segunda-feira, 11 de maio de 2015

32º Capítulo: “E como é que seria a nossa vida? Tu ficavas aqui…eu lá, a trabalhar horas a fio…e o Marten?”

- Conseguiste manter-te tão calma – comentava Marco quando já estavam a regressar a casa.
Aquela febre de Marten não seria nada preocupante, sendo que ainda estiveram grande parte da noite no hospital para que a temperatura baixasse. Todos os exames necessários foram feitos e, aquela subida repentina da temperatura, ficou a dever-se ao calor associado com alguma corrente de ar.
- Acho que foi só exteriormente. Quando me disseste o valor da temperatura dele…o meu coração disparou.
- Mas ficaste calma… -
Marco colocou a sua mão sobre o ombro de Milicent, enquanto ela conduzia.
- Foi um teste. E, Marco, temos de ter cuidado com o Marten. Ele nem duas semanas tem e esta febre…não é nada bom.
- Nós temos cuidado, Mili. Mas, sim, vamos ser ainda mais cuidadosos para, em Agosto, irmos de férias os três.
- Ai é?
- Eu estive a pensar e ia fazer-te esta proposta: uma semana em Ibiza. Vamos só os três nos primeiros três dias e, depois, chega o Mario e Marlene.
- Parece que vocês já andaram a combinar muita coisa…
- Não. Eu falei com o Mario disto antes da…antes da lesão.
- Eu acho que pode ser. Combinamos com eles, mas, Marco, depende de como esteja o Marten.
- Sim claro.

Depressa chegaram a casa e, depois de colocarem Marten no seu berço, os dois acabaram por dormir durante algumas horas.



- Milicent…olha a campainha – já era a terceira vez que a campainha tocava. Milicent não dava sinais de se levantar e Marco não o conseguia fazer com a rapidez necessária – Mili…
- Já estou a ir! –
Marco assustou-se quando ela gritou. Pensava que ela estaria a dormir mas, num ápice, Milicent já estava a vestir o seu fino robe e a sair do quarto. A porta acabou por se fechar, fazendo com que Marten se assustasse com o barulho. Começou a choramingar e Marco debruçou-se sobre o berço.
- Foi a mãe, Marten. Ela não gosta de ser acordada à bruta. Sais a ela, nesse aspecto – mexeu na barriga do filho, passando para a cara de Marten. A febre parecia ter desaparecido.
No andar debaixo, Milicent abria a porta sendo surpreendida pelo abraço de Mary Alice. Ela e os seus pais estavam ali e Milicent percebeu, ao olhar para a sua mãe, que algo se passava.
- Entrem… - Milicent caminhou com Mary Alice até à sala, enquanto os pais a seguiram depois de fecharem a porta.
- O Marten? – Perguntou Mary Alice.
- Está no quarto com o Marco. Está meio doentinho. Foi ao hospital e tudo.
- Porquê? –
Mary Alice parecia assustada com aquela notícia de Milicent.
- Estava com muita febre, mas já está bom.
- Eu posso ir vê-lo?
- Sim. Mas bate à porta primeiro e diz que és tu, para o Marco saber. Está bem?
- Sim – Mary Alice subiu as escadas e Milicent olhou para os pais.
- O que se passa? –
Perguntou.
- O menino está bem? – Renae evitou responder à pergunta da filha, estando preocupada com o neto.
- Sim. Este calor, depois o frio das noites e das correntes de ar não lhe fizeram muito bem. Mas ele passou bem a noite e, nos exames que lhe fizeram no hospital, não indica nenhuma bactéria estranha.
- Ainda bem…
- E vocês…o que é que se passa?
- É a minha mãe… -
Renae olhou a filha nos olhos – a tua avó.
- O que se passa?
- Caiu e tem o cóccix com uma pequena luxação. Vamos ter de a ir buscar a Estugarda. Não podemos levar a Mary Alice…eu gostava de saber se tu podes ficar aqui com ela. Nós já sobrecarregamos a Jolandi e o Hinrich…e, filha, como estás aqui por casa mais tranquila…
- Não se preocupem. Eu e o Marco ficamos com ela. Aposto que a Mary Alice nos vai ajudar a cuidar do Marten. Não se preocupem…ela porta-se bem.
- Milicent…isto vai envolver a vinda da tua avó para cá.
- Pois, já percebi mãe. Parece que chegou a altura de rever a D. Rose –
Milicent não sabia se haveria de estar com medo, se deveria estar ansiosa. O reencontro com a avó…era algo que a assustava.



- Tens a certeza que estás bem? – Perguntava Marco enquanto ajudava Milicent a descascar batatas.
- Não.
- Eu logo vi. Já te conheço, Milicent.
- É que…ela vem com os meus pais.
- Ela quem?
- Pois…a minha avó, materna. Rose Leker.
- Aquela que cruzou os genes com o avô angolano.
- Exactamente.
- E…isso não é bom? –
Milicent pousou a faca na bancada, olhando para o namorado.
- Para já, ela tem uma luxação no cóccix. Não é muito bom na idade dela…
- Tem quantos anos?
- Perto de oitenta. Mas…não é isso o pior, Marco.
- Então?
- Eu nunca me dei muito bem com ela. Foram mais que muitas as vezes que discutimos…até à ultima vez. Em Estugarda, onde ela mora, à cerca de três anos eu e os meus pais fomos visitá-la. Tudo foi normal até à discussão que tivemos. A partir desse dia, nunca mais falámos.
- Hum…foi uma discussão muito má?
- Ela disse que eu nunca iria ser nada na vida…eu na altura não estava com boas notas na escola. E…eu nunca fui de me calar e disse que ela nunca seria minha avó –
Milicent, pela primeira vez, ao falar do assunto não se sentia tão culpada como antes – depois, ela continuava a insistir com as minhas más notas e…sabes a minha relação com a minha avó Jolandi, não é?
- Sim…
- Eu com ela nunca tive isso. Acho que a minha avó Rose nunca me deu um carinho, não me lembro de ela me ter deixado sentar ao colo dela, nem de brincar com ela…e eu acabei por lhe dizer isso tudo. Passado uma hora, os meus pais foram com ela para o hospital com o princípio de um enfarte. Senti-me culpada e ela fez questão de me dizer. E, a partir daí, nunca mais falámos.

- Uau…pensava que a tua família era toda pacifica.
- Há sempre alguém que não é. E…eu não sei como é que vai ser quando ela cá chegar. Eu tenho a certeza que a minha mãe vai querer que eu fale com ela. E, com 21 anos, eu também quero falar com ela. Só que…tenho medo.
- A minha rainha com medo...isso preocupa-me. Chega aqui -
Marco fez sinal a Milicent para ela se sentar na perna que não tinha gesso. A rapariga desligou o fogão, sentando-se na perna de Marco - sê apenas tu ao pé da tua avó. Tanto tens tu a pedir desculpa como ela e, mesmo sem a conhecer, eu acredito que ela vai reconhecer que te transformas-te numa mulher inteligente, és pediatra pronta a exercer, mãe...e, claro, minha namorada.
- Essa parte tu gostas muito, não é? -
Milicent rodeou o pescoço de Marco com os seus braços, encostando o seu nariz com o dele - acho que me conseguiste tranquilizar na parte da pediatra...o resto nem sei.
- Vamos com calma. Ela vai adorar-me e até se esquece de ti.
- Estás cá um convencido!
- Pudera...com uma namorada que foi mãe à duas semanas e quase não se nota! Tenho de me sobrevalizar a mim mesmo.
- Olha para tua informação, ainda há muita banha a perder.
- Podemos treinar juntos, meu amor.
- Não sejas tarado, Marco Reus. Há duas crianças à nossa responsabilidade: o teu filho e a tua cunhada.
- Obrigado.
- Do quê? -
Milicent não estava a compreender aquele agradecimento de Marco. Ficou mesmo surpreendida, sem saber o que pensar.
- Eu tenho os meus pais, as minhas irmãs, o Marcel, o Robin, a tua família, o Mario e a Marlene...sou um sortudo por ter tanta gente do meu lado neste momento mas, sendo muito sincero, és tu que fazes o meu mundo continuar vivo, és tu que me manténs positivo e foste tu que me tornaste um homem feliz e completo todos os dias desde que nos conhecemos e agora, em especial, com o Marten. Ele é tão especial, Mili...
- É nosso filho. Apanhou-nos de surpresa ao início mas desde o princípio que é o nosso amor. E, sabes que mais? Acho que o facto de ele ter nascido no dia de anos do Mario, foi um sinal para o que vinha depois - Milicent levou as suas mãos à cara do namorado sorrindo - e eu vejo que ele te faz bem. Enquanto tua namorada e mãe dele, eu vejo que ele te faz sorrir, faz-te não pensar nesta fase menos boa da tua carreira mas faz-te pensar na vida pessoal.
Marco rodeou a cintura de Milicent e os dois entregaram-se num beijo carregado de amor e desejo.
- Mana? - Mary Alice apareceu de surpresa na cozinha e os dois quebraram o beijo, rindo-se - vocês estavam aos beijinhos! - a menina aproximou-se deles, ficando agarrada à mão de Marco - Desculpem, eu não queria mesmo que acabassem os beijinhos mas o Marten está a chorar. Eu já mexi nele, já brinquei mas ele deve ter fome.
- Hum, então vamos lá -
Milicent saiu do colo de Marco dando-lhe mais um beijo - Marco, meu amor, vê ali o almoçinho que eu vou fazer o que tu não podes.
- Vai lá amamentar o rapazinho vai.
- Eu ajudo o Marco -
disse, muito rapidamente, Mary Alice. A menina sabia que ele estava mais debilitado e queria ajudá-lo.



- Preciso da vossa ajuda - Marlene tinha chegado a casa de Marco e Milicent, naquela mesma tarde - Olá, Mary! - a menina foi ter com Marlene que pegou nela ao colo. As duas beijaram-se e acabaram por se sentar no sofá ao lado de Marco - Olá cunhado feio - Marlene olhou para Marco rindo-se.
- Primeiro dizes que precisas de ajuda, depois dizes que sou feio...não sei se te ajudo.
- A Mi ajuda. O meu sobrinho?
- Está a fazer ó-ó -
respondeu Mary Alice.
- Ai é? Ai é? - Marlene começou a fazer cócegas à menina, vendo Milicent sentar-se à frente delas.
- Precisas de ajuda com quê, Marlene? - Perguntou Mary Alice.
- Tenho saudades do Mario...
- Ele está a jogar naquela coisa do Messi e do Ronaldo, não é?
- É sim senhora. Tu percebes disto!
- Um bocadinho. Mas, se tens saudades do Marito, porque é que não vais para ao pé dele? -
sugeriu Mary Alice, fazendo com que Marco e Milicent olhassem para Marlene.
- A Marlene quer ficar escondida como a mana e o Marco, lembraste?
- Sim...mas podem ser às escondidas lá no outro sítio.
- É claro que podem! Convence aí a Marlene, cunhadinha -
incentivou Marco.
Tanto Marco como Milicent sabiam que Marlene teria muito que pensar, ainda, mas viram os olhos da amiga brilharem como não brilhavam desde que Mario se tinha ido embora. Marlene tinha combinado com o namorado que não iria ao Brasil ter com ele mas, com aqueles incentivos e a falta que tinha do namorado, era mais do que certo que acabaria por ir ter com ele.
O telemóvel de Milicent tocou e a rapariga olhou para o visor do mesmo ficando sem saber o que pensar. Pediu licença para se ausentar e foi até à cozinha atendendo a chamada.
- Amber?
- Olá querida. Como estás?
- Eu estou bem...um bocadinho surpreendida com este telefonema -
Milicent não estava mesmo nada à espera que Amber lhe ligasse. O estágio tinha terminado e, mesmo que houvesse alguma coisa a tratar sobre o mesmo, seria com a faculdade - e como é que está a Amber?
- Ainda não perdeste o você?
- Parece que não.
- Soube que foste mãe. Parabéns!
- Muito obrigada.
- Eu sei que deves estar a perguntar-te o porquê desta chamada, mas eu tenho uma proposta para ti. Mesmo que saiba que vais responder que não.
- Amber...estou confusa.
- Vou esclarecer-te: tenho uma vaga para ti aqui no centro. Eu sei que agora é impensável viajares para Munique, que me vais dizer que não. Daí a vaga ficar à tua espera até Setembro. Que me dizes?
- Estou sem palavras -
Milicent teve de se sentar...era uma proposta DAQUELAS mas, também, era daquelas propostas que, neste momento, Milicent só tinha um não para dar - eu não tenho de dar agora a resposta pois não?
- Claro que não. A proposta está feita. Vou enviar-te os detalhes por email e quando te decidires telefonas-me.

- Obrigada, Amber.
- De nada, querida. E muitas felicidades para ti, o bebé e, também, o pai dele.
- Obrigada.

Milicent deixou o telemóvel em cima da mesa, depois de desligar a chamada. O que raio acabou de acontecer? Naquele momento, Milicent sentia-se completamente baralhada...era mais uma coisa a acrescentar às imensas que tinha para pensar. Ainda está a aprender a ser mãe e a tarefa tem dias mais fáceis que outros, a sua relação com Marco está estável mas ele está diferente e a precisar dela a 100%, a vinda da avó materna vai agitar tudo e agora isto?
- Amor? - A voz de Marco despertou-a - Estás bem, Mili?
- Sim, sim. Está tudo bem...
- Mesmo?
- Nós falamos depois Marco. Vamos deixar a Marlene ir par casa e a menina adormecer.
- Mas aconteceu alguma coisa?
- Não. Não fiques preocupado, a sério.
- Está bem. O Mario está em chamada...
- Vou buscar o Marten para ele ver o menino.

Milicent foi até ao andar dos quartos, indo até ao seu. Marten, contrariamente ao que Milicent pensou, estava acordado mas não tinha chorado. A rapariga pegou no filho ao colo e, ao vê-lo segurar-se ao seu dedo questionou-se acerca da proposta que Amber tinha feito.
Na sala, Marco, Marlene e Mary Alice falavam com Mario através do Skype.
- Então mas onde é que anda a chata da Milicent?
- Ela não é chata, Marito! Não a podes tratar assim, ela depois fica triste –
Mary Alice falou num tom de voz mais zangado, como que repreendendo Mario.
- Estou feito ao bife! Agora há mais uma a defender a cunhada chata?
- Há sim! E depois vai haver o Marten –
Mary Alice mantinha um diálogo com Mario, mas apercebeu-se que Milicent começava a descer as escadas – eles vêm aí, não digas mais essas coisas – falou mais baixo, fazendo com que todos se rissem.
- Isso é que é animação! – Comentou Milicent ao chegar perto deles.
- O Marito disse que caiu de cu no chão quando foi à sanita – foi visível que Mario ficou surpreendido com aquela invenção de Mary Alice. Marco e Marlene, que ainda se riam, intensificaram ainda mais as gargalhadas.
- Mary Alice…hás-de cá vir pedir para brincar aos médicos!
- A Marlene brinca comigo. E a minha mana, o Marco e o Marten. Não é preciso tu.
- Parece que foste desprezado, Mario Götze! –
Milicent apareceu por detrás do sofá e reparou que Mario ficara vidrado a olhar para Marten. Não era a primeira vez que tal acontecia…e, mesmo que não admitisse, Milicent ficava muito feliz por ver aquele amor já a existir da parte de Mario – É melhor ires buscar o babete, oh cunhado.
- Cala-te, sua feia. Olhem…eu gostava mesmo de ter uma conversa a sós com a Milicent
todos estranharam aquele pedido de Mario mas acabaram por não levantar qualquer questão.
Com Marten num dos braços, Milicent pegou no computador levando-o para a cozinha. Colocou-o em cima da mesa e sentou-se à frente do mesmo.
- Não me digas que fizeste uma asneira com alguma brasileira, Mario…
- Que horror Milicent! Realmente, tens-me em boa consideração não haja dúvida.
- Estava a brincar, oh parvo. Mas…aconteceu alguma coisa?
- Não, não. Comigo está tudo bem, mesmo a morrer saudades da tua amiga.
- Ela também está cheia de saudades tuas…
- Tens de a convencer a vir cá! Por favor, cunhada linda.
- Dá graxa, dá! Sabes, perfeitamente, que a Marlene é de ideias fixas. E, se ela te diz que não, é porque é não mesmo. Há pouco que possamos fazer…
- Eu sei. Mas, olha, diz-lhe mesmo que eu tenho muita saudade dela, que ela me faz falta…essas coisas que tu sabes.
- Eu digo, digo.
- Obrigado
Milicent deixou de ter os olhos de Mario a olharem para si para o ver a olhar para Marten ele começa a ficar parecido contigo. Mas, mesmo assim, é a cara chapada do Marco. Menos o cabelo…isso foi mesmo buscar ao teu lado Milicent riu-se, dando um beijo na testa de Marten. O cabelo do menino era muito escuro, daí ser parecido ao seu mas, bem, há assuntos importantes a falar contigo Mario voltou a olhar para Milicent, esfregando as mãos uma na outra – o Marco.
- Ui…
- Conheces bem o teu homem, por isso já sabes que ele diz sempre que está bem mas eu não sei...conta-me lá como é que têm sido estes dias?
- É difícil Mario…o Marco está numa fase que eu não sei bem o que lhe vai na cabeça. Ontem foi complicado…

- Ele não viu o jogo, pois não?
- Quando tu lhe mandavas mensagens, lá mais para a noite…foi nessa altura que ele o viu. O Marco ficou muito estranho na altura do jogo, disse que queria estar aí, que não sentia o seu corpo aqui…ele ontem ficou em baixo.
- Ele já pensou ir ao psicólogo?
- Diz que não o vão entender…
- Sabes, Mi, eu também já nem sei o que lhe dizer. Porque, por mais que eu queira partilhar com ele tudo o que se passa por aqui…eu sei que não é a melhor coisa a fazer.
- Olha Mario, eu também não sei…ele pode ficar mal com o que souber mas, se calhar, até pode ser bom. Eu não sei… -
Milicent suspirou. Já tinha falado com Marlene no dia anterior e falar, sobre o mesmo assunto com Mario, era bom para ela.
- E com o Marten…como é que é? - Tanto Milicent como Mario olharam por uns segundos para o menino.
- Com ele…acho que fica o Marco enquanto pai. Fica diferente, mais sorridente e não pensa em mais nada a não ser nele…disso eu tenho a certeza.
- Olha…ao menos isso. Além do mais, o vosso filho é lindo e, só estive com ele no dia em que nasceu, mas já tenho saudades do meu sobrinho, porra!
Milicent sorriu, vendo Mario a retirar o telemóvel do bolso olha, vês? O fundo de bloqueio é o Marten! Milicent foi apanhada de surpresa…não pensava que Mario tivesse criado uma ligação tão forte com o filho… - se desbloquear é a tua amiga, vês? E lá estava, uma imagem de Marlene cunhada, o próximo jogo é daqui a quatro dias…pode ser que ele esteja melhor.
- Tu andas com fotos do meu filho no telemóvel, Mario Götze…
- Ando pois! É o meu primeiro sobrinho. É obvio que não vou meter imagens dele com os feios dos pais… -
Marten começou a choramingar…estava na hora de mamar oh, meu sobrinho lindo…eu estou a brincar. Os teus pais são lindos mas não chores.
- Ele está com fome Mario…apenas isso.
- É aquele momento em que eu viajo, outra vez para a sala porque não é para ver essa parte!
Os dois riram-se e Milicent voltou à sala, entregando o computador a Marco.
Sentou-se num outro sofá, começando a amamentar Marten.
- Vocês não imaginam! A Milicent é a coisa mais chata…e ela tratou-me mal!
- Oh seu mentiroso, eu ainda estou aqui! –
Milicent levantou um pouco a voz, para que Mario a ouvisse.
Todos se riram ao ver que Mario ficou atrapalhado naquele momento.



- Bom…foi a Amber que me ligou.
- Do estágio?
- Essa mesma –
Milicent e Marco estavam sentados na cama…a rapariga precisava mesmo de falar com o namorado sobre tudo aquilo.
- Mas está tudo bem?
- Está…ela fez-me uma proposta. Para eu ir para Munique em Setembro.
- Munique…em Setembro?
- É uma proposta que, neste momento, só tem uma resposta. Eu não consigo aceitar, essa nem é uma opção. O Marten teria três meses, tu estarás a regressar aos treinos… -
Marco baixou o olhar e Milicent, muito depressa, levou a sua mão ao queixo do namorado levantando-o – eu acredito nisto que acabei de dizer, Marco. Em princípio tiras o gesso dentro de uma semana…e eu acredito que te vais agarrar à recuperação com toda a tua determinação.
- Podes crer que vou…mas…essa proposta.
- Eu não vou aceitar, Marco. Quem é que ia cuidar do Marten? Ficarmos separados? Não…eu não vou aceitar.
- Nem para experiência? É uma oportunidade única, Milicent. Eu não te quero pressionar…mas acho que deverias considerar tudo isso.
- E como é que seria a nossa vida? Tu ficavas aqui…eu lá, a trabalhar horas a fio…e o Marten?
- Não sei…talvez ele ficasse cá. Comigo, os nossos pais, avós…podes propor um tempo à experiência. A tua carreira como pediatra poderia começar lá, meu amor –
Marco levou a sua mão ao pescoço de Milicent que não sabia o que pensar.
- Eu acho que não vou conseguir, Marco…mas obrigada – Milicent abraçou-o, inspirando o perfume do namorado.

 
- A mãe disse que tá quase a chegar, Mili – dizia Mary Alice entregando o telemóvel a Milicent.
Tinham passado aquele dia muito tranquilos. Marco tinha ido, da parte da manhã, com Marcel fazer uns exames ao hospital. Já tinha passado a hora do lanche e Hinrich e Renae já estariam a chegar a Dortmund com Rose.
Milicent começava a ficar cada vez mais nervosa. E Marco percebia. Mary Alice tinha regressado à sala e os dois tinham ficado na cozinha. Milicent preparava o jantar para todos, enquanto Marco tentava adormecer Marten.
- Estás nervosa, Mili…
- Nota-se assim tanto?
- Um bocadinho.
- Não faço ideia como é que a minha avó vai reagir a tudo. Não sei como é que ela está…assusta-me não falar com ela à tanto tempo e agora estar tudo diferente.
- Estás a fazer o melhor jantar de sempre…ela vai gostar, aposto. E, quanto ao resto, terão de falar como duas adultas responsáveis, mães de família e, sobretudo, enquanto avó e neta.
- És o melhor homem que a tua Mili podia ter, Marco –
a rapariga aproximou-se dele, beijando-o.
- E tu a melhor mulher que o teu Marco podia ter, doida. Relaxa, a sério…acho que até o Marten já se apercebeu da tua excitação toda de hoje.
- Achas?
- Sim. Ele sente-te melhor do que pensas…podem ter cortado o cordão umbilical mas vocês são mais unidos que qualquer coisa –
Milicent olhou para o filho, passando com a sua mão pela bochecha dele. Nisto toca a campainha… - bem…chegaram.
- Oh meu Deus… -
Milicent pôs o lume mais baixo, pegou em Marten ao colo para que Marco se levantasse.
Caminharam os dois até à sala e foi ele que abriu a porta. Milicent sentia o seu coração a bater perto da garganta…estava demasiado nervosa!
- Olá, Marco. Como estás? – Milicent ouviu a voz do pai indo colocar Marten na alcofa. O menino adormecera e tendo de cumprimentar várias pessoas, Milicent optou por colocá-lo na alcofa.
Viu Mary Alice a correr na direcção de Hinrich e acabou por fazer o mesmo. Naquele momento Milicent sentia-se uma menina pequena, frágil que iria estar perante uma situação complicada.
- Como é que ela está…? – Hinrich olhou-a, encolhendo os ombros.
- Vais ter de ter uma conversa com ela, sabes disso.
- Claro que sei –
Milicent afastou-se do pai, vendo Marco entrar na sala. De seguida veio a sua mãe, com a avó. Esta estava numa cadeira de roda…talvez a luxação a impossibilita-se de andar.
Milicent olhava para a avó e todo o seu interior parecia diminuir de tamanho. Era como se fosse pequena de novo, era como se estivesse a conhecer um familiar que não conhecia…por muito mau que isso fosse, Milicent sentia-se aliviada. Poderia ser um novo começo.
- Avó Rose! – Mary Alice, no colo de Hinrich, mostrou-se bastante entusiasmada. A menina já a tinha conhecido e, aos olhos de Milicent, parecia que tinha gostado dela. Foi para o chão, indo ter com Rose – Tinha saudades suas – a menina aproximou-se da senhora, beijando-lhe a bochecha. Rose, levou as suas mãos até ao rosto de Mary Alice, sorrindo.
- Eu também tinha saudades tuas, minha querida.
- Mary, queres vir ajudar-me a pôr a mesa para o jantar? –
Perguntou Marco, percebendo que Milicent se tentava aproximar da avó com pequenos passos.
- Sim, Marco, sim! – a menina aproximou-se dele, colocando a sua mão no braço de Marco – essas coisas não te aleijam as mãos? – todos a olharam, percebendo que ela se preocupava com Marco.
- Nós, se calhar, também íamos ajudá-los, Hinrich… - Renae puxou o marido pelo braço e Milicent ficou a olhar para eles até que desapareceram pela porta que dava acesso à cozinha.
Boa…e agora fazes o quê? Milicent voltou a olhar para a avó, percebendo que ela a olhava.
- Olá, Milicent…
- Olá. Avó. –
Milicent aproximou-se de Rose, ajoelhando-se à frente dela. Colocou as suas mãos nas pernas da avó, olhando-a.
- Estás…uma mulher. Já passaram…quatro anos.
- Três, na verdade –
Milicent ficou sem saber se teria sido apenas uma falha de calculo ou se a avó simplesmente nem sabia à quanto tempo se tinham visto pela última vez.
- Tens a certeza? Tenho quase a certeza que eram quatro…
- Não. São três. Eu…bom, alguma de nós acabará por ceder e creio que está na altura de ser eu a fazê-lo. O que aconteceu naquele dia é algo que eu me arrependo, um pouco. Eu não tinha o direito de dizer que não é minha avó, porque o é.
- Tu disseste o que sentias. Eu sempre soube que não me vias como uma avó, seria apenas um familiar que estava longe.
- Acho que a distância afasta mesmo as pessoas…mesmo que sejam do mesmo sangue –
Milicent via, na sua frente, a mesma Rose de sempre: uma mulher ser qualquer brilho nos olhos, fria, com ar chateado e demasiado confiante de si – estou pronta para exercer pediatria. Consegui formar-me naquilo que sempre quis…
- Fico contente por isso. Acabaste com boas médias? Sabes que isso é fundamental para conseguires um trabalho no primeiro ano…

- Acho que acabei com média suficiente para arranjar algo.
- Na tua área ou a fazer outra coisa qualquer?
- Avó…
- Sabes bem que as médias são importantes.
- Da maneira que está a falar é quase como se estivesse a perguntar: acabaste com média para ir para o desemprego?
- Parece que não estamos a começar bem esta conversa –
Milicent estava a fazer um esforço enorme para não se exaltar. Sabia que teria de falar com a avó da melhor forma possível, queria mesmo que tudo ficasse resolvido entre as duas mas, o feitio difícil de Rose estava a tornar tudo um pouco mais complicado.
- Acho que não. A avó continua com o seu feitio…peculiar.
- E tu continuas a fazer tudo à tua maneira, pelo que vejo –
Milicent estranhou aquela afirmação da avó – foste mãe. E estás a dois meses de fazer 22 anos. És um bocado nova…
- Eu não acredito que estou a ouvir isto.
- Estás. E vais ouvir. Eu posso não ser aquela avó querida que te enche de mimos, mas acho que te posso fazer ver o futuro. Já viste bem o que é que este bebé te traz? Aposto que, se te surgir uma proposta de trabalho, a recusas por causa dele.
- A avó também é mãe.
- São tempos diferentes e somos pessoas, claramente, diferentes.
- Sabe que mais? –
Milicent levantou-se, mantendo o seu olhar preso ao da avó – Eu não estou para ouvir este tipo de coisas. Eu queria mesmo tentar resolver as coisas consigo, mas a avó não facilita. Eu sou extremamente feliz com o meu filho e o pai dele. Já tive proposta para um trabalho e estou a colocar todas as hipóteses para puder aceitá-lo. Você é que parece não querer a minha felicidade e isso deixa-me triste.
Milicent foi até à sala de jantar, encontrando os seus pais, Marco e Mary Alice.
- Este jantar pode não correr bem, mas saibam que eu tentei. Ela é que não me dá hipótese nenhuma.
- Mili… -
Marco era o que estava mais perto dela, sentindo o corpo da namorada embater contra o seu e Milicent chorou sem se preocupar com quem estava ali.
- A mana está a chorar…
Renae pegou em Mary Alice ao colo e fez sinal a Hinrich para saírem dali. Foram até à sala, onde encontraram Rose a olhar para Marten.
- É bonito o teu neto, Renae – Rose olhou para a filha, que colocou Mary Alice no chão.
- Mãe, eu não sei o que é que se passou contigo e a Milicent nesta sala…mas ela é tua neta. Os vossos feitios não se dão, mas ela estava disposta a fazer o esforço para se dar bem contigo. Mas tu…continuas com essa tua atitude de querer que todos sejam grandes profissionais e deixem a vida pessoal de lado…já pensaste que ela pode querer a outra avó com ela neste momento?
- A avó Rose não se dá bem com a Mili? –
Renae esqueceu-se que Mary Alice apanhava todas as conversas e as compreendia – Mas é avó dela…e as avós dão miminhos. Todas as avós são assim. A Mili é crescida mas ela gosta de muitos miminhos. E, agora, ela tem o Marten. É esse bebé – a menina apontou para Marten, fazendo com que Rose olhasse para ele – é o filho da mana, é muito bonito e a Mili gosta muito dele. Vocês têm de se dar bem para todos dar-mos miminho a Mili e ela dar a nós.

 
- Mas o que é que se passou? – Milicent estava sentada no colo de Marco, que lhe mexia nas pernas. Tinha cessado o choro, mas continuava nervosa.
- Ela continua com aquela atitude dela de: tens de ser a melhor, se não és um fracasso. E depois disse que o Marten veio atrapalhar o meu futuro…e não veio.
- Claro que não. Ambos sabemos disso…bem, sempre pensei que fosse diferente. Que, hoje, ela pudesse estar diferente e fizessem as pazes.
- Ela, ao menos, falou-te?
- Sim. Quando fui abrir a porta os teus pais apresentaram-nos e ela cumprimentou-me. Foi simpática.
- O problema devo ser mesmo eu…
 
Milicent encostou a sua cabeça ao ombro de Marco, acalmando-se. Ainda tinham um jantar pela frente…precisaria de forças e coragem para o aguentar até ao fim.


Olá meninas!
Aqui está mais um capítulo. Espero que gostem e que deixem os vossos comentários. Desculpem publicar apenas desta fic mas, neste momento, é a que tenho com mais capítulos escritos de reserva. E, mesmo assim, demoro algum tempo a publicar...desculpem.
Fico à espera das reacções.
Beijinhos.
Ana Patrícia