sábado, 15 de março de 2014

6º Capitulo: “És o rapazinho da minha neta...”

A primeira noite em Berlim tinha sido um sacrifício para Milicent. A cama não era a sua, a casa era estranha, não era aquela onde tinha crescido, onde tinha todas as suas memórias. Não tinha conseguido adormecer até às quatro da manhã e, só depois de ir beber uma caneca de leite quente, é que o conseguiu fazer.
Tinha mandado uma sms a Marco, avisando-o de que tinha algo para ele naquela casa. O jovem rapaz, nesse mesmo instante foi para a sua casa esperando encontrar Milicent. O silêncio na casa era estranho, não havia sinais da presença de Milicent naquela casa. Chamou por ela, mas não teve nenhuma resposta. Foi até ao quarto, onde encontrou o pequeno envelope em cima da almofada dela.
Marco sentiu que algo não estava certo...que, o que quer que fosse que ali estivesse escrito, não era nada do que esperava. Aquilo que ela tinha escrito ali, seria o futuro dos dois...Marco tinha essa noção. Abriu o envelope, retirando de lá a folha onde a letra de Milicent estava escrita. Abriu-a e começou a ler:

«Bem...primeiro é importante dizer-te olá. Por isso: olá meu loiraço lindo. És tão lindo Marco...mesmo, mesmo lindo. Ah! Queria tanto que tudo o que te vou dizer não tivesse de ser dito...queria apenas ficar nos teus braços por mais noites, ser tua, tu seres meu e sermos um nós que nem sabia que já existia. Já viste o que me fazes dizer? A culpa é toda tua que me deixas descompensada. Vá...mas isto é a sério, já chega das minhas parvoíces.
Quando estiveres a ler isto, o mais provável é que eu já tenha chegado ao meu destino...Marco, deixei Dortmund com os meus pais. O meu pai precisa de receber um tratamento de oxigenação ao cérebro que só pode ser feito em Berlim. E eu vou com eles..para a capital. Durante os seis meses do tratamento. Durante seis meses sem estar em Dortmund, seis meses em que abdico de tudo da minha vida para ter a oportunidade de estar com os meus pais, enquanto uma família.
Fizeste-me tão bem nestes dias...mesmo, mesmo bem. Acho que nunca estive à espera que um rapaz, depois do meu ex-namorado, me fizesse sentir tão feliz como tu me fizeste sentir. E fazes...porque apesar de estar a 4h30 de distância, eu sei de uma coisa: é impossível esquecer-te (em tão pouco tempo, Marco...tu em tão pouco tempo foste perfeito para mim). Sei da promessa que fizemos...mas cumpri-la não será para mim, porque já estou completamente apaixonada por ti.
Deste-me, de novo, a vontade de amar, de ter um namorado, de pensar num futuro a dois...mas tenho completa noção de que contigo não será. A tua vida como casal começou agora com a Carolin, vocês merecem ser felizes e tu, principalmente tu, mereces ser feliz. Tenho a certeza que ao olhares as fotos e ao recordares o dia do teu casamento vais perceber que ela é a tua mulher e que os dois serão muito felizes a partir de agora.
Vou estar seis meses fora...vou tentar ligar-me aos meus pais e viver uma vida com eles. Criar uma rotina com eles, começar a falar mais com os meus pais...creio que será bom para nós os três...mas mau para nós os dois. Nós os dois...eu e tu Marco...era tão bom que fosses mesmo meu.
Obrigada por estes dois dias maravilhosos do teu lado, obrigada por me fazeres sentir amada, por me fazeres sentir desejada, por me tratares como uma princesa, por, acima de tudo, teres sido sempre verdadeiro comigo. Marco...não vou mentir, isto custa...já imaginava os meus dias ansiando estar do teu lado, sentir o teu cheiro, o teu toque, o teu calor.
Vou sentir tanto, mas tanto a tua falta. Mas, segue com a tua vida, assim como eu o tentarei fazer. Sê feliz com a Carolin, faz dela a mulher mais feliz do mundo e que ela faça de ti o homem mais feliz do mundo. Tu és lindo Marco, por dentro e por fora. És o homem mais completo que existe. A tua felicidade é o mais importante.

Gosto muito de ti, meu Marquinho. Desejo-te tudo de bom.

Um beijo super bom para ti.
A tua Mili.»

A cabeça de Marco, depois de ler aquela carta, deu uma volta de 180º. De uma hora para a outra, tinha “perdido” a sua...a sua Mili. Tinha perdido aquela rapariga que lhe dava pica, vontade de estar comprometido não com a mulher com quem casou, mas com ela. Marco...sentia agora um vazio dentro de si.
Pegou, muito depressa, no seu telemóvel iniciando uma chamada para Milicent. Chamou, chamou, chamou, mas ela não atendeu. E Marco não pensou duas vezes, saiu daquela casa em direcção à casa dos avós de Milicent. Assim que chegou à porta de casa dos avós dela, questionou se estaria a fazer o correcto ou não...afinal iria estar a meter-se na vida de Milicent. E não sabia se ela iria gostar ou não. Mas saiu do carro e tocou à campainha. 
Pouco tempo depois, uma senhora com os seus 60 e poucos anos abriu-lhe a porta. Era a avó de Milicent...eram parecidas. 
- Boa noite... - a senhora não sabia que Marco era um jogador de futebol. Nunca ligou muito a isso e por isso não achou estranho ali a presença daquele rapaz. 
- Boa noite. Peço desculpa estar a incomodar a estas horas...é a avó da Milicent?
- Sou sim...
- Eu já sei que a senhora sabe que eu e a sua neta...bom que eu e a sua neta estamos, ou estávamos envolvidos. 
- És o rapazinho da minha neta...entra – Jolandi afastou-se da porta e Marco entrou, olhando para Abelard que o reconheceu imediatamente. 
- O que é que faz, na minha casa, uma pessoa como Marco Reus? - Abelard levantou-se indo ter com Marco. Os dois apertaram as mãos e Jolandi aproximou-se deles. 
- Conheces o rapaz, Abelard?
- Ele joga no Borussia, mulher! 
- Daí ser conhecido...a Milicent tinha razão. 
- Mas a Milicent conhece-o? - Abelard ainda não sabia de nada. 
- Eu e a sua neta...nós temos estado juntos. 
- Mas tu não casaste à um dia?
- Abelard, deixa os rapazes serem livres. A Milicent sabe perfeitamente o que é que anda a fazer – Jolandi agarrou o braço de Marco e levou-o a sentar-se no sofá – diz-me, vieste cá por causa do que está a acontecer?
- Sim...ela deixou-me uma carta...e eu não percebi. 
Jolandi acabou por contar a história toda a Marco, bem como contar ao seu marido o que se andava a passar entre eles os dois. 
- Não consigo compreender o que vocês têm! A Milicent não era assim! E tu, meu rapaz? Andas a enganar a tua esposa? - Abelard estava surpreendido por tudo o que ouvia e não conseguia aceitar as coisas como Jolandi tinha aceite. 
- Senhor Abelard...a sua neta fez-me questionar tudo. Eu estive a um passo de não casar, eu queria ter ficado com ela, eu queria que as coisas com a Carolin não existissem mais...eu estou a apaixonar-me pela pessoa que a Mili é.
- Tu...chamas-lhe Mili? - perguntou Jolandi. 
- Sim...sei que só os pais o faziam...mas ela não se importou que eu o fizesse. 
- Abelard... - Jolandi olhou para o marido – vai buscar o papel com a morada da menina. 
- Para que? 
- Se ele não puder lá ir já, ao menos fica a saber onde é que está a nossa menina – Jolandi olhou para Marco, agarrando-lhe na mão – fica sabendo que poderás sempre contar comigo. E o meu marido irá acabar por aceitar tudo. Quer vocês fiquem juntos, ou não. 
- Muito obrigado, obrigado mesmo.

Em Berlim as coisas estavam estranhas. 
No seu primeiro dia na cidade, Milicent estava sozinha. Os pais tinham ido tratar do processo do tratamento de Hinrich e ela tinha ficado em casa sozinha. Desde que tinha acordado, que tinha recebido chamadas de Marco. E, com isso, Milicent sabia que ele já tinha lido a carta. Mas...atender à chamada iria fazer com que ela chorasse e se sentisse ainda pior do que já estava. 

2 dias depois: 

- Milicent, filha, tens correio – Renae, a sua mãe, entrou no quarto da jovem, deixando-lhe uma carta em cima da secretária. 
- Correio?
- Sim...é de um rapaz de Dortmund. 
- Um...rapaz?
- Sim, Mili...queres alguma coisa especial para o jantar?
- Não, qualquer coisa está perfeito, mãe.
- Então vou começar a fazer. Daqui a nada chamo-te. 
- Está bem – Renae saiu do quarto da filha e Milicent levantou-se da cama, indo até à secretária. No remetente...a confirmação às suas dúvidas surgiu “De: Marco Reus”.
Milicent pegou na carta e sentou-se na cama outra vez. Sentiu aquele cheiro...parecia que aquele pedaço de papel cheirava a ele. Ou estaria louca? Abriu o envelope e começou a ler o que vinha escrito no papel que lá estava dentro.

«Depois de não teres atendido as chamadas, nem responder às mensagens...achei outra forma de saberes o que te quero dizer. Talvez as coisas não vão ficar mal...talvez vão ficar muito bem.
Não estava nada à espera que saísses de Dortmund...muito menos que saísses da minha vida assim...do nada. Milicent, não me deixes. Será pedir muito? Tu foste como que...uma bomba de oxigénio que me veio preencher nestes últimos tempos. Vês? Não és a única a ficar descompensada com isto tudo. Eu penso em ti a todo o momento, estando ou não com a Carolin. Ai! Porque é que ela existe? Porque é que eu me casei?
Eu podia, simplesmente, ter dito que não e cancelar aquilo tudo. E agora era todo teu e tu toda minha. Seríamos nós, como um casal. Estaria a conhecer-te como minha menina. Eu quero-te sim? Mais do que querer que estejas aqui em Dortmund, quero que sejas parte de mim, que sejas a minha parte mais preciosa, a jóia mais preciosa do meu ser.
Dúvido, mas dúvido mesmo, que fique muito tempo casado. Eu não sou feliz ao lado dela, não consigo sê-lo enquanto penso em ti. Conheci os teus avós...foram eles que me deram a tua morada. Basta pô-la no GPS e vou ter contigo. Estamos os dois de férias, acho que não iria dar nas vistas.
Sei que é errado estar casado com uma pessoa e andar a traí-la com outras...mas Mili, eu estou a ficar tão apanhado por ti. Tu és tão perfeita, tão bonita, tão esperta, tão calma e selvagem ao mesmo tempo. Esse teu ar latino...mexeu comigo (e ainda me tens de explicar...são poucas as morenas na Alemanha). Queria que estivesses aqui, que adormecesses comigo de vez em quando, que acordasses comigo, que fosses minha todas as noites que quiséssemos.
Será possível que eu esteja completamente cheio de saudades tuas? Ai Milicent eu quero-te tanto! Se, depois de leres a carta não me ligares...eu desisto de nós sabes? Isso será o sinal de que tu não queres estar comigo e eu desisto. Mas...espero bem que ligues. Porque a tua carta só me fez acreditar que ainda será a minha Sra. Reus.

Gosto muito de ti minha Mili.
Um beijo daqueles nossos.
O teu Marco.»

Milicent estava com aquela saudade. Com aquela carta...havia tudo. A confirmação de que não era só no coração de Milicent que havia aquele “amor”. A confirmação de que algo entre os dois era maior do que uma simples atracção.
Pegou no seu telemóvel e iniciou a chamada. Milicent não podia deixar Marco desistir deles...porque ela não o queria fazer. Do outro lado da linha ouvia o barulho irritante de que estava a chamar...estava prestes a pressionar o botão para desligar a chamada quando Marco atendeu.
- Já leste a carta... - ouvir aquela voz doía...machucava o coração de Milicent e deixava-a cheia de vontade de ir ter com ele, como se ele estivesse ali ao virar da esquina.
- Li...
- Mili... -
Marco sentia o mesmo...sentia que queria estar com ela.
- Marco...porque é que foste falar com os meus avós?
- Eu precisava de saber de ti...Milicent, tu não atendias as minhas chamadas, não respondeste a nenhuma mensagem...isso fazia com que eu pensasse que não me quisesses mais na tua vida mesmo.
- Marco eu não te quero na minha vida –
Milicent mentia...mas teria de ser assim, não podia esperar que Marco ficasse na sua vida.
- Foi por isso que ligaste? Eu dúvido, Mili.
- Mas duvidas porque?
- Por causa da tua carta...por causa da minha. Se me estás a ligar é porque não queres desistir.
- Mas como é que...Marco! É impossível mantermos algo. Como é que isso é possível? Não é! Não vais simplesmente deixar a Carolin quatro dias depois de casarem.
- Quem te disse que já não o fiz?
- Hã? Marco o que é que fizeste?
- Saí de casa...estou a caminho de Berlim.
- O que?
- Milicent, assim que ligaste eu saí de casa. Meti a tua morada no GPS e estou a caminho daí. Porra eu quero-te para mim, será que não entendes? Eu começo a...Mili eu começo a...ai eu acho que comecei a amar-te. Eu vou aí ter contigo, nem que seja para te ver ao longe. Mas...não me mintas: queres que eu seja parte da tua vida?
- Achei que não precisavas de perguntar...
- Isso é o meu sim?
- Se...vens para cá...logo saberás se é ou não.
- Quatro horas e meia...fica atenta.
- Ficarei. Tem cuidado Marco.
- Eu tenho.

5 horas depois:

«Acho que estou no sítio certo...toco à campainha?»

Milicent apressou-se a ir até à janela e viu o carro de Marco à porta do prédio. Vestiu o seu casaco e saiu de casa, descendo as escadas (não estava para esperar pelo elevador). Chegou à rua e percebeu que estava frio...eram quase duas da manhã. Foi até ao carro de Marco, abriu a porta e entrou.
De novo, aquele perfume de Marco preencheu-a. Os dois olharam-se e, nos lábios de ambos, um sorriso formou-se. Um sorriso genuíno, um pouco envergonhado, tímido, mas um sorriso feliz, por estarem ali os dois.
- Tu és doido.
- Por ti, chega-te?
- Isto não está nada bem, Marco. Eu estou aqui, em Berlim, tu em Dortmund, casado. Não devíamos estar a querer estar um com o outro.
- Eu sei...mas tem sido tão difícil não estar contigo.
- Se tem...
- Tenho dormido na nossa casa.
- E a Carolin?
- Eu...expliquei-lhe tudo.
- Tu o que!? -
Milicent estava super surpreendida com tudo aquilo. Estava completamente apanhada desprevenida e sem saber o que pensar.
- Eu...contei-lhe que estava a encontrar-me com outra pessoa. E que essa pessoa me fazia mais feliz que ela. Eu sei que fui muito directo com ela e que a magoei...mas eu não queria continuar a mentir-lhe. Assim acabou. Vamos avançar com o divórcio...eu não queria que a minha história com ela acabasse assim, mas prefiro isso se significar que começo a minha contigo.
- Marco...
- Fiz mal?
- Eu não estava à espera. Só isso. É que...mesmo que a nossa coisa comece...eu estou aqui. Não vou estar lá, contigo.
- Tenho uma proposta para ti.
- Proposta?
- Sim...uma proposta e um pacto. A proposta é para o nosso próximo mês, o pacto para os próximos seis meses.
- Fiquei baralhada.
- Eu passo a explicar...

segunda-feira, 3 de março de 2014

5º Capitulo: “(...) qual é a probabilidade de sofreres como da última vez?”

Marco e Mario estavam sem saber o que dizer. “O que é que deu a este caramelo para tratar a Mili por cunhada!? Agora deveria ser ele a explicar tudo à Carolin” - Marco pensava, pensava e pensava. Não sabia o que dizer à mulher com quem tinha casado.
- Estavamos sim, mas já acabou a conversa.
- E será que os meninos podem juntar-se ao resto dos convidados? Está tudo a perguntar por vocês.
- Claro, vamos – quem respondeu foi Marco que, sorriu por não ter de explicar muito mais do que ali se tinha passado.
Marco tinha a certeza que Carolin estava feliz. O dia que eles planearam para ser o dia do casamento de ambos, tinha corrido como o planeado. Tinha corrido tudo como o planeado e Marco via a felicidade estampada no rosto de Carolin. Marco queria estar feliz também...mas o significado do casamento dele não era igual ao de Carolin. A cabeça dele só pensava em Milicent e aí, ao recordá-la sorrir, ao recordar o cheiro dela, os seus olhos, o toque e cada beijo, a felicidade entra em Marco.
Mas teria de parecer, minimamente feliz para que Carolin não se apercebesse das coisas. Porque, como Milicent lhe disse, este caso que está a ter com ela pode ser apenas uma tentativa de fugir à rotina, uma maneira de quebrar a monotonia da sua vida com a sua, agora, mulher.
Por outro lado, Milicent estava feliz. Há muito que um rapaz não a fazia sentir feliz, que um sorriso não se formava nos seus lábios por causa de um toque, de um beijo, de um sorriso de um rapaz. E Marco fazia-lhe isso. Marco deixava-a feliz como se o conhecesse à demasiado tempo para serem os melhores amigos.
Milicent, mesmo sabendo que não se podia apaixonar por Marco, já estava, de certa forma, apaixonada por ele. Porque Marco a tinha cativado a partir do momento em que a tocou, a partir do momento em que a olhou.
Ter ficado na casa que os iria acolher quantas vezes quisessem estar um com o outro, fez-lhe bem. Fez Milicent pensar o que seria a sua vida, caso viesse a ter uma relação mais séria com um rapaz, ao ponto de viverem juntos. “Um dia quem sabe...” um dia...porque Milicent não acreditava no amor até à pouco tempo, e quando passou a acreditar esse amor acabou por a desiludir.
Mas, a vontade de querer estar com Marco, era mais alta. Falar com ele, no momento em que ele estava no casamento, ao mesmo tempo que ela colocava alguma comida que desse para longo prazo foi um sinal. Pelo menos na cabeça de Milicent. Enlatados, leite, alguns congelados, tudo o que não se estragasse, Milicent acabou por deixar um pouco por ali. Assim, quando voltassem a estar juntos (Milicent esperava que isso acontecesse), teriam comida. Algo que os alimentasse.
Na noite de Domingo teve de ir trabalhar...mas a sua cabeça andava tão distraída com Marco que nem deu pelo tempo passar. Era perto das cinco da manhã quando saiu da discoteca com Marlene, a sua melhor amiga, a sua melhor confidente, a irmã que nunca teve.
- Preciso de te contar uma coisa... - Milicent ainda não tinha dito nada à sua melhor amiga. Estavam juntas pela primeira vez desde que tudo aconteceu com Marco.
- Que se passa Mi? - as duas caminhavam pelo passeio, de braço dado.
- Eu...olha eu nem sei como dizer estas coisas.
- Diz-me Mi...sabes perfeitamente que me podes contar tudo.
- Sim. Mas podes zangar-te comigo.
- Eu? Zangar-me contigo? - Marlene deu um ligeiro encontrão em Milicent e as duas riram-se – Vá conta-me lá.
- Eu ando a sair com uma pessoa...
- Andas? - Marlene ficara bastante surpreendida. Poderia esperar tudo de Milicent mas, andar com uma pessoa neste momento, não era aquilo que pensava que iria ouvir.
- Ando...
- É da faculdade?
- Não!
- Da discoteca?
- Não...
- Então?
- Ele...bem, na verdade, nós só estivemos juntos esta noite...
- Calma! Tu estiveste com ele...à noite? - Marlene parou de andar, virando Milicent para ela e as duas ficaram de frente uma para a outra.
- Sim...
- Mas estiveram a fazer o que?
- Olha...a brincar aos médicos! Desculpa...estivemos juntos.
- Custa-me acreditar...
- Mare... - Mare era a forma como Milicent tratava a sua melhor amiga. A jovem aproximou-se da amiga, colocando as suas mãos nos braços de Marlene – é verdade...e...ele faz-me sentir tão bem! - aquele sorriso, ao lembrar de Marco, voltava aos lábios de Milicent. Aquele brilho no olhar, voltavam aos seus olhos e começava a sentir saudades dele.
- Tu estás apaixonada!! - Marlene conhecia Milicent como a palma das suas mãos. Contavam tudo uma à outra e, quando precisavam de falar coisas que nem a avó de Milicent, nem a mãe de Marlene poderiam ajudar, recorriam uma à outra.
- Não. Apaixonada não estou...mas ele faz-me bem.
- E quem é o rapaz?
- Se eu te contar...tu não vais acreditar.
- Experimenta...ou não queres dizer?
- Quero...mas essa é a parte que não podes ficar chateada comigo.
- Eu não fico.
- Prometes? - Milicent levantou a sua mão, colocando o dedo mindinho junto de Marlene.
- Prometo – Marlene juntou o seu dedo ao de Milicent e as duas sorriram.
- Bom...ai.
- Ai?
- Tu vais ficar chocada.
- Ai! Olha diz de uma vez!
- Marco Reus – Milicent disse de uma forma tão rápida que, por momento, pensou que não tivesse dado tempo a Marlene de ouvir aquilo que tinha acabado de dizer...mas pela cara da sua amiga, esta tinha ouvido perfeitamente aquilo que tinha dito.
Marlene não sabia o que dizer, nem o que pensar. E Milicent ansiava por alguma reacção da sua melhor amiga, nem que fosse um “puxão de orelhas”.
- Vais...dizer alguma coisa? - Perguntou Milicent num tom de voz mais baixo do que o seu natural.
- Eu...ai...repete lá.
- Eu...passei a noite com o Marco Reus...do Dortmund. O jogador da bola.
- Mas...calma, ele casou este domingo, ainda à poucas horas. Tu estiveste com um homem casado?
- Tecnicamente ele não estava casado na altura...
- Mesmo assim, Milicent! - Quando Marlene tratava Milicent pelo seu nome é porque viria aí discurso de amiga muito protectora – Eu não sou ninguém para te dizer o que deves ou não fazer...mas não estás a ir por um caminho que não é o correcto?
- Mare...eu sei. Eu sei que é errado, que não devia, mas a vontade de estar com ele é tanta! E aumenta cada vez que penso nele. O Marco é um rapaz, não ele é um homem tão bom. Ele não é daqueles que se diz que anda com todas... - Marlene olhava para Milicent com um olhar duvidoso – Vá...Mare...ele só está com a mulher e comigo. Antes da Carolin ele só tinha tido três namoradas.
- Mi...o Marco?
- Estás desiludida? Chateada? Queres que eu acabe isto?
- Calma... - Marlene pousou as suas mãos nos braços de Milicent, sorrindo-lhe – eu só quero fazer-te duas perguntas.
- Força.
- Primeira: quanto tempo é que isso vai durar?
- Não sei...nós, quer dizer...eu e ele porque não há propriamente um nós. Estabelecemos um limite...o até querermos.
- Segunda: qual é a probabilidade de sofreres como da última vez?
- Zero.
- Tens a certeza?
- Tenho...
- Mi...não estarás a fazer isto, só por causa do que o Lorsn te fez?
- Mare...sabes perfeitamente que eu não faria isto só porque o meu ex-namorado me traiu com a minha quase melhor amiga. Eu estou...quer dizer, eu sou feliz quando penso ou estou com ele...o Marco parece que está a curar aquela ferida que o Lorsn deixou. O Marco trata-me bem, ele é querido, ele é meigo...
- Mas está casado Mi...
- Eu sei disso...mas eu prometi, eu e ele prometemos um ao outro que não nos apaixonariamos. E eu sei quando isso acontecer que me afastarei. Porque eu não quero estragar a felicidade de outra rapariga.
- E se ela vos apanha?
- Deus queira que não...iria estragar um bocado as coisas.
- Sabes que eu estarei sempre aqui, não é?
- Não estás chateada? Desiludida?
- Não...só quero que tenhas cuidado! Muito cuidado mesmo, Mi. E sempre que precisares de falar, sabes que podes vir ter comigo a qualquer altura, telefonar, mandar mensagem... - Milicent não deixou Marlene acabar o seu discurso e apenas abraçou a amiga.
Marlene tinha acompanhado a vida toda de Milicent. Incluindo os acontecimentos recentes. O ex-namorado de Milicent traiu-a com uma grande amiga dela, que se poderia comparar a Marlene. Desde aí Milicent fechou o seu coração, não querendo amar nenhum rapaz.
- Obrigada.
- Porque é que me estás a agradecer? - as duas amigas olharam-se, e ambas tinham um sorriso nos lábios.
- Porque...estás sempre aqui, do meu lado.
- Sou tua amiga, apenas isso. Digo-te tudo o que há para dizer e não apenas o que convém ouvir.
Milicent voltou a abraçar a amiga e as duas começaram, de novo, a caminhar.
- É verdade! - Disse Milicent, lembrando-se da noite da discoteca. Contou tudo à amiga que ficou completamente espantanda por a sua melhor amiga ter estado no mesmo espaço que Mario Götze.
As duas estavam a chegar junto da paragem do autocarro, quando o telemóvel de Milicent toca. A estas horas pensou que seria o seu avô a perguntar se queria que a fosse buscar, visto que tinha começado a chuver à bem pouco tempo. Mas não...no visor do seu telemóvel não aparecia o habitual Avô. Aparecia sim, Marco Reus.
- É o Marco... - Milicent estava surpreendida...era a noite de núpcias, eram cinco da manhã e Marco estava a ligar-lhe.
- Vais deixar o rapaz a falar com o atendedor de chamadas?
- Mas...ele está com a mulher.
- Se te está a ligar é porque não está oh trolha!
- Não me ofendas, estou bloqueada, sim?
- Ai vá, desculpa – Marlene tirou o telemóvel das mãos de Milicent, atendendo-o ela – Olá Marco, daqui fala a melhor amiga da Milicent, tive de ser eu a atender a chamada porque ela bloqueou, mas vou já passá-lo a ela – Milicent só se conseguiu rir, Marlene parecia estar com um ar sério, mas quando passou o telemóvel à amiga começou a rir-se também.
Milicent colocou o telemóvel junto do seu ouvido e ouviu Marco a rir também. E...aquela gargalhada fê-la derreter por completo.
- Marco... - Milicent apenas disse o nome dele e bastou para que o silêncio existisse do outro lado da chamada.
- Mili... - aquela voz, como aquela voz mexia com Milicent. Apenas a voz dele era o suficiente para que todo o seu interior se transformasse.
- Aconteceu alguma coisa?
- Não, não...estavas a dormir?
- Não. Estou a ir para casa. Estive a trabalhar.
- Pois por isso é que liguei.
- Por estar a trabalhar?
- Por ter quase a certeza que estarias acordada.
- Sim, estou.
- O Mario está com um problema e eu tive de o ir ajudar...mas queres que te vá buscar?
- Mas está tudo bem com o Mario?
- Deve estar...lá no seu quinto sono e a ressonar.
- Então mas não estava com um problema?
- Mili...tive de dizer alguma coisa à Carolin para sair de casa.
- Ah! - Milicent só agora percebia o que Marco queria dizer com aquilo – Mas...Marco, é a tua noite de núpcias!
- É madrugada, fofinha - “Fofinha!? Oh meu Deus ele acabou de me chamar fofinha, ai que lindo, ai ai.”
- Mesmo assim...
- Ai, olha queres que te vá buscar ou não? Ainda podíamos dormir juntinhos.
- Dormir? Marco, são quase seis da manhã...tu devias estar em casa com ela, preparar-lhe o pequeno-almoço e essas coisas.
- Posso fazer isso, mas não para ela. Vá...estás onde?
- Marco...
- Milicent. Só umas horinhas contigo, não é pedir muito, ou é?
- Tu és chato!
- Ei, está uma pessoa a querer estar contigo e é assim que é tratada?
- Desculpa...
- Estás onde?
- Ao pé daquele sítio onde me encontras-te no outro dia.
- 10 minutos e estou aí.
- Acho bem que sejam 10 minutos, aqui a tua Milicent está cansada e está a chover, sim?
- Já és minha?
- Olha...despacha-te ou vou embora – Milicent desligou a chamada, assim teria quase a certeza de que ele viria.
- Já percebi que vou apanhar a camioneta sozinha.
- Desculpa...é que ele...está por aí.
- Não te preocupes, a sério...só acho que o rapaz está um bocado necessitado.
- Nada dessas badalhoquices!
- Sim sim...olha vem aí o autocarro, ficas bem aqui ou espero por ele contigo?
- Não, não. Vai indo – as duas abraçaram-se e Marlene apanhou o seu autocarro indo para casa, enquanto Milicent ficou ali, à espera de Marco.
Como não tinha chapéu de chuva, ficou debaixo da paragem do autocarro...e esperou precisamente dez minutos. Milicent gostou de perceber que Marco sabia controlar os tempos e que chegava nas horas previstas. Quando o carro do jovem rapaz parou na sua frente, Milicent foi até à porta, abriu-a para de seguida entrar no carro e fechar a porta.
As diferenças começaram a ser sentidas. O calor que se fazia sentir no carro contrariamente ao frio que estava na rua. O cheiro de Marco...aquele cheiro que ela ansiava por voltar a sentir, por voltar a ser um cheiro que lhe pertencia. Milicent recostou-se no banco do carro, encolhendo-se em si mesma como que querendo aquecer os seus músculos um pouco frios.
- Isso é tudo frio? - Ouvir aquela voz assim, pertinho dela, fazia-a tremer, fazia-a sentir-se completamente diferente. Fazia-a sentir-se a Milicent de sempre: a Milicent apaixonada, divertida, pronta para viver a vida, com tudo o que esta lhe pudesse dar. Marco colocou a sua mão em cima das de Milicent, que permaneciam juntas em cima das suas pernas.
Aquele toque...aquela proximidade era boa e Milicent não a queria perder. Ao olhar para Marco...o seu coração disparou. Sentiu-se a ficar mais acelarada mas, ao mesmo tempo, a ficar com vontade de apenas adormecer nos braços de Marco.
- Está frio...
- Vamos para casa então – Marco retirou a sua mão de cima das de Milicent e começou a conduzir na direcção da casa que os acolhe – como é que correu o trabalho? - Ser Marco a fazer a pergunta soou estranho a Milicent. Normalmente seriam os seus avós a fazerem a pergunta...mas ser ele a faze-la era estranho, mas bom ao mesmo tempo.
- Foi normal...mais cansativo hoje depois da nossa noite.
- Fraquinha.
- É, sou fraquinha. É o que dá estar à seca à quase três meses.
- Três meses!? Sem nadinha, nadinha? - percebia-se pelo tom de voz de Marco que estava espantando.
- Depois de ver o meu namorado a comer uma das minhas melhores amigas, a vontade era zero, Marco – Milicent não tinha qualquer intenção de contar aquilo a Marco...mas tinha acabado de o fazer. E o silêncio naquele carro estava a ser demasiado constragedor.
- É essa a marca da diferença na Milicent – Marco não perguntava, não lhe fazia a pergunta, porque percebia perfeitamente que aquela era a verdade.
- Pois...parece que te contei mais cedo do que estava à espera.
- E...ao fim desses três meses, estás numa cena como a nossa...
- Não, não é vingança. E tu bem sabes que eu estou contigo porque me fazes bem – Marco olhou, por momentos para Milicent como que duvidando – pronto não sabes, ficas a saber. Fazes-me bem, fazes-me muito bem. E eu quero estar contigo, não para me vingar dele, mas para ser amada, nem que seja só pelo sexo.
- Não serás amada só por isso...isso eu te garanto. Tenho sérias dúvidas se irei conseguir cumprir a nossa promessa.
- Vais...vais conseguir Marco. Tu tens a Carolin, tens de conseguir seguir a tua vida e eu a minha. É impensável ficarmos presos um ao outro.
- Porque? - Milicent não respondera àquela pergunta no carro. Tinham chegado ao destino e, depois de saírem do carro entraram em casa e aí sim, Milicent respondeu.
- Sabes porque? Porque não podemos estragar a felicidade de outra pessoa – Milicent e Marco estavam, pela primeira vez desde que se encontraram frente a frente.
- E podemos estragar a nossa?
- Não a estamos a estragar...não a podemos prolongar é por muito tempo.
- Eu quero Mili – Marco aproximou-se dela, rodeando-a com os seus braços.
- Queres o que?
- Prolongar este estado. Quero prolongar o estado em que me deixas ficar, quero prolongar os nossos momentos e, quem sabe, criar uma rotina.
- Isso é impossivel.
- Não, não é. E eu queria tentar...
- Marco, não te podes esquecer da Carolin! Tu casaste com ela nem à 24h. É com ela que tens de criar uma rotina.
- Já a tenho e não gosto – Marco encostou os seus lábios nos de Milicent, apanhando a jovem completamente desprevenida. Marco, contrariamente ao que Milicent pensava, não estava à espera que se voltassem a envolver. Ele apenas queria estar com ela. Nem que fosse a dormir.
Aquele beijo era calmo, era sedutor mas não os fazia querer mais do que carinhos. Milicent colocara os seus braços em torno do pescoço de Marco e os dois trocavam apenas um beijo que os fazia sentir maravilhosamente bem. Mas Milicent sentia-se cansada. Era o trabalho misturado com uma noite mal dormida, o que não ajudava em nada.
- Marco... - ela interrompera o beijo, colocando as suas mãos na face de Marco, olhou-o – Podemos dormir umas horinhas antes de me fazeres tua outra vez? - Milicent não sabia o porque te ter perguntado as coisas desta maneira...era o que lhe tinha saído e não se importou nem um pouco.
- Dormimos as horas que quiseres, porque serás minha mesmo que a dormir – não esperava uma resposta daquelas. Milicent poderia ter quase a certeza de que as coisas entre os dois não iam ser simples, mas são boas e isso ninguém poderá terminar.

Dormiam em conchinha desde as seis e meia da manhã (tinha sido por volta dessa hora que adormeceram) e só acordaram porque o telemóvel de Milicent tocou. Permaneciam os dois agarrados e, sem se deslargarem, Milicent alcançou o seu telemóvel que estava em cima da mesa de cabeceira, atendendo a chamada:
- Milicent, onde é que tu estás? - perguntou a sua avó do outro lado da linha.
- Avó...desculpe, não a avisei...eu não dormi em casa.
- Pois até aí eu já cheguei, Milicent.
- Avó...
- Estás com ele?
- Sim – não teve qualquer problema em admitir que estava com Marco e acabou por se aconchegar mais nele. Marco abraçava-a e deu-lhe um beijo no pescoço.
- Desculpa querida, mas tens de vir para casa.
- Aconteceu alguma coisa? - Milicent sentiu o seu coração disparar.
- Não, não...os teus pais chegam dentro de uma hora, só isso.
- Os...pais? - “Porque é que eles não avisaram que vinham hoje? Não, não, não quero...não quero!” - Milicent sentia-se completamente perdida. Por muito que amasse os seus pais, sabia que as coisas agora seriam diferentes com eles por cá.
- Sim...e vão ficar por algum tempo - “Só para piorar as coisas...” pela cabeça da jovem um turbilhão de pensamentos passava. Uma confusão estava instalada na cabeça de Milicent.
- Vou despachar-me e depois vou para casa. Até já, avó.
- Até já, querida Milicent desligou a chamada, atirando o telemóvel para cima do colchão, por pouco que não caia para o meio do chão.
- Algum problema? - Milicent virou-se de frente para Marco, ficando apenas a mirá-lo.
- Mais ou menos...os meus pais chegam dentro de uma hora.
- De surpresa?
- Sim...
- Olha que bom! - Marco estava visivelmente animado com aquilo, pelo que percebera eram poucas as vezes que Milicent estava com os seus pais e aqui estava uma dessas vezes que estariam juntos. Mas, no semblante da rapariga que tinha na sua frente, não via qualquer tipo de felicidade – Não é bom?
- Não sei...provavelmente terei pouco tempo livre...e eles depois começam com as perguntas deles, às quais eu não quero responder...não lhes vou puder contar de ti, não poderei partilhar a minha felicidade...vou estar fechada em mim e não quero.
- Mas podes contar-lhe...escondes a parte de quem eu sou e de que sou casado...dizes que estás com um rapaz super giro e isso.
- E seres menos convencido, não?
- Dizias isso ou não?
- Dizia...
- Então só estou a ser realista – os dois trocaram um beijo um pouco para o demorado.
- Preciso de me despachar... - Milicent quebrou o beijo, juntando a sua mão com a de Marco.
- Vamos tomar um duche, comer qualquer coisa e eu deixo-te perto de casa, escusas de ir de transportes.
- Não me podes deixar à porta...
- Sei disso.
- Obrigada – os dois voltaram a trocar alguns beijos antes de se levantarem e irem para o duche.
Ainda demoraram algum tempo, acabaram por se perder nos corpos um do outro, foram um do outro pelo tempo que quiseram e tomaram todo o prazer daquele momento. Começavam a perceber que poderiam ter mais do que sexo porque, o que ambos quiseram em primeira instância, foi apenas dormir um com o outro.
Para Milicent era tudo muito estranho. Adormecer e acordar nos braços de um rapaz que a faz sentir bem. Desde o seu ex-namorado que nada relacionado com rapazes a fazia sentir assim...porque aquela dor estava sempre lá. Mas Marco começava a curá-la, começava a fazer com que Milicent se sentisse bem.
Antes de se despacharem, os dois voltaram a deitar-se na cama onde tinham dormido. Estavam envoltos nos robes e brincavam com a mão um do outro.
- Não queria que isto acabasse – Milicent acabou por assumir aquilo que nunca pensou fazer. Porque queria garantir que tudo o que se passava entre ela e Marco era apenas de curta duração. Iria acabar.
- Vês!? Se tu dizes isso porque é que eu não o posso dizer?
- Porque se tu o disseres é demasiado real...e não pode ser Marco.
- Milicent...
- Não é Milicent, nem nada...é temos de nos despachar e ir embora.
- Sim, sim...mas esta conversa não fica por aqui.
- Sim, na nossa próxima noite falamos disto.
- Porque na próxima noite?
- Porque não vamos falar disto durante o dia.
- Há uma coisa que se chama telemóveis...

- Olha, por falar nisso – Milicent pega no seu telemóvel e acaba por fazer algo que não estaria a passar pela cabeça de Marco. Abriu a camara e tirou uma fotografia a eles...mas sem os identificar. Partilhou no seu perfil do facebook, assim era só para os seus amigos, já que aquela conta tinha muito pouca gente adicionada:

Quantas vezes não vos apeteceu ficar assim o dia todo? Hoje é um desses dias.
- O que é que tu acabaste de fazer?
- Publiquei a foto no meu facebook. Não te preocupes que ninguém sabe que és tu e só tenho amigos adicionados.
- Um dia crio um perfil assim só para ser teu amigo lá.
- Oh, és mais do que essas coisas de amigo, tá? - Milicent deu-lhe um beijo e os dois foram despachar-se.

Já em casa, Milicent estava a achar tudo muito, muito estranho. Afinal os seus pais tinham algo para lhe dizer e, depois dos habituais cumprimentos quando chegaram, estavam sentados frente a frente no sofá. Olhavam atentamente para Milicent, Milicent olhava para os seus pais e para os seus avós. Percebia que eles já sabiam o que viria daí...o que a assustava ainda mais.
- Mili... - começou a sua mãe e aquele Mili que era diferente...o único que a fazia sentir pequenina, como uma verdadeira menina que precisa do colinho da mãe – nós vamos passar os próximos seis meses na Alemanha.
- Vão? A sério? Vamos estar seis meses juntos? Como uma família a sério? - Milicent sentia-se realmente feliz por aquilo que a sua mãe lhe acabara de contar.
- É esse o objectivo, filha – respondeu-lhe o pai.
- Mas vocês vieram hoje, já não vão voltar? Vão ficar cá?
- Na Alemanha...nós viemos buscar-te, Milicent.
- Como assim? - A confusão estava instalada na cabeça da jovem rapariga, que não sabia o que pensar.
- Nós vamos viver os três...para Berlim.
-.Não. Eu não quero, eu não vou – Milicent depressa percebeu tudo o que aquilo significava. Iria estar a mais de quatro horas de distância de tudo: dos seus avós, da sua melhor amiga, dos seus amigos da faculdade, da discoteca...de Marco!
- Vais sim, Milicent – a sua mãe levantou-se, sentando-se ao lado da filha.
- Eu sou maior, eu posso decidir o que fazer ou não?
- Milicent, não entres por aí querida – a mãe mantinha um discurso muito tranquilo, enquanto que a jovem parecia desesperar – tu vais connosco. São seis meses, seis meses que estaremos juntos e seremos só nós os três.
- Mas, mãe...vocês não podem querer-me só para vocês ao fim de 20 anos. Eu tenho aqui os avó, a Marlene, a faculdade, o meu trabalho... tenho o...tenho a minha vida aqui. Porque é que não podem vir viver para Dortmund, porque?
- Porque o tratamento que o teu pai tem de fazer, só existe em Berlim – Milicent olhou para o seu pai e sentiu o seu cérebro bloquear. O seu pai estava doente? Teria alguma doença grave?
- O que é que se passa com o pai?
- Não é nada de grave filha – respondeu-lhe o seu pai, com um sorriso nos lábios, que a tranquilizou – o oxigénio chega com dificuldades ao meu cérebro e preciso de um tratamento para que fique tudo normal.
- Corres risco de vida, pai?
- Não, nada disso Mili – o seu pai colocou-se junto das suas pernas, agarrando as mãos da sua filha – é tudo muito suave e em seis meses fica tudo bem. E eu compreendo que queiras cá ficar...e se ficares nós não nos importamos.
- Não...eu vou com vocês – mesmo sabendo que o tratamento que o seu pai iria fazer não era nada que colocasse a vida dele em risco, Milicent preferia estar com eles. Acima de tudo...são seus pais e são seis meses que poderá estar com eles todos os dias. Como há demasiado tempo não estava.

Quase não se apercebeu que teria de ir embora naquele mesmo dia. Despediu-se de Marlene (ambas choraram no momento em que o fizeram), despediu-se de algumas colegas da faculdade, dos seu trabalho e dos seus avós. Restava saber como se iria despedir de Marco.
Telefonema? Provavelmente estaria com Carolin e não lhe poderia atender... Sms? Não...demasiado esquisito. Carta! Milicent iria deixar-lhe uma carta escrita por ela. Foi até à casa “deles”, sentou-se na mesa da sala e escreveu. Escreveu tudo e mais algumas coisas e deixou a carta em cima da almofada que era “dela”. Deixou a marca do seu batom no envelope e saiu.
Voltou a casa dos seus avós, despedindo-se, de novo, dele. Iria para Berlim, com a certeza que o seu futuro para estes seis meses estava incerto, levou consigo o desejo de não abandonar Dortmund e com a certeza de que as lágrimas que lhe caiam pela face à medida que se iam afastando daquele sitio não caiam apenas por causa dos seus avós, da sua melhor amiga.
Aquelas lágrimas eram por causa dele. Porque, apesar da promessa, Milicent estava completamente apaixonada por ele. 

Olá meninas!
Espero que não achem o capitulo demasiado secantes por ser muito grande. Contudo, devo dizer que é o capitulo do casal...e nos próximos entenderão o porque.
Espero os vossos comentários.
Beijinhos.