quarta-feira, 4 de outubro de 2017

55º Capítulo: “Eu tenho tanto orgulho em ti, Mili.”

 - Como é que está a avó? – perguntava Milicent depois de Jolandi a ter saudado do outro lado da linha.
- Eu estou bem, minha neta. Já essa tua voz… - Milicent sabia bem que, fizesse o que fizesse, a avó era quem a conhecia melhor. Talvez Marco também já começasse a conhece-la sem que precisasse de falar, mas Jolandi sabia cada pedaço da neta que sempre cuidou que se passa, querida?
- Nada, avó…
- Nada não. Posso não estar a ver-te mas sei perfeitamente que não estás bem.
- É só…tudo isto da festa – Milicent desejou que a avó não percebesse que ela estaria a mentir.
- Eu vou fingir que acredito e, não tarda nada, estou aí ao pé de ti para comprovar o que estou a dizer!
- Está a chegar?
- Estamos à espera dos teus pais. Eles vêm buscar-nos e vamos para aí todos juntos.
- Cá vos espero, então. Eu gosto muito de si, avó.
- Oh meu anjo, a avó também gosta muito de ti. Cheira-me que a mamã está a precisar de miminhos da avó! era bem capaz de estar a precisar disso e muito mais. Milicent admitia que, por vezes, sentia saudades da sua antiga vida.
A vida em que não precisava de se preocupar com um ser ainda tão pequeno quanto Marten para cuidar, uma vida em que não tinha filho a seu cuidado, uma relação cheia de altos e baixos, um namorado que tanto ama mas que tanto a deixa com medo de falhar. Milicent sentia saudades de quando só vivia com os seus avós, quando era a única a decidir o que fazer, onde ir e com quem estar. Não que não amasse a vida que tem, não que não estivesse feliz com as escolhas feitas…mas sentia falta do seu antigo modo de vida.
- Estás bem? – perguntou Marco, chegando ao quarto naquele momento.
- Hum, hum – Marco deitou-se a seu lado, entrelaçando a sua mão com a da namorada – os meus pais e avós estão a vir para cá e eu ainda não me arranjei.
- Não estás muito em modo de festa pois não?
- Estou, não é isso – sentou-se na cama, olhando o namorado – sinto-me mal por ter saudades da minha vida antes do Marten…antes de ti – confessou, sob o olhar atento de Marco – eu amo toda a minha vida de agora mas dou por mim a ter saudades do que havia antes.
- Eu percebo – Milicent surpreendeu-se com aquela afirmação de Marco – há muita coisa a mudar e é normal que sintas. Eu não tenho saudades da minha antes de ti porque foi bom perceber que aquilo que havia entre mim e a Carolin não era o que eu queria – Marco sorriu, levantando-se – mas é normal que tu tenhas saudades, sempre foste só tu…e agora tens dois gatões sempre contigo, dois gajos com quem te tens de preocupar. Eu gosto que tu fales de tudo comigo…isso descansa-me.
- Obrigada por não me criticares.
- Desde que não penses largar o gatão…
- Convencido! Mas podes ficar descansado – os dois riram-se e Marco aproximou-se de Milicent para trocar com ela um beijo bem prolongado – tenho de me ir arranjar…
- E ficar toda gira para a festa do pimpolho!
- Sou a mãe! Tenho direito a produzir-me como tal! – os dois riram-se, trocando mais um beijo. Milicent tinha as suas mãos no pescoço do namorado e olhava-o naquele momento – obrigada por seres o melhor pai do mundo para o Marten. E, parabéns a ti, por o seres 24 horas por dia, ao longo de todo este ano que passou.
- Só ser teu namorado me consegue fazer tão ou mais feliz do que ser pai do Marten. Vocês são a minha vida, neste momento e se me dás os parabéns a mim dessa forma…eu tenho de te dar a duplicar por seres mãe dele 24 sob 24 horas, todas as noites que passaste sozinha com ele, geriste esta casa quando eu me lesionei…tu, sim, és a melhor mãe do mundo.
- Aprendi a sê-lo contigo – Milicent voltou a beijá-lo, olhando-o logo de seguida – e pronto, já chega destas lamechices – saiu da cama, começando a ir na direção da casa de banho – os miúdos?
- Estão lá em baixo. Só falta o Marten tomar o pequeno-almoço…
- Eu dou-lhe, se quiseres.
- Agradecia, ainda tenho de pôr no jardim o escorrega e baloiço para os putos – tinham comprado um pequeno escorrega e baloiço, tudo num só, para que os mais pequenos se conseguissem divertir de alguma forma.
- Vou despachar-me então.

Assim foi. Milicent entrou na casa de banho, tomou o seu duche rápido e, depois de secar o cabelo, maquilhar-se e passar o creme pelo corpo, foi vestir-se levando todos os acessórios do look para o andar debaixo para os pôr quando os convidados começassem a chegar. 


- Estás tão linda, mana! – disse Mary Alice assim que Milicent chegou à sala.
- Oh querida…muito obrigada!
- O teu chapéu é muito bonito também.
- Eu deixo-te dar umas voltas com ele, que tal?
- A sério?
- Claro! – as duas riram-se e Marten começou a gatinhar na direção da mãe – olá meu príncipe lindo! – Milicent pegou nele ao colo, beijando-lhe a bochecha – parabéns Marten – voltou a beijar-lhe a bochecha – bebé da mãe! – voltou a beijá-lo, vezes e vezes sem conta.
- Mã, pára! – Marten levou a sua mão aos lábios de Milicent, impedindo-a de o voltar a beijar – cabou!
- Resmungão! Tens fome? – perguntou-lhe.
- Sim.
- E tu, Mary? – olhou para a sua irmã, vendo-a pintar no caderno que tinha trazido – não queres comer mais nada?
- Não. O Marco deu-me bolos da festa!
- Ai deu? E estavam bons?
- Sim, mana! As pessoas vão gostar da tua festa!
- Obrigada, meu amor – Milicent aproximou-se dela, dando-lhe um beijo na bochecha – vou dar de comer ao Marten, sim?
- Tá. Eu posso ir lá fora ajudar o Marco?
- Claro que sim! – Mary Alice deixou tudo arrumado, saindo na direção do jardim. Milicent foi até à cozinha, preparando o biberão para o filho.
Começou a dar o biberão ao filho, indo para o jardim também. Estava tudo como tinha pensado. Estava tudo como sempre sonhara…há imenso tempo que Milicent sonhava com a festa do primeiro aniversário do filho, sobretudo por puder conjugá-la com a festa de Mario. Havia já o escorrega e baloiço montado para as crianças num canto, uma piscina cheia de bolas para que os meninos pudessem brincar também e depois a parte para os adultos. Não seriam muitos, haviam apenas três mesas com a comida, uns quantos puffs espalhados pela relva e os sofás que Marco tinha no exterior da casa estavam todos dispostos uns ao lado dos outros. Em tons de branco e azul, aquela era a mistura que Milicent tinha imaginado para uma festa de adultos e de crianças. Preferiam fazer uma espécie de brunch, podendo prolongar-se pela tarde.
Depressa chegaram os pais de Milicent e os seus avós e já estavam envolvidos a entreter Marten e Mary Alice. Também os pais de Marco tinham chegado, assim como as suas irmãs. Todos no jardim, aproveitando a temperatura amena que se fazia sentir naquele dia 3 de junho, preenchendo-o e dando as certezas a Milicent que não trocava aquela sua vida por nada.
- Estás mais gordinha – Jolandi sentou-se ao lado de Milicent, fazendo a neta olhá-la naquele momento.
- Acha?
- Acho – confessou, agarrando a mão da neta – mas acho que estás bem assim. Andavas muito magrinha, também.
- Então…obrigada. Avó… - Milicent olhou-a, queria imenso falar com ela…e não podia esperar mais – a avó sabe se está tudo bem entre os pais?
- Porque é que me estás a fazer essa pergunta? A Mary Alice também te disse que eles discutiram? – Milicent limitou-se a acenar que sim com a cabeça – todos os casais passam por isso, tu própria já o sabes! – Jolandi olhou para a frente, vislumbrando o seu filho brincar com o seu bisneto – é certo que eles não estão muito bem, mas como qualquer casal saberão resolver os problemas que os estão a afetar – Jolandi voltou a olhar para a neta – só precisas de não pensar muito nisso.
- Mas…eles sempre se deram tão bem.
- Só que agora têm uma vida diferente, meu bem – Jolandi levou a sua mão à cara da neta – isto é tudo muito normal. Temos de dar-lhes tempo!
- Eu só espero que…não seja muito sério.
- Não será, meu amor – Jolandi deu um beijo na bochecha da neta, voltando a olhá-la – posso perguntar-te uma coisa?
- Claro, avó.
- Tu já voltaste a menstruar regularmente?
- Eu deixei de amamentar o Marten quando ele tinha oito meses, dois meses depois comecei com pequenas perdas de sangue mas nada muito regular como antigamente.
- Então tu continuas irregular…tens tido cuidado?
- Claro que sim, avó.
- Está bom… - Milicent olhou para o filho a brincar com o pai, ouvindo a campainha soar.
- Deve ser a Marlene com o Mario! – levantou-se depressa, fazendo sinal a Marco para vir na sua direção – devem ser eles, não?
- Acho que ainda devem ser os pais do Mario e os irmãos.
- Ah pois é! – tinha-se esquecido que ainda faltava a família de Mario. Foram os dois abrir a porta, confirmando que se tratava mesmo da família de Mario.
Só faltava mesmo que eles dois e Erik chegassem. Estavam ambos ansiosos para que isso acontecesse, iria ser surpresa para Mario e queriam ver a reação dos dois à surpresa que tinham preparado.
Passado pouco tempo a campainha fez-se ouvir de novo. Agora sim deviam ser eles! Marco e Milicent correram na direção da porta, abrindo-a. Mario vinha de olhos vendados, tal como tinham combinado. Marlene trazia Erik pelos braços, passando-o depressa para os de Milicent.
- Vá, anda mais uns passinhos Mario – entraram em casa deles e Milicent apressou-se em voltar ao jardim.
- Ei – chamou à atenção de todos – o Mario chegou, precisamos de fazer pouco barulho – aproximou-se dos mais pequenos, baixando-se ao lado de Marten – amor da mãe, tens de fazer pouco barulho agora sim?
- Não.
- Mas está na hora da surpresa ao tio…
- Bebé – olhou para Erik, aproximando-se dele.
- Devagarinho – Milicent começou a vê-lo ir com a mão na direção do bebé. Nico e Mary Alice já estavam em silêncio, esperando a chegada de Mario e Marlene. Enquanto Marten se entretinha com Erik conseguia estar quieto, dando tempo para que Marco, Marlene e Mario chegassem ao jardim naquele momento.
- Pronto, podes parar – disse Marlene – agora…podes tirar a venda – Mario esfregou as mãos uma na outra.
- Isto vai ser para fazermos um irmão ao Erik, não é? – assim que disse aquilo acho que todos tiveram vontade de nos rir mas ninguém o fez. Mario retirou a venda e todos lhe deram os parabéns.
Olhou para cada um dos presentes ali, na sua festa. Olhou para Marco e abraçou-o durante algum tempo, deixando Marlene para o fim trocando um beijo bem prolongado.


Formentera tinha sido o destino de férias de eleição para as primeiras férias a seis. Pelo menos os primeiros dias, já que Milicent e Marco iriam passar cinco dias sozinhos, para conseguir haver mesmo descanso.
- Vamos dar uma volta? – Mario estava mais falador que o habitual e ainda eram as primeiras horas desde que tinham chegado.
- Eu acho que não vou – afirmou Marlene – uma viagem de avião com dois bebés é pior que dois dias a trabalhar apenas as pernas no ginásio – Milicent riu-se, mas sabia que era bem verdade.
- Então eu fico contigo – deitou a sua cabeça sobre as pernas da namorada, esticando-se no sofá. Milicent e Marco estavam noutro e a rapariga acabou mesmo por se levantar.
- Não sei importam, então, se nós formos dar uma volta?
- Claro que não! – respondeu Marlene – vão e tragam qualquer coisa para jantar, que tal?
- Com certeza! – Marco levantou-se do sofá, com Marten a dormir no seu colo.
- Então até logo – disse Milicent, indo pegar na sua mala e na de Marten que ainda não estava desfeita da viagem. Marco colocou o filho no carro com cuidado e os três saíram de casa.
Começaram a percorrer a quente rua da casa que tinham alugado, sabendo que ao continuarem a descê-la iriam parar junto do mar.
- Tenho uma entrevista de emprego quando chegarmos a Dortmund – disse Milicent, olhando para Marco. Ainda não lhe tinha contado…tinha medo de, à última hora, tudo dar para o torto e só hoje teve as certezas todas de quando seria a entrevista.
- A sério? Isso é ótimo! – Marco passou um dos seus braços por cima dos ombros da namorada, puxando-a para si – fico muito feliz por ti, Mili – deu-lhe um beijo na testa, olhando-a de seguida – e é para onde?
- No hospital central de Dortmund – disse com um enorme sorriso a formar-se nos seus lábios.
- Acho que vou pedir a todos os santinhos que tenhas um lugar no hospital! Tu mereces mais do que ninguém! Eu tenho tanto orgulho em ti, Mili – Marco parou de caminhar, dando um abraço à namorada.
- Obrigada… - havia um misto de sensações a invadirem Milicent. Era vergonha, com muito carinho. Sabia-lhe imensamente bem ouvir tais palavras da boca do namorado. Retomaram o seu percurso, Marco sempre levando o carrinho de Marten.
- Estás com medo?
- Um bocadinho…é a minha primeira entrevista à séria.
- Não, não – Milicent olhou-o confusa – a primeira foi comigo! E se passaste essa com distinção, uma na tua área vai ser super tranquilo!
- Espero mesmo que sim…
- Eu também tenho algo para te dizer – pararam um pouco, estando quase a chegar ao grande paredão junto do mar – o Marcel vai mesmo lançar a marca de roupa no próximo mês.
- Ai esse também só se mete em coisas que eu nunca pensei serem a área dele! – os dois riram-se.
- És a modelo feminina ou não?
- Ele paga bem? – Milicent riu-se, continuando a andar assim como Marco – claro que sim. Se ele for buscar uma modelo qualquer vai ter de despender algum dinheiro e, se ele acha que eu tenho as medidas certas…
- Mais do que certas, mamã boazona – Marco parou novamente, puxando a namorada para si. Levou as suas mãos ao rabo de Milicent, começando a beijar-lhe o pescoço.
- Estás muito animado, rapaz! – Milicent não podia negar que aqueles beijos e toques de Marco a estavam a provocar imenso. Eram calores a subir por ela acima, um desejo crescente e arrepios sem fim. Tantas foram as vezes que, antigamente, deu por si a pensar que vida de casado poderia ser monótona…mas fazia-a com Marco e de monótona a sua vida não tem nada – estamos em plena rua, Marco.
- Eu não estou a fazer nada de mal! – Marco olhou-a, unindo os seus lábios com os da namorada. Apertou a mão direita no rabo de Milicent, puxando um pouco do vestido que a rapariga trazia vestido para cima. Milicent riu-se acabando por quebrar o beijo naquele momento.
- Tu estás com vontades a mais para meu gosto!
- Continuas tão ou mais irresistível como no dia em que te conheci.
- Andas feito um lamechas do pior!
- Não gostas?
- Gosto, gosto! – Milicent levou as suas mãos à cara de Marco, dando-lhe um curto beijo – vamos lá continuar a andar! Daqui a nada despes-me em plena rua e somos notícia pelo mundo fora! – os dois riram-se e continuaram mesmo o seu passeio.
Milicent não podia negar que desejava estar sozinha com Marco. Há imenso tempo que não estavam apenas os dois, sem terem de se preocupar se Marten estaria acordado, se teria de comer ou algo que os pudesse interromper.

- Que foto linda, oh Reus! – disse Marlene, olhando para Marco – estás mesmo apaixonado, vê-se logo! – Milicent sorriu, agarrou o telemóvel do namorado indo logo ver de que fotografia é que Marlene falava. 

Há quase dois anos e meio que eu não existo sem ti

- Muito romântico o nosso Marco – atirou Mario – mas a questão que se impõe é: como é que o tens aguentado tanto tempo, Mi? – todos se riram à excepção de Marco. Até Marten começou a gargalhar por os ouvir rir também – ora nem mais campeão, é isso mesmo! – Mario pegou em Marten ao colo, começando a fazer-lhe cócegas – o teu pai é um chato não é?
- É! – gritou Marten enquanto se ria ao mesmo tempo.
Milicent levantou-se, querendo ir buscar mais um pouco do bolo que tinham trazido como sobremesa. Ela tentou e queria mesmo mais bolo, mas foi traída por uma forte tontura que a fez sentar de novo no sofá.
- Que se passa? – perguntou muito depressa Marlene, olhando atenta para a amiga. Marco tinha conseguido envolver o seu braço em torno da cintura de Milicent, levando a sua outra mão livre à cara da namorada.
- Estás bem? – perguntou-lhe, mas Milicent continuava a ver tudo turvo e à roda.
- Quebra de tensão… - acabou por dizer.
- Já começam a ser demais – Milicent tentou encostar-se a Marco mas algo não estava certo com ela. Olhou o namorado, agarrando a sua mão.
- Ajuda-me a ir até à casa de banho, por favor – Marco levantou-se depressa, ajudando Milicent a levantar-se com mais cuidado. Caminharam lado a lado em direção da casa de banho – agora…deixa-me um bocadinho sozinha, por favor.
- Mas...
- Vá lá, Marco. Veres-me vomitar não há-de ser uma coisa agradável! Sai, por favor.
- Não seria a primeira vez.
- Marco! – olhou através do espelho, elevando um pouco o seu tom de voz – deixa-me sozinha, por favor – Marco nada disse, limitando-se a sair da casa de banho. Fechou a porta, deixando-se ficar no corredor.
- O que se passa? – perguntou Marlene, aproximando-se de Marco.
- Ela está a vomitar…Marlene ela já anda assim há uns tempos. Ela desculpasse com o stress…mas eu não sei se será o stress que a deixa assim.
- Pode ser o calor, algo que ela coma e seja alérgica sem saber…convence-a a ir ao médico.
- Achas que eu já não tentei? Ela é teimosa que nem pedra dura! – os dois riram-se e Milicent acabou por sair da casa de banho – vai lá tu que ela expulsou-me da casa de banho – Marco deu um beijo na testa de Marlene, regressando à sala.
Enquanto isso, Marlene aproximou-se da amiga que permanecia encostada à ombreira da porta.
- Então, Mi? – Marlene passou a sua mão para a testa da amiga, notando que ela estava mais quente que o habitual e toda suada – tu deves estar com uma virose qualquer.
- Ajudas-me a ir até ao quarto?
- Eu ajudo-te a ir ao hospital.
- Mare…eu sou crescidinha. Eu sei tomar conta de mim e eu só preciso de me deitar um bocadinho.
- Eu juro que se ficares pior durante a noite, peço ao Marco para agarrar em ti e levar-te ao hospital.
- Combinado – Milicent apoiou-se no braço da amiga e as duas foram até ao seu quarto. Marlene ajudou Milicent a deitar-se acabando por lhe tapar as pernas – obrigada.
- De nada. Chama-me se precisares de alguma coisa – Marlene enrugou a testa – ou o Marco, ele vai dormir contigo ao fim ao cabo – as duas riram-se e Marlene acabou por beijar a testa da amiga.
- Podes dizer ao Marco para adormecer o Marten? Isto se ele já não estiver a dormir…
- Fica descansada – Marlene saiu do quarto e Milicent virou-se de lado na cama, tapando-se por completo. Fechou os olhos, ouvindo ao longe os amigos e o namorado a falarem. Claro que não percebia o que diziam, nem sequer uma palavra mas, ouvi-los, tranquilizava-a e começava a embala-la.
Quando já começava a sentir o seu corpo leve e a entrar naquele espaço em que não se está a dormir mas que não se está a perceber o que acontece à sua volta, a porta do quarto abriu-se para se fechar logo de seguida. Milicent não se mexeu, sabia que seria Marco e que, depois de deitar Marten no berço, ele acabaria por colocar-se ao lado dela.
E assim foi. Marco sentou-se na cama, ao lado de Milicent, passando com a sua mão pela cara da namorada.
- Ele está a dormir?
- Sim…e tu estás melhor?
- Acho que sim.
- Então dorme, meu amor – Marco depositou um beijo na testa da namorada, deitando-se a seu lado.


Os dias em Formentera tinham passado depressa demais para o que Milicent esperava. Pouco conseguiu descansar, é certo. Com Marten a descobrir o que era a areia da praia, a gatinhar sem parar nela e toda a correria que era em casa, tanto Milicent como Marco só conseguiam descansar quando adormeciam. Mas não poderiam ter sido dias melhores, tinham sido as primeiras férias enquanto família com os seus melhores amigos que também estavam em família agora.
Marco surpreendeu Milicent com uma viagem a Santorini. Cinco dias em que só se davam um ao outro, em que todos os beijos podiam acabar num momento de prazer e entrega do casal que não teriam de se preocupar em apressar ou parar.
- Quantos dias tens programados aqui?
- Ficamos três dias por aqui e depois vamos até Corfu.
- Isso é onde?
- É uma ilha grega, um bocado mais a norte.
- Ah…vamos continuar pela Grécia.
- Onde é que dois deuses gregos poderiam ir? – Milicent riu-se, recebendo um beijo do namorado – não achas lindo, isto? – estavam na varanda da casa que os iria acolher. Uma vista incrível sobre o mar, todas as pequenas casas pela encosta, em tons de branco, e todas as luzes ligadas davam um outro encanto a tudo. Tinham chegado há pouco, quando o sol já se tinha posto mas Santorini estava bem iluminado.
- Lindo demais, amor bom – Milicent olhou-o – eu amo-te cada vez mais.
- E eu amo-te a ti!
- Podemos ir comer qualquer coisa? – perguntou Milicent levando as suas mãos à cara do namorado – estou esganada de fome!
- Podemos falar ali dentro só um bocadinho? – Milicent estranhou aquilo mas agarrou a mão do namorado caminhando com ele para dentro do quarto.
- Que se passa?
- Tu não andas bem – começou, olhando para a namorada – eu posso ter deixado passar um dia e outro e mais uma data deles, mas começa a ser demais. Tu passaste grande parte dos dias em Formentera enjoada, as tonturas…
- Pararam.
- Eu sei que pararam, mas continuas a vomitar imenso. Mas queres sempre comer, queres, muitas vezes, este mundo e o outro! Eu já não sei a sério…
- Marco, eu estou bem. Eu prometo que vou ao médico quando sairmos daqui.
- Não – Marco aproximou-se de uma das malas, abrindo-a. Milicent percebeu que ele tinha tirado de lá alguma coisa, mas não percebeu o quê. Marco virou-se para Milicent aproximando-se de novo dela – tu vais ao médico depois de… - mostrou-lhe o que tinha nas mãos, deixando Milicent sem qualquer reação. Não o conseguiu olhar, não conseguiu retirar os seus olhos daquela caixa que Marco tinha nas mãos – depois de sabermos se estás grávida ou não.


Olá meninas! 
Aqui fica mais um capítulo com algumas novidades na vida do casal. 
Espero que gostem! 
Beijinhos, 
Ana Patrícia. 

domingo, 28 de maio de 2017

54º Capítulo: “eu hoje não consigo imaginar a minha vida se não te tivesse conhecido”

- SURPRESA! – assim que chegaram à sala de sua casa, o espanto no rosto de Marco não poderia ser maior. Estava ali a sua família, os familiares de Milicent e, ainda, alguns dos seus companheiros de equipa. E, claro, Marten.
- Como é óbvio eu não te iria querer só para mim… - disse-lhe Milicent, colocando-se ao lado do namorado – eu sei partilhar-te com eles – os dois riram-se e, depois de abraçar e trocar um beijo bem demorado com a sua namorada, Marco foi cumprimentar todos os presentes.
- Fizeram boa viagem? – perguntou Renae à filha.
- Sim, por mim tínhamos lá ficado mais tempo porque não deu para conhecer nem um terço de Veneza – Milicent passou o seu braço por cima dos ombros da mãe, olhando para Marco – um dia havemos de lá voltar. Obrigada por teres ajudado a preparar a festa aqui…
- A tua sogra é que tratou praticamente de tudo…aquela mulher sabe bem como não parar quieta!
- A Manuela é uma máquina – as duas riram-se e Milicent pôde ver o seu filho caminhar agarrado ao sofá até chegar ao pé dela – oh meu gordo! – pegou, de imediato, no filho ao colo beijando-o nas bochechas – portaste-te bem com a avó? – ele riu-se, olhando para a mãe de Milicent – ele portou-se bem, avó Renae?
- Portou-se muito bem, sim senhora! – Renae deu, também, um beijo na bochecha de Marten.
- Pai! – começou a abanar-se no colo de Milicent que só se conseguiu rir e colocá-lo no chão. Viu Marten gatinhar, já que era bem mais rápido, até Marco que estava sentado no sofá. Colocou-se de pé, apoiando-se nos joelhos de Marco, ao mesmo tempo que o pai o segurava no braço.
- Quem é que está quase a fazer anos, também, quem é? – Marco aproximou-se do filho, dando-lhe um beijo na bochecha. Dentro de três dias seria o primeiro aniversário de Marten – estás a ficar tão crescido, campeão – pegou no filho ao colo, sentando-o sobre as suas pernas.
- Vão fazer alguma festinha para o menino? – perguntou Manuela ao filho.
- Andamos a combinar com a Marlene a ver se conseguimos juntar o Mario à festa, também.
- Ah pois é! O Mario também faz anos – um dia que ninguém irá esquecer. O aniversário de Mario do ano passado iria ficar para sempre marcado pelo nascimento de Marten.

- Miúda, tu tens de ir para o hospital!
- Até parece que és tu o pai… - comentou Marco aquela afirmação tão preocupada de Mario.
- Não sou, mas tu és e estás aí com o rabo sentado enquanto a tua gaja está toda cheia de dores.
- Mario…eu não estou cheia de dores – disse Milicent num tom calmo – é só de vez em quando.
- É sinal que o meu sobrinho vai nascer. Cancelem a festa, vamos todos para o hospital! E é já!
Milicent sentiu-se a congelar por dentro, não estava preparada para ir para o hospital. Não naquele dia, não naquele momento. Era suposto fazerem a festa de Mario e não irem para o hospital.

- Por isso andamos a tentar fazer uma surpresa aos dois. Tanto ao Mario que não espera vir passar o aniversário com a família, tanto aqui ao pequerrucho para estar com o tio – esclareceu Marco, olhando para o filho que batia palmas ao ver a mãe aproximar-se – quem é aquela ciumenta, Marten? Quem é?
- Mã! – Milicent fazia gestos com as mãos, chamando Marten para si – Mã, cá! – chamava-a e Milicent começou a andar mais depressa, parando a pouco espaço de distância do filho – Mãe! – já um bocado irritado por ela não vir ter com ela, Marten chamou-a de novo e, pela primeira vez, dizia a palavra mãe.
- Oh meu amor! – Milicent aproximou-se bem depressa dele, levando as suas mãos à carinha de Marten – ai que coisa mais boa da mãe – beijou-lhe as bochechas, a testa e o nariz – diz lá, quem sou eu?
- Mã! – Marco e Manuela riram-se e Milicent acabou por dar uma forte palmada no ombro de Marco – na! Na bati pai! – Marco abraçou-o e Marten começou a rir-se – Mã num bati!
- Mãe, Marten. Diz mãe, coisa boa – sentou-se ao lado do namorado, vendo o filho segui-la com os olhos. Marten virou-o de frente para eles, para que ficasse a olhar para os dois.
- Diz lá, quem é ela? – perguntou Marco, apontando para Milicent.
- Mãe – respondeu, batendo palmas – mãe, mã! – começou a mexer-se depressa, querendo sair do colo de Marco – chão! – Marco colocou-o no chão e o menino foi até à sua zona dos brinquedos.
- Eu vou ser a eterna, mã!
- A melhor mã que ele tem – Marco encostou-se no sofá, puxando Milicent para si. A rapariga acabou por deixar a sua cabeça em cima do peito do namorado.
- Manuela, diga lá que o seu filho não anda a ficar cada vez mais giro? – perguntou Milicent, fazendo com que a sua sogra se risse à gargalhada.
- Ele sempre foi bonito…
- Obrigado, mãe – agradeceu Marco, levando a sua mão às costas da mãe.
- Mas não te cuides, não. Fazes mais tatuagens e começas a ficar um papel branco cheio de rabiscos! – os três riram-se e Manuela acabou por se levantar indo ter com o pai de Marco que a tinha chamado.
- A tua mãe é um máximo!
- Tu gostas muito da minha mãe, para meu gosto! – Milicent olhou-o, achando estranha aquela afirmação do namorado – não me olhes dessa maneira – Marco beijou-a, olhando-a a seguir – eu adoro, mesmo, a forma como te dás com ela. É muito importante para mim.
- Acredita que também o é para mim. A tua mãe sempre me aceitou bem na tua vida…e já desabafei imenso com ela, por isso, já é uma pessoa muito importante na minha vida.
- O que é que tu desabafaste com a minha mãe? – Marco passou a sua mão para as costas de Milicent, deslizando-a por todas as costas da namorada.
- Coisas que tu não podes saber, coisa boa! – Milicent aproximou-se dele, beijando-o – espero que estejas a gostar do teu dia de anos, meu amor – o dia já ia longo, já tinham chegado a Dortmund a horas do jantar surpresa que se tinha preparado para Marco.
- Estou a adorar, Mili. Obrigado, mesmo!
- Nada de agradecimentos, coisa boa. Quer dizer…quando ficarmos sozinhos podes pensar em agradecer, sim.
- Hum que ela está a dar dicas sobre quando ficar sozinhos… - Milicent riu-se, passando para cima das pernas de Marco – e não está nada preocupada em estar em cima de mim com a família toda aqui…
- A família está entretida com a jóia da casa – os dois riram-se, trocando um fogoso e apaixonado beijo.
- Olhem para estas poucas vergonhas! – atirou Aubameyang – não deviam ter mais cuidado, oh amorzinhos?
- Lá tinha de vir este estragar o momento – Milicent sentou-se como deve ser no sofá, ajeitando a sua longa saia – não sabias ir dar beijinhos à tua mulher, também?
- A minha mulher foi com a minha criança à casa de banho!
- És um chato!
- O jantar está servido! – anunciou Manuela e todos a começaram a seguir até ao jardim. Aubameyang, claro, foi um dos primeiros a ir ter com Manuela.
- A tua mãe é a melhor organizadora de jantares surpresa que eu conheço! – Milicent levantou-se, ajeitando a sua roupa – temos de lhe agradecer tudo o que ela fez por cá enquanto nós estivemos no bem bom!
- A ela e à tua mãe! – Milicent olhou-o – ela ficou com o Marten e também ajudou que eu já sei.
- A minha mãe anda estranha…ainda não tive tempo de falar com ela como deve ser, mas há ali qualquer coisa que não está a bater certo.
- Pode ser só impressão tua – Marco entrelaçou a sua mão com a da namorada e os dois começaram a caminhar em direção do jardim – e tu? Já não tiveste mais tonturas?
- Não. Provavelmente é só mesmo a pressão de procurar o trabalho, desta surpresa para ti e da surpresa para o Mario…
- Tu, Sra. Pediatra, devias era tomar atenção à tua saúde.
- Deixe lá, Sr. Futebolista, que a Sra. Pediatra está muito bem e recomenda-se!
- Espero bem que sim!
Os dois chegaram ao jardim, sentando-se lado a lado, com Marten sentado na sua cadeira de refeição ao lado de Milicent.
- Mana? – Mary Alice apareceu no meio deles dois, olhando para Milicent.
- Diz, meu amor – Milicent olhou-a, dando-lhe um beijo na bochecha.
- Tu achas que eu, um dia, posso ficar com o Marten e com vocês? – Milicent sorriu. Conhecendo Mary Alice como conhece, aquela era a forma de ela assumir que tinha saudades de estar com eles.
- Claro que podes – respondeu logo Marco – aliás, porque é que não vens para cá amanhã e ficas até ao dia de anos do Marten? Assim ajudas a Mili e tudo… - sugeriu, fazendo com que a menina esboçasse um sorriso enorme e olhasse para Milicent.
- Eu acho a proposta do Marco muito boa…
- Podes pedir à mãe? – perguntou Mary Alice, fazendo com que Milicent se risse.
- Posso. Eu falo com a mãe.
- Obrigada! – abraçou primeiro Milicent para, depois, abraçar Marco também – eu adoro-vos!
- E nós adoramos-te a ti, macaquinha – disse Marco, passando com a sua mão pela cabeça de Mary Alice. A menina acabou por se ir juntar aos pais e Marco olhou para a namorada.
- Obrigada – agradeceu Milicent.
- Deixa-te disso – beijou a testa da namorada, olhando-a – somos todos uma família.


- Andas a ficar muito mole de manhã, Marco Reus!
- As manhãs foram feitas para estar na ronha consigo, Milicent Reus! – os dois riram-se e Milicent acabou por se sentar na cama, passando as suas mãos pelo tronco do namorado.
- Por enquanto sou apenas Werner, meu amor.
- Não queres ser a minha Reus? – Marco levou a sua mão até à coxa de Milicent.
- Claro que quero. E eu adoro que me chames assim – beijou-lhe a barriga, olhando-o a seguir.
- Doida!
- Vá, vamos levantar. Lá porque estás de férias isto não é vida.
- O bebé nem sequer acordou!
- Não interessa, eu tenho fome e a Mary Alice há-de estar aí a chegar.
- Isso é verdade – Marco sentou-se na cama, levando as suas mãos ao pescoço da namorada – e, relativamente a essa fome, ninguém te manda acordar a meio da noite e seduzir-me!
- Caluda – beijou o namorado, levantando-se a seguir – diz lá que não gostaste de ser seduzido a meio da noite?
- Gostei! – Marco falou um pouco mais alto, já que Milicent entrou na casa de banho. Apanhou o seu cabelo, começando a tratar de lavar a cara – mas qual é a pressa? – perguntou, entrando na casa de banho – a miúda só chega daqui a meia hora…
- Por isso mesmo. Temos meia hora para eu me arranjar, tu te arranjares, comer, ver se o bebé acorda…
- Tão linda que ela anda – Marco rodeou-lhe a cintura com os braços, deixando-se ficar abraçado à namorada – às vezes dou por mim a pensar que, se eu estivesse casado com a Carolin, eu acho que não iria ser tão feliz como sou agora – Milicent olhou-o através do espelho, achando aquela conversa muito estranha – não faças aí rugas na testa que não é preciso – Milicent fazia sempre umas rugas na testa quando estava confusa, Marco riu-se dando-lhe um beijo no pescoço – é verdade. Ela não queria ter filhos pelo menos até fazer 25 anos, não é ligada à família, não a imaginaria, nunca, a organizar esta casa de uma ponta à outra enquanto tinha um filho de um ano ao cuidado dela… - Milicent esboçou um sorriso, levando as suas mãos às que Marco tinha na sua barriga – eu hoje não consigo imaginar a minha vida se não te tivesse conhecido.
- Sais-te melhor que a encomenda, tu!
- Deixa lá que tu também não ficas nada atrás – Marco voltou a beijar-lhe o pescoço.
- Vá, deixa-me lá arranjar-me e vai tu ver se o Marten acordou – o rapaz afastou-se de Milicent começando a sair da casa de banho. Milicent continuou a arranjar-se, super bem descontraída e tranquila.
Enquanto isso, Marco dirigiu-se ao quarto do filho e, assim que chegou perto do berço de Marten, deparou-se com o menino deitado, acordado e a brincar com a sua chupeta.
- Então tu já estás acordado e não dizias nada, campeão? – assim que ouviu a voz do pai, Marten começou a rir-se – andas a portar-te muito bem, sim senhor! – fez-lhe cócegas na barriga, intensificando a gargalhada de Marten – vamos ter com a mãe, vamos?
- Mãe! – Marten começou a virar-se de barriga para baixo para, depois, se sentar no berço e esticar os seus braços na direção de Marco – mã, mã!
- Anda lá – pegou no filho ao colo, dirigindo-se para o quarto – olha, olha…já viste a preguiçosa da mãe? – Marco colocou Marten em cima da cama, que depressa gatinhou na direção de Milicent – primeiro querias despachar-te e agora estás aí?
- Estou mal disposta… - confessou, ao mesmo tempo que Marten se sentou junto a ela – não dás beijinho à mãe? – perguntou, passando com a sua mão pelas costas de Marten. O menino deitou-se a seu lado, dando-lhe um beijo na bochecha.
- Mã, ó-ó?
- Vou fazer ó-ó vou. Queres nanar comigo? – num ápice Marten começou a gatinhar na direção de Marco – pronto, vou entender isso como um não.
- Já estou a ficar preocupado contigo, Mili… - disse Marco, visivelmente preocupado.
- Eu prometo que se me continuar assim eu vou ao médico. Isto pode ser uma virose ou qualquer coisa que eu comi…
- Mesmo assim. Com as tonturas e agora esta má disposição…
- Eu sei que estás preocupado – Milicent sentou-se na cama, olhando o namorado – mas eu estou bem. Prometo!
- Não vou deixar de estar preocupado na mesma – os dois limitaram-se a ficar a olhar um para o outro, sendo interrompidos pelo som da campainha – deve ser a Mary.
- Eu vou lá que tu ainda estás em trajes menores – Milicent levantou-se, ainda um pouco fraca. Pegou em Marten ao colo e foi com ele até ao andar debaixo para abrir a porta aos pais e a Mary Alice.
- Bom dia! – disse Milicent, ao abrir a porta.
- Bom dia! – Mary Alice abraçou a irmã, olhando-a – estavas a dormir? – talvez pela sua cara de enjoada, Mary Alice pensasse que Milicent tivesse acabado de acordar.
- Não, eu já acordei há um bocadinho.
- Mas estás com cara de quem acabou de acordar – comentou a mãe, fazendo com que Milicent a olhasse.
- Só estou mal disposta, está tudo bem.
- Tens a certeza que não faz mal ela ficar por cá? – perguntou o pai, desviando a atenção para Mary Alice.
- Claro que não. Duas mãos extra cá em casa são sempre bem-vindas. Eu tenho de tratar da festa do Marten e do Mario, por isso…é mesmo uma boa ajuda.
- Se precisares de alguma coisa podes chamar-nos, também – assegurou a mãe, colocando a sua mão sob o braço da filha.
- Eu sei, obrigada.
- Então nós levamos aqui a menina depois da festa – o pai baixou-se, abrindo os braços. Mary Alice abraçou-o fazendo, depois, o mesmo com a mãe.
- Fiquem descansados que ela vai ser tratada como rainha cá em casa! – assegurou Marco, chegando naquele momento perto de Milicent. Cumprimentou os sogros, pegando em Mary Alice ao colo.
- Disso não duvidamos – Renae riu-se, olhando para a filha – qualquer coisa que precisem digam.
- Obrigado – agradeceu Marco.
- Vá, então portem-se bem – Renae e Hinrich despediram-se dos quatro e Milicent fechou a porta de casa, indo para a sala.
Colocou Marten no chão a brincar com os seus brinquedos e, assim que Marco colocou Mary Alice no chão, a menina juntou-se a ele.
- Estás bem? – perguntou Marco, levando as suas mãos às costas da namorada.
- Estou mal disposta, só isso.
- Daqui a nada agarro em ti e levo-te ao hospital.
- Não te preocupes, porra! Eu estou bem – Milicent afastou-se do namorado, sentando-se no sofá. Marco encolheu os ombros, achando toda aquela mudança de temperamento de Milicent esquisito – então, Mary, como é que tu tens andado? Como é que correu a escola?
- Correu bem. já não tenho mais.
- Então também já estás de férias como eu – disse Marco, sentando-se ao lado da namorada.
- Sim! Mas, sabem uma coisa? – a menina olhou-os por um bocado, voltando a olhar depois para Marten e os seus brinquedos – o pai e a mãe andam chateados – Milicent olhou para Marco…ela sabia que algo não estava bem!
- Chateados? – perguntou, tentando saber algo mais sobre o que Mary Alice lhe dizia.
- Sim. Eles discutiram, duas vezes. E a mãe diz que não quer estar com o pai mais vezes – Milicent voltou a olhar para Marco, sentindo-se a quebrar por dentro. Como assim? Como é que as coisas poderiam estar tão diferentes e ela não se ter apercebido de nada até ontem? Só ontem é que Milicent percebeu que os seus pais não estavam bem e, ao que parece, as coisas já não estão bem há algum tempo.
- Tenho a certeza que eles vão fazer as pazes – garantiu Marco já que Milicent não conseguia dizer nada – às vezes os crescido têm discussões e dizem coisas que não querem um ao outro mas…depois as coisas acabam por se resolver e ficar tudo bem.
- Achas? – perguntou Mary Alice.
- Tenho a certeza. Eu e a mana já nos chateamos, tu sabes, não é? – ela assentiu que sim com a cabeça – e olha para nós? Estamos bem agora, temos o bebé e estamos felizes. Vais ver que eles vão resolver as coisas, se calhar agora que não estás lá ao pé deles até fazem as pazes, vais ver.
- Eu espero que sim.
- Já tomaste o pequeno-almoço? – perguntou Milicent, desviando-se daquele assunto.
- Já!
- E não queres mais nada?
- Não, mana. Eu estou bem.
- Então tomas conta do Marten enquanto eu e o Marco vamos fazer o comer para nós?
- Sim. Eu tomo conta dele – passou a sua mão pela cara do menino e os dois foram até à cozinha.
- Como é que eu não percebi que as coisas não estavam bem? – atirou, assim que fechou a porta da cozinha e ficou a sós com Marco. Andava de um lado para o outro, retirando comer do frigorífico, dos armários e todos os utensílios de que precisaria – eu tenho andado tão distraída que não percebi que os meus pais não andam bem, Marco!
 - Hey – Marco parou-a, levando as suas mãos ao pescoço da namorada – acalma-te e pensa direito. Tu, nestes últimos tempos, andas com imensa coisa em mãos. São as entrevistas de emprego, os nãos que elas trazem, o meu aniversário e agora o do Marten. Ainda para mais com as minhas lesões, esta casa que temos de gerir e um filho pelo meio…tu não podes estar a olhar para todos ao mesmo tempo. Quando nem para ti olhas como deve ser.
- Tu não estás a perceber – Milicent afastou-se dele, como que não ouvindo aquilo que ele lhe estava a dizer – os meus pais nunca, mas nunca tiveram discussões. No máximo tinham aquelas picardias mas acabavam a beijar-se e às gargalhadas. Desde que eles deixaram de voar, desde que deixaram de fazer o que gostam que eles se tiveram de ajustar a uma nova vida. E eu não percebi se eles se estavam a ajustar a essa vida, se eles estavam felizes. Para a Mary Alice dizer que a minha mãe diz que não quer estar com o meu pai…as coisas não estão mesmo nada bem, Marco! – o rapaz conseguia perceber que Milicent estava perdida. Conseguia perceber que, naquele momento, a sua namorada tinha perdido todo o seu norte.
- Acalma-te, por favor – puxou-a pelo braço, encostando a cabeça da namorada ao seu peito – não te podes martirizar, nem culpar por nada. Tu és uma mãe de família agora, também. Tu estás a ganhar a tua vida e a ser independente. Não podes estar com mil e um olhos em cima de todos, nem eu o estou – levou as suas mãos à cara da namorada, olhando-a. Milicent já tinha lágrimas a escorrerem-lhe pela cara – chora à vontade, mas tem calma. As coisas vão resolver-se, vais ver. Pode ser que estes dias sem a Mary lá por casa lhes sirva para se acalmarem aos dois e perceberem o que se passa.
- Eu acho que devia falar com a minha…
- Não – interrompeu Marco prontamente – não vais falar com ninguém. Deixa-te ficar sossegada e espera que seja a tua mãe a contar-te o que se passa.
- Se eles se separarem…
- Eles vão continuar a ser os teus pais. Nada disso mudará, Mili.
- E a Mary? Será que a podem retirar aos meus pais?
- Não comeces já a pensar nisso, por favor. Eu sei que não é fácil, que neste momento deves estar com a cabeça a mil. Mas calma, tenta abstrair-te por um bocado. Pode ser?
- Vou tentar – encostou novamente a sua cabeça ao peito do namorado, sentindo-o aconchegá-la nos seus braços.

Ambos sabiam que os próximos tempos seriam complicados. Talvez Milicent tivesse mais consciência disso já que Marco pretendia manter uma visão mais positiva de tudo. Milicent sabia que, a qualquer momento, poderia estourar a bomba de ver os seus pais separados com todos os problemas que essa separação poderia trazer.  


Olá, olá! 
Trago-vos um novo capitulo e espero que gostem. 
Beijinhos, 
Ana Patrícia.