- Obrigada por teres vindo...
- Um almoço grátis é sempre bem-vindo – Mario sentava-se em frente de Milicent no restaurante onde tinham combinado encontrar-se.
- Ah, tu queres é almoços grátis!
- Sabes como é que é, cunhada.
- A Marlene não estranhou?
- Não – Mario colocou o seu telemóvel em cima da mesa, olhando sério para Milicent – eu disse-lhe que ia ter com o Alaba.
- Obrigada...
- De nada, miúda. Vá, fazemos os pedidos?
- Sim, sim. Não me leves é há falência! – os dois riram-se e acabaram por fazer os pedidos para aquele almoço.
- Porque é que querias falar só comigo?
- Ontem, quando me disseste que esperavas que eu soubesse o que estava a fazer com a minha vida...eu fiquei com a sensação que precisava de desabafar com alguém – Mario arqueou a sobrancelha – eu sei, é estranho ter-te pedido para vires mas...eu não consigo falar disto com a Marlene.
- Mi...tu sabes que eu estou aqui para o que precises. Posso ser meio maluco às vezes, mas é porque não gosto de vos ver tristes ou a levar as coisas muito a sério.
- Eu sei, Mario. Eu sei. Tu sabes o que aconteceu entre mim e o Thiago?
- Não – ele acabou por esbugalhar um pouco os olhos, cruzando os braços e encostando-se na cadeira – o Thiago não me disse nada, mas tu deves querer dizer...
- Não me sinto bem comigo mesma se não contar a ninguém – a empregada do restaurante interrompeu-os, servindo-lhes o almoço.
- Eu vou ter de guardar segredo, não é?
- Pelo menos até eu contar ao Marco...por favor, Mario.
- Tudo bem, sente-te à vontade para falar comigo.
- Mesmo Mario...isto se calhar não é boa ideia, tu és amigo do Marco...
- Sou. E ele é quase como meu irmão. Mas tu também e, se queres falar comigo neste momento, eu tenho de te ouvir. Fala, vá.
- Nós estávamos a levar tudo tranquilo no jantar e ele não se esticou comigo, até beber mais um copo. Pediu-me um beijo quando lhe pedi as chaves do carro. Mas nós fomos sinceros um com o outro e eu pedi-lhe não se esticasse. Ele respeitou isso, Mario.
- Estou a acompanhar...
- Íamos dormir em quartos separados, mas eu ouvi-o chorar na sala e...quando fui ter com ele, Mario, ele estava tão triste! Ele chorava tanto e estava em pleno sofrimento. Eu quis aconchegá-lo, de certa forma, mas acho que não o fiz da melhor maneira.
- Vocês...tu e ele, coiso.
- Sim...mas foi porque eu quis. Oh, Mario eu sinto-me tão má pessoa neste momento – Milicent, sem que desse conta, deixava escapar algumas lágrimas pelo rosto.
- Miúda – Mario agarrou a mão de Milicent, fazendo-a olhar para ele – sabes o que sentes pelo Marco, não sabes? – Milicent limitou-se a acenar que sim com a cabeça – e é com ele que queres estar?
- Claro que é Mario...com ele, com o nosso filho...eu sabia que vir para cá era um erro!
- Mi, considera isso sexo de reconforto – Milicent olhou-o um bocado espantada – ele estava carente e tu, de certa forma, também. Quiseres reconfortá-lo e aconteceu. Não te martirizes por isso...
- Não devias dizer isso, Mario!
- Porquê?
- Porque me devias gritar, chamar-me uma oferecida e parva. Devias pedir-me para acabar tudo com o Marco, para sair da vida dele e deixar-me de rastos!
- Eu não vou fazer isso! – Mario riu-se, continuando a comer – tu foste sincera, eu sei o que pensas e o que queres para a tua vida. Agora...tu não podes esconder isso do Marco por muito tempo.
- Eu sei que não...mas depois daquela carta, eu sinto que se lhe disser agora ele vai acabar tudo, sentir-se inseguro e não é o que eu pretendo para a vida dele. Para a nossa vida. Eu quero ser feliz com ele, quero que ele seja feliz...e, neste momento, ele não é totalmente feliz.
- A cada dia que passa eu vejo-te sofrer cada vez mais, Mi. Tu choras todas as noites, estás em baixo e eu vejo que precisas deles – Milicent ficava sempre surpreendida com estas conversas que tinha com Mario. Ele conseguia ser sincero e frontal com ela.
- Eu sinto que devia estar com eles, Mario.
- Mas também devias estar a exercer a tua profissão. E tu sentes-te feliz quando estás lá no centro com os meninos, isso nota-se.
- Mario – Milicent agarrou-lhe na mão – amanhã vão surgir noticias que eu ando contigo – os dois riram-se, até para aliviarem toda aquela situação – obrigada por seres tão honesto e frontal comigo. E por me aconselhares.
- Só sou para ti o que mereces que seja. E, Mi...eu também preciso de conselhos.
- Diz, agora viro eu a psicóloga.
- Há uma forte possibilidade da Marlene estar grávida – Milicent sentiu-se ficar chocada dos pés à cabeça, literalmente. Estava boquiaberta, um bocado emocionada com o que acabava de ouvir e, sobretudo, atordoada.
- A Mare. Grávida.
- Ela não sabe.
- Como é que ela não sabe?
- Ela enganou-se nas contas do ciclo. Eu pedi à minha mãe que as fizesse...e ela está com um atraso de três semanas.
- Tu andas atento a tudo... – mais uma vez, Mario conseguia surpreende-la.
- Sim...o que é que eu devo fazer?
- Ai, Mario...devias falar com ela. Porque, se esse atraso for uma gravidez, ela precisa de começar a controlar-se nas bebidas alcoólicas, precisa de ir ao médico. Tenta...
- Podes falar tu com ela? Eu não consigo...
- Tudo bem, eu tento falar com ela sobre isto.
- Obrigada, cunhada.
Os dois passaram o resto do almoço a especular sobre a gravidez de Marlene. Milicent via, nos olhos de Mario, um desejo enorme que aquela possibilidade se tornasse verdade. Conseguiu que ele admitisse que “ser pai, neste momento, seria a melhor coisa que me poderia acontecer”.
Milicent não poderia ficar mais feliz caso fosse mesmo verdade. A sua Marlene grávida...iria ser a animação!
- Achas que podemos falar, Mare? – Milicent, ao chegar a casa, foi ter com a amiga ao quarto – o Mario disse que estavas aqui...
- Estava a estudar mas sabe bem fazer uma pausa – Milicent entrou no quarto, sentando-se ao fundo da cama. Olhava para Marlene que arrumava alguns dos papéis que tinha espalhados pela secretária.
- Está complicado isso?
- Mais ou menos...mas é só mais este semestre e acabou – com a mudança para Munique, Marlene tinha deixado o primeiro semestre do terceiro ano em atraso. Estava, agora, a recuperá-lo.
- Se precisares de ajuda diz...e também te posso dar os meus apontamentos.
- Obrigada, Mi – Marlene levantou-se da cadeira, sentando-se no meio da cama. Milicent virou o seu corpo para a amiga, olhando para a barriga dela e, de seguida, para os olhos de Marlene – diz-me, que me queres?
- Bom...é que, hum – Milicent não sabia como começar a falar...iria ter de optar pela forma mais simples e sem meter os pés pelas mãos – o Mario falou comigo sobre ti...
- Então eu fui o tema do almoço de cunhados?
- Não me digas. Já aparecemos nas notícias com o título: “Milicent passa à frente de Thiago e avança para Mario, namorado da melhor amiga”? – Marlene riu-se e Milicent acabou por fazê-lo, também – ele mentiu-te mas foi por uma boa causa...
- Se fosse para andar com uma galdéria qualquer, levava porrada!
- Coitado. Não, não, ele só foi almoçar comigo porque...ele está preocupado contigo, Mare.
- Por andar a estudar dia e noite?
- Não...nem é isso. Ele entende perfeitamente a tua situação – Milicent aproximou-se da amiga, agarrando-lhe nas mãos – tu tens um namorado muito atento contigo, sabias?
- Olha, não se nota nada!
- Mas, hum...ele é mesmo muito atento contigo Mare. Ele já envolveu a mãe no assunto e tudo.
- A...mãe?
- Sim, fofa, a tua sogra querida que nunca me apresentaram!
- Lá nisso tens razão...tens de conhecer os pais do Mario antes de ires, mas vá passa lá ao assunto!
- Ele e a mãe andaram a fazer contas e...o Mario diz que estás com um atraso de três semanas – Marlene olhava para Milicent chocada, surpreendida e completamente atordoada. Marlene permaneceu estática durante alguns segundos, olhava apenas para Milicent pestanejando – Mare...
- Como é que...
- Ele está atento a todos os teus detalhes, Mare.
- Isso é impossível, eu tenho a certeza que só me devia vir daqui a uma semana!
- O melhor mesmo é tirares essas dúvidas – Milicent abriu a sua mala, retirando de lá um teste de gravidez – queres?
- Não sei! – Marlene levantou-se, começando a andar de um lado para o outro – olha se eu estou grávida? Com o que aconteceu com a minha mãe...
- Ei, ei...nada dessas coisas – Milicent, indo ter com Marlene, agarrou-a pelos pulsos fazendo-a olhar para ela – não comeces já a sofrer por antecipação, nem a imaginar coisas. Toma – Milicent entregou-lhe o teste.
- Fica aqui!
- Eu fico – Milicent sentou-se na cama, enquanto Marlene foi até à casa de banho.
Esperou, andou de um lado para o outro no quarto ansiosa, chamou por Marlene obtendo apenas um “espera” da parte dela. Sabia que não demoraria muito tempo a saber o resultado...e aquela espera estava a deixá-la demasiado ansiosa.
Estava sentada na cama, a olhar para as suas unhas das mãos, quando Marlene saiu da casa de banho. Praticamente como tinha entrado: com medo estampado no rosto.
- Então!? – Milicent aproximou-se de Marlene, olhando expectante – sim ou não?
- Sim. Aquele Mario consegue ter razão em tudo!
- Ai, ai, ai que lindo! – Milicent abraçou Marlene, fazendo-a rodar sobre si mesma – oh, ai – olhou para a amiga – parabéns ou...
- Obrigada – Marlene sorriu, abraçando Milicent – ai caraças vem aí uma mini tartaruga!
- Vem, vem. Vá, tens de lhe ir dizer – Milicent afastou-se de Marlene, ajeitando-lhe o cabelo – vai, vai.
- Anda comigo.
- Oh, mas esse momento devia ser vosso.
- Mas eu quero que estejas lá, vá. Eu não lhe consigo dizer estar coisas...
- É só chegar lá e dizer: estou grávida. É fácil.
- Foi assim que disseste ao Marco?
- Não – Milicent riu-se, agarrou a mão de Marlene, começando a contar-lhe como tinha contado a Marco.
- O que é que aconteceu, Mili? – Marco começava a ficar impaciente com aquele silêncio da parte de Milicent.
- Estou a tentar achar uma maneira de te explicar…mas, Marco, isto pode mudar tudo o que há entre nós.
- Estás a começar a assustar-me… - Milicent foi até Marco, agarrando na mão esquerda dele.
- Eu também fiquei super assustada…mas tens de me prometer uma coisa.
- Diz.
- Vais ser sincero comigo…depois de te contar o que aconteceu. Vais ter de falar, vais ser muito sincero porque…eu preciso disso.
- Claro…mas fala.
- Bom…ai… - Milicent levou a mão de Marco ao encontro da sua barriga, Marco desviou o seu olhar para a barriga de Milicent que lhe sussurrou, ao ouvido – três semanas.
- Vocês têm de ser românticos em tudo o que fazem, realmente.
- Também podias ser com o Mario – as duas desciam as escadas, reparando que Mario estava no jardim – olha aquele parece um sem abrigo ali sozinho. Tens a certeza que não queres ir sozinha?
- Tenho. Eu não consigo!
- Pronto, anda lá – as duas saíram em direção do jardim, capturando a atenção de Mario.
- Olhem quem são elas... – Milicent via-o olhar para Marlene com um brilho nos olhos ainda maior. Sorria. Milicent só conseguia sorrir quando via o quanto Mario gostava da sua amiga. Marlene foi na direção dele, sentando-se ao colo de Mario – e depois o gordo sou eu! Estás pesada, ó Marlene!
- Então prepara-te... – Mario olhou para Milicent e, depois, para Marlene perante aquela afirmação da namorada – tens a mania de não ligar nenhuma às coisas, mas desta vez tens razão. São três semanas de atraso sim senhor.
- Marlene, isso quer dizer...
- Que vou ser mãe de uma mini tartaruga – Marlene olhou-o, deixando-se envolver no abraço de Mario, recebendo os beijos que ele tinha para lhe dar.
Milicent guardará aquele momento para sempre no seu coração. Capturou o momento com a objetiva do seu telemóvel, partilhando a fotografia nas redes sociais. Sem levantar grandes pistas.
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Estes dois são a coisa mais linda de sempre! |
- Está na hora de ligarmos à mãe, não achas? – Marco pegava no filho ao colo, retirando-o da alcofa, e sentou-se com ele no sofá. Mantinha Marten nos seus braços, brincando com as mãos do menino – o que é que andará ela a fazer com os malucos dos tios? Isto de estarmos os dois sozinhos já começa a ser chato, não é? – Marco sentia falta da luz que Milicent trazia àquela casa, sentia falta da sua voz a ecoar por todos os cantos da mesma. O seu cheiro permanecia ali, mesmo que não fosse tão intenso. Ia começar uma vídeo chamada com Milicent, quando tocaram à campainha de sua casa – quem será a esta hora?
Com Marten nos braços, Marco dirigiu-se à porta de casa para ver quem estaria fora do portão. Era Aubameyang. Depois de lhe abrir o portão, Marco abriu a porta de casa esperando que ele chegasse.
- Boa noite! – disse, visivelmente animado, Aubameyang – olá miudinho fofo – passou com o seu dedo pela testa de Marten, entrando em casa de Marco – decidi vir ter com vocês. Estão sozinhos e devem precisar de um amigo.
- Não precisavas de te incomodar – Marco fechou a porta e os dois dirigiram-se à sala – deixaste a tua mulher e o teu filho...
- Eles é que me disseram para vir, não te preocupes. Como é que estão as coisas? – os dois sentaram-se no sofá e Marco começou a brincar, de novo, com a mão do filho.
- Vai tudo com calma...ia agora ligar à Mili.
- Liga-lhe, liga. Já não falo com ela à muito tempo.
- Ela não gosta de falar contigo, não sei se sabes...
- E tu és muito engraçadinho, não haja dúvida – os dois riram-se e Marco pegou no telemóvel para começar a vídeo chamada.
Não demorou muito até que Milicent atendesse.
- Olha, olha tens companhia...
- Boa noite para si também!
- Auba, querido, boa noite era se não me tivesses assustado! Que raio de cabelo é esse com...isso são flores aí desenhadas de lado?
- Não! Isto são estrelas! – aproximando-se do telemóvel de Marco, apontou para as estrelas que tinha desenhadas no coro cabeludo.
- Ia jurar que isso eram flores...
- A tua namorada é uma parva – Aubameyang encostou-se no sofá, deixando Marco a olhar para Milicent.
- Diz ao teu amigo que parva é a coisinha dele.
- Auba, a Mili diz que...
- Eu ouço, sim? Ela que vá dar uma volta!
- Não vês que eu já estou a dar uma volta, ó esperto?
- Foram passear?
- Hum...vim só eu, Marco. Há coisas que precisas de saber. Por exemplo: vê lá se conheces este portão lindo – Milicent mostrou na imagem o portão...e Marco ficou sem reacção – terra chama Marco?
- Oh...Mili, o que é que estás aí a fazer?
- Talvez queira...voltar para casa. Podias abrir o portão...não sei onde tenho as chaves, o mais provável é estar no fundo da mala.
- Eu, se fosse a ti, não abria. Deixava-a passar ali a noite - disse Aubameyang.
- Sabes...és mesmo parvo!
- Tu também, querida. Deixa lá – Marco riu-se, acabando por se levantar.
Abriu o portão da rua e, de seguida, fez o mesmo com a porta. Depressa viu Milicent aparecer no pátio da entrada da casa, correndo muito depressa.
Assim que chegou perto de Marco, deixou o seu corpo embater contra o dele, mesmo com Marten no meio deles. Deixou-se envolver pelo conforto do abraço (com um braço) de Marco. Deixou-se deliciar com o perfume do namorado misturado com o perfume do seu filho.
- Eu voltei.