Milicent passeava pelo jardim da casa de Mario
e Marlene. Caminhava sem rumo tentando absorver toda aquela tranquilidade que
havia ali. Os acontecimentos daquela manhã deixaram-na preocupada, inquieta e
sem saber o que fazer ou o que dizer.
Pensava em Thiago
e no que ele teria de voltar a passar. Mas, também, pensava em Marco porque
toda aquela situação lhe era imensamente familiar.
- Estás bem? –
perguntou Marlene surgindo ao lado da amiga.
- Não sei... –
Milicent olhou para Marlene que vinha com o seu pequeno Marten ao colo.
- Adormeceu e
pensei que quisesses subir com ele para dormirem os dois. Já é tarde, Mi.
- Eu sei
e...obrigada por o teres adormecido.
- Na verdade,
foi o Mario que o conseguiu adormecer. Meteu-se a falar com ele e lá o
adormeceu.
- Se não fossem
vocês...
- É, eu sei.
Nós somos assim muito bons amigos.
- Os melhores!
– Marlene entregou Marten para os braços da amiga, dando um beijo na bochecha
de Milicent – vão dormir vocês também e desculpem toda a confusão que eu vim
causar.
- Não digas
disparates, por amor de Deus. Somos teus amigos para o bem e para o mal e,
neste momento, tu precisas de nós.
- Obrigada. Vou
tentar ligar ao Thiago ainda...
- E tenta,
também, o Marco. Ficaste de lhe dizer qualquer coisa, lembras-te?
- Sim...tens
razão – as duas caminharam para o interior da casa e Milicent começou a subir
as escadas para ir até ao seu quarto. Encontrou Mario no topo das mesmas, que vinha
a descer.
- Vão dormir?
- Vamos, Mario.
E obrigada por o teres adormecido.
- De nada, isto
é bom para treinar! – os dois trocaram um sorriso cúmplice e, assim que
Milicent chegou ao topo das escadas, Mario aproximou-se dela, dando-lhe um
beijo na testa – durmam bem – fez o mesmo a Marten, descendo as escadas.
Milicent
depressa chegou ao seu quarto, deitando Marten na sua alcofa em cima da cama.
Despiu-se, desmaquilhou-se e vestiu o pijama sentando-se em cima da cama. Pegou
no telemóvel...e a dúvida instalou-se: a quem ligar primeiro? Marco.
Depois de
iniciar a chamada, não demorou muito até que Marco atendesse a mesma.
- Mili...estava a ficar preocupado.
- Desculpa. Foi
um dia agitado.
- Já soube das notícias do Thiago...como é que
ele está?
- Deixamo-lo em
casa à pouco. Esteve connosco o resto do dia e achamos, pelo bem dele, que o
deveríamos manter perto de nós.
- E o que é que se segue na recuperação dele?
- Vai ter de
ser novamente operado... – Milicent reparou que Marco permaneceu em silêncio,
ouvindo apenas a sua respiração – vai amanhã à tarde para Barcelona e ficará
por lá a fazer a sua recuperação.
- Não vai voltar a Munique?
- Nos primeiros
tempos não. O fisioterapeuta vai com ele para o avaliar depois, mas
permitiram-lhe fazer esta recuperação em Barcelona.
- Imagino como ele se sinta...mas é bom ter-te
ao pé dele. Falo por experiencia própria.
- Ai é?
Ultimamente não tem parecido nada...
- Não sejas assim, por favor – Milicent
deixou-se, deixando o telemóvel no ouvido – eu
sei que ultimamente não tenho demonstrado quase nada e que me fechei um pouco
mas...esta está a ser a minha maneira de lidar com a lesão.
- Não digo que
entendo, porque é complicado para mim entender isso. Pelo menos por agora...e,
Marco, nós vamos ter tempo para falar sobre isto quando eu regressar. Ainda é
tudo muito recente, eu não consigo lidar com isto – Milicent olhou para o teto,
levando a mão à testa...poderia arrepender-se de muitas coisas mas não de falar
o que sentia – é difícil para mim ter saído de Dortmund da maneira que saí e
agora estarmos a falar os dois como se nada se passasse. Porque aconteceu muita
coisa e, tanto tu como eu, precisamos de tempo e espaço para esclarecermos o
que vai nas nossas cabeças.
- Eu concordo... – Milicent ficou um pouco
surpreendida com o que Marco dissera. Não estava à espera, de todo, daquela
resposta dele. Por um lado seria bom ele perceber o que lhe acabava de dizer
mas, se calhar, Milicent tivesse sido demasiado frontal com ele.
- É normal que
me ligues, que eu te ligue. Estamos juntos à quase um ano e meio e a nossa
relação tem vindo a amadurecer dia para dia. Temos um filho e tu sabes bem o
que sinto por ti. Mas...vamos tornar esta semana leve, simples e fácil. Tanto
para mim como para ti.
- Falamos de nós, então, quando regressares. É
isso?
- Sim. É o
melhor.
- Tudo bem...como é que está o Marten?
- Ficaste
chateado?
- Não, eu entendo-te. A sério que sim...é só
que, tenho saudades vossas.
- Nós voltamos
sexta-feira – ou seja, daqui a três dias
Milicent...estás quase a voltar para ele – o Marten hoje andou muito
agitado – acabou por responder à pergunta de Marco – e, como andamos de um lado
para o outro tornou-se difícil de o adormecer. Foi o Mario que o fez.
- Anda a treinar!
- Ele quer um
estágio sobre tudo o que sei de bebés enquanto cá estiver – os dois riram-se e,
depois de lhe contar que tudo tinha corrido bem na ecografia de Marlene,
terminou a chamada – boa noite, Marco.
- Dorme bem, Mili.
- Tu também –
desligou a chamada, iniciando logo de seguida outra para Thiago.
Não obteve
resposta à primeira tentativa e só obteve resposta de Thiago quando insistiu
uma segunda vez.
- Primeiro dizes para eu dormir e depois
ligas-me? O que é suposto eu fazer?
- Desculpa... –
Milicent sentiu aquelas palavras de Thiago atingirem-lhe o coração de uma forma
estranha. Custou-lhe ouvir aquilo...
- Ei, eu estou a brincar! Eu nem estava a
dormir.
- Thiago que
susto...
- Desculpa. O meu bom humor noturno não é
assim tão bom.
- Ah isso é o
teu bom humor? Então acho que não te quero ver de mau humor!
- Ai Milicent desculpa – Thiago
apercebeu-se que não tinha atendido a chamada da melhor forma – eu estava a brincar, a sério. Espero não te
ter magoado...desculpa.
- Foi estranho ouvir-te
dizer isso...quase como se tivesse a ouvir o Marco nos seus dias maus.
- Desculpa, querida. Que parvo que eu sou,
hein?
- Digamos que
não tens assim grande jeito para demonstrar bom humor – os dois acabaram por se
rir e Milicent ficou mais aliviada – queria saber como é que estavas antes de
dormir...
- Bem-disposto, mesmo que não pareça –
Thiago riu-se e Milicent esperou que ele continuasse – tenho algumas dores no joelho mas sei que, quando adormecer, passará.
- Tomaste algum
analgésico?
- Sim. Daqueles bem fortes que o Hussan me
disse para tomar. Não te preocupes comigo que eu desta cama já não saio e estou
bem. A sério.
- Amanhã de
manhã passo aí com o Marten. Podemos almoçar juntos antes de ires para
Barcelona?
- Eu acho que devemos mesmo almoçar
juntos...e, Milicent, queria agradecer-te por teres estado ao meu lado.
Foi muito importante para mim.
- Estarei à
distância de uma chamada sempre que precisares de mim, Thiago. Mesmo enquanto
estiveres em Barcelona...até te poderei ir visitar!
- Ai é?
- Vá, não sei.
Depende de como tudo esteja com a minha relação depois desta semana. Mas tudo
farei para estar a teu lado nesta fase.
- Como diria a minha mãe: és uma pessoa
luminosa, Milicent.
- Sou?
- És. Tudo à tua volta pode estar menos bem,
podes estar no meio de um furacão que manténs sempre o teu lado positivo e
acreditas naquilo que pensas. Isso é muito bom para quem está à tua volta.
-
Bem...obrigada. Eu faço por isso...
- Não te esqueças é de ti no meio do furacão,
sim?
- Acredita que
não esquecerei. Tenho um filho que depende de mim e, por ele e por todos vocês,
eu não me posso esquecer de mim – Milicent bocejou, rindo-se de seguida –
desculpa. Acho que estou com sono e ainda não tinha percebido.
- Foi um dia longo para todos...descansa,
preciosa.
- E tu também.
Qualquer coisa liga-me, sim? Mesmo!
- Não será preciso, acredita. Vamos dormir bem
os dois esta noite. O menino já dorme?
- Já. Foi
difícil mas está tranquilo e a dormir feliz.
- O teu filho é lindo, Milicent. Mesmo lindo!
- Obrigada,
Thiago. Acho que foi buscar as melhores coisas à mãe.
- Mentira...ele tem imensas parecensas com o
Marco.
- Devias dizer
que é parecido comigo! – os dois riram-se e Milicent voltou a bocejar – está
mesmo na minha hora. Dorme bem, Thiago.
- Vocês também. Um beijo grande para os dois.
- Beijinhos
para ti também e, já sabes, qualquer coisa liga.
- Não será preciso. Até amanhã.
- Até amanhã –
Milicent sorriu, desligando de seguida a chamada.
Olhou para o
filho que dormia tranquilo e feliz, tal como tinha dito a Thiago. Marten dormia
com aquela expressão serena típica dos bebés. Mas também dormia com um sorriso
e feliz. Milicent via o seu filho feliz enquanto dormia.
- Bom dia,
meninos – disse Milicent, chegando à cozinha. Marlene e Mario já tomavam o
pequeno-almoço, enquanto Milicent tinha acabado de acordar. Ainda estava de
pijama e trazia Marten no seu colo bem acordado.
Deu um beijo na
testa de Marlene e deu uma palmada nas costas de Mario, entregando-lhe Marten
para os braços.
- Já viste a
tua mãe? – começou Mario, falando para Marten – Está um bocado violenta logo de
manhã...
- Aleijei-te? –
perguntou Milicent.
- Não, não.
- Ah. Desculpa
na mesma – aproximou-se de Mario, dando-lhe um beijo na bochecha. Voltou à
bancada da cozinha, preparando o leite para o filho.
- Estás bem? –
perguntou Marlene.
- Sim, porque?
– virou-se para eles, depois de colocar a água a ferver no lume.
-
Porque...estás estranha, Mi.
- Acho que
estou demasiado mole, Marlene – acabou por confessar.
- E pediste-me
desculpa por não me teres aleijado...
- Coisa que só
acontece de ano a ano – olhou para Mario, rindo-se – estou mesmo mole. Parece
que dormi anos e anos.
- Isso é sinal
que a noite foi bem aproveitada, querida cunhada – Mario levantou-se,
entregando Marten a Marlene – portem-se bem que eu tenho de ir treinar. Os
putos tomam conta de vocês! – disse, já se despedindo da namorada e de
Milicent.
- Eu adorava
que daqui a um mês a médica dissesse que é menina – na ecografia do dia
anterior, com o aparelho indicado, o facto de a médica ser muito experiente e o
bebé ter colaborado, Marlene havia descoberto que estava grávida de um menino.
Só iria cumprir os quatro meses dentro de uma semana, estando perto das treze
semanas.
Todas as
apostas que Milicent tinha feito a dizer que seria uma menina...tinham sido
perdidas.
- Não te ponhas
com ideias triste, oh! – Mario aproximou-se dela, dando-lhe um beijo na testa –
é o Erik!
- Sim, sim.
Tenho algumas coisas do Marten se precisarem...
- Obrigado,
vês? Já estás a aceitar a derrota – Mario riu-se e Milicent deu-lhe um murro no
ombro – vou-me embora, portem-se bem.
- Vai pela
sombra! – Mario saiu da cozinha depois da afirmação de Milicent e as duas
ficaram a olhar uma para a outra – eu adorava mesmo que a médica estivesse
errada, sabes?
- Oh,
Mi...porque? É um menino, o nosso Erik e tu viste o quão feliz ficou o Mario.
- Eu sei. E,
acredita, no fim o que me interessa é que o meu primeiro sobrinho venha com imensa
saúde. Mas...uma menina seria sempre uma menina.
- Isso é
verdade. Pode ser que o teu segundo filho seja uma menina!
- Vamos pensar
que tenho de alimentar o primeiro filho. Vocês vão fazer primeiro o bebé número
dois!
- Vai
sonhando... – Milicent terminou de preparar o biberão de Marten, enquanto
Marlene o ia entretendo – hoje vou à faculdade de manhã.
- Aulas?
- Ah pois eu
ainda não te disse! Com a gravidez e o inicio conturbado, eu pedi para acelerar
as coisas e, como são disciplinas teóricas, vou fazer apenas os trabalhos e os
exames finais. Mas vou fazer tudo em casa. Menos os exames.
- Isso é ótimo!
Assim podes descansar!
- Sim. E não
tenho o Mario a fazer tanta pressão. Eu vou só entregar um trabalho...queres
vir comigo ou ficam por casa os dois?
- Hum...eu
queria ir a casa do Thiago – Milicent entregou o biberão a Marlene.
- Eu?
- Sim, vá.
Vocês querem aprender, não é?
- Mas eu já sei
isso...
- Vá, ele
ama-te e está aí tão bem no teu colinho – Marlene agarrou o biberão começando a
dá-lo a Marten. Milicent pegou numa maçã, sentando-se ao pé de Marlene –
Obrigada.
- Oh, de nada.
Eu adoro isto...vá, mas então queres ir a casa do Thiago. Eu posso deixar-te
lá. Fica a caminho.
- É? A sério?
- Claro. Só
precisamos de nos despachar e irmos.
- Obrigada,
Marlene.
- Agradece-me
fazendo o jantar!
- Combinado –
as duas riram-se e, enquanto Marten não terminou o biberão, a conversa girou em
torno do tema dos bebés.
- Vá, podes
dizer que estava mau...
- Não...estava
bom, a sério! – Milicent e Thiago tinham terminado de almoçar. Optaram por
ficar em casa e Thiago tinha sido o cozinheiro.
- Oh, mesmo?
- Sim. Podia
ter levado um bocadinho mais de sal mas estava ótimo!
- Ainda bem, ao
menos isso.
- Estás
nervoso? – Milicent começou a levantar os pratos da mesa, reparando que Thiago
se levantava – não, não. Deixa-te estar sentado. Estás muito fragilizado e já
cozinhaste.
- Obrigado –
Milicent continuou a levar toda a loiça para a bancada, lavando-a de seguida –
acho que a palavra certa é ansioso. Quero chegar a Barcelona, ver a minha
família e começar logo com a operação e a recuperação.
- Mas, Thiago,
tens de ir com calma.
- Pois, eu sei.
Acho que vai custar imenso o tempo que estiver com o gesso. Quanto tempo é que
o Marco teve com gesso no pé?
- Duas semanas.
E tu? Na primeira operação?
- Duas semanas,
também. Depois comecei com massagens e fisioterapia. Acho que ir para Barcelona
vai ser bom. Tenho lá a minha família, entendes?
- Claro que
sim. Parecendo que não aqui só tens os amigos e a família tem sempre um papel
fundamental em nós – Milicent fechou a torneira, olhando para Thiago – quando
tempo ficarás por lá?
- Talvez um mês
e meio. Volto cá em finais de Novembro e volto novamente a Barcelona para o
Natal e passagem de ano. Pelo menos são estes os planos que pretendo seguir.
- Vais ver que
se vão cumprir, Thiago. Bom, eu posso fazer o biberão do Marten?
- Claro, nem
precisas de perguntar. Está à vontade.
- Obrigada.
- Importas-te
que vá para a sala?
- Claro que
não. Queres ajuda?
- Não, eu
consigo – Thiago apoiou-se nas muletas, levantando-se. Foi até à sala, onde
estava Marten deitado na sua alcofa. Tinham saído dali e ele estava a dormir
mas agora não. Os seus olhos estavam bem abertos e ia brincando com um pequeno
peluche que ali tinha. Uma tartaruga, dada por Marlene.
Thiago ia a
sentar-se ao pé de Marten, quando a campainha de sua casa tocou. Preparou-se
para ir abri-la, mas Milicent apareceu na sala naquele momento.
- Queres que
abra? – perguntou.
- Seria muito
bom – Thiago sorriu, acabando mesmo por se sentar ao lado de Marten.
- Eu vou lá
então – Milicent trazia o biberão na mão e entregou-o a Thiago – tem de
arrefecer – apressou-se a ir abrir a porta. Uma rapariga estava do outro lado.
Tinha um ar meio angelical e parecia uma verdadeira Barbie. Muito bem
arranjada, bem maquilhada e loira...era mesmo bonita e Milicent sabia bem quem
ela era. As suas fotos andavam espalhadas por aquela casa – boa tarde.
- Olá...eu
estou à procura do Thiago.
- Ele está
ali... – Milicent afastou-se, dando passagem à rapariga.
- Julia? – Hum, chama-se Julia. Era a primeira vez
que Thiago tinha dito o seu nome – que estás aqui a fazer?
- Queria saber
como estavas...
- Eu estou bem.
Mas tu precisas de ir embora.
- Que?
- Não podes
chegar aqui como se nada se tivesse passado.
- Mas, Thiago,
nós precisamos de falar...
- Não. Nós
acabamos, ou melhor, tu acabaste comigo. E eu percebi que não estamos
destinados a estar juntos. Nós, afinal, não combinamos assim tão bem.
- E sabes isso
por causa dela? – Julia apontou para Milicent, mantendo o seu olhar preso ao de
Thiago.
- Não. Sei isso
porque pensei muito desde que acabamos. Ela é apenas uma amiga, tal como ele –
olhou para Marten e depois para Julia – eu vou para Barcelona daqui a uns
minutos...neste momento não temos nada para falar.
- Como queiras
– Julia passou por Milicent com uma certa velocidade, fechando a porta.
Milicent
aproximou-se de Thiago que tinha começado a dar o biberão a Marten.
- Eu verifiquei
que o leite está à temperatura indicada – começou por dizer – e desculpa tudo
isto – olhou para Milicent por breves segundos, focando-se em Marten – era a
minha ex-namorada como pudeste ver.
- Eu não
entendi nada do que lhe disseste... – Thiago tinha falado com Julia em espanhol
e Milicent não tinha compreendido nada – mas...estás bem?
- Não
entenderes espanhol tem as suas vantagens – Thiago riu-se, agarrando a mão de
Milicent - Acredita que foi tudo muito sentido. Desde que eu e ela acabamos,
que eu percebi que estou bem sozinho. Pode ter sido difícil perceber isso, eu
posso ter tentado coisas contigo – os dois riram-se – mas eu estou feliz assim.
- Thiago... –
Milicent levou a sua mão às costas de Thiago, aproximando-se dele – tudo o que
já aconteceu entre nós...acho que teve um propósito. E...eu estou muito feliz
por te ter conhecido.
- O propósito
que teve... – Thiago olhou fixamente para Milicent, já que Marten tinha
terminado o biberão – nós tínhamos de nos apoiar um ao outro.
- Acredita que
farei isso sempre que precises.
- Eu preciso
agora...preciso de me acalmar porque, sim, estou nervoso. Estou cheio de medo
que a minha carreira acabe, que eu deixe de puder fazer aquilo que mais
gosto... – Milicent não o deixou terminar, apenas levou as suas mãos à cara de
Thiago, dando-lhe um pequeno beijo nos lábios.
Afastou os seus
lábios dos de Thiago, passando com a sua mão pela cara dele.
- Não digas
essas coisas, por favor. Tu, mais do que ninguém, és positivo. Por isso sê
positivo para ti mesmo.
- Obrigado, Milicent
– os dois abraçaram-se – obrigado mesmo.
- Não me
precisas de agradecer, sou tua amiga. Os amigos não se costumam beijar na boca,
nem terem sexo um com o outro – afastou-se dele, rindo-se – mas eu sou apenas
tua amiga, mas com muito amor por ti.
- Eu sei disso.
Os amigos não se beijam nem têm sexo. Essa é a verdade, mas...foi uma forma que
tu tiveste de me confortar e de eu me adaptar à minha condição de solteiro.
- Foi?
- Foi. Ninguém
nunca precisará de saber disto...e nós havemos de nos esquecer mas, neste
momento, foi muito bom para mim.
Milicent voltou
a abraçá-lo, ficando assim por algum tempo já que não iriam ter muito mais
juntos. Dentro em breve, alguém estaria a vir buscar Thiago para ir embora. E,
aí, os dois preferiam nem se despedir. Milicent saiu de casa de Thiago com
Marten, apanhou um táxi indo até casa de Marlene e Mario.
- De certeza
que tens tudo? – perguntava Marlene.
- Sim. De
certeza absoluta.
- Ai eu já
estava a habituar-me a ter-te cá! – Marlene abraçou-a e Milicent riu-se.
- Eu também já
me tinha habituado a isto mas está mais do que na altura de voltar ao meu homem
– Marlene olhou-a, super espantada e abrindo um sorriso enorme nos lábios – estou
cheia de saudades dele! Vamos ter muito que falar quando lá chegar mas...eu
sinto que vai ficar tudo melhor.
- E depois
contas-me tudo. Incluindo se fizeram o baby numero dois.
- Não, não vai
haver baby número dois durante algum tempo.
- Vá, então, mas
despacham-se ou não? Ainda vão perder o avião! – dizia Mario, entrando em casa
– já tens tudo arrumado no carro, oh parva.
- Obrigada –
aproximou-se de Mario, abraçando-o – obrigada por esta semana.
- De nada,
garota – afastou-se dele, olhando para Marlene.
- Bem...agora
quando é que nos vemos? – perguntou Milicent.
- Dia 1 de
Novembro, se o teu namorado estiver bom! – respondeu Mario.
- Ai é?
- É. O Dortmund
tem de cá vir jogar, por isso...
- Então
vemo-nos nesse dia! Com ou sem Marco bom...mas vamos acreditar que ele esteja
ótimo e marque um golo à tua equipa, Mario – todos se riram e Milicent
despediu-se de Marlene.
De Mario só se
despediu no aeroporto, já que foi ele quem os levou até lá. Toda a viagem foi
tranquila, sempre com Marten a dormir. Tinha criado a sua própria rotina aquele
bebé: todas as tardes tinha de dormir a sua sesta. Acabou por acordar quando
estavam prestes a chegar a Dortmund.
- Estamos quase a chegar ao papá, meu amor – Milicent olhava para o
filho...aquele olho azul tão parecido ao de Marco fazia com que o tivesse
sempre por perto. Fotografou um dos olhos de Marten, partilhando no seu
instagram a foto:
![]() |
Nos teus olhos tenho sempre presente todo o meu mundo. |
Antes de se
desligar para sair do avião, ainda conseguiu ver que Marco tinha comentado a
fotografia:
Que nos olhos do nosso filho esteja
sempre o teu mundo. E o nosso.
Começava a
sentir-se nervosa. Marco ia buscá-la. Ele iria estar à espera deles no
aeroporto. Iriam ter o reencontro depois de tudo o que se tinha passado.
Depois de
recolher as suas duas malas, Milicent lá conseguiu arranjar um carrinho onde as
colocou. Levava o carro com as malas com uma mão e, na outra, levava a
babycoque de Marten. Procurava por Marco...que estava difícil de encontrar.
Decidiu parar, retirando o telemóvel do bolso para lhe ligar.
- Estou aqui –
Marco apareceu por trás dela, levando a sua mão à de Milicent. Os dois
olharam-se e Milicent só conseguiu sorrir – já te tinha chamado.
- Não ouvi,
desculpa – olhou para ele da cabeça aos pés, comprovando que ele não tinha
muletas, nem nada onde se segurasse. Voltou a olhá-lo, nos seus lindos e tão
apaixonantes olhos.
- Eu
ajudo-te... – Milicent entregou-lhe a babycoque de Marten e os dois caminharam,
lado a lado, para o exterior do aeroporto.
Milicent via-o
caminhar normalmente. Como se nada se tivesse passado com ele. Como se o seu
Marco voltasse a ser o mesmo. Quando Marco colocou Marten no carro, Milicent
suspirou...talvez de alivio, talvez de amor. Mas Milicent sentia que a sua vida
só fazia sentido com Marco a seu lado.
Bom dia meninas! Ou boa tarde, ou boa noite. Depende de quando forem ler este capítulo! Olá!
Bem, as visualizações e os comentários aos capítulos têm vindo a diminuir o que, de certa forma, não me faz publicar com tanta regularidade. Fico sempre à espera que surjam mais comentários para publicar e isso tem sido difícil. Eu continuarei a publicar. Com ou sem comentários.
Espero que ainda haja alguém por esse lado :) e que goste deste capítulo.
Beijinhos,
Ana Patrícia.