quarta-feira, 1 de junho de 2016

47º Capitulo: “Qualquer dia os fisioterapeutas ficam fartos de ti.”

Depressa chegaram a casa e Milicent gostou de toda aquela sensação de bem-estar que tinha, naquele momento. É certo que a viagem até ali tinha sido feita em torno de um silêncio constrangedor, mas a esperança de que tudo iria ficar bem vivia na jovem rapariga.
- Queres...comer alguma coisa? – Marco acabou por perguntar, depois de Milicent colocar a alcofa de Marten em cima do sofá.
- Não, obrigada – Milicent sentou-se, olhando para Marco. Reparou que se preparava para subir as escadas com as malas na mão – Marco achas que...podemos falar antes de ires lá acima pôr as coisas? – Marco olhou-a, deixando as malas ao fundo das escadas e voltando para junto dela.
- Pensei que preferisses descansar e, não sei, assentar melhor tudo o que aconteceu.
- Não. Acho que precisamos mais de falar...
- Claro – Marco sentou-se ao lado da namorada, entrelaçando as suas mãos uma com a outra. Olhou-a, reparando que Milicent parecia estar mais cansada do que o habitual – eu sei que não fui uma pessoa decente para ti – Marco olhou para as suas mãos – disse coisas que não devia ter dito e fiz coisas que não deveria ter feito.
- Durante esta semana eu fui vendo as coisas noutra perspetiva. Estar ao pé do Thiago e ver tudo o que ele passou fez-me entender o teu lado – olhou para Marco que mantinha o seu olhar preso nas suas mãos – eu hoje entendo que te tenhas sentido em baixo, que sofreste imenso em silêncio – Milicent aproximou-se um pouco de Marco, levando a sua mão direita à cara dele – foi preciso eu distanciar-me para te compreender – com calma, virou a cara do namorado para ela – longe, eu consegui perceber que, talvez, a pressão de uma relação, um filho e uma lesão te tenham levado a um extremo que nenhum de nós pensou ser possível existir – Milicent colocou a sua outra mão na cara de Marco, aproximando-se ainda mais dele – mas também percebi que foi tudo o que nos aconteceu que te manteve de pé e a razão pela qual hoje estás assim.
- Eu acabei por pensar que não estava focado no que era preciso, sabes? Eu tive dias em que lutei na minha cabeça em saber o que era mais importante para mim – Milicent tinha começado a mexer no cabelo de Marco e pôde ver um sorriso formar-se nos lábios dele – houve mudanças na minha vida que eu não esperava que acontecessem e, tudo isso, veio juntar-se aos pensamentos da lesão. Porque eu tenho medo de falhar com vocês, tenho medo de falhar como profissional e...estas lesões deitam-me abaixo em todos os aspetos.
- Sabes... – olhavam-se nos olhos, Milicent tinha as suas mãos na cara do namorado e sentia o seu coração crescer – desde que o Marten nasceu que eu também tenho medo de falhar em tudo. Mas nós estamos a dar o nosso melhor e, no teu caso, estas lesões desde o mundial são recaídas. Tu não estás completamente curado e é preciso que o estejas para te voltares a sentir confiante como antes.
- E nós?
- Nós?
- Sim. Nós. Tu estás confiante que existirá o mesmo nós de sempre?
- Claro que estou. Porque eu sou a tua Mili de sempre, tu és o meu Marco de sempre e agora temos o nosso Marten. Vamos ganhando uns ajustes aqui e ali, mas estamos e vamos estar sempre juntos e com o mesmo nós. Marco... – Milicent agarrou as mãos do namorado, mantendo o seu olhar preso ao dele – estas coisas acabam por fazer parte da vida de casal. E é isso que nos somos. 
- Desculpa tudo o que te disse e tudo o que fiz de mal que não deveria ter feito.
- E desculpa eu...aquela chapada antes de ir para Munique foi um bocado agressiva. Não é que não a tivesses merecido...
- Bem que a mereci, mesmo.
- Mas eu exagerei – Milicent não resistiu mais e acabou por abraçá-lo. Senti-lo nos seus braços, sentir o cheiro de Marco voltar a entranhar-se nela – desculpa.
- Vai ficar tudo bem, Mili – Marco envolver o corpo da namorada com os seus braços e assim permaneceram durante algum tempo.


- Eu disse que o Marco marcava à tua equipa, Mario!
- Oh, pára lá com isso. Não vês que o Mario está triste porque o Dortmund perdeu... – afirmou Marlene, olhando para Marco que estava ao lado de Milicent – olha bem para a cara dos dois – puxou a amiga para junto dela e, lado a lado, olhavam serias para Marco e Mario – estão os dois exatamente com a mesma cara. Parece que jogam pela mesma equipa e perderam o jogo.
- Realmente. Oh Mario, ganhaste!
- Olha, mas queres que diga o quê? – Mario cruzou os braços, olhando sério para Milicent – sabes bem o que é que o Dortmund significa para mim e eu nunca poderei ficar feliz assim.
- Oh, puto, mas ganhaste e estiveste muito bem no jogo – as duas raparigas acabaram por se rir. Era a primeira vez que eles dois se falavam desde que o jogo tinha acabado. Marco iria partir, em breve, com a equipa e Milicent juntamente com eles no mesmo avião. Não tinha trazido Marten consigo já que, fazer duas viagens no mesmo dia, seria cansativo para o bebé.
- Vá, meninos, abracem-se que temos de ir embora, Marco – acabou Milicent por dizer.
- Já? – questionou Marlene.
- Tem de ser. Vamos no avião onde vai toda a comitiva e tal.
- Oh, mas deviam ficar cá mais um bocadinho!
- Eu ficaria de boa vontade – Milicent abraçou-a, dando-lhe um beijo na bochecha – mas temos de ir. Vocês continuem a portar-se bem e, quando forem à próxima ecografia vejam lá se a médica se enganou ou não.
- Deves estar a brincar, tu! – Mario, que se mantinha à conversa com Marco, acabou por interromper a conversa de Milicent com Marlene – porque raio queres tanto que a médica se engane?
- Olha, porque eu queria mesmo uma namorada para o meu filho. Alguém de confiança, sabes? – Marco e Marlene riram-se, enquanto Mario se aproximou um pouco mais delas.
- Vai ser um menino, habitua-te. Depois quando tiveres uma filha, o Erik já tem experiência e será um ótimo namorado.
- Oh, tarado! Estamos a falar de crianças, seu cromo – todos se riram e acabaram por se despedir.
Depressa se dirigiram, cada um, para os seus respetivos sítios. Marco foi ter com a sua equipa e Milicent foi para o aeroporto.
O avião onde iam estava demasiado tranquilo. Milicent ia vendo que Marco a olhava de vez em quando, assim como Aubameyang que ia ao lado dele.
- Aqueles dois ainda vão tramar alguma! – comentou Alysha, a mulher de Aubameyang.
- Eu até me admiro ainda não terem feito nenhuma maluquice.
- Como é que estão as coisas com o Marco? – assim como Aubameyang se tinha tornado visita frequente na casa de Marco e Milicent, Alysha acompanhava-o a maior parte das vezes. Milicent conseguiu, assim, encontrar alguma rapariga que fosse, de certa forma, parecida com ela e com quem falava de tudo um pouco.
- Estão estáveis. Estamos bem, mas ainda não completamente. Mas trabalhamos para isso...
- Queres um conselho de alguém que teve uma relação, em tempos, assim? – Milicent olhou-a – As coisas com o Auba nem sempre foram fáceis, sobretudo quando nasceu o Curtys. Sabes bem como ele gosta de festas e de sair...nós éramos os dois assim e, com o nascimento do nosso filho, tornou-se complicado. Ele queria sair e eu cheguei a um momento que lhe fiz um ultimato...eu não poderia ficar sozinha tanto tempo com um bebé tão pequeno. O filho era dos dois.
- Não fazia ideia...
- Acho que ninguém faz – Alysha sorriu – eu afastei-me, tal e qual como tu. E depois...ele procurou-me e, Milicent – Alysha agarrou as mãos da rapariga, olhando-a – o melhor conselho que te poderei dar é para recuperares a vossa relação na plenitude com todo o vosso amor. Não o façam pelo vosso filho...ou pelos outros, façam-no por vocês. Nota-se que vocês estão bem, sabes?
- Nota?
- Sim. Nos primeiros dias, quando cá chegaste, vocês estavam muito estranhos um para o outro. Não se abraçavam constantemente pela casa, não tinha aqueles sorrisos um para o outro nem o piscar de olho – Milicent estava surpreendida por aquelas palavras de Alysha – e, agora, já estão novamente assim...
- O que é que estão aí a cuscar há tanto tempo? – a voz de Aubameyang interrompeu-as. Apareceu ao lado de Alysha (elas estavam na fila central de lugares no avião) cruzando os braços a olhar para elas.
- Deves ter muito a ver com isso, oh rapaz – atirou Milicent. Foi surpreendida por Marco que, num movimento muito rápido, se sentou em cima das pernas de Milicent.
- Já viste a tua namorada? Ela adora tratar-me mal!
- Alguma coisa lhe fizeste! – Milicent deitou a língua de fora a Aubameyang, encostando a sua cabeça às costas de Marco, rodeando o corpo do namorado com os seus braços.
- Eu? Nunca! Ela é que é assim para mim e é desde o primeiro dia em que nos conhecemos. Já tu...deves-lhe fazer coisas muito boas, tendo em conta o tratamento que tens. Nunca pensei que fosses assim tão bom, oh loirinho.
- Ninguém disse que ele é, Auba – Milicent percebeu que Marco tentou rodar o seu corpo e só via Aubameyang rir-se à gargalhada – eu estou a brincar. Escusas de estar aí a rir-te de uma coisa que não é verdade.
- Mesmo que fosse – Aubameyang, parando um pouco de se rir, olhou-a – tu nunca irias deitar abaixo o rapaz, não era?
- Acredita que ela era bem capaz disso – respondeu Marco.
- Ele sabe do que fala – afirmou Milicent.
- Para quando o casamento? – perante aquela pergunta, Alysha acabou por dar um pontapé ao marido – ei! Para que é que foi isso?
Milicent percebeu que Alysha tinha feito algum sinal a Aubameyang e acabou por se rir.
- Está tudo bem, Aly – acabou por dizer, rindo-se – o teu marido não filtra o que diz, já todos sabemos.
- E devíamos ir para os nossos sítios – alertou Marco, tentando levantar-se. Milicent impediu-o de sair dali... – olha, olha...agora não posso sair daqui?
- Ela está com vontade de fazer coisas obscenas contigo! – Aubameyang foi até Marco, puxando-o – o teu namorado está comigo, adeus.
- Depois admira-te que não te ligue nenhuma! Roubas-me assim o namorado?
- Tens tempo para, em casa, fazer coisas com ele – Milicent acabou por se rir e vê-los irem embora. Olhou para Alysha que, naquele momento, estava bem mais aliviada do que na altura em que Aubameyang falou em casamento.
- Está tudo bem...mas foi um belo de um pontapé!
- Ele, maior parte das vezes, não pensa mesmo no que diz. Desculpa.
- Está tudo bem, obrigada.
A viagem fez-se tranquilamente e sem qualquer percalço. Milicent acabou mesmo por adormecer e só acordar com Alysha a chamá-la.


- O Marco está estranho... – comentava Milicent, com Marcel. Os dois tinham ido ver o jogo, juntamente com Marten que permanecia muito sossegado no colo da mãe.
- Também já tinha reparado nisso.
- Achas que...poderá ser alguma coisa?
- Eu não faço ideia, mas que ele não está a jogar da mesma forma lá isso não está.
Milicent manteve-se positiva, manteve todo o seu discurso bem tranquilo e sem levantar pensamentos negativos. Foi possível fazê-lo até que Marco foi substituído ainda antes do intervalo. Algo não estava mesmo bem.
- E agora? – olhou para Marcel, esperando algum tipo de resposta.
- Vamos esperar que nos digam qualquer coisa. Esperamos pelo intervalo a ver se ele volta do balneário. Só depois saberemos o que fazer.
- Será melhor prevenir a Marlene para me acolher em Munique? – Marcel riu-se e Milicent acabou por fazer o mesmo – acho que sabes que estou a brincar...
- Sei e, sinceramente, mais vale isso do que entrares já em desespero.
- Aprendi, com ele e as lesões todas, que sofrer por antecipação não adianta de nada.
Esperaram por notícias. Nem um, nem o outro fez alguma coisa por obtê-las ficando apenas ali. Sossegados e a conversarem sobre tudo e mais alguma coisa que não estivesse relacionada com Marco.
Quando o intervalo do jogo terminou, Marco não voltava com a equipa e, aí, Milicent soube que, definitivamente, algo tinha acontecido e não era apenas uma queixa.
- Vamos, anda – Marcel levantou-se, surpreendendo Milicent que, inicialmente, sentiu que estava congelada. Foram breves segundos que se manteve sentada, em vez de seguir Marcel. Só o conseguiu fazer quando Marcel a olhou, voltando a chamá-la.
Caminharam lado a lado, até que chegaram ao que, aos olhos de Milicent, seria uma zona reservada. Depressa o segurança que ali estava se afastou da porta, olhando para Marcel.
- Já sabe onde ir? – perguntou o segurança a Marcel.
- Sim, sim. Desta vez temos mais companhia, não faz mal, pois não?
- Não, não. Estejam à vontade – o segurança abriu-lhes a porta e os dois entraram.
- Já te conhecem bem por aqui... – comentou Milicent.
- Cada vez que o Marco se lesiona por Dortmund era sempre eu que vinha aqui ter com ele.
- Estou a ver...e vamos onde?
- Aos balneários. Ele mandou-me mensagem para virmos aqui ter com ele – depois de virarem à esquerda naquele corredor, Milicent viu a porta do balneário aberta. Sabia que seria ali porque já tinha visto por diversas vezes aquele mesmo balneário na televisão – eu diria para esperares e eu ir ver como ele está...mas tu já lhe conheces tudo – os dois riram-se – e, mesmo que ele esteja em baixo, já sabes como é. Mas, mesmo assim, queres que entre primeiro?
- Não, não...podemos ir os três ao mesmo tempo.
- Vamos, então.
Milicent sentiu a necessidade de respirar fundo antes de entrar naquele balneário. Marco estava sozinho, mexia no telemóvel e tinha o pé sobre uma cadeira. Milicent percebeu que estava tranquilo e, até, com um sorriso nos lábios. Aproximou-se do namorado, assim como Marcel também se aproximou do amigo.
- Já chegaram! – Marco olhou-os, esticando a sua mão direita na direção de Milicent.
- Como é que estás? – perguntou Marcel e Milicent apenas conseguiu segurar a mão do namorado, olhando-o. Marco acabou por segurar a mão de Milicent com alguma intensidade, olhando para Marcel.
- É provável que fique o resto do ano sem jogar – Milicent sentiu-se a quebrar por dentro, acabando mesmo por se sentar ao lado de Marco – suspeitam que rompi os ligamentos do pé e...é isso. Mas só amanhã é que sabemos ao certo o tempo de paragem.
- Hum... – Milicent não sabia bem o que dizer naquele momento. Os olhos de Marco ficaram postos nela, enquanto Milicent olhava para as suas mãos juntas procurando o que lhe dizer.
- Não estás a pensar ir para Munique, pois não? – Marco fez aquela pergunta, acabando por se rir de seguida. Milicent olhou-o, recebendo um beijo na testa. Marcel acabou por se rir também, provavelmente lembrando-se da conversa que teve com Milicent.
- Não. Porque vai ser diferente, não vai Marco?
- Vai. Desde que sejas a minha motorista de serviço nos próximos tempos...
- Então estás a descartar-me? – questionou Marcel.
- Sabes bem que aprecio muito a tua companhia – Marco olhou o amigo, rindo-se – mas tem sempre mais encanto uma motorista tão gira como a minha namorada.
- Quem te viu e quem te vê! – Marcel acabou por verbalizar o que ia na cabeça de Milicent. Aquele Marco que tinham ao pé deles, era totalmente diferente daquele que antes tinham tido nas outras lesões. Marco estava mais calmo, muito mais animado e com uma frescura na voz que lhe era carateristica.
- Já são muitos meses de experiência e sei bem que, daqui para a frente, o mais importante é estar com vocês – levou a mão de Milicent até aos seus lábios, beijando-a – estar bem e recuperar da melhor forma possível.
- E recuperar totalmente! Qualquer dia os fisioterapeutas ficam fartos de ti – comentou Milicent, fazendo com que Marco a olhasse – não me olhes assim, eu nem imagino o chato que tu és para os pobres senhores que te aturam!
- Pode ser uma senhora... – Milicent, naquele momento, só teve vontade de fuzilar Marcel com os olhos. Marco riu-se, acabando por lhe beijar a bochecha.
- Eu prometo que são sempre homens.
- Também não sei se fico descansada com isso! – todos se riram e Marten acabou por soltar, também ele, uma gargalhada. Quase como percebendo tudo o que ali se estava a passar – alguém está animado, também.
- O meu menino é lindo – Marco baixou-se, beijando a testa do filho – que me dizem de irmos para casa?
- Não tens de ir ao hospital? – perguntou-lhe Milicent.
- Não. Já me fizeram aqui imensos testes e amanhã é que vamos ver como tudo está. Vou com o pé ligado e analgésicos para as dores.
- Se te andares a queixar a noite toda...eu levo-te ao hospital!
- Combinado – os dois trocaram um beijo calmo e ternurento, seguindo para casa.


- Senta-te lá aqui um bocadinho, por favor – pedia Marco.
Milicent andava de um lado para o outro, sem parar um único segundo. Noite de natal, a primeira vez em sua casa e a primeira vez que a passava com toda a sua família. Não só os seus de sangue, mas juntando, também, toda a sua família da parte de Marco.
Sentou-se ao lado do namorado, olhando à sua volta. Estava a casa cheia, estavam ali mesmo todos. Havia um ambiente natalício naquela casa.
- Está tudo bom, não está? – perguntou Milicent.
- Está tudo ótimo. Começa a aproveitar a noite...
- Certo – Milicent encostou a sua cabeça no peito de Marco, levando uma das suas mãos à barriga do namorado – já viste o quão eles se dão bem? – apontou para Mary Alice e Nico, o sobrinho de Marco, que brincavam no chão com Marten.
- A Mary Alice tem uma paciência enorme para eles. Tem estado ali sempre a dar os brinquedos, a ajeitá-lo e sempre atenta a todos os movimentos do Marten e ainda consegue brincar a sério com o Nico, pelo meio.
- Já sabemos que, com ela, os meninos ficam bem entregues!
- Ai pois ficam, ficam – os dois riram-se e Milicent acabou por se sentar como deve ser, olhando para o namorado.
- Estás com dores?
- Não. Está tudo tranquilo – era, também, o primeiro dia que Marco andava sem ajuda das muletas. A recuperação estava num ótimo caminho e, pelas perspectivas dos fisioterapeutas de Marco, para o final do mês de Janeiro estaria apto a voltar aos jogos.
- Mano! – Melanie, a irmã do meio, chegou perto deles com uma guitarra na mão – que me dizes?
- Mel...eu não sei – Marco olhou para Milicent, sorrindo – acho que há coisas sobre mim que ainda não sabes.
- Estou a perceber, estou.
- Não me digas que nunca lhe tocaste nada? – perguntou, incrédula, Melanie.
- Acho que o teu irmão se esqueceu como pode ser romântico...
- Oh, Marco, que atado! – Melanie passou-lhe a guitarra para as mãos e Milicent levantou-se.
- Família... – os burburinhos que se faziam ouvir naquela sala cessaram e todos se focaram em Milicent – obrigada. Bom, ao que parece, o nosso querido Marco tem uma vertente artística que eu desconhecia completamente! – Milicent pode ver Manuela sorrir e Yvonne sentar-se no chão, junto do filho – Marco, o palco é teu, meu amor.
Marco, com ajuda da namorada, levantou-se do sofá. Beijou-a, sentando-se numa cadeira perto da árvore de Natal. Muito depressa, Melanie colocou-se um gorro de pai natal e Milicent não perdeu a oportunidade de captar aquele momento.
Sentou-se no chão, colocando Marten no seu colo. Os primeiros acordes fizeram-se ouvir e, rapidamente, Milicent percebeu qual era a música que o namorado tocava naquele momento. I don’t wanna miss a thing. Aerosmith, com uma das músicas que Marco mais cantarolava lá por casa.

- Eu não fazia ideia, mesmo, que tocavas! – Milicent apanhou Marco sozinho no sofá, sentando-se ao lado do namorado.
- Coisas que eu faço muito raramente...
- Acho muito mal nunca me teres feito uma serenata!
- Para depois dizeres que parti os vidros? – os dois riram-se mas Milicent acabou por beijar o namorado.
- Mana? – a voz de Mary Alice interrompeu-os e, de imediato, os dois olharam para a menina – o que é que o Marten está a fazer?
Milicent já tinha reparado, por várias vezes, que Marten tinha começado a virar-se de barriga para baixo e a tentar ir a algum lado. Não tinha a força suficiente, ainda, nos braços para o fazer mas já era um principio.
- O Marten está a treinar para, daqui a uns tempos, começar a gatinhar – esclareceu Milicent.
- E depois, daqui a muitos tempos, começar a andar? – perguntou Nico.
- Exatamente. Mais uns muitos tempos e ele já vai puder andar a correr com vocês.
- Tu vais deixar ele correr connosco?
- Claro que vou, Mary – Milicent sorriu, vendo Marten voltar a deitar-se de barriga para cima – vocês preparem-se para o controlarem depois!
- Nós tomamos conta dele – disse Nico, dando um beijo na testa do primo.
Reparando que os meninos tinham voltado às suas brincadeiras, Milicent olhou para Marco.
- Estás preparado para as correrias, nesta casa, com o nosso bebé preferido?
- Mais que pronto, minha mamã linda – os dois trocaram um beijo cúmplice e Milicent acabou por descansar um pouco nos braços do namorado.


- Não te importas mesmo, Marco?
- Claro que não. Estiveste ao meu lado quando eu mais precisei e, por isso, acabaste por nunca ter ido visitar o Thiago. Agora é a vez de o ires ver a ele...num momento como o desta semana.
- Obrigada – Milicent abraçou-o, beijando-o – depois de amanhã já cá estou. Qualquer coisa ligas-me logo.
- Vai descansada, nós ficamos bem os dois cá em casa.
- É bom que se portem bem! – Marco riu-se – mas a sério, descansa já que estás sem a chata da namorada por perto sempre a pedir coisas.
- Oh, cala-te – Marco voltou a beijá-la, olhando-a – és, sem qualquer dúvida, a melhor pessoa que já conheci na vida.
- Igualmente, namorado.
- Vá, não te atrases. Daqui a nada prendo-te aqui em casa e não te deixo ir!
- Isso era seres um namorado muito ciumento. Coisa que não és!
- Pois não sou, não – Milicent voltou a beijá-lo pegando na sua mala – faz boa viagem e avisa quando chegares.
- Aviso sim senhor – Milicent voltou a beijá-lo, foi beijar a testa de Marten e saiu de casa.
Chegou, muito depressa, ao aeroporto e toda a viagem até Munique foi bastante tranquila. Iria ter Mario à sua espera já que, depois, seguiam os dois para o centro de treinos do Bayern. Milicent queria surpreender Thiago no seu primeiro dia de regresso aos treinos. O relógio marcava as sete da manhã quando aterrou em Munique.
Assim que recolheu a sua mala, dirigiu-se ao local onde tinha combinado com Mario e lá estava ele, visivelmente ensonado.
- Isso é cara de quem anda a dormir mal e o bebé ainda nem nasceu! – disse Milicent, abraçando-o.
- A Marlene teve uma noite complicada – os dois trocaram dois beijinhos e Milicent olhou para Mario esperando que continuasse – oh queres saber coisas, é?
- Convém! Dizes que ela teve uma noite complicada e eu quero saber!
- Estava com umas dores estranhas e acabamos por ir ao hospital, mas está tudo bem.
- Está mesmo?
- Sim, não te preocupes...
- Isso é impossível, mas pronto – os dois começaram a caminhar para fora do aeroporto e, depois de irem até ao carro, pouco tempo demoraram a chegar ao centro de treinos – não lhe disseste que vinha, pois não?
- Claro que não. Além de que, muito sinceramente, a tua presença nem vai ser notada...
- Olha, obrigadinha!
Caminharam pelo centro de treinos do Bayern e Mario acabou por ir até uma sala onde estavam imensas pessoas. Milicent conhecia grande parte deles, eram os jogadores do Bayern.
- Isto é uma festa, não sei se estás a perceber – Mario olhou para Milicent – o dress code é usar vermelho, por isso estás fora do sitio.
- Oh cala-te!
Enquanto Thiago não chegou, as conversas foram diversas e Milicent acabou por se sentir um bocadinho deslocada mas, ao mesmo tempo, bem acolhida por todos.
- Ele vem aí – anunciou um dos fisioterapeutas que Milicent conhecia. Mario colocou-se atrás de Milicent, colocando as suas mãos sobre os ombros da cunhada.
Thiago entrou naquela sala, sendo surpreendido por um enorme “Bem-vindo” de todos os colegas. Demorou algum tempo a recompor-se e a cumprimentar aqueles que primeiro se dirigiram a ele.
- Tu? – perguntou, ao longe, assim que viu Milicent. Caminhou na direcção dela, abraçando-a – o que é que estás aqui a fazer?
- Agora é a vez de seres tu a receber o meu carinho – Milicent apertou-o contra si, sentindo uma sensação de bem estar dentro do peito.
Era assim, sempre que estava com Thiago. Sem dúvida que, ali, tinha uma bonita e especial amizade.


Olá! 
Cá está mais um capítulo que espero que gostem! Fico à espera dos vossos comentário :) 
Muitos beijinhos, 
Ana Patrícia.

1 comentário:

  1. Olá :)
    Só me falta esta fic e já fico actualizada :P
    Gostei muito deste capitulo e vou já passar para o próximo :)
    Bjs :*

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