quinta-feira, 26 de março de 2015

30º Capitulo: “Quero ser uma das responsáveis por te ter realizado, por te fazer feliz.”

O dia do aniversário de Mario tinha chegado e Milicent não se sentia muito confortável naquele dia. Estava com umas dores estranhas no fundo da barriga, umas dores de costas estranhas, um dia a começar mal! Logo no dia de anos do tio, Marten?
Mario e Marco estariam prestes a chegar. Tinham organizado um pequeno lanche naquela tarde, apenas para a família. Era uma maneira de se despedirem de todos, também.
- Estás bem, Mi? – Marlene sentou-se ao lado da melhor amiga, acariciando-lhe a barriga.
- Isto hoje está a ser estranho…algo me diz que o Marten quer nascer mais cedo – Milicent olhou para a amiga com algum receio.
- Achas?
- Acho…
- Assim…o Marco conseguia assistir ao parto.
- Eu não me sinto preparada, Marlene!
- Calma, isso pode ser só ansiedade de não estares com o Marco à uns dias.
- Tens razão –
Milicent sorriu, pegando no álbum de fotografias que tinha do seu lado. Marco tinha feito um com as fotografias que tinha tirado ao longo da gravidez, sendo entregue ali, na casa dos dois, no dia em que completaram um ano – queres ver?
- É o que? –
Marlene pegou no álbum, encostando-se ao sofá.
- O álbum do fotógrafo Marco – Marlene abriu o álbum, esboçando longo um sorriso.
- Oh ele foi tão querido! 
O álbum que Marco tinha feito estava todo organizado. Desde as fotografias das ecografias, até às mais recentes da barriga de Milicent quando estiveram em Itália no estágio da selecção. Havia, ainda, espaço para juntar fotografias que viessem de Marten quando nascesse.










- Miúda, tu tens de ir para o hospital!
- Até parece que és tu o pai… -
comentou Marco aquela afirmação tão preocupada de Mario.
- Não sou, mas tu és e estás aí com o rabo sentado enquanto a tua gaja está toda cheia de dores.
- Mario…eu não estou cheia de dores –
disse Milicent num tom calmo – é só de vez em quando.
- É sinal que o meu sobrinho vai nascer. Cancelem a festa, vamos todos para o hospital! E é já!
Milicent sentiu-se a congelar por dentro, não estava preparada para ir para o hospital. Não naquele dia, não naquele momento. Era suposto fazerem a festa de Mario e não irem para o hospital.
Foram todos no carro de Mario e o silêncio só era quebrado quando Milicent não conseguia controlar as dores que sentia. Ao chegarem ao hospital, Milicent entrou com a enfermeira para uma sala, deixando todos na sala de espera aguardando o que viria daí.
- Marco? – era Rose, a médica de Milicent.
- Rose, então, como é que ela está?
- Vais assistir ao parto?
- Não…eu tenho de ir para o Brasil.
- Oh seu estúpido, a médica está a perguntar-te se vais assistir ao parto hoje! O teu filho vai nascer! –
Marlene percebeu que Marco não tinha entendido a pergunta da médica e acabou por ser um pouco bruta com ele.
- A sério? Ele nasce hoje?
- Sim. A Milicent já está com a dilatação completa, vamos levá-la para a sala de partos.
- O teu puto escolheu bem o dia para nascer –
Marco deu-lhe uma palmada nas costas, acabando por se rir.
Marco foi com Rose, mas estava tão atordoado que só se lembra do momento em que chegou ao pé de Milicent.
- Rezares para ele nascer antes deu resultado!
- Mili…
- Não, Marco, não sejas querido neste momento. Eu estou cheia de dores e já não posso levar epidural por isso é bom que não te ponhas com lamechices! –
Marco riu-se, acabando por agarrar a mão de Milicent.
- Tem aí uma companheira um pouco alterada, mas é normal nestes casos.
Marco acabou por se rir e Milicent não achou piada nenhuma à situação. Por mais medo que tivesse daquele momento, ele tinha chegado. Estava a poucos minutos de ter nos braços o seu bebé, a poucos minutos de acabar com aquelas dores que pareciam consumi-la por dentro.
Marco, por outro lado, estava preparado para aquele momento. Ele ansiou aquele momento, desejou assistir ao nascimento do filho e só conseguia agradecer por ele nascer mais cedo. E pedia, também, que estivesse tudo bem com ele. Nos momentos que se seguiram, Marco pensou que Milicent iria perder as forças a qualquer momento mas, cada vez que ela voltava a fazer força, Marco enchia-se de orgulho ao ver as capacidades que ela tinha ao trazer o filho de ambos ao mundo.
Marten chorava nos braços da médica, chorava como todos os bebés faziam e parecia saudável.
- Aqui está o menino – tanto Milicent como Marco sorriram e olharam um para o outro…Milicent chorava e Marco só lhe conseguiu dar um beijo na testa.
- Eu tenho muito orgulho em ti, Mili.
- O pai quer pegar no bebé? –
Uma enfermeira aproximou-se de Marco, com Marten nos braços. Já estava embrulhado e, aos olhos de Marco, era o bebé mais lindo de todo o planeta.
Pegou em Marten como se de um objecto muito frágil se tratasse e chorou. Marco não conseguiu conter as lágrimas ao segurar no filho. Antes de o colocar no colo de Milicent, deixou-se ficar a olhar para ele sussurrando-lhe algo que não passou despercebido aos ouvidos de Milicent.
- Nada te vai acontecer, meu príncipe, e o pai ama-te tanto – deu-lhe um pequeno beijo na testa, colocando-o nos braços de Milicent.
Milicent quase não conseguiu falar, sussurrou o típico: olá bebé da mãe. Sentia-se feliz, realizada e todas as dores ou cansaço eram esquecidos naquele momento.
- O pai vai ter de sair, vamos preparar a mãe e o bebé para irem para o quarto, sim?
- Claro, claro –
Marco só teve tempo de beijar Milicent, dizer que a amava e saiu do bloco de partos.
Depois de, também ele, se arranjar foi até à sala de espera.
- Marco, está tudo bem? Estiveste lá dentro tão pouco tempo…
- O Marten estava com pressa de conhecer o pai. Tem 3 quilos e 200 gramas e 48 centímetros. Já nasceu.
- Estás a gozar? Já?
- Já, Marlene! Eles portaram-se tão bem! –
Marco abraçou Marlene, sorrindo ao olhar para Mario que também lhe sorria.
- Parabéns puto – Marco soltou Marlene, abraçando Mario também.


 
A família de Milicent e Marco já estavam no hospital e aguardavam na sala de espera pela sua vez de a voltarem a ir ver. Marco estava junto dela e Marten…tinha de se despedir deles. Tinha de regressar a Berlim e deixá-los tão poucas horas depois do nascimento do filho.
- Eu sei que tu querias assistir ao parto mas…é fácil deixar tudo aqui? – Milicent, por mais dores que tivesse naquele momento, sentia um misto de emoções a invadirem-na. Ter tido a possibilidade de partilhar o nascimento do filho com Marco deixava-a feliz e deu-lhe segurança para encarar aquele momento. Mas, agora vinha a parte pior: Marco tinha de se ir embora, Marco iria partir para Berlim e depois para o Brasil. Ia perder os dois primeiros meses de vida de Marten (se a selecção chegasse à final).
- Não – Marco tinha os seus olhos presos ao filho, segurava-o como se toda a sua vida estivesse ali – mas hoje é dos dias mais felizes da minha vida. Eu sei que agora vos vou deixar, que posso estar fora, no máximo, dois meses e vão ser dias importantes para estabelecer uma relação com o Marten. Mas… - Marco, por momentos, olhou para Milicent agarrando-lhe a mão – assistir ao nascimento dele era o que eu mais queria. E tu sabes isso. Só te peço que tenhas calma quando sentires que estás sozinha, que sorrias quando ele olhar para ti, que me mandes fotos a toda a hora. Tens as melhores mestras na arte de cuidar de bebés do teu lado – Milicent esboçou um pequeno sorriso, sabendo que Marco se referia às mães e avós de ambos – e desculpa não estar cá, não ajudar a trocar as fraldas, a dar o biberão, a acordar a meio da noite ou mesmo a brincar com ele.
- Não me peças desculpa por ires cumprir outro sonho teu – com alguma dificuldade, Milicent sentou-se na cama encostando a sua testa com a de Marco – vai custar não te ter do meu lado nos primeiros dias dele, vai custar se estiver com aquelas crises de recém mamã sem saber o que fazer, vai custar não ver esse brilho com que olhas para o Marten. Mas eu não posso ficar chateada, isso nem se coloca em causa…por isso não me podes pedir desculpa – Milicent levou a sua mão direita até à cara de Marco, limpando-lhe a lágrima que tinha escorrido naquele momento – eu só quero que te sintas um homem realizado, neste momento. Quero ser uma das responsáveis por te ter realizado, por te fazer feliz. Quero que sejas um homem ainda mais feliz do que já és.
- Fazes-me feliz, realizado e amado. Eu não poderia pedir mais, Mili.
- Mas vais ter. Vais para o Brasil, vais representar o nosso país e, se Deus quiser, serão campeões do Mundo. Eu acredito, eu tenho fé em vocês como equipa –
Milicent era o mais sincera que conseguia ser com Marco. Naquele momento era o que os dois precisavam, mas foram interrompidos por alguém a bater à porta – entre.
- Desculpem… -
era Mario. O rapaz acabou por entrar no quarto e fechar a porta – eu não queria ter de dizer estas coisas mas temos de ir embora, Marco.
- Já? –
Milicent ficou em choque por ter de se despedir já de Marco.
- Desculpa, Mi. Eu aproveito para me despedir de vocês…qualquer coisa que precises tens a Marlene em representação dos tios Götze – Milicent sorriu, sentindo o seu queixo tremer e as lágrimas começarem a escorrer-lhe pela cara – oh cunhada, não chores.
- Cala-te, deixa-me chorar. Faz bem à pele – Mario riu-se, cruzando os braços – e escusas de cruzar os braços, anda cá oh – Milicent fez sinal a Mario para se aproximar e o rapaz assim o fez. A rapariga, com alguma dificuldade, abraçou-o durante alguns segundos – Mario, eu espero que corra tudo bem. Cuida do Marco por nós, tenham os vossos momentos fofinhos mas lembra-o que eu é que sou a namorada dele – todos se riram e Milicent acabou por olhar para Mario – não me perguntes porquê, mas vai ser um bom Mundial para ti.
- Obrigada, Milicent –
Mario deu-lhe um pequeno beijo na testa, beijando, também, a testa de Marten – cuidem de vocês que eu cuido do Marco. Estou lá fora à tua espera, puto.
Mario saiu do quarto de Milicent, deixando o casal sozinho. Marco ficou alguns segundos a olhar para Marten até que, depois de lhe beijar a testa, deitou-o no berço. Foi ter com Milicent que, sentada na cama, mantinha a cabeça baixa e o olhar preso nas suas mãos.
- Mili…
- Marco… –
Milicent não o conseguia encarar, nem sabia como o fazer. Deixou a sua cabeça ir de encontro com o peito dele – deixa a camisola aqui.
- O quê?
- Marco, faz isso. Tens duas camisolas, deixa uma comigo –
Milicent olhou-o, limpando a cara.
- Só me queres é ver despido… - Milicent riu-se começando a ver Marco tirar as duas camisolas que trazia vestidas.
- Estou demasiado dorida para pensar nisso, meu amor – deixou-se ficar, por algum tempo, apenas a olhar para Marco. A camisola que esteve mais tempo em contacto com a pele de Marco, era aquela que ficava com Milicent. Marco deixou-a em cima da cama, levando as suas mãos ao pescoço da namorada.
- Prometes que não vais chorar muito?
- Prometo. O Marten não me deve dar muito tempo para isso…
- És a nossa super mamã, sabes disso?
- Vou ser apenas eu. Nada mais, se entrar em colapso as nossas mães vão ajudar.
- Eu amo-te muito, mesmo muito, Milicent –
Marco encostou a sua testa com a de Milicent, acariciando-lhe o rosto.
- E eu amo-te a ti. Mais do que alguma vez pensei ser possível. Do teu lado eu já vivi coisas inesquecíveis, o dia de hoje deixa-me a mulher mais feliz do Mundo e só te posso agradecer por isso.
- Isto custa tanto…
- Shiu…não digas isso –
Milicent não conseguia parar de chorar…era estranho deixar de ter Marco presente, sobretudo naqueles próximos dias.
Beijaram-se, sendo o último beijo deles. Sendo a última vez que os lábios um do outro estavam juntos e colados. A última vez que Milicent sentiria o coração de Marco nas suas mãos ao tocar-lhe o peito, a última vez que Marco sentiria o coração de Milicent ao tocar-lhe no pescoço.
Marco saiu, deixando o seu perfume espalhado naquele quarto. Milicent colocou-se numa posição mais confortável, pegando em Marten ao colo.
- Tu és tão parecido com ele… - passou com o seu dedo indicador na bochecha do filho, passou com o mesmo dedo ao longo do braço do menino, finalizando aquele trajecto na sua pequena mão. Marten agarrou-lhe no dedo, deixando Milicent petrificada a olhar para ele.
- Posso? – Depois de bater à porta, Marlene surgiu no quarto. Vinha com um sorriso ternurento e inspirador.
- Claro que podes – Milicent sorriu, olhando para a melhor amiga.
- Como é que estão? – Marlene juntou-se a Milicent, sentando-se na cadeira ao lado dela.
- Já com saudades do Marco…cansados mas bem.
- A tia Marlene está aqui para mimar o menino, está –
Marlene inclinou-se na cama, passando com o seu dedo na cara de Marten.
- Obrigada.
- Oh já viste, a tua mãe é doidinha.

As duas acabaram por sorrir e, por momentos, Milicent concentrou-se na conversa que queria manter com a amiga sobre o parto e tudo o que estava a sentir. Marlene estava a conseguir fazer com que Milicent se distraísse.



- O Marco? – Milicent, com alguma dificuldade, sentava-se no sofá com a ajuda da mãe e da avó.
- Querida, o Marco está no jogo como sabes.
- Liguem a televisão –
tanto Jolandi como Renae não estavam a conseguir entender aquela preocupação que viam nos olhos de Milicent – liguem a televisão, por favor. Eu acho que lhe aconteceu alguma coisa – eu só espero que isto seja um pressentimento errado. Estava com a sensação de que tinha acontecido alguma coisa com Marco, no momento em que entrou em casa sentiu que algo não estava bem.
- Onde é que têm o comando?
- Não sei, avó. Mas ligue só a televisão, talvez o comando esteja por aí –
Milicent apontou para o pequeno móvel olhando para Marten que dormia sossegado na sua alcofa. A viagem do hospital até casa não era longa mas ele tinha adormecido. Milicent sentia-se tranquila a olhar para Marten, mas o som da televisão…quebrou toda a tranquilidade.
- …poderá ser uma enorme perda para a selecção. Vamos ter de aguardar por mais informações, mas não nos parece que seja algo pequeno eram os comentadores do jogo que falavam e Milicent olhou para o televisor. Tinha sido intervalo do jogo.
Tinha a avó e a mãe especadas a olhar para ela e Milicent focou-se no televisor. Estavam a dar o resumo da primeira parte…e ela viu o pé esquerdo de Marco sofrer a entorse, viu Marco cair no chão agarrado ao pé e as lágrimas escorriam-lhe pela cara ao ver o sofrimento em que Marco estava.
- Eu não acredito…
- Mili, tem calma, filha –
Renae ajoelhou-se à frente da filha, levando as suas mãos até à cara de Milicent.
- Mãe…é o Marco. Não, não, não isto não lhe pode estar a acontecer. Ele lutou tanto para estar ali, trabalhou e desafiou-se a ele mesmo. Como é que pode acabar tudo assim? Sem ele ir para o Brasil, sem ele ter a hipótese de jogar o Mundial? Como? – Milicent estava completamente atónita. Não conseguia encontrar qualquer força dentro de si para acreditar que poderia ser algo pouco grave. O estado em que se viu que o pé de Marco estava…era grave demais para ser algo pequeno.
- Não sei que te diga, querida. Mas nós temos de ser fortes…pelo Marco. Temos de encontrar aquela força e esperança para acreditar que ele está bem.
- O que é que eu faço aqui sentada? Ele está a precisar de alguém…lá. Os pais dele ficaram comigo, as irmãs também…era suposto elas irem ter com ele amanhã, antes de ele apanhar o avião. Mãe, o Marco precisa de alguém ao pé dele!
- O Marcel está lá… -
disse Jolandi, fazendo com que Milicent pegasse, de imediato, no telemóvel. Tinha-se esquecido que Marcel tinha ido assistir ao jogo. Oh por favor, Marcel…atende!
- Estou a ir para o hospital…
- É grave, não é?
- Muito, Milicent. Eu nunca vi o Marco com tantas dores como hoje
Milicent baixou a cabeça, levando uma das suas mãos à testa. Chorava…mais do que preocupada com ele, estava triste e era como se fosse o seu sonho que tivesse acabado. Sentia-se inútil, sem lhe conseguir dizer o quanto o ama, o quanto acredita que ele vai superar tudo, o orgulho que tem nele. Sentia-se inútil por não conseguir correr na direcção dele, deixando tudo para trás. Mas tinha Marten, o filho que os dois amam, o filho que tem apenas três dias de vida, o filho que Marco segurou nos braços com o maior sorriso que Milicent alguma vez tinha visto, o filho a quem Marco sussurrou, ainda na maternidade, “nada te vai acontecer, meu príncipe, e o pai ama-te tanto.” Milicent, eu sei que custa para todos ver o sonho dele acabar…mas o Marco está vivo. Tiveram um filho lindo e eu aposto que ele vai agarrar-se a vocês para ultrapassar esta fase. Não chores.
- Vais-me informando?
- Vou, não te preocupes. Assim que souber de alguma coisa eu digo-te. Tem calma, deves estar cansada e, até, com algumas dores. Descansa com o pequenito.
- Obrigada, Marcel. Por estares aí com ele…cuida dele por nós, por favor.
- Prometo que o farei. Vá, estou a chegar. Assim que puder ligo-te. Beijinhos.
- Obrigada. Beijinhos –
Milicent desligou a chamada, olhando para Marten. Acabou por sorrir ao ver que, mesmo a dormir, o menino esboçava um pequeno sorriso.
- Vais ver que não tarda nada se saberá alguma coisa – garantiu Renae.
Milicent parecia ter entrado num mundo só dela, ao pegar em Marten. Embalava-o nos seus braços, olhando para a televisão. Por mais golos que a selecção estivesse a marcar naquele jogo, nada conseguiu arrancar uma reacção de Milicent, a não ser o som do telemóvel.
- Como é que estás? Era Marlene, estava no estádio mas Milicent percebia que estava num sítio sossegado.
- Estou à espera de alguma notícia.
- Ainda não se sabe nada?

- Não.
- Não entres em stress, tem calma.
- Só vou ficar mais calma quando o Marcel disser qualquer coisa…




Passaram duas horas sem que se soubesse nada. Marcel ia mandando mensagens a Milicent, dando-lhe informações sobre o que estavam a fazer ou onde e como é que estava Marco.
- A sério, eu aqui vou entrar em stress! – Milicent já tinha esquecido as dores que tinha e só conseguia andar de um lado para o outro.
Para além da avó e da mãe, já estavam ali, também, o seu pai e avô e os pais de Marco. Todos à espera que se soubesse alguma coisa. O som que ansiavam acabou por surgir: o telemóvel de Milicent tocava e era o nome de Marcel que aparecia no ecrã.
Tremeu por dentro…mas acabou por atender.
- Marcel…então?
- Vamos a caminho de Dortmund. Dorme, Mili…o teu Marco vai a caminho
era a voz de Marco, aquela voz que Milicent ansiava ouvir. Sentou-se no sofá, sendo observada, atentamente, por todos.
- Marco…
- Estou triste, sim Mili. Mas só quero chegar a ti e falar com calma. Mas dorme…precisas de descansar.
- Eu espero por ti…estão aqui os teus pais, os meus e os meus avós.
- Diz-lhes para irem descansar que eu só chego amanhã de manhã. Nós já estamos a meio do caminho, mas…promete-me que ficamos só nós.
- Eu prometo, Marco.
- Como é que está o nosso amor?
Com aquela pergunta, Milicent voltava a derramar algumas lágrimas, que não passaram despercebidas a Marco as hormonas ainda não voltaram ao sítio?
- Ficam todas descontroladas contigo. Mas…queres falar?
- Prefiro ver-te, abraçar-te e depois falamos. Olha…perdi o meu telemóvel, qualquer coisa liga para o Marcel.

- Está bem…façam boa viagem. Com cuidado.
- Não te preocupes, mamã boa.
- E tu fica calmo como estás, papá bom –
Milicent acabou por sorrir, desligando a chamada. Todos a olhavam, como que esperando por algo – ele pareceu-me tranquilo. Pediu que fossem todos descansar, incluindo nós dois. Eles só chegam amanhã de manhã – Milicent percebeu que todos ficaram aliviados.
- Nós podemos cá ficar contigo – disse Manuela.
- Claro…podemos estar aqui para te ajudar durante a noite.
- Prefiro que vão descansar e que estejam cá amanhã de manhã. Eu fico bem com o Marten.

Obviamente que passaram algum tempo, ainda, a discutir aquele assunto porque todos queriam ficar para ajudar Milicent. A rapariga acabou por conseguir levar a sua para a frente, ficando apenas ela e o filho à espera de Marco.
- Marten, como é que a mãe vai fazer quando o pai chegar? Vai ser complicado, bebé…ele deve vir com aquela carinha triste e nós temos de fazer alguma coisa para o amparar – Milicent embalava o filho falando com ele sobre Marco. Era uma forma de libertar os pensamentos que a invadiam, tentando encontrar uma resposta.
Quando Marten adormeceu não queria falar, tinha medo de o acordar e que ele não voltasse a adormecer tão depressa. Ia vendo as notícias, alguma coisa do que ia dando na televisão mas começava a dar em maluca.



Passaram duas horas. Duas horas onde Milicent adormecia por cinco minutos, via um programa sobre especiarias, voltava a adormecer por mais cinco minutos mas quando acordava já o programa era sobre golfinhos.
O som da porta. E Milicent surpreendeu-se consigo mesma, tinha conseguido levantar-se mais depressa que o normal e precipitou-se em direcção da porta. Foi Marcel quem viu primeiro que, depois de deixar as chaves em cima da cómoda aproximou-se de Milicent, dando-lhe um beijo na bochecha.
- Tentem dormir alguma coisa. E cuida dele, sei que o sabes fazer melhor que qualquer outra pessoa. Amanhã passo cá de manhã, ele tem de ir ao médico do Borussia.
- Obrigada, Marcel. Do fundo do coração –
Milicent abraçou-o, vendo atrás dele Marco. Era como se lhe tivessem espetado facas em todas as partes do seu corpo. Sentia-se a vacilar, prestes a chorar mas tinha jurado que não o iria fazer.
Marcel despediu-se de Milicent e Marco, saiu de casa e fechou a porta. Marco olhou, pela primeira vez, para Milicent.
- Estás cansada…não deves ter dormido nada até agora – como é que tu podes estar a pensar nisso a esta hora? Milicent aproximou-se dele, puxou-o contra o seu corpo entregando-se ao corpo de Marco. Como ele estava com muletas era ela que o abraçava, era ela que o apertava contra ela, era ela que começava a derramar as primeiras lágrimas teimosas.
- Eu prometi que não ia chorar…
- Não quero que chores, Milicent. Olha para mim, por favor –
Milicent tinha que olhar para ele, mesmo que ele não tivesse pedido – estás tão cansada.
- E tu estás aqui, Marco. Não era suposto estares aqui! Tu tinhas de ir para o Brasil, tinhas um Mundial à tua espera e um sonho para realizar. Tu não mereces, não mereces. Se eu, neste momento, me sinto um caco, um farrapo e sinto que foi o meu sonho que acabou…eu não sei como é que tu te sentes.

- Estou a sentir que temos mesmo de falar…e que preciso de me sentar.
- Claro, anda. Eu ajudo-te.
- Eu consigo. Vai só aproximar a mesa do sofá, por favor.
- Claro –
Milicent fez o que Marco lhe pediu e, depois de colocar a mesa de centro ao pé do sofá, Marco sentou-se colocando a sua perna esquerda sobre a mesa. Milicent sentou-se e foi inevitável não ficar a olhar para o gesso que Marco tinha.
- Acho que consigo ser mais giro que um pedaço de gesso – Milicent acordou daquele transe, olhando para Marco.
- Eu dizia que eras convencido…mas és mesmo mais bonito.
- E, antes de começarmos a falar de qualquer coisa, eu preciso mesmo que me beijes.

Milicent aproximou-se dele e, com toda a calma que tinha, levou as mãos dela ao pescoço de Marco deixando-se envolver num beijo onde os dois choraram. E choravam por motivos que eram parecidos e outros que nem tanto. Milicent chorava com saudade de o beijar, com tristeza de todo o azar que Marco tinha tido, chorava com vontade que aquele momento não estivesse a existir. Marco…chorava pela primeira vez desde que tinha saído do relvado. Cessou as lágrimas quando se dirigiu ao hospital e quando veio no caminho com Marcel. E agora chorava ali, ao pé de Milicent, sentido que só ela conseguiria fazer com que ele sorrisse, com que ele voltasse a sentir que estava vivo. Porque, exteriormente poderia demonstrar que estava calmo e bem, mas não. E era isso que ele precisava de dizer a Milicent.



- Eu queria muito ir para o Brasil amanhã, Mili – os dois estavam no sofá, Marco mexia no cabelo da namorada com a mão esquerda enquanto ela tinha a cabeça sobre as pernas dele e segurava a mão direita dele com as suas duas mãos. Os dois olhavam para o teto, Marco começava a falar e Milicent ouvia-o atenta – melhor do que ninguém, tu sabes o quanto eu lutei para ter um lugar na selecção. Os sacrifícios que fiz, os dias que chegava a casa com vontade de desistir de lutar. Mesmo com as pequenas lesões que tive…tu não deixaste que eu fosse abaixo, que eu desistisse por completo. Eu posso estar lesionado, não ter ido ao Mundial e sentir-me mal mas, Milicent, eu garanto-te que assim que entrei naquela porta tudo isso desapareceu – Marco olhou para Milicent que, também, focou o seu olhar no do namorado – eu não quero pensar onde é que poderia estar amanhã, daqui a dois dias ou daqui a dois meses. Eu penso que estou aqui, contigo e o nosso bebé. Em vez de dizermos que eu perdi o Mundial e que estou triste, eu quero dizer que ganhei os primeiros dias de vida do nosso filho, ao lado da mãe dele e que estou feliz. Ao pé de vocês.
- Mesmo, Marco? Tu sabes que podes ser completamente frontal comigo…
- Eu estou a sê-lo, Milicent. Não sei como serão os próximos dias, a fisioterapia ou quanto tempo é de paragem…mas quero ser feliz do vosso lado, aproveitar que estamos de férias. Olha…vou ter férias mais de um mês, pela primeira vez na vida –
Marco deu um pequeno beijo nos lábios de Milicent, deixando o seu nariz junto do dela – estás mais bonita desde que o Marten nasceu.
- És um exagerado de primeira, sabes disso?
- Então é melhor eu deixar o resto dos comentários para depois…o Marten está a dormir?
- Nem sei se quero saber esses comentários…está a dormir e nós vamos fazer o mesmo -
Milicent sentou-se no sofá, olhou para Marco que se ria – estás a rir-te do que?
- Desse cabelo todo despenteado, dessa cara de sono…
- E estou mais bonita…nota-se. Não é assim que vais lá, meu amor. Olha, o Marten está a ter uma noite maravilhosa de sono…porque é que não vamos dormir, também?

- Não queres antes…
- Marco Reus!
- Eu só ia perguntar se não querias chá!
- Ias, ias…quem não te conhecer acredita em ti –
Milicent calçou os chinelos, colocando-se em pé – vá, vamos para a cama que eu estou toda podre.
- Eu disse-te para dormires.
- Achas que conseguia? –
Milicent ajudou Marco a colocar-se de pé e, quando os dois estavam frente a frente, a rapariga levou as suas mãos até à cara do namorado – tens-me a mim e ao Marten todos os dias da tua vida, do teu lado e amparar-te sempre que for preciso. Mas também nos tens do teu lado para ajudares a mudar fraldas, dar banho e adormece-lo. Os teus bracinhos vão ganhar músculo, vais ver.
- E eu bem ando a precisas de músculo nos braços! - Marco encostou a sua testa à de Milicent, fechando os olhos – Estou a sentir o teu coração.
- Estás?
- Sim. Está a bater depressa.
- É para veres como é que eu fico contigo por perto… -
Milicent não disse mais nada, rodeou o pescoço de Marco beijando-o. Sabia que ele estava a ser positivo, que ele estava mal mas que se queria agarrar à melhor coisa que tinha surgido na vida de ambos: Marten.
- Vamos subir que eu quero ver o menino…?
- Mas é só ver, Marco. Ele está a dormir.
- Está no nosso quarto?
- Sim.
- E eu posso ficar a dormir do lado do berço? Até dá mais jeito, assim consegues dormir do meu lado mais à vontade, sem pensares no gesso.

- Ei, vamos para cima e já estudamos como é que vamos dormir.
Os dois foram até às escadas, Marco entregou uma das muletas a Milicent e, muito devagar, os dois subiam as escadas.
- Se não fosses pesado, sabes que eu te ajudava…
- Mesmo que fosse leve…tu não estás em condições que carregar comigo ao colo.
- Tens razão.
- O que é que te dói? –
Tinham feito uma pequena pausa ao chegarem ao topo das escadas para Marco se apoiar nas duas muletas.
- Demasiada coisa, Marco – o rapaz olhou para Milicent de alto a baixo, acabando por fixar-se nos olhos dela – vamos para o quarto, deitamo-nos e eu explico-te o que me dói.
- Vamos lá –
Marco passou à frente de Milicent, fazendo com que ela acabasse por ficar alguns segundos parada a olhar para ele. Tinha um Marco completamente diferente na sua frente, fragilizado, sem aquele típico sorriso que antes estava sempre nos seus lábios. Marco já tinha sorrido, Milicent já tinha visto um sorriso nos seus lábios…mas não era como antes.
Quando Marco chegou à porta do quarto foi quando Milicent se lembrou que tinha de andar até lá. Deixou-o entrar no quarto primeiro, ficando à porta a observar todos os seus movimentos. Marco dirigiu-se, de imediato, à cama. Sentou-se perto do berço de Marten debruçando-se sobre o mesmo.
- Estás mesmo a dormir… - Milicent via-o a mexer nas mãos do filho e, aquele sorriso que ela estava a imaginar, apareceu – já não vais ficar só com a mãe, já viste? Nem ela, nem eu, queríamos que eu estivesse aqui. É um facto. Mas eu estou tão feliz por te ver. Quando acordares…o pai promete que é o primeiro a pegar em ti.
- É bom que cumpras essa promessa ao menino…
- Sabes que cumpro sempre, coscuvilheira.
- Cala-te! Olha agora, olha…coscuvilheira –
Milicent abanou a cabeça, entrando no quarto. Foi até à cama, retirando todas as almofadas que a decoravam. Estava uma noite quente, não iriam precisar de lençóis para se taparem mas, mesmo assim colocou uma manta ao fundo da cama caso tenham frio – ficas desse lado, então?
- Não te importas? – Era o lado onde Milicent sempre dormia.
- Não…mas deita-te, vá – Milicent foi ter com ele, pegando nas muletas. Colocou-as ao fundo da cama, voltando para junto de Marco.
- Eu não preciso de ajuda para me deitar, Mili…
- Eu nem ia oferecer-te a minha ajuda! –
Milicent percebeu que Marco tinha dito aquilo de maneira a que ela percebesse que ele não estava dependente de ajuda. Mas, Marco também percebeu que, talvez, não tivesse dito as coisas da melhor maneira.
- Ei… - levou as suas mãos à cintura de Milicent, puxando-a um pouco para si – eu quero que me ajudes. Mas também quero que descanses…o nosso filho nasceu à três dias e tu ainda estás muito condicionada.
- Promete-me que não vais pensar que és um peso para mim, por favor.
- Eu prometo.
- É mais uma que é para cumprir, sim?
- Sim, Mili. Eu prometo que não penso nisso.
- Vais deixar-me ajudar, quando precisares?
- Vou. Por exemplo…preciso de imensa ajuda nos banhos.

- Andas um tarado de primeira, Marco! Meu Deus... – Milicent acabou por levar as suas mãos ao cabelo dele – estás mesmo a precisar de um banho, por acaso.
- A senhora enfermeira particular amanhã ajuda-me nesse aspecto?
- Ajuda, ajuda…
- Fico-lhe eternamente agradecido.
- Deita-te! –
Milicent deu-lhe um curto beijo nos lábios, acabando por dar um olhinho a Marten. Dormia serenamente, com um ar feliz. E deixava-a imensamente feliz aquele bebé. Debruçou-se sobre o berço, dando um pequeno beijo na testa do filho – nós amamos-te muito, Marten – Marco olhava para a namorada, mantendo o sorriso que tinha desde que entrara naquele quarto. Deitou-se, vendo Milicent olhá-lo com cautela enquanto dava a volta à cama para chegar ao outro lado da mesma.
- Tu estás mesmo mais bonita.
- Isso é dos teus olhos… -
deitou-se ao lado de Marco e ele tinha razão. Estava deitada sobre o lado direito dele, sem gesso a incomodar, já que Milicent gostava de dormir encostada ao namorado.
- Pode ser…mas ao menos são os olhos do teu namorado, a dizerem-te que estás mais bonita.
- Obrigada, seu romântico –
Milicent olhou-o, levou a sua mão até ao peito de Marco e deu-lhe um pequeno beijo nos lábios.
- Tens muitas dores?
- Tu queres mesmo falar das minhas dores?

- Gostava de saber o que sentes depois do parto…
- Para começar: sinto que as minhas mamas podem explodir a qualquer momento.
- Eu já tinha reparado nisso…mas depois ias acusar-me de ser tarado então não disse nada.
- Não te atrevas a tocar-lhes. Doem e não é pouco.
- Então…mas o Marten tem de comer.
- E dói, muito Marco!
- Hum…deixaram de ser propriedade só minha. Eu sei partilhar, sobretudo com ele.
- Oh meu Deus…o que é que te deram no hospital? –
Marco riu-se, levando a sua mão até à cintura de Milicent – regras do jogo: não me apertares em lado nenhum, dói-me as pernas, a barriga e todas as outras partes envolvidas no parto.
- Isso demora muito a passar?
- Depende de mulher para mulher.
- E…Milicent, eu…quer dizer, nós não podemos…
- Não, Marco. Não podemos. Estás proibido de pensar, falar ou sonhar com sexo. Se fizeres alguma coisa é sozinho.
- Quanto tempo?
- Um mês, um mês e meio…
- Certo. Há mais alguma coisa que eu deva saber?
- Preciso de perder peso.
- Olha, a sério!? Cala-te –
Marco virou-se de lado para Milicent, ficando com o seu nariz colado ao dela – estás mesmo mais bonita.
- E tu estás chato com essa do mais bonita…
- Mas é verdade. Tu estás. Tens um brilho diferente, um sorriso diferente e até beijas diferente!
- E agora vou beijar-te, dizer dorme bem e dormir, pode ser?
- Claro que pode, meu amor –
Milicent beijou-o, encostando a sua cabeça ao peito dele.
- Eu sei que não era suposto estares aqui, que estás calmo mas nessa cabeça vai muita coisa. Mas aproveita…enquanto ele é assim, pequenino, e só nosso.
- Eu amo-te mais que tudo, Milicent, sabes?
- Sei…porque eu te amo exactamente da mesma maneira. Todos os dias um bocadinho mais, meu herói –
Marco aconchegou Milicent nos seus braços, tentando embala-la para adormecer.
Custou-lhe, a ele, adormecer. Eram muitas imagens que lhe vinham à cabeça, eram demasiados cenários do futuro que lhe passavam pela cabeça. Mas, para dormir, concentrou-se no presente, em Milicent e Marten.



- Então mas ele não chegava de manhã? – Perguntava Manuela, depois de se sentar com o neto ao colo.
- Ele chegou umas horas depois de saírem daqui…ele pediu-me que ficássemos só os três.
- O que é que eu te disse, Thomas? –
Manuela olhou para o marido, que estava sentado no sofá à frente do dela – Eu conheço bem o Marco…eu sabia que ele queria ficar só contigo…sempre soube.
- Desculpem ter ocultado o facto de ele chegar durante a noite.
- Não tens de pedir desculpa de nada. Nós conhecemos o Marco –
garantiu Thomas – Ele já saiu à muito tempo? – Marco já tinha saído com Marcel para irem ao médico do clube saber mais pormenores sobre a lesão.
- À pouco mais de uma hora.
- Precisas que faça alguma coisa? Alguma comida ou assim? –
Perguntou Manuela.
- Não, deixe estar – Milicent olhou para o filho percebendo que ele estava agarrado à mão da avó.
- Sabes…não o podem habituar ao colo.
- Oh, eu sei, Manuela. Mas ele ainda é pequenino…e gosta.
- Todos eles gostam, minha querida.
- Tem de dizer isso é ao seu filho. Desde que acordou até que o Marcel chegou, andou com ele ao colo sempre.
- Vou ter de falar com ele vou. Vai habituar mal o menino e depois nem deve acordar a meio da noite.
- Da maneira como ele dorme…eu duvido mesmo que acorde –
todos se riram e Manuela acabou por entregar Marten a Milicent. Estava na hora de mamar.
Enquanto Manuela e Thomas foram até à cozinha, para darem alguma privacidade a Milicent e prepararem o almoço, Milicent deixou-se ficar quieta tentando não pensar nas dores que sentia. Ouviu a porta de casa abrir-se e só teve tempo de gritar:
- Se o Marcel vier primeiro, fecha os olhos. Estou em trajes que só o meu namorado pode ver – percebeu que os dois se riram e, alguns segundos depois, Marco chegou à sala.
- Ele fica ali no hall de entrada – sentou-se ao lado de Milicent, dando um pequeno beijo na testa de Marten que, de imediato, abriu os seus olhos – até tu deves gostar dos meus beijinhos, não é filho? – Marten, que mantinha uma das suas mãos sobre o peito de Milicent, esticou essa mesma mão como que procurando alcançar Marco. Milicent olhou para o namorado que sorria completamente embevecido – Eu não quero ser de intrigas…mas eu acho que ele já me reconhece.
- És pai dele…deste-lhe o primeiro colinho e as horas que passaste com ele hoje de manhã ao colo, já o fez ligar-se a ti. Oh e ele conhece-te à nove meses – Marco olhou para Milicent, dando o seu dedo a Marten para que o menino o segurasse. Milicent capturou aquele momento com o seu telemóvel para, de seguida, beijar Marco. Sentia necessidade daqueles beijos a toda a hora. Isso era um facto desde o inicio da relação dos dois. Milicent colocou Marten no colo de Marco para que este fizesse com que o menino soltasse o arroto habitual nos bebés.
Milicent compôs-se, encostando a sua cabeça ao ombro de Marco.
- Marcel, já podes! – Disse Milicent vendo, pouco depois, Marcel a entrar na sala.
- Bom dia – Marcel aproximou-se de Milicent, dando-lhe dois beijos – como é que tu estás?
- Estou bem…o pós parto é difícil mas ele está aqui.
- Estão aí os três –
Marcel sentou-se no sofá à frente de Milicent, olhando para ela – eu preciso de te pedir desculpa.
- Vá sejam lá fofinhos que nós ouvimos –
disse Marco ajeitando Marten no seu colo.
- Tinhas mesmo de quebrar o meu discurso… - Marcel riu-se, olhando para Milicent – eu julguei-te, sei que te ofendi quando não o devia ter feito. Ontem, quando cheguei ao pé do Marco, a primeira coisa que ele me perguntou foi se vocês já estavam em casa. E quando me ligaste, eu senti a tua aflição. Tenho vindo a perceber que estava completamente errado a teu respeito e à vossa relação. Quero pedir-te desculpa e dizer-vos, aos dois, que têm um filho lindo. E é mais parecido com o Marco, desculpa dizê-lo Milicent.
- Tens razão…assim vê-se logo que foi buscar a maior parte dos genes ao pai. E, Marcel, o passado está lá atrás. O Marten tem, como tias, a Yvonne, a Melanie e a Mary Alice. E, como tios, tem o Mario, o Robin e tem-te a ti.
- Obrigado. A sério, Milicent.
- Não me agradeças.
- Mãe, já podes vir! –
Marco falou um pouco mais alto, assustando Milicent.
- Marco, que susto.
- Desculpa, boneca. Mas a minha mãe está ali atrás da porta –
Marco apontou para a porta da cozinha e Milicent olhou para lá. Como a porta tinha um vidro, dava para ver a silhueta de Manuela. Milicent riu-se e, pouco depois, já estavam os pais de Marco na sala.



- Podíamos deixar a porta aberta hoje… - comentou Marco quando Milicent se levantou. Milicent sabia que era Marlene, trocava mensagens com ela e a última que tinha recebido era a avisar que estava ao virar da esquina.
Foi abrir a porta, confirmando que era a melhor amiga. Milicent abraçou-a, reparando que ela vinha um pouco carregada. Marlene entrou e, antes de Milicent chegar à sala, já Marco fazia a pergunta que Milicent tinha na cabeça:
- Vais mudar-te cá para casa, cunhada?
- Não, meu querido, a tua Milicent que te ature –
Milicent chegou à sala, vendo Marlene a cumprimentar Marco, espreitou Marten na alcofa e sentou-se no sofá à frente de Marco. Milicent sentou-se ao lado do namorado, vendo a melhor amiga a retirar do saco diversas coisas – trouxe-vos chocolates, já que não podem fazer outras coisas; trouxe as pomadas que a Mi pediu; o Mario mandou comprimidos para as possíveis dores que o Marco possa ter. Trouxe o computador – Marlene colocou-o em cima das suas ligando-o – o Mario quer falar com vocês.
- Ele deve estar no avião… -
constatou Marco.
- Há internet no avião, além do mais ele está desesperado por falar com vocês – Marlene ficou algum tempo a colocar tudo em ordem até que conseguiu ligar o Skype e a chamada com Mario iniciou-se.
- Já estás na casa deles!
- Olá para ti também!
- Olá meu amor, já morro de saudades tuas. Sabes o que é que podíamos fazer via Skype?
- Atenção ao que vais dizer, Mario Götze, há menores presentes –
alertou Milicent. Marlene levantou-se com o computador na mão, pedindo a Milicent que se afastasse. Sentou-se no meio deles dois, que viram Mario – ficas ainda mais feio assim, Mario.
- Não insultes o meu namorado!
- Isso mesmo, defende aí o Mario, meu amor
todos se riram e, tanto Milicent como Marlene perceberam que Mario olhava para Marco.
- Vocês precisam de um momento a sós…ou estamos bem aqui? – Perguntou Marlene.
- É claro que estão bem aí. Vá, puto eu sei que deve estar a ser uma valente…porcaria, para não dizer outra palavra feia. Mas é bom ver-te aí a rir, ao lado dessas duas malucas. E há-de haver por aí um bebé que tem de começar a reconhecer o tio Mario… - Milicent levantou-se, indo buscar Marten à sua alcofa.
- Mario, o Mundial vai ser importante. Tu fica concentrado, foca-te nos teus objectivos e no que queres fazer. Não ligues ao que dizem e…aproveita-o. É o teu primeiro Mundial.
- Eu vou jogar por nós, puto. Acredita que estarei a representar-te.
- Eu acredito. Sabes que tens capacidades para fazer deste Mundial algo grande, Mario. Eu não estou aí, já não tens tanta concorrência.
- Olha, preferia ter a tua concorrência do que não te ter cá. E, agora tenho de vir aqui no avião com o Neuer e ele está a ressonar.
- Temos pena, puto. Mas olha, mantêm-te concentrado, Mario.
- Vais ser o meu treinador ou motivador pessoal?
- Se for preciso…quero mesmo que tenhas um Mundial de mão cheia.
- Vou fazer por isso, por mim, por ti e por todos nós.
- Tu nem um golo vais marcar! –
Atirou Milicent, sentando-se ao lado de Marlene com Marten nos braços.
- Como é que duas coisas tão feias fizeram um bebé tão bonito? Todos ficaram a olhar para o ecrã, reparando que Mario estava com o seu olhar preso na imagem de Marten.
- É melhor pedires um babete às hospedeiras, Mario… - comentou Marco.
- Têm um filho mesmo bonito…é parecido com a Mi e foi feito em minha casa!
- Obrigada, és o primeiro a dizer que ele é parecido comigo!
- Estava a brincar cunhada, o puto é a cara chapada do Marco. -
Milicent encolheu os ombros tapando a câmara do computador oh sua feia, deixa-me lá ver-vos.
- Olha aí, puto, ela ainda tem as hormonas todas descontroladas – disse Marco, depois de Milicent destapar a câmara.
- E aposto que tu as queres pôr no sitio…
- Ela tem dores.
- Quando tempo é que isso demora a voltar ao activo?
- Para aí um mês, um mês e meio –
respondeu Marlene – já te queres preparar, é?
- Dá jeito saber essas coisas.
- É bom que façam bebés, assim o Marten tem com quem brincar –
disse Milicent.
- Mas eu não quero que as minhas filhas namorem. Por isso não pensem em juntar meninas com meninos.
- As hospedeiras são giras, Mario? –
Perguntou Marlene.
- São. Quer dizer, não! Eu nem olhei para elas. Que raio de pergunta foi essa agora?
- Cheira-me que a Marlene te estava a testar e tu…falaste o que sentias –
constatou Milicent.
- Oh meu amor, tu sabes que eu só olho para ti com olhos de homem. Eu já as vi passar por aqui mas nem sei se são loiras, morenas, ruivas ou com cabelo as riscas.
- Dá graxa, dá.
- Ainda me amas?
- Ei, puto, como isso está! Estás assim com tanto medo de a perder?
- Até parece que quando dizes porcaria também não tentas remediar a situação!

- Tenta, eu confirmo! – Todos se riram e ficaram mais algum tempo à conversa.



- Fizeste uma ferida muito grande, Marco? – Perguntava Mary Alice, sentada nas pernas de Marco.
- Fiz. É complicado de explicar, mas foi uma ferida muito grande.
- Mas, olha, assim vais estar ao pé do teu bebezinho, a cuidar da mana. E a mana também vai cuidar de ti. Até podem fazer outro bebezinho.
- Mary Alice…chega um por agora –
Marco estava sozinho com Mary Alice e Marten na sala. Tanto Milicent como os pais dela estavam a preparar o jantar.
- Ele é super fofinho, não é? – Mary Alice olhou para Marten, que estava deitado em cima do sofá.
- É. E dizem que é parecido comigo, é?
- Também. Mas também é parecido com a Mili. Eu acho que a boquinha dele é igual à da mana.
- Tu queres pegar nele?
- Posso?
- Claro que podes. Tens é de te sentar aqui do meu lado –
Mary Alice sentou-se ao lado de Marco que pegou em Marten ao colo. Ajeitou-se no sofá, colocando o filho nos braços de Mary Alice – tens de lhe segurar na cabeça com cuidado.
- Ele é tão queridinho. É mesmo um bebé a sério! Oh eu estou tão feliz! É um dia muito feliz para mim. –
Marco sentiu-se pequeno naquele momento, beijou a cabeça de Mary Alice, passando com a sua mão pelos finos cabelos louros da menina.
- Acredita que também é para mim, Mary.


- Achas mesmo que ele está bem? – Perguntava Renae à filha na cozinha. Milicent estava sentada, enquanto a mãe mexia o caldo da sopa e Hinrich colocava alguma comida no frigorífico.
- Ele parece estar bem, vocês vêm isso. É claro que tem dois longos meses de recuperação pela frente e eu tenho noção que nem sempre será fácil. Mas estamos os três juntos.
- O Marten é lindo, filha. E é… 
- A cara chapada do Marco, eu sei – as duas riram-se e Milicent aproveitou o momento para publicar a imagem daquela tarde nas redes sociais.
 
 
Estamos vivos, juntos e bem, dentro de todos os possíveis. Sou uma mulher completa.
 

- Mili! – a voz de Marco sobressaltou Milicent. Parecia que ele estava aflito e assustado. Milicent só conseguiu largar o telemóvel indo o mais depressa possível para a sala.
- O que é que se passa?
- Ele está a sorrir! –
Milicent suspirou de alívio, vendo Marco deliciado com o momento. O menino estava nos braços de Mary Alice e esboçava um sorriso a dormir.
- Tu queres matar-me do coração? – Marco olhou para a namorada, vendo que ela estava realmente assustada.
- Desculpa, acho que me entusiasmei. Mas ele sorri a dormir.
- Tu fazes a mesma coisa. Devem ter os dois os mesmos sonhos.
- Não convém, Mili…ele ainda é novo demais para essas coisas.
- Marco! –
Milicent repreendeu-o, acabando por ir ter com ele. Sentou-se em cima da perna que não tinha gesso, dando-lhe um beijo.
- Vocês são papás, têm de fazer isso depois. Acho que o Marten fez cocó – Milicent encostou a sua testa à de Marco…ainda à pouco tempo fui lá acima.
- Anda – Renae apareceu na sala, pegando em Marten ao colo – vamos deixar a Mili descansar um bocadinho. Ajudas-me, Mary?
- Sim!
- Obrigada, mãe.
- De nada, filha –
Renae foi, com Mary Alice e Marten, até ao andar de cima, deixando Marco e Milicent sozinhos.
O rapaz rodeou a cintura da namorada com os braços, dando-lhe um curto beijo nos lábios.
- Como a Mary disse: é um dia muito feliz, Mili.
- Ela disse-te isso?
- Disse. Quando pegou no Marten.
- Aquela menina…
- É especial. Muito –
Marco acabou por apertar um pouco mais Milicent, que se queixou com dores – desculpa, meu amor. Desculpa.
- Não tem mal. Estas mamas, meu Deus…
- Estão bem…apresentáveis.
- És tão tarado!

Marco levou as suas mãos ao pescoço de Milicent deixando-se envolver num beijo calmo, sem pressas de terminar e com imenso amor à mistura. Era um beijo realmente apaixonado. 
- A minha vida recomeçou hoje, Mili.
 
 
Olá meninas!
Muito grande? Uma valente seca? Interessante? O que acharam? Gostava muito de saber as vossas opiniões a este capitulo. Foi escrito à já algum tempo (com esta fic consigo ter capitulos de reserva para publicar a qualquer dia) mas foi escrito com as emoções um pouco à flor da pele.
Por isso, espero mesmo que tenham gostado.
Beijinhos
Ana Patrícia