Ainda nem duas horas haviam passado desde que Marco se
tinha ido embora quando Marlene ligou a Milicent avisando-a sobre as noticias
que tinham sido escritas sobre Marco.
Ao ler algumas Milicent percebeu que as coisas tinham
acontecido de uma forma muito rápida e espontânea quando não o deviam ter
feito. Mandou mensagem a Marco a pedir-lhe para, quando este chegasse a casa,
lhe ligar.
O rapaz ia tranquilo na viagem e só quando chegou à casa
onde tinha vivido os primeiros tempos com Milicent (a sua actual casa) é que
viu que tinha uma mensagem dela a pedir-lhe para lhe ligar. Marco pousou a sua
mala no chão, deitou-se no sofá iniciando a chamada com Milicent.
- Ainda bem que ligaste! Chegaste bem? – Milicent disparou logo, antes
que Marco falasse.
- Sim, a viagem
correu bem e fiquei preocupado com a tua mensagem.
- Marco…isto está a ir depressa demais.
- Isto o que? – Marco estava confuso…na sua
cabeça aquilo que Milicent estava a dizer não fazia muito sentido. É certo que
a relação deles é diferente, mas é pensada e está a tomar as proporções
necessárias e as suficientes.
- Isto. Nós. A imprensa já começou a falar.
- A sério?
- Sim…por causa das fotos minhas que meteste.
Dizem que tens um novo amor.
- Não é mentira…
- Pois não, não é e ainda bem…mas eles vão
começar a questionar tudo e a procurar-me.
- Não tenhas medo,
Mili. Eu protejo-te.
- Eu sei disso…e só te posso agradecer. Mas…as
pessoas começam a criticar-te. Já vi comentários tão…feios, horríveis. Dizem
coisas de ti horríveis!
- Mili…com isso sou
eu que me preocupo. Tu tens de pensar que só eu, tu e nós é que importa. Eles são
resto, nós vivemos bem sem o resto e somos até mais felizes.
- Não te importas com o que escrevem? Com o
que dizem?
- Desde que te
tenha a ti, à minha família e aos meus amigos…eles não me importam nada.
- Tenho medo…
- Eu prometo que
nada vai acontecer.
- Tenho de ir almoçar…falamos depois?
- Claro que sim,
almoça que eu vou averiguar se a minha família já sabe alguma coisa…
- Disso ainda tenho mais medo. Eles vão pensar
que eu sou uma oportunista e que te fiz a cabeça.
- Eles não são
assim. Te garanto.
- Tenho medo na mesma…eu sou a outra. Vá, meu
amor, eu amo-te tanto e já sinto tanto a tua falta…
- No fim-de-semana
já aí estou. Bom almoço, princesa. Ich
liebe dich, mein prinzessin (amo-te minha princesa).
- Ich liebe dich, mein mann (amo-te meu homem).
Os dois desligaram a chamada e, logo de seguida, Marco
iniciou outra para a sua mãe. Em pouco tempo ela atendeu e, antes que dissesse
algo, Marco falou de bom humor com a mãe.
- Dona Manuela,
como vai? O seu filho está de volta a Dortmund e até gostava de almoçar consigo
e o senhor Thomas, acha que pode ser?
- Estás mais
animado do que aquilo que eu pensava…mas é mesmo melhor vires cá almoçar a casa
é…temos algo a falar, não?
- Temos sim, mutter (mãe). – Marco despediu-se da mãe e
voltou a sair de casa, indo, de carro, até casa da sua mãe.
Quando lá chegou, entrou com a chave que tinha,
encontrando o seu pai na sala a ver o noticiário.
- Hallo vater (Olá pai) – Marco
cumprimentou o pai com dois beijos, como era tão habitual nele. Desde sempre
que cumprimenta os pais e as irmãs com dois beijos.
- Como é que estás?
- Bem e o pai?
- Vai-se indo… - Thomas olhava para Marco como
que lhe dizendo que sabia o que se estava a passar. Marco sentou-se no sofá em
frente onde o pai estava sentado.
- A mãe?
- Cozinha…Manuela?
– o pai chamou a
mãe que, em poucos segundos, estava já na sala, com o avental colocado.
- Filho…
- Olá mãe – Marco levantou-se, dando dois
beijos à mãe e um abraço um pouco demorado –
precisamos de falar… - Marco soltou a mãe do abraço, pegando na mão dela.
Os dois sentaram-se no sofá em frente de Thomas e Marco começou – Vocês já viram alguma coisa, certo?
- Está nas notícias
online… -
respondeu Thomas.
- Eu tenho de vos
contar tudo direito. Eu estive este mês em Berlim, não foi apenas de férias. Eu
estive com ela. Vocês, mais do que
qualquer pessoa, perceberam que no dia do meu casamento, algo não estava bem – Marco recordou o momento em que
os pais estavam perto dele e lhe perguntaram imensas vezes se havia algo a
incomodá-lo. Sempre negou – a verdade é
que eu estava com dúvidas. Mas não podia cancelar um casamento por uma coisa de
uma noite. Eu deixei que existisse casamento…mas na noite de núpcias, às cinco
da manhã fui ter com ela. Vocês sabem que o que eu mais respeito é a família, sabem
que, se eu tomo as decisões que tomo é porque penso nelas e sei que são as
melhores para mim – Manuela ia a falar –
deixa-me continuar, mãe. Eu conheci-a no dia da despedida de solteiro. Ela estava a trabalhar na discoteca e…eu
amei-a ao primeiro olhar. Eu percebi que não amava a Carolin, percebi que o que
havia com ela não era amor. Tive momentos com ela e depois perdi-a. Foi para Berlim viver com os pais…e eu tive
de ir atrás. Era impensável ficar sem o seu carinho, sem o seu amor…ela dá-me amor. Ela chama-se Milicent e
será a minha namorada por muito tempo.
Manuela e Thomas olhavam-se e olhavam o filho. Ambos
estavam um pouco sem reacção ao que tinham acabado de ouvir. Foi Manuela que
tomou a iniciativa.
- A Carolin já
sabe, certo?
- Sim…eu disse-lhe
logo o que se passava. Os papéis do divórcio vão avançar, mas ainda demoram. E
se ela levantar problemas ainda mais.
- Ela…é mesmo
especial, não?
- Acreditem que…é a
definição que eu tinha para mulher ideal e ainda consegue superar tudo isso.
- Não achas que
estás a ser precipitado? – Perguntou Thomas.
- Não sei, não sei
pai…mas quero viver o agora…com ela.
- Tu tens o nosso
apoio em tudo. O que precisares nós estaremos cá e iremos dar-te todo o apoio
que precisares – Thomas falou olhando o filho nos olhos.
- Obrigado.
- Ela é de Berlim?
– Inquiriu,
curiosa, Manuela.
- Não. Ela é cá de
Dortmund. O pai é que está a fazer um tratamento de oxigenação do cérebro lá e
ela está com eles.
- Já conheces os
pais dela?
- Já…e os avós. São
excelentes pessoas, mãe. Quando as coisas forem mais…sérias e quando ela vier
cá a Dortmund, eu apresento-vos a ela.
- Acho bem que sim!
É a minha nova nora – Marco sorriu com aquilo, olhando para a mãe – diz lá, que idade é que ela tem?
- 21. Ela tem 21
anos, está no terceiro ano de medicina e vai fazer o quarto em pediatria.
- Pediatra?
- Sim. A avó era e
ela quer seguir as pisadas dela. Alem de que ama crianças e ajudar os outros.
- Começo a ficar
curioso para conhece-la – falou Thomas.
- És tu e eu – concordou Manuela, beijando a
testa do filho – podes contar com o
nosso apoio mesmo, Marco.
- Obrigado.
Os três ficaram a falar um pouco sobre o que tinha
acontecido em Dortmund durante a ausência de Marco, sendo que depois foram
almoçar.
Três semanas depois:
Cada vez é mais incerto o futuro de Milicent. Se pensava
que iria ficar em Berlim durante seis meses…está completamente enganada. Ainda
só tinham passado dois meses e estava pronta para regressar a Dortmund.
- Tens a certeza
que não te esqueces de nada? – Perguntava Hinrich à filha.
- Tenho pai…mas
também se ficar alguma coisa não faz mal.
- Despacha-te, vá.
Tens o comboio para apanhar – Renae avisava a filha já que a hora de embarque se
aproximava.
- Desculpem…
- Do que?
- De não ficar com
vocês…
- Milicent, é o teu
futuro que está em causa. Nenhum de nós sabia que tinhas de fazer um estágio
para te habilitares a frequentar o quarto ano da faculdade… - Milicent tinha recebido a
noticia à poucos dias. Iria ter de fazer um estágio de dois meses para que se
pudesse candidatar à especialização em pediatria. Quando essa notícia surgiu,
tanto Milicent como os pais não pensaram duas vezes e decidiram que ela iria
frequentar esse estágio e não iria perder o ano de especialização.
- Vocês ficam bem?
- Claro que sim, sua
tonta – Hinrich
abraçou a filha e, depressa, Renae abraçou-os também.
A despedida não demorou muito, já que Milicent começava a
ficar atrasada. Foi até à estação de comboios de Berlim, rumando para Dortmund.
Iria de surpresa, ninguém sabia, mas deixou uma pista no seu Instagram, quando
já estava em Dortmund.
![]() |
I'm comming home |
Em dez minutos o comboio parou na estação e Milicent saiu
dele. O cheiro de Dortmund era, sem dúvida, diferente do de Berlim. Milicent
estava em casa…mas não por muito tempo. O estágio que tinha de fazer…era em
Munique.
Foi de táxi até casa dos avós e, em jeito de surpresa,
tocou à campainha em vez de utilizar as suas chaves. Poucos segundos bastaram
até que Jolandi lhe abriu a porta:
- Milicent!? - Jolandi tinha sido apanhada de
surpresa. Sabia que a neta iria para Dortmund mas só a esperava no dia seguinte
- Porque é que não nos avisaste? Íamos
buscar-te! - Depressa abraçou a neta, puxando-a para dentro de casa.
Milicent colocou a mala junto das escadas e as duas foram até à cozinha, onde
estava Abelard - Olha quem chegou! -
Abelard olhou para a neta, esboçando um sorriso enorme. Levantou-se, indo
abraçá-la.
Os três sentaram-se à mesa, relatando os diversos
acontecimentos dos últimos dois meses. Depois de estar algum tempo a falar com
os avós, foi até ao seu quarto deixar as malas. Teve de as desfazer já que,
quando fosse para Munique na próxima segunda feira (dentro de uma semana),
teria de fazer malas com outro tipo de roupas visto que iria passar dois meses
em Munique.
Quando tudo estava arrumado pegou no seu telemóvel
avisando os pais que já tinha chegado. Fez mais uma chamada, desta vez para
Marlene.
- Mi! Já chegaste?!
- Já sim senhora!
Já estou na minha casinha, no meu quartinho com as minhas coisinhas!
- É só uma semana, não é?
- Sim...depois vou
para Munique por dois meses...
- Não te preocupes que a tua Mare vai visitar-te!
- Queres é ir ver o
Mario!
- Também...também! Olha o Marco já sabe?
- Não sei...
- Como assim, não sabes?
- Ainda não
consegui falar com ele desde ontem...vou tentar agora.
- Faz isso sim, depois liga-me.
- Está bem,
princesa.
As duas desligaram a chamada, levando Milicent a iniciar
outra. Desta vez com Marco. Só à segunda tentativa é que ele atendeu.
- Amor da minha vida!
- Começava a ficar
preocupada Marco!
- Porquê princesa?
- Porquê? Ainda
perguntas? Desde ontem que te estou a tentar ligar e nada, bebé!
- Há pouca rede onde estou...
- E ... estás onde?
- Zurique! Vim com o Marcel passar uns dias...desculpa
não te ter avisado.
- Fizeste bem,
amor. Mas...
- Aconteceu alguma coisa?
- Não...quer dizer
sim.
- Então Mili?
- Bem...eu vou
fazer um estágio de dois meses para ser pediatra. Em Munique...
- Vais para Munique? Quando?
- De hoje a uma
semana...
- Mili...eu não vou puder ir a Berlim.
- Eu estou em
Dortmund...vim buscar algumas coisas...vinha despedir-me.
- Princesa...fazemos assim: eu e o Marcel vamos ficar cá
até terça feira da próxima semana, eu depois começo os treinos mas quando puder
eu vou ter contigo!
- Ah...sim, tudo
bem.
- Princesa, eu amo-te mas agora vou ter de desligar.
Vamos entrar na discoteca.
- Diverte-te - Milicent não estava, de todo, à
espera que Marco fosse reagir assim. Ela queria estar com ele, matar aquela
saudade e ser der por algum tempo e Marco...Marco estava em Zurique com um dos
seus melhores amigos, prometendo que estariam juntos quando pudesse.
Milicent sentiu-se um pouco desvalorizada. Ele tinha
acabado de escolher estar com o amigo do que falar/estar com ela.
Uma semana depois:
Milicent e Marlene tinham rumado a Munique juntas.
Marlene iria passar alguns dias em Munique com Mario, enquanto ajudava a amiga
com as mudanças já que também ela iria ficar em Munique. Tinham combinado
encontrar-se com Mario junto do café para este as ajudar. Quando elas lá
chegaram, já Mario estava sentado na esplanada.
- Olha quem são
elas! Bem-vindas a Munique!
- Obrigada - foi visível a Mario, através da
resposta seca e curta de Milicent, que ela não estava bem. Cumprimentou-a com
dois beijos, indo até junto de Marlene, rodeando a cintura desta com os seus
braços.
- Tinha saudades
tuas, pequenina.
- Tu não sabes o
que dizes!
- Sei, sei...e
também já percebi que ela não está bem.
- Problemas no
paraíso...
- É mais a
convivência com o inferno - Milicent ouviu o que Marlene tinha dito a Mario que soltou a rapariga e os
dois sentaram-se na mesa onde ela estava.
- Que se passa,
cunhada?
- Só o devo ser se
fores namorado da Mare...
- Que se passa...?
- Mario olhou
para Marlene visivelmente confuso. Marlene fez-lhe sinal para que se calasse
mas, quando olharam para Milicent já ela tinha lágrimas escorrendo-lhe pela
cara.
- Passa-se que o
teu amigo é um otário. Passa-se que ele
desde que soube que eu vinha para Munique nunca mais telefonou, nem atende
chamadas. Passa-se que ele preferiu
estar com o amiguinho em Zurique do que despedir-se da namorada. Passa-se que ele, basicamente, disse que quando
tivesse tempo passava cá.
O silêncio apoderou-se naquele espaço. Marlene sabia o
que se passava e custava-lhe ver a amiga naquele estado. Mario estava sem reação
e nem sabia o que dizer a Milicent.
- Esse gajo é muito
cabrão! Não me digas que o amiguinho é o Marcel?
- É...
- Esse gajo só sabe
levar o Marco por outros caminhos.
- Podemos não falar
deles? Por favor?
- Mas...como é que
ficam as coisas entre vocês?
- Eu não sei e,
neste momento, não quero saber!
- É...nós
combinamos aqui contigo porque precisamos de saber se há algum apartamento,
pequeno, para alugar - Marlene mudou de assunto já que sabia que Milicent não conseguia continuar
a falar daquilo.
- É, precisamos de
um apartamento. Sabes de alguma coisa Mario?
- Bem...assim de
repente...a minha casa?
- Que?! - Marlene foi quem exteriorizou o
espanto que houve com o que Mario tinha dito.
- Sim, vocês podem
ficar em minha casa. Há um quarto de hóspedes e a Marlene dorme comigo.
- Que?! - se existisse um buraco ali perto,
Marlene tinha-se enfiado nele.
- Fofinha, não te
faças de estranha comigo. Tenho saudades tuas e somos mais do que amigos.
- Desde quando?
- Desde que nos
conhecemos.
Os dois ficaram a olhar-se e Milicent decidiu intervir.
- Isso é muito
bonito, mas eu preciso mesmo de uma casa.
- A sério, fiquem
na minha. Ajudam-me com os almoços e jantares.
- É e vivemos às
tuas custas? Não, não!
- Podem pagar-me o
que quiserem, mas eu não aceito. Vá, venham - Mario levantou-se e as duas raparigas continuaram
sentadas - Munique é perigosa para duas
raparigas como vocês. E se alugassem uma casa, com a Marlene nos meus braços
todo o dia, a Milicent ia ficar sozinha. Vêm para minha casa ou não?
- Mas temos de combinar
que ajudamos com as contas - Marlene levantou-se, aproximando-se de Mario. Rodeou-o
com os seus braços dando-lhe um beijo nos lábios.
Nenhum dos dois estava à espera...era o primeiro beijo
entre eles, e partiu de iniciativa de Marlene. Os dois estavam completamente
envolvidos num beijo calmo e bonito (aos olhos de Milicent) e pareciam não
querer terminá-lo.
- Oh pombinhos,
olhem aí as figuras! - Milicent falou, levando a que os dois quebrassem o beijo. Marlene estava completamente
rendida a Mario, era visível.
- Se ela quis eu
tive de aproveitar não é? - todos se riram, sendo que Milicent se lembrou de Marco. Faltava ali ele...- Vamos para casa?
- Mas vocês decidem
tudo por mim?
- Estando tu a
precisar de miminho, sim!
- Quem os sabe dar
como deve ser está em Zurique...
Ninguém disse mais nada...Mario apenas tentou animar a
coisa e os três foram até sua casa.