- Calem-se, a sério, eu preciso de estar
atento ao telefone – aquela voz de Marco estava completamente alterada mas
animada a certo ponto.
- Marco, dá-me o telefone, por favor –
Milicent ouvia a voz de Marcel.
- Mas não a deixes desligar sem falar comigo.
- Claro, Marco. Claro – Milicent sentiu
que Marcel já se tinha apoderado do telefone – Milicent?
- Sim?
- Como estás?
- Vai-se indo,
Marcel.
- Desculpa tudo isto...ele pediu que viesse
ter com ele e, quando cá cheguei, dei de caras com este cenário.
- Muito bêbedo?
- Um bocado. Olha, eu não sei bem o que se
passou entre vocês...ele só me diz que fez porcaria. Estou aqui eu e o Robin
com ele e vamos tentar que ele vá dormir antes que continue a beber mais alguma
coisa.
- Obrigada,
Marcel... – Milicent sentia a sua cabeça voltar a dar outra volta e a ficar
mais confusa. Ao saber daquilo...não achava que teria feito a melhor opção em
deixá-lo para trás.
- Obrigado eu – não entendeu bem o que
Marcel queria dizer com aquilo – o Marco
precisava deste choque, de sentir o que ele diz sentir. Já nos disse que se
sente sozinho, que vos perdeu porque fez porcaria – Milicent sentia um
vazio enorme em si, aquela distância ainda agora havia começado e já estava a
ser demasiado dolorosa – não quero que te
sintas mal, a sério. Isto vai fazer-lhe bem mesmo que agora ele não entenda
isso e tenha escolhido a bebida em vez de outra coisa.
- Tomas conta
dele por mim?
- Tomamos sim senhora. Eu e o Robin vamos
ficar por aqui e fica descansada, ele fica bem.
- Obrigada.
- Como é que está o pequenito?
- Está bom...é
bom ele ainda ser pequeno neste momento. Acho que não se apercebe na totalidade
o que se passa. Mas acredito que sinta falta dele.
- Em breve estarão de volta e tudo se vai
resolver.
- Ele...queria
falar comigo?
- Sim. Ele queria pedir-te que voltasses para
casa. Mas acabou de adormecer no sofá – Marcel riu-se e Milicent pôde
perceber que Robin fazia o mesmo.
- Então ele
agora que durma e depois tome um banho bem gelado. Marcel...eu tenho de ir
tratar do Marten.
- Claro, claro. Toma conta dele e de ti.
- Obrigada. Por
tudo.
- De nada.
- Depois
avisa-me quando ele acordar e como está, sim?
- Fica descansada.
- Beijinhos,
Marcel. E para o Robin também.
- Beijinhos para ti também.
Milicent
suspirou deixando o telefone no sítio. Voltou à sala, sentindo-se estranha mas
sem saber como se sentia. Olhava à sua volta e sabia que aquele não era o seu
lar, mas sentia-se feliz por ali estar. Nunca soube se estaria mesmo preparada
para as lesões de Marco. Quando foi a primeira, nenhum teve muito tempo para se
dedicar apenas à lesão. Havia Marten com os seus poucos dias, semanas e meses
de vida para cuidar, havia um bebé recente e que os colocava à prova todos os
dias.
Nesta segunda
lesão...Marten já não é tão pequeno, já ganhou hábitos e rotinas, já os deixa
mais folgados para pensarem na lesão enquanto um problema grave. Enquanto um
obstáculo na relação dos dois. Milicent conseguia ver isso, sentir e perceber.
E sabia que Marco também o fazia, mesmo que de forma diferente porque
Marco...ele resolvia aquela lesão afastando-se da namorada.
- Tenho direito
a um jantar se adivinhar no que pensas?
- Thiago...
- Estou a
brincar – os dois estavam parados a meio do corredor olhando um para o outro – estava
a brincar.
- Nós podíamos
ir jantar mas...eu acho que não conseguiria ter cabeça para estar a dar
atenção.
- Eu entendo, a
sério – Thiago aproximou-se ligeiramente de Milicent, agarrando a sua mão
direita – tu precisas de estar com o teu filho, em paz e serenidade. E este
ambiente é o indicado para isso. Lá dentro tens duas pessoas e o teu filho que
te vão ajudar.
- Tu também
ajudas?
- Claro que
ajudo, boneca – Thiago deu um pequeno beijo na testa de Milicent e os dois
foram, de novo, até à sala.
- Fogo, ainda
bem que chegaste! – disse, um bocado aflito, Mario – a Marlene foi lá acima e
eu acho que ele se engasgou!
- Oh Mario –
Milicent sorriu, aproximando-se deles – só precisas de lhe dar uma palmadinhas
nas costas, ele está a precisar de libertar os gases dentro dele.
- Que gases?
- Que burro,
nossa senhora. Ainda bem que podes ir treinando com o Marten...ele precisa de
arrotar. Apenas isso.
- Ah isso! Eu
isso já sei fazer – Mario fez o que Milicent lhe disse – já estava a ficar
assustado...já o imaginava roxo e tu a ficares chateada comigo.
- Ei, credo!
Calma, isto é muito mais simples do que pensas.
- Podes
ensinar-me tudo o que sabes sobre bebés esta semana? – Mario olhou muito sério
para Milicent, fazendo com que Thiago se risse – mas estás a rir-te do quê?
- Nada, nada.
Só acho difícil conseguires aprender tudo numa semana!
- Pois é
difícil mesmo – disse Milicent – mas, oh Mario, tu estás com medo de não
conseguir tomar conta do teu filho?
- Um
bocadinho...isto é tudo muito novo para mim.
- Também foi
muito novo para mim – Milicent retirou Marten do colo de Mario, aconchegando-o
nos seus. Sabia que o filho iria por adormecer e precisava de o sentir perto de
si – quando ele chegou à minha vida...ainda dentro da minha barriga, eu estava
cheia de medo. Apavorada. Há medida que o tempo foi passando estabeleceu-se a
nossa ligação muito nossa.
- Mas tu
andaste com ele na barriga, tal como a Marlene anda com o nosso filho. Para
vocês é mais fácil criar essa ligação.
- E vocês
também a criam... – Milicent parou por alguns segundos, vendo Thiago sentar-se
ao seu lado, fazendo algumas festinhas na bochecha de Marten – quando falam com
a nossa barriga, quando sentem os pontapés...é diferente e, se calhar, só
completam essa relação quando eles nascem. E é a partir desse momento que
começa a aventura. Ninguém está preparado para as noites sem dormir, para a
quantidade de roupa que eles sujam, a quantidade de vezes que é preciso trocar
a fralda...e eles colocam-nos à prova a cada segundo do dia.
- Eu não estou
preparado para nada disso!
- Mas vais
ficar, Mario – começou Thiago – os bebés requerem muita atenção e, quando são
nossos, acredita que ficarás pronto no segundo seguinte a segurares nele pela
primeira vez.
- Como se tu
soubesses o que é ser pai!
- Não sei...mas
acredita que é assim Mario.
- Pode ser que
assim me deixe de chatear a mim com essa conversa – disse Marlene, descendo as
escadas.
- Olha estavas
aí?
- Não, querido
gordo – Marlene aproximou-se do namorado, sentando-se em cima das pernas dele –
estava ali nas escadas. Andas com essa conversa que já enjoa, sabes?
- Tudo te
enjoa, também. É a conversa, o meu perfume, a minha camisola, a minha roupa...
- Ai que
exagerado, ainda não enjoei de ti. É bom sinal, não é? – todos se riram à
excepção de Mario.
- Oh mãe, não
sejas tão má para o tio Mario! – Milicent ria-se, depois de Mario, com Marten
ao colo, ir mexendo a boca do menino como se estivesse a falar.
- Eu não estou
a ser má...não tem lógica nenhuma irmos ao teu treino.
- Tem, tem! –
Marlene sentou-se ao lado do namorado, olhando para Milicent – saímos de casa,
eu vejo a tartaruga trabalhar e tu vês o teu amigo.
- Mas eu acho
que podia ficar em casa, sossegada...
- Não. Tu
depois tens de ir comigo à ecografia.
- A primeira
que eu vou faltar! – afirmou Mario – por isso é bom que acompanhes a Marlene
enquanto madrinha responsável que és.
- Oh...pronto,
convenceram-me. Eu vou vestir-me e volto já.
- Boa! –
Milicent riu-se, indo até ao seu quarto.
Arranjou-se depressa, de forma simples mantendo o seu estilo atual: ser
mãe. Precisava de roupa prática, mesmo prática.
Milicent foi no
carro com Marlene, enquanto Mario conduzia no seu carro.
- Como é que
estás? – perguntou Marlene.
- Eu estou
bem...dormi um bocadinho mal, mas deve ser da primeira noite.
- Ou por teres
pensado em como é que ele estaria...
- Talvez. Ele
ontem embebedou-se.
- Tipicamente
gajo quando leva com os pés.
- Ele não levou
com os pés – Milicent olhou-a – eu só...só me afastei ligeira e temporariamente
dele.
- Eu sei que
isso vos vai fazer bem sobretudo a ele. O Marco que eu vi enquanto lá
estive…não é o Marco que todos nós conhecemos, o rissol parvo.
- Não, não é
mesmo. E tu...como é que te sentes?
- Bem. Estou
mesmo bem hoje, sabes que o Mario está a dar em maluco por não puder ir?
- Oh que lindo,
isso é bom sinal! Já têm pensado em nomes?
- Se for menino
é Erik, se for menina é Lia.
- Ai adoro!
Secretamente eu desejo que seja uma menina...para além de ser o que o Mario não
quer – as duas riram-se – nós precisamos de uma menina entre nós! Temos o
Marco, o Mario, o Marten...e precisamos de uma menina que se junte a mim, a ti
e a Mary Alice!
- Como é que
ela está?
- Feliz! Acho
que é o que a poderá descrever. Daqui a duas semanas volta cá a Munique para os
médicos reavaliarem-na.
- Por causa dos
olhos?
- Sim. Têm medo
que a infeção possa voltar... – Milicent parou de falar, assim que Marlene
estacionou o seu carro ao lado do de Mario. Saíram as duas do veículo e
Milicent retirou o seu filho da cadeirinha. Esquecera-se do carro de Marten em
Dortmund...o que significava que, nos passeios, o tinha de levar ao colo ou na
cadeirinha.
- Acho que
podemos ir comprar o carro para o nosso filho – começou Mario por dizer – e
deixamos a Milicent montar e meter lá o Marten dentro, que achas Marlene?
- Acho que, de
vez em quando, tens ideias muito boas.
- É uma forma
de termos menos trabalho e de ela nos ensinar essas coisas.
- É impressão
minha ou queres ter mesmo um estágio em bebés enquanto cá estiver? – perguntou
Milicent.
- Não, não é
impressão é mesmo o que eu quero – Mario riu-se, beijando Marlene – vou
entrando, vocês sabem o que fazer. Portem-se bem – deixou-as ali, seguindo o
seu caminho.
- Olha quem ali
vem – Marlene apontou para trás de Milicent, que se virou para puder ver quem
era. Thiago.
Aquela sensação
de bem estar, a vontade de sorrir voltava a Milicent cada vez que o via. Porque
via o esforço que ele fazia para recuperar. Cada vez que o tinha por perto,
inicialmente Thiago estava sempre com a ajuda das muletas e, passado algum
tempo, já o viam a andar sem ajuda. De certa forma, era aquilo que Milicent
procurava em Marco. Uma reacção por parte dele.
- Buenos dias!
- Lá vem ele
com o seu espanhol feio – atirou Marlene – bom dia, muchacho.
- Bom dia –
disse Milicent enquanto Thiago cumprimentava Marlene.
- Vá, eu vou
indo para dentro guardar lugar. O Thiago depois diz-te o caminho, sim?
- Fica descansada
que ela lá irá ter – Marlene afastou-se e Thiago depositou um beijo na testa de
Milicent – queres vir comigo?
- Onde?
- Assistias à
minha fisioterapia e depois íamos os dois ver o treino.
- Isso
é...permitido?
- É. Queres
vir?
- Sim, acho que
sim.
- Vamos então –
os dois começaram a caminha lado a lado e Milicent tentava controlar tudo:
segurar a mala, manter Marten quieto e protege-lo do sol – ele hoje está
irrequieto, não?
- Um bocadinho
e, depois, sem carrinho é complicado.
- Queres que te
leve a mala?
- Não, Thiago,
obrigada. Tens as muletas e não, a sério eu dou conta disto.
- Não sejas
teimosa, vá – Thiago parou agarrando a fivela da mala de Milicent – dá-me a
mala, vá – Milicent acabou por ceder, entregando-lhe a mala. Depressa Thiago a
colocou ao ombro, retomando a sua trajetória – fica-me bem, não fica?
- Lindamente!
Obrigada, Thiago. A sério.
- Vá, abre
agora a porta – os dois riram-se e Milicent abriu a porta, dando passagem a
Thiago.
Caminharam
pelos corredores sempre a conversarem sobre Marten. A rirem-se com as caretas
que ele ia fazendo e com o facto de Milicent não estar mesmo a conseguir
controlá-lo.
- Hoje temos
visitantes? – perguntou um senhor mais velho, com um fato treino do Bayern.
- Bom dia,
Hussan – Thiago cumprimentou-o com um aperto de mão, olhado para Milicent –
esta é a Milicent e o Marten, são meus amigos. Eles podem assistir à
fisioterapia de hoje?
- Claro que
podem! Venham – os três entraram numa sala onde haviam várias máquinas, umas
quantas marquesas e mais um senhor – eu acho que a conheço de algum lado... –
Hussan olhou para Milicent e, depois para Thiago.
- Hum é capaz –
disse Thiago.
- Se andar
atento às notícias cor-de-rosa... – comentou Milicent.
- Então deve
ser daí...você não é lá a mulher do Reus?
- Namorada...mas
sim, sou eu.
- Bem me
parecia, sente-se – Hussan apontou para uma cadeira, enquanto Thiago se deitou
sobre uma marquesa – é uma pena o que lhe tem acontecido. Como é que ele está?
- Um pouco
abatido mas...creio que vá superar isto.
- Sabe...quando
eles sofrem uma lesão grande aqui como a do Thiago... – Milicent olhou para
Thiago que lhe piscou o olho, e de imediato sorriu – eles habituam-se mais
depressa ao que têm de fazer, o Thiago ao inicio não sabia lidar com a lesão
mas foi-se acostumando à ideia e à recuperação – Hussan olhou para Milicent
sorrindo – no caso do Reus talvez seja mais complicado porque ele viu todo o
trabalho regredir.
- Tem sido
complicado, muito mesmo.
- Na
fisioterapia, nós temos tendência a trocar informações sobre os casos com que
lidamos e o fisioterapeuta do seu namorado é meu amigo. Tive a ver o caso dele
e...dentro de duas semanas no máximo ele estará de volta – Milicent, muito
espantada, olhava para Hussan que agora começava a trabalhar com Thiago – é
preciso é que ele não se deixe ir abaixo. Ele irá precisar do seu apoio...
- Obrigada... –
acabou Milicent por dizer.
- Não precisa
de me agradecer. Thiago – Hussan olhou sério para ele – eu hoje vou precisar de
fazer mais esforços contigo, pode ser?
- Claro.
- Quero que no
final desta semana deixes, de vez, as muletas.
- Isso é muito
bom – acabou Milicent por dizer, reparando que um sorriso enorme se formou nos
lábios de Thiago.
Seguiram-se
mais exercícios, mais massagens e via que Thiago se esforçava imenso para
recuperar. Hussan decidiu dar uma pausa de cinco minutos a Thiago, enquanto foi
preparar uma outra sala para ele. Milicent levantou-se, aproximando-se da maca
onde Thiago se tinha deitado à pouco.
- Olá – Thiago
agarrou a mão de Milicent, puxando-a para ele – obrigada por teres vindo
comigo.
- De nada, meu
querido – Milicent dobrou-se sobre ele, dando-lhe um beijo na testa – como é
que te estás a sentir?
- Para dizer a
verdade...estou cheio de dores.
- A sério?
- Sim, mas é
normal. Nós hoje estamos a levar tudo ao limite, nunca tinha feito uma sessão
tão intensa quanto esta.
- Não deverias
dizer algo ao fisioterapeuta? Talvez para não forçar demasiado...
- Ele sabe o
que está a fazer e isto é necessário – Milicent sobressaltou-se quando ouviu o
som do seu telemóvel – dá cá o pequeno – Thiago sentou-se na maca e Milicent
entregou-lhe Marten para os braços.
Pegou no seu
telemóvel, afastando-se um pouco deles. Era Marco.
- Bom dia –
disse, depois de atender.
- Mili... – a voz de Marco saíra bastante
arrastada e Milicent soube que ele teria acordado à pouquíssimo tempo – bom dia.
- Se andas à
procura dos comprimidos para as dores de cabeça, estão no armário da casa de
banho.
- Obrigado...mas eu bom – durante breves
segundos, Milicent apenas ouvia a respiração de Marco do outro lado da linha – eu queria pedir-te desculpa.
- A mim?
- Sim. Por tudo o que tem acontecido. Não
merecias que eu estivesse a ser assim contigo, nem com o nosso filho. Eu
prometo que, quando voltarem, tudo farei para voltarmos a ser nós. Enquanto
casal e enquanto família.
- Obrigada,
Marco – aquilo acabou por tranquilizar Milicent e dar-lhe uma nova esperança
para o seu regresso a Dortmund – isso significa muito para mim.
- Eu sei...como é que está o nosso bebé?
- Está bom –
Milicent olhou para ele, vendo que Thiago brincava com Marten mesmo deitado na
maca – eu vim acompanhar a Marlene ao treino do Mario...acabei por estar aqui a
assistir à fisioterapia do Thiago.
- Como é que ele está?
- Com algumas
dores hoje e...o joelho parece um pouco inchado demais.
- Isso não parece bom sinal...entregaste-lhe
o que te dei?
- Entreguei,
Marco. Não sabia que tinhas uma admiração antiga por ele...
- Eu também pensava que me tinha
esquecido...quando voltares...podes ir comigo a uma sessão de fisioterapia?
- Claro que vou
– Milicent sorriu, sendo surpreendida pela entrada de rompante de Hussan.
- Precisamos de
falar – disse o fisioterapeuta, chegando perto de Thiago.
- Está tudo bem? – perguntava Marco do
outro lado da linha.
- Não sei...o
fisioterapeuta dele entrou agora na sala e está com cara de caso. Importas-te
que...
- Claro, claro. Vai ter com ele e manda
cumprimentos.
- Obrigada por
teres telefonado. Obrigada mesmo.
- Eu senti mesmo que o tinha de fazer...és a
minha melhor parte. Tu e o Marten e eu já estou cheio de saudades vossas.
- Nós também
temos saudades tuas...mas espero que entendas esta minha decisão. Eu...eu
depois mando-te mensagem, até porque vou com a Marlene à ecografia.
- Isso então vai ser um bom dia! Depois diz
mesmo qualquer coisa.
- Digo sim, não
te preocupes.
- Mili...
- Eu tenho de
desligar, Marco. Até mais logo – Milicent quase adivinhava o que ele iria
dizer...mas não o queria ouvir. Não naquele momento. Precisava de se afastar,
de se recompor e meter todas as suas ideias em ordem.
Aproximou-se de
Thiago que, sentado e com Marten ao seu colo, olhava atento para Hussan.
- Precisas de
um momento? – perguntava Hussan e Milicent apercebeu-se que Thiago parecia
estar numa outra dimensão.
- Sim.
- Eu volto
daqui a pouco, então... – Hussan saiu da sala e Milicent aproximou-se de
Thiago. Encostou-se à maca, levando a sua mão até ao peito de Thiago.
- Que se passa?
- Os ligamentos
do joelho voltaram a romper – Thiago olhou-a, deixando o seu corpo tombar sobre
a maca. Olhou para Marten, passando com a sua mão pelas costas do menino – eu
poderia voltar a treinar dentro de um mês e...agora vou ter de recomeçar tudo.
Tudo mesmo – Milicent aproximou-se ainda mais de Thiago, dando-lhe um beijo na
bochecha.
- Tu és forte,
Thiago – os dois olharam-se, juntando as suas testas uma com a outra – e, no
que precisares, eu estou aqui. A vida nem sempre é justa para as pessoas
boas...
- Chega a uma
altura que queres desistir de tudo...e hoje, hoje poderia ser um desses dias.
- Mas não pode
ser, Thiago. Tu és mais forte que todos estes obstáculos.
- Serei?
- És – Milicent
agarrou a mão de Thiago e os dois olharam para Marten – nós estamos cá contigo.
Pelo menos esta semana e, depois, terás dois amigos sempre dispostos a
ajudar-te.
- Obrigado, por
tudo Milicent – a rapariga voltou a olhar para Thiago, dando-lhe um beijo na
testa.
Se quis sair de Dortmund para fugir a todo o drama que a sua vida estava a
ter...a chegada a Munique não poderia ter sido com mais drama. Tinha, na sua
frente, um Thiago muito mais frágil do que aquele que estava acostumada a ver.
Era perceptível que, neste momento, o desanimo era total em Thiago.
Cá está mais um capítulo para vocês.
Espero que gostem e deixem os vossos comentários.
Beijinhos,
Ana Patrícia.