me que podias fazer bicicleta para os teus músculos da perna ganharem mais força. E, então, eu pensei em irmos os dois para o ginásio. Tipo agora.
- Eu não consigo. Eu não consigo, Mili –
Marco desviou o olhar de Milicent que, com uma das suas mãos, virou a cara dele para ela.
- Eu também acho que não consigo, sabes? Não sei se me vai doer imenso ou o quê mas...vamos tentar os dois, devagarinho e juntos.
- Mas ele disse que eu podia?
- Disse. Não só que podias, como devias! Seguras no maravilhoso filho que temos enquanto eu vou trocar de roupa?
- Seguro... –
Milicent levantou-se, deixando Marten no colo de Marco, levando as suas mãos à cara dele.
– Vamos fazer isto, juntos – beijou-o, subindo até ao quarto. Trocou de roupa, voltando a descer. Marco estava de pé e Marten já estava dentro da alcofa – Marco...
- Shiu, não perguntes como mas, sim, eu consegui pôr-me de pé com ele ao colo –
Milicent, numa atitude muito espontânea e irracional, avançou na direcção de Marco, abraçou-o e os dois acabaram por cair no sofá. Marco gritou e Milicent olhou-o preocupada – não, eu não me aleijei. Mas não faças isso sem me avisar.
- Desculpa...entusiasmei-me.
Os dois riram-se e Milicent acabou por sair de cima de Marco. Enquanto ela pegou na alcofa do filho, Marco agarrou nas muletas e foram em direcção do ginásio.
Milicent deixou a alcofa em cima de um sofá que lá tinham e, depois de perceber onde estava Marco, foi ter com ele.
- Vamos tirar essas muletas feias, sim? – Marco olhou-a um pouco confuso.
- Mili...o fisioterapeuta disse para eu andar com elas.
- Sim, eu sei, mas vais sentar-se aqui na bicicleta. Não precisas delas –
Milicent estendeu as mãos na direcção dele e Marco entregou-as. A rapariga encostou-as à parede, aguardando que Marco se sentasse – queres ajuda?
- Dá-me a mão –
Marco estendeu a mão na direcção de Milicent, que a agarrou. Marco não a procurou como forma de apoio para se sentar, já que as entrelaçou. Sentou-se na bicicleta, puxando-a para junto dele – como é que tu já estás assim tão magra em quatro semanas?
- Estás enganado! –
Milicent colocou a sua perna em cima da de Marco – olha aqui só celulite.
- Eu vejo uma perna linda –
Marco começou a passar com a sua mão pela perna de Milicent que, automaticamente, se começou a arrepiar – e uma pele arrepiada.
- Tens as mãos ásperas.
- A mim parece-me que estás a voltar a ganhar sensibilidade ao meu toque.
- Oh cala-te! –
Milicent voltou a colocar o pé no chão afastando-se dele – vais começar?
- Acho que pode ser –
a rapariga deixou-se ficar em frente dele, esperando os primeiros movimentos de Marco na bicicleta, que não tardaram a aparecer.
- Dói-te?
- Não –
Marco, com muita calma, ia fazendo bicicleta com os olhos postos no seu pé.
- Sentes-te bem?
- Sim. Por acaso...é bom –
Marco olhou para a namorada, sorrindo.
- Não precisas de agradecer, fofinho. Mas, não tens dores, mesmo?
- Não. Está tudo bem. Obrigada, Mili.
- Cala-te e continua aí por mais dez minutos –
Milicent dirigiu-se para a máquina que estava ao lado de Marco, ficando parada a olhá-la.
- Não a sabes ligar?
- Saber sei...só tenho medo é de não me conseguir mexer depois disto.
- Faz devagarinho.

Os primeiros segundos na máquina, para Milicent, foram uma tortura. Mexia com todos os músculos do seu corpo e certas dores do parto que já tinham passado, pareciam reaparecer.
- Isso está a correr bem... – comentou Marco.
- Está, está. Se amanhã não me mexer tens de chamar reforços para ajudar.
- Ficas tão sexy aí em cima... –
Milicent olhou-o, reparando que ele mantinha o ritmo da bicicleta.
- E tu estás muito bem aí sentadinho a mexer e tal.
- Desculpa o que se passou ontem –
Milicent sorriu-lhe olhando para a frente – não sei bem o que me deu na cabeça, nem porque é que te fiz aquela pergunta. E...acho que vou seguir o teu conselho.
- Qual?
- De falar com o Mario...ele já se ofereceu e tudo. Por isso, desculpa, Mili.
- Já passou Marco. Vamos pensar e começar do zero...eu já disse que só te quero ajudar a recuperar.
- E eu só te agradeço por isso.
 
Os dois continuaram a fazer exercício e Marco acabou por se declarar à namorada nas redes sociais.

A melhor inspiração que poderia ter neste momento. Amo-te.


- Marco, deixa ficar o gelo! Faz-te bem!
- Mili, só podem ser 10 minutos, vá já chega.
- És um chato –
Milicent ia a levantar-se da cama, quando ele a puxa para cima do seu corpo. A rapariga deixou-se ficar deitada ao lado dele, sentindo os lábios de Marco pelo seu pescoço – estás com ideias, tu?
- Podíamos terminar este dia zero da melhor maneira possível...
- Só com uma condição... –
Marco levou as suas mãos ao interior da camisola de Milicent, continuando a beijar-lhe o pescoço – se eu te pedir que pares, tu tens de parar mesmo.
- Temos acordo –
Milicent virou-se para Marco, com intenção de se colocar em cima dele.
Não o fez já que Marten começou a chorar. Milicent encostou-se a Marco, começando a rir-se.
- Parece que há um menino ciumento...
- Logo agora que até...estava com vontade! Vai lá tu, vá –
Marco riu-se indo colocar a chucha a Marten que estava deitado no berço do seu lado.



Marlene demorou quase vinte e quatro horas a chegar ao Brasil. Sentiu logo a diferença de climas entre os dois países e, também, a ansiedade apoderar-se dela. Ansiava estar com Mario, puder abraçá-lo e beijá-lo. Ansiava sentir apenas a presença dele e o calor do seu corpo.
De táxi, foi até ao hotel onde ele se encontrava. Sabia que iria ser difícil conseguir chegar até ele, mas iria manter a esperança de que o iria conseguir fazer. E, até nem se revelou uma tarefa muito difícil.
Quando chegou ao hotel, a equipa da seleção alemã chegava naquele momento também. Viu todos os jogadores passarem mas não conseguia ver Mario. Temeu que algo lhe tivesse acontecido...
- Vejam lá se não é a minha namorada! – Marlene assustou-se com a voz de Mario junto do seu ouvido. Sentiu o toque do namorado na sua cintura, relaxando por completo nos braços de Mario – eu não acredito que aqui estás...
- Acredita que é verdade. E a culpa foi tua!
- Minha? –
Mario virou Marlene para si, puxou-a para uma zona mais escondida do hotel e, aí, beijaram-se sem qualquer problema ou impedimento.
- Marcaste um golo... – Marlene quebrou o beijo, olhando-o – e eu tinha acabado de dizer aos nossos queridos amigos que, se tu marcasses, vinha para vá.
- E aqui estás tu.
- Aqui estou eu. E preciso urgentemente de ir à casa de banho!
- Vamos lá para cima.

- Eu posso?
- Eu deixo, por isso podes –
Marlene riu-se e os dois subiram até ao andar do quarto de Mario – Como é que está o Marco? Não tenho falado com ele, nem a Mi.
- Quando eu apanhei o avião eles iam fazer uma sessão de ginásio –
respondeu Marlene saindo da casa de banho.
- Ginásio? Mas ele não pode...
- Pode, só bicicleta para o músculo da perna não ficar preguiçoso.
- Ah, pois, sim. Isso é verdade.
- Mario...eu, bem, esta vinda para aqui até acaba por ser o melhor para mim. Eu preciso de falar com alguém sobre uma coisa que aconteceu mas...eu não queria estar a falar com eles, não é?
- O que é que se passou?
- Foi com a minha mãe...

Marlene sentou-se na cama, puxando Mario para junto dela. Aquela viagem não tinha apenas o propósito de estar com ele, ou matar as saudades. Ela precisava de desabafar, de se afastar de casa...de ter um tempo longe de Dortmund. Em muito pouco tempo, para além de ver a melhor amiga com uma vida completamente diferente, Marlene via, também, as coisas em casa de uma outra forma.


Olá meninas!
Aqui vos deixo mais um capítulo. Já o escrevi à algum tempo que, ao reler para publicar, confesso que já nem me lembrava de algumas coisas. Na próxima quarta-feira tenho um exame e, esperando que corra tudo bem, irei ficar livre para puder escrever e publicar com mais regularidade.
Fico à espera dos vossos comentários.
Um grande beijinho.
Ana Patrícia.

segunda-feira, 8 de junho de 2015

33º Capítulo: “Anda com falta se sexo!”

- A avó? – perguntou Milicent quando viu os seus pais chegarem à sala de jantar apenas com Mary Alice.
- Ela perguntou se podes ser tu a trazê-la... – Renae esperou uma resposta à sua pergunta, mas Milicent apenas se limitou a ir em direcção da sala – como é que ela está, Marco?
- Renae, está um bocado nervosa...
- Aquela minha mãe...desculpa esta situação toda, querido.
- Não me peça desculpa. Somos uma família, todos – Renae sorriu ao ouvir aquelas palavras de Marco. Cada vez que estavam todos juntos, conseguia ter um momento com ele onde a deixava tranquilizada relativamente à relação com a sua filha.
Milicent foi até à sala, vendo Rose junto da alcofa de Marten. Aproximou-se dela, reparando que o filho ainda dormia.
- Desculpa a forma como te falei. És minha neta, foste a única neta que um filho meu me deu...agora veio a Mary Alice, mas tu foste a primeira – Rose olhou para Milicent, aproximando a sua mão da dela. Juntaram ambas as mãos uma na outra e Milicent viu a avó derramar uma lágrima que, rapidamente, fez questão de limpar – faço questão de, enquanto estiver aqui em Dortmund, tentar mudar a forma como te trato, a forma como te falo...sobretudo a forma de ser tua avó. Podemos começar do zero?
- É tudo o que eu precisava, avó –
Milicent aproximou-se dela, abraçando-a – desculpe tudo o que lhe disse.
- Já passou, minha querida, já passou –
a rapariga afastou-se e as duas acabaram por sorrir – vamos jantar?
- Vamos sim. Espero que a avó goste.
- Foste tu que fizeste?
- Sim...
- Sabes cozinhar... –
por momentos, Milicent pensou que a avó fosse dizer qualquer coisa negativa a respeito disso – com a tua idade, a tua mãe só sabia fazer ovos mexidos e bifes. A preguiça sempre foi grande amiga da Renae – respirou de alivio, acabando por se rir.
- A mãe, de certeza, que sempre preferiu os seus cozinhados.
- Lá nisso tens razão –
Milicent passou para a parte de trás da cadeira de rodas, começando a movimentá-la – deixas ali o menino?
- Sim. Ele está a dormir, assim ficamos mais à vontade.
- Tens o intercomunicador?
- Tenho sim, avó.
- E ele está bem agasalhado? Está a começar a esfriar...
- Avó...estou a notar aí uma extrema preocupação com o seu bisneto ou é impressão minha?
- Ele não se pode constipar. É muito novinho e a tua mãe disse-me que ele foi ao hospital.
- Não se preocupe. Ele está bem –
as duas chegaram à sala de jantar e todos as olharam.
- Escusam de estar a olhar para nós com essas caras – atirou Rose.
- Fizeram as pazes? – perguntou Mary Alice.
- Estamos a fazer, querida – Rose, que estava ao lado de Mary Alice, passou-lhe com a mão pela cara e Milicent pôde ver o sorriso enorme que se formou nos lábios da mãe.



- Oh Milicent, assim ainda magoas o rapaz! – Milicent sentava-se ao colo de Marco, no sofá, tendo Marten nos seus braços. Não estava completamente sentada em cima das pernas do namorado, já que conseguia encostar-se no braço do sofá.
- Já estamos habituados, Rose – disse Marco.
- Oh rapaz, estava eu aqui a tentar livrar-te de ficares com a perna dormente... – todos se riram e Milicent percebeu que Marten começava a esticar os seus braços.
Preparava-se para agarrar uma das mãos do filho e, com certeza, ele iria agarrar-se a um dos seus dedos, quando foi surpreendida por esse gesto da parte de Marco. Não se tinha apercebido que o namorado olhava para o mesmo detalhe que ela.
- Isso é tudo ciúmes? – perguntou Marco, baixinho, despertando Milicent.
- Ciúmes?
- Sim. Estás a olhar para a minha mão com uma cara estranha...
- Não é nada disso...bem pelo contrário. Estava apenas a pensar no quanto vos amo, nada mais –
Milicent olhou para Marco, dando-lhe um beijo rápido.
- Apaixonados aí do sofá? – os dois riram-se e olharam para Rose. Milicent estava cada vez mais surpreendida com aquela nova versão da sua avó. Não sabia que ela poderia ser divertida, que poderia levar as coisas mais na brincadeira e, sobretudo, começar do zero a relação entre as duas – falem-me lá mais de vocês.
- Mãe...se calhar é melhor irmos andando.
- Já? Mas ainda à pouco acabamos de comer...
- Eu sei, mas está a ficar tarde. Aqueles dois e o meu neto têm de dormir, aqui a menina Mary Alice também já está cheia de sono e ainda temos de lhe preparar a cama.
- Oh Renae, agora que eu estava aqui tão bem!
- Amanhã passamos lá por casa e falamos a tarde toda, pode ser? –
propôs Marco.
- Assim é que eu gosto! Mas não se escapam!
- Fica combinado, avó –
Milicent levantou-se e Marco fez o mesmo. Os dois não saíram do sítio: ele manteve-se apoiado no ombro da namorada, enquanto se despediam de todos.
- Menino Marco, tome bem conta da minha neta e do meu bisneto, se faz favor.
- Fique descansada que farei todos os possíveis e impossíveis para que nada lhes falte –
Marco baixou-se, dando dois beijos à senhora.
- E tu, Milicent, agarra bem este rapaz...além de ver que ele tem uma admiração enorme por ti, ama o vosso filho com todo o coração dele – Milicent sorriu reparando que Marco se sentava um pouco envergonhado. Baixou-se na direcção da avó que, antes de cumprimentar a neta, beijou a testa de Marten.



- Não correu assim tão mal, pois não? – perguntou Milicent, deitando-se ao lado de Marco. Era sempre a última a deitar-se. Primeiro tinha de dar banho a Marten, por vezes dar-lhe de mamar, adormecê-lo e deitá-lo no berço ao lado de Marco. Ainda voltava, sempre, ao andar debaixo para ir buscar qualquer coisa para ela mesma comer e, quando voltava ao quarto, já Marco estava deitado.
- Tirando aquela primeira parte, eu acho que correu bem.
- Noto que a minha avó está mais solta, brincalhona...
- A vinda dela para aqui pode ser benéfica para a vossa relação, Mili –
Marco levou a sua mão até ao interior da camisola de Milicent, aproximando-se dela.
- Ui, ui – Milicent levou as suas mãos à cara de Marco, dando-lhe um quente e apaixonante beijo – é impressão minha ou, nos teus olhos, há assim uma falta de actividade sexual?
- Se fosse só nos meus olhos...já sabes quanto tempo passou desde a última vez?
- Andaste a contar os dias, meu amor?
- Não. Isso seria estar a exagerar, também. Mas é qualquer coisa como dois meses.
- Não posso fazer nada em relação a isso, fofinho. Faz amanhã três semanas que o nosso bebé nasceu e eu ainda tenho algumas dores.
- Ai e eu a pensar que me ias dizer que podia ser esta noite! –
Marco fechou os olhos, sendo surpreendido por um beijo de Milicent.
Os dois passaram os minutos seguintes numa troca de carinho constante. Milicent sentia falta daqueles minutos a sós com Marco, onde o sossego imperava naquela casa e só se importavam com beijos, toques e declarações de amor.
- Vou tirar o gesso amanhã – Marco olhou-a reparando que ela estava surpreendida.
- Já amanhã?
- Sim. Hoje de manhã fiz uns exames e o médico diz que podemos tirar o gesso.
- Isso é óptimo! É super óptimo, não é?
- Mas vamos com calma, Mili.
- Marco, meu amor, vais tirar o gesso. Isso é um óptimo sinal. É uma questão de, depois, começares os pequenos passos. Os treinos ligeiros e eu vou voltar a ver aquele sorriso lindo!
- Tu ficas comigo?
- Que pergunta é essa, meu amor?
- Eu quero-te comigo…nos próximos tempos. Nos treinos.
- Eu vou contigo para todo o lado. Serei o teu apêndice. Eu e o Marten. Assim até posso usar o ginásio.
- Mas, olha, vamos com calma.
- Toda a calma porque, como te disse, ainda tenho dores do parto –
naquele momento Marten fez um barulho estranho com a boca que os levou a olharem para ele.
O menino estava a dormir, chuchando na inexistente chucha.
- Podemos não por a chucha...já era um avanço para as coisas daqui para a frente.
- Ele está a dormir, por isso a chucha não lhe deve fazer falta –
Milicent passou com o seu dedo pela bochecha de Marco, acabando por se deitar como deve ser – a que horas é que vais ao médico?
- De manhã, o Marcel vem buscar-me.
- E vamos todos, parece-me bem!
- Se calhar não vale a pena...é cedo e tínhamos de levar o Marten connosco. É melhor ficarem por cá.
- Então mas... –
Milicent apagou a luz do candeeiro, ajeitando-se na cama – acho que vou acabar por adormecer não tarda nada – não estava a conseguir acompanhar o raciocínio de Marco.
- Estás chateada.
- Porquê?
- Por não ires amanhã...
- Não. Sabes que acordar cedo não é o meu forte. Mas, mesmo à bocado disseste que me querias lá...só acho estranho.
- Eu prefiro assim...
- E, sempre vamos à minha avó de tarde?
- Claro que vamos. Ela que conte connosco para nos conhecer melhor –
Marco sorriu, olhando para Milicent a virar-lhe as costas. A rapariga aproximou o seu corpo do de Marco que, de imediato, levou a sua mão à cintura da namorada – estás mesmo com sono.
- Por acaso estou, Marco –
Marco deu-lhe um pequeno beijo na nuca e os dois deixaram-se envolver pelo sossego daquele quarto.




Disseste ao Marco que tinhas sono. E tinhas! Porque é que não dormes!? Milicent estava frustrada consigo mesma. Era uma daquelas noites onde o sono parecia estar a seu favor mas, de um momento para o outro, estava com a maior insónia dos últimos tempos.
Não conseguia dormir cinco minutos seguidos, sem acordar. Decidiu levantar-se e ir até à cozinha beber um copo de leite quente. Olhou para o computador que estava em cima da mesa e decidiu sentar-se e mexer nele. Pode ser que o sono apareça...outra vez.
Estava tão distraída a ver notícias sobre alguns dos seus artistas preferidos que se assustou com o som da notificação de chamada do skype. Era Marlene...
- O meu sobrinho está a dar má noite? perguntou Marlene, assim que Milicent atendeu a chamada.
- Não. Graças a Deus, dorme descansado. Não estou a conseguir dormir, nem por nada.
- Vamos chamar o tio Mario à conversa
Milicent esperou e, em pouco temo, já estava Mario incluído naquela conversa a Mi não consegue dormir, Mario.
- Anda com falta de sexo!
- E vocês devem andar a fazê-lo pelo skype! Já viram que horas são?
- Aqui são menos três, cunhada.
- Mesmo assim, Mario. Já devias estar a dormir...amanhã tens jogo.
- E vou marcar um golo!
Milicent só se conseguiu rir. A confiança de Mario, naquele momento, era incrível fazendo-a rir à gargalhadaa miúda está cada vez pior!
- Mario, tu é que estás muito convencido! Isso não se diz!
- Mas eu sinto, Marlene. Há qualquer coisa a dizer-me que amanhã marco um golo.
- E vais dedicá-lo ao Marco!
Milicent limitava-se a ouvi-los. Era impressionante o quanto tinham mudado mas, ao mesmo tempo, mantinham aquele espírito louco e despreocupado.
Deu por si a pensar que, no que toca à sua relação, nada se mantém igual. Marco deixou de ser casado deixando Milicent de ser sua amante, deixou de existir aquele risco de serem apanhados. Assumiram uma relação séria, um compromisso com responsabilidades. Passaram por tempos afastados, por reconciliações, por ciúmes e agora...têm um filho. Milicent conseguia perceber que não eram os mesmos.
- Se calhar a Milicent adormeceu em pé...Mi!? Marlene chamava a amiga à atenção já que estava um bocado a leste.
- Disseram alguma coisa?
- Que estás a leste. Cunhada, aconteceu alguma coisa?
- Estava só...a pensar.
- Mas, Mi, está tudo bem?
Perguntou Marlene.
- Eu não sei – Milicent debruçou-se sobre a mesa, desabafar com eles seria a melhor opção – o Marco amanhã vai tirar o gesso...
- Já!? Ainda só passaram três semanas. Ele disse que eram cinco!
Mario estava visivelmente surpreendido.
- Parece que está a recuperar depressa ou, se calhar, não fizeram bem o diagnóstico. Mas, eu preciso de falar...caso contrário eu vou ficar a pensar, pensar e ainda expludo a casa – Milicent olhou para o ecrã e via, os dois, a olharem-na atentos. Esperavam que ela continuasse – ele vai tirar o gesso, a Alemanha joga...vocês sabem como é que ele ficou quando foi o jogo...e, quando me disse que ia tirar o gesso, queria que eu fosse com ele mas, passado um bocado, já não quer. Eu acho que o Marco não fala comigo tudo o que lhe vai pela cabeça...
- É difícil, Mi começou Mario nenhum de nós consegue imaginar o que ele sente. Por mais que nos diga que está bem, ele não está.
- E porque é que não o diz? Era muito melhor...
- Mi. Ele não deve querer que penses nisso. Ou, se calhar, nem ele quer pensar para não cair no fundo
comentava Marlene, um pouco a medoele devia ir a um psicólogo.
- Ele não quer...Mi, amanhã vai ser complicado. Tens essa noção? Mario, com aquelas palavras, assustou-a...algo que não passou despercebido ele vai tirar o gesso, vai perceber que não pode começar a andar normalmente...isso vai mexer com tudo. E, depois, há o jogo no mesmo dia. Tem paciência com ele.
- E, se precisares de alguma, liga-me! Eu estou a dez passos de vocês, ponho-me aí num instante.
- Obrigada, a sério –
Milicent estava à nora...aquela conversa tinha sido útil...talvez para perceber que, amanhã, teria um longo dia pela frente.
Continuaram por mais alguns minutos à conversa, até que o sono domou Marlene e Mario. Milicent voltou a ficar sozinha com a sua insónia. Foi até à sala, ligando a televisão...continuava sem qualquer sono, sem vontade de dormir. Não sabe, ao certo, quanto tempo esteve a fazer zapping, enervou-se com ela mesma chorando.
Acabou por adormecer. Vencida pelo cansaço de tanto pensar, de tanto tentar dormir. Estava cansada quando adormeceu.




Acordou com o choro de Marten. Se fosse noutra altura, acordar com o barulho de algo não a despertava imediatamente. Mas, com um filho, Milicent começou a acordar assim que ouvia o choro de Marten. Sentou-se no sofá, percebendo que o filho estava ali...bem perto dela.
- Como é que vieste aqui parar...? – aproximou-se da alcofa, pegando em Marten ao colo. Encostou-se no sofá, deixando o filho em cima do seu peito. O menino cessou o choro, assim que Milicent lhe começou a mexer nas costas – és tão lindo, filho... – Milicent beijou-lhe a cabeça, ouvindo uma porta no andar de cima a fechar. Segundos depois, viu a sua mãe a descer as escadas – mãe?
- Bom dia, filha –
Renae sorriu, aproximando-se de Milicent. Beijou a testa da filha, sentando-se sobre o braço do sofá.
- O que é que estás aqui a fazer...? Estou um bocado baralhada...
- O Marco ligou-me de manhã cedo. Disse-me que não estavas na cama e que, quando chegou cá abaixo, percebeu que tinhas adormecido aqui. E eu vim para cá...tomar contar do meu neto enquanto não acordavas.
- Ele já foi embora?
- Já. À mais ou menos uma hora.
- Como é que ele estava?
- Cheio de sono! Mal se aguentava em pé, coitado. Ele deu-vos má noite? –
perguntou Renae mexendo num dos braços de Marten.
- Não. Eu estive grande parte da noite acordada...insónias. Mas o Marco e o Marten dormiram...eu ainda fui lá vê-los.
- Já não deve estar habituado a acordar cedo – Renae riu-se, colocando-se de pé – vou preparar-te o pequeno-almoço e, se calhar, vou embora depois. A tua avó ficou com o pai e...pode não sentir-se à vontade.
- Podes ir já, mãe. Não estou com fome...
- Mili. Tens de comer, sabes perfeitamente que o pequeno-almoço é a refeição mais importante do dia.
- Está bem, mãe. Pode ser cereais?
- Assim, sim! –
Renae foi até à cozinha e Milicent olhou para o filho. Tinha adormecido em cima do seu peito. Ligou a televisão, reparando que eram, quase, dez e meia – agora temos de tirar daí o piolhito – Renae colocou a taça dos cereais em cima da mesa de centro, pegando em Marten. As duas repararam que ele não acordara e Renae colocou-o na alcofa. Milicent começou a comer, vendo a mãe a preparar-se para ir embora – ficam bem?
- Sim. Está tudo controlado, agora. Obrigada, mãe.
- De nada, minha querida. É um gosto tomar conta de vocês –
Renae beijou a filha – logo aparecem lá em casa?
- Sim. Lá mais para a tarde.
- Lá vos espero. Beijinho, meu neto querido –
Renae aproximou-se da alcofa, passando o seu dedo pela bochecha do menino e saiu da sala De nada querido, vejo-vos mais logo! Milicent ouvir a voz da mãe já fora de casa...era sinal que Marco tinha chegado.
Milicent comia os seus cereais, aguardando a chegada do namorado à sala. Não sabia, ao certo, que Marco seria aquele que iria chegar...não sabia como é que ele estaria a lidar com o facto de ter ido retirar o gesso.
Ouviu o som das muletas a aproximar-se e começou a ficar desconfortável. Milicent começou a pensar nas várias formas como iria falar com Marco: poderia ser muito querida com ele, poderia ser mais racional e chamá-lo à atenção para o que poderá fazer a partir de agora e não aquilo que não pode fazer, poderia, simplesmente, esperar que ele dissesse qualquer coisa. Milicent estava, naquele momento, sem saber o que dizer.
- Bom dia – disse Marco ao chegar à sala. Milicent olhou para ele, percebendo que não tinha o gesso. No seu lugar, havia uma ligadura e Marco continuava a usar as duas muletas sem colocar o pé no chão.
- Bom dia, Marco – Milicent levantou-se, indo na direcção dele. Levou a sua mão à cara dele percebendo, através de um só olhar, que Marco estava em baixo – como é que...correu no médico?
- Estou sem gesso e, como é óbvio, não posso andar –
Milicent notou uma certa frustração na voz do namorado que, de seguida, se afastou dela para se sentar no sofá – porque é que dormiste aqui?
- Insónias... – Milicent sentou-se ao lado dele, continuando a comer – liguei a televisão e acabei por adormecer aqui.
- Sabes uma coisa?
- O quê?
- Eu pensava que ia estar diferente neste momento.
- Como assim, Marco? –
Milicent virou o seu corpo para ele, continuando a sua refeição.
- Eu sei que é difícil, mas porra eu podia começar já a pôr o pé no chão e os tratamentos. Porque esperar mais uma semana?
- Só daqui a uma semana é que podes...
- Não foi o que eu acabei de dizer? –
Marco olhou-a, reparando que Milicent tinha ficado com os olhos postos nele algo surpreendida com aquela reacção – eu preciso de ir responder a uns emails...como é que está o Marten?
- A dormir –
Milicent apontou para a alcofa, sentando-se como deve ser.
- Eu já volto – Marco, com alguma dificuldade e frustração, levantou-se indo até ao escritório.
- Ele está um bocado para o agressivo... – comentou Milicent, como se estivesse a falar com o filho – vamos ter de arranjar muita paciência para ele. Ai vamos, vamos.




Enquanto Milicent andou a organizar algumas coisas de Marten, Marco esteve sempre no escritório. De vez em quando, Milicent ia espreitá-lo e tentar perceber o que ele fazia ou como é que estava.
A hora de almoço tinha chegado mas Milicent não estava com grande fome com a quantidade de cereais que tinha ingerido ao pequeno-almoço. Foi até ao escritório, batendo à porta. Espreitou para o seu interior vendo os olhos de Marco encontrarem os seus.
- Queres alguma coisa especial para o almoço? – perguntou-lhe.
- Porque é que haveria de querer alguma coisa especial?
- Podia apetecer-te...eu não tenho muita fome, mas faço-te companhia –
Marco baixou a sua cabeça, olhando para o computador – faço qualquer coisa?
- Pode ser.
- Marco?
- Diz, Milicent.
- Tu...precisas de falar? –
Milicent estava a fazer aquela pergunta a medo. Não sabia se seria a melhor opção...mas tinha de fazê-lo.
- Milicent, se calhar, não é a melhor ideia. Eu preciso de espaço, de ter um tempo para mim...sem pressão.
- Claro. Eu entendo-te mas, queres que eu saia daqui ou vais para algum lado? –
Marco olhou-a e Milicent acabou por entrar no escritório – é que, se queres espaço e tempo para ti, não sei como é que ficamos os dois aqui em casa.
- Eu não estou a dizer que quero afastar-me de todos.
- Não foi isso que pareceu. Com o que disseste parecia mesmo que te querias afastar. De todos.
- Não é nada disso. E tu não entendes.
- Ai não? –
Milicent aproximou-se mais de Marco, fazendo-o olhar para ela – eu entendo que estás a sofrer em silêncio, eu entendo que não és capaz de me contar a verdade, entendo que esta ida de hoje ao médico te abalou. Só não te entendo por completo numa parte: o porquê de guardares tudo para ti.
- Não é fácil, Milicent.

- Nunca se disse que era. Nunca houve um sinal que seria fácil, nós é que nos temos de adaptar às circunstancias. É difícil? Custa? Imenso! Mas, acredita, para quem está deste lado a ver-te nesta situação sem saber como lidar contigo...acaba por ficar sem opções de como se adaptar – Marco não lhe disse nada, mantendo-se atento ao que Milicent lhe dizia – Eu vou fazer o almoço, quando quiseres ir comer...estará na cozinha.
Milicent saiu, fechando a porta do escritório. Respirou fundo, encostada à porta, sacudiu a cabeça e foi em direcção da cozinha. Agora precisava de se manter ocupada para não pensar no que disse, precisava de se distrair e não matutar se teria optado pela melhor atitude.
Quando tinha o almoço pronto, ligou para a mãe. Com aquele ambiente não iriam a casa dela...precisavam de ficar por casa e, para não ficar apenas com Marco na hora do jogo, Milicent combinou com Marlene, Marcel e Robin irem todos para ali ver o jogo.



- Eu não acredito que fomos para o intervalo empatados! – Marlene estava especialmente irritada e enervada com aquele jogo.
Contra o Gana, ao intervalo, a selecção alemã ainda não havia marcado nenhum golo. Nem a seleção ganesa, era o que lhes valia.
- Já foi intervalo? – perguntou Milicent ao chegar à sala. Tinha ido colocar Marten no quarto, já que o menino tinha adormecido – estive assim tanto tempo fora daqui?
- Para aí uns cinco minutos –
respondeu Robin.
- O Marco? – Milicent sentou-se ao lado de Marlene, agarrando na mão da amiga.
- Foi buscar mais cerveja – Marcel falou, levantando a garrafa da cerveja que tinha na mão.
- Então e tu, Marlene, não devias estar no Brasil? – questionou Robin.
- Isso – Marlene encostou-se melhor no sofá, olhando para Milicent – eu tenho uma vontade enorme de ir para lá, estar com o Mario e apoia-lo. Mas, ao mesmo tempo, vão haver montes de jornalistas depois...
- Oh, mas já é tudo público entre vocês –
comentou Marcel.
- Não é assim tão simples – Marlene encostou a sua cabeça ao ombro de Milicent.
- Então mas agora não tenho espaço no sofá? – Marco regressava à sala e, antes de se ter ausentado e Milicent ter ido até ao quarto, os dois estavam sentados lado a lado.
- Estás assim tão desesperado por estar ao lado da Mi? É que não se tem notado nada disso, senhor Reus – Marlene esperou que ele se aproxima-se delas para ver o que fazia. Marco preparava-se para se sentar no colo de Marlene mas acabou por fazê-lo a Milicent.
- Tu só podes estar maluco! – Milicent sentiu o seu corpo todo apertado e com alguma dificuldade em não ter dores – tu não podes fazer isto, Marco! – deu-lhe algumas palmadas nas costas e, algum tempo depois, o rapaz acabou por se conseguir levantar olhando para ela – eu estou dorida...e, além disso, eu não falo contigo.
- Como queiras! – Marco sentou-se noutro sofá, olhando para a televisão.
- Vocês estão chateados? – Robin fez a pergunta que todos os outros queriam fazer.
- Não – respondeu Marco – estamos a dar espaço.
- É isso mesmo. O senhor queria espaço, mas não consegue estar longe de mim, como se notou.
- Oh Mili! –
Marco olhou para ela, rindo-se – esquece.
- Considera esquecido.
- Vocês estão super esquisitos –
comentou Marlene – andaram a beber? Tu não podes fazer isso, Mili. Estás a amamentar.
- Achas, Marlene? Isto é uma coisa entre nós. O Marco precisa de espaço, é isso.
- E a Mili está a dar-mo –
atirou Marco, metendo a televisão no canal que transmitia o jogo.
- Se o Mario marcar, eu vou ter com ele ao Brasil! – todos bateram palmas e Milicent acabou mesmo por dar uma palmada na perna da melhor amiga.
- Já não era sem tempo, Mare.
- Oh...ele não vai marcar, todos sabemos disso.
- Nunca se sabe, boneca.
- Mas vocês deixam ouvir o jogo? –
questionou Marco.
- Olha hoje quer ver o jogo... – começou Marlene olhando para ele – Começas a ser um bocado bipolar, cunhado.
- O teu namorado também é, deixa lá –
Marlene ficou espantada com o que Marco acabara de dizer. Estava a achá-lo, lá está, bipolar. Muito depressa eram poucas as palavras que dizia como, minutos depois, parecia estar super animado e divertido – vá lá...não mandaste vir comigo.
- Tu és maluco –
Marlene deu o braço a Milicent, concentrando-se no jogo.
Estava a acontecer, talvez, o ataque mais perigoso da Alemanha naquele jogo. A bola era conduzida com cautela, passes curtos e assertivos. Muller preparava-se para cruzar a bola e Mario estava entre dois defesas do Gana.
- Ele que não cruze...só está lá o Mario, ele não consegue – assim que Marlene acabou de dizer aquilo já a bola estava dentro da baliza. Mario tinha marcado o seu primeiro golo do Mundial.
A festa ali em casa era grande, Milicent pôde ver Marco sorrir como já não o fazia à muito tempo. Mas, estranhamente, Marlene estava quieta, completamente imóvel.
- Parece que alguém vai para o Brasil... – comentou Marco.
- Ele marcou mesmo? – todos se riram. Perceberam que Marlene não estava a acreditar naquilo que tinha acabado de acontecer – oh olha ele fez de propósito! Eu disse-lhe que se marcasse ia ter com ele...
- Agora tens de ir! –
Milicent riu-se, assim como todos os outros. A cara de Marlene era um misto de surpresa com felicidade.
Os restantes 40 minutos do jogo foram uma confusão. A Alemanha começou a facilitar o jogo fazendo com que o Gana marcasse dois golos muito próximos um do outro. Acabaram por empatar a duas bolas, causando alguma surpresa.




Milicent preparava-se para se deitar e reparou que Marco já estava com os olhos fechados. Sentou-se no fundo da cama, olhando para ele. Estava tranquilo, dormia serenamente e Milicent acabou por sorrir. Vê-lo assim tranquilizava-a...pelo menos, enquanto dormia, Marco não pensava em tudo o que tinha acontecido.
- Alguma vez pensaste que estar vivo não vale a pena? 
Milicent assustou-se com aquela pergunta de Marco. Não só pelo que ele tinha perguntado mas porque pensava que ele estava a dormir. Marco abriu os olhos, encontrando Milicent espantada a olhar para ele. Sentou-se na cama, aproximando-se dela. Precisava de ser sincero de uma vez.


Olá meninas!
Aqui está mais um capitulo. Já vos dei a explicação do porquê em demorar tanto (faculdade a quanto obrigas...) mas agora que está tudo numa fase mais calma, poderei começar a dedicar-me às fics com mais tempo.
Espero que tenham gostado deste capitulo. Gostava muito de saber as vossas opiniões relativamente a esta fase da história.
Fico à espera dos comentários.
Beijinhos.
Ana Patrícia.